CAPÍTULO 1 A SILVICULTURA CLONAL Nas últimas décadas, tem-se assistido a um constante aumento no interesse pela silvicultura clonal, decorrente tanto das vantagens do processo quanto da possibilidade de contornar problemas de determinadas doenças, heterogeneidade e profundidade dos plantios florestais. A área dos plantios clonais vem ampliando cada vez mais em todo território brasileiro, graças a disponibilidade de clones selecionados para as mais diversas regiões e propósitos comercias, aliando a um custo competitivo. Além disso, esse aumento tem possibilitado a implantação de projetos de reflorestamento em áreas até então não indicadas, dada a falta de material genético via seminal adaptado a atender a tal propósito. Diante de crescente interesse pelo uso de clones nos projetos florestais, tanto pelas grandes empresas quanto pelos pequenos investidores, inclusive produtores rurais, tem-se percebido consideráveis avanços tecnológicos nos processos de seleção, de clonagem de árvores e nas práticas silviculturais adotadas na implantação e condução dos plantios florestais. Em razão da importância dos plantios clonais, a denominação “silvicultura clonal” tem sido empregada para designar o conjunto de técnicas silviculturais adotadas em um programa de implantação e manejo de uma floresta clonal. Dessa forma, em termos gerais, a “silvicultura clonal” pode ser caracterizada como a que compreende o processo de formação de uma floresta clonal, desde a seleção da árvore superior, multiplicação vegetativa, avaliação de árvores selecionadas em teste clonal, produção de mudas, o estabelecimento e a condução da floresta clonal até a colheita florestal. Historicamente, a silvicultura clonal foi estabelecida a muitos anos para Cryptomeria japonica no Japão sendo também conhecida e aceita para as espécies populus spp. e Salix spp. Nas zonas temperadas e várias outras espécies florestais em diferentes partes do mundo. (OHBA, 1993; ZSUFFA ET AL., 1993). Nas regiões tropicais e subtropicais, atualmente, o Eucalyptus constitui- se em um dos gêneros mais explorados e tem merecido atenção especial na silvicultura clonal. A importância das espécies de Eucalyptus em um programa de silvicultura clonal advém, principalmente, dos interesses econômicos, das experiências adquiridas na silvicultura em varias condições ambientais, do domínio da tecnologia para as mais diversas aplicações, do uso dos produtos advindos das árvores, da existência da grande variabilidade genética das populações para os mais variados propósitos comercias, para razoável facilidade de propagação vegetativa, aliada as características de rápido crescimento (XAVIER, 2002; ASSIS; MAFIA, 2007). No Brasil, relatos apontam que as plantações colônias com Eucalyptus aumentam consideravelmente a partir da década de 1970; A heterogeneidade dos plantios e a incidência de cancro foram decisivas para o desenvolvimento da técnica de estaquia em escala operacional, considerado hoje referencia mundial no controle de doenças dessa espécie (ALFENAS et al., 2004). Em termos gerais, as características da silvicultura clonal são justificadas por: uniformidade dos plantios, possibilitando maior controle sobre a qualidade dos produtos; aproveitamento de combinações genéticas raras, como híbridos de Eucalyptus grandis x E. urophylla ; maximização do ganho em profundidades silvicultural e quantidade tecnológica da madeira em uma única geração de seleção; possibilidade de contornar problemas de doenças, como “cancro” (Cryphonectia cubensis); possibilidades de duas , três e quatro cotações economicamente viáveis; custo acessível e competitivo para as empresas; experiências adquiridas e avanços técnicos/científicos ao longo dos anos na silvicultura; e opções de técnicas de propagação vegetativa em desenvolvimento em diversas áreas da ciência. A silvicultura clonal com Eucalyptus é uma das mais evoluídas e se encontra bem estabelecida; os resultados verificados em campo tem levado à sua implementação de forma intensiva e em diferentes regiões do mundo (Figura 1.1 A). Outro exemplo de silvicultura clonal no Brasil refere-se à heveicultura, em que a clonagem foi alternativa para contornar o problema de doenças, produtividade de látex e adaptação local (Figura 1.1 B). No estabelecimento de um programa de heveicultura é possível encontrar vários clones apropriados para diferentes regiões brasileiras, tendo-se como forma principal de produção de mudas o processo de propagação vegetativa por enxertia. No caso das espécies do gênero Pinus, dado a sua grande importância econômica a silvicultura clonal almejada há vários anos, porém, em razão da grande dificuldade de clonagem por vias tradicionais, a clonagem em nível de famílias selecionadas tem sido adotada. O desenvolvimento de técnicas biotecnológicas mais avançadas, como a embriogênese somática, tem proporcionado um grande avanço nesse sentido, embora as dificuldades ainda persistam quando se objetiva a multiplicação de materiais não-juvenis. Em outras espécies florestais, a silvicultura clonal está em nível de desenvolvimento no Brasil, com diferentes graus de avanço. As espécies liquidambar (Liquidambar styraciflua), grevílea (Grevillea robusta), erva-mata (Ilex paraguariensis), compresso (Compressus lusitanica), teca (Tectona grandis), criptoméria (Cryptomeia japonica), acácia-negra (Acacia mearnsii), pupunha (Bactris gasipaes), paricá (Schizolobium amazonicum), entre outras, porém se enquadradas nesse grupo. Os avanços na biotecnologia tem encontrado na silvicultura clonal um veículo para sua expansão e implementação de novas tecnologias voltadas à área florestal. Entre estas tecnologias, a cultura de tecidos por meio da micropropagação e embriogênese somática tem sido alvo de vários alvos de pesquisa, assim como a possibilidade de implementação da transformação genética para obtenção de plantas com desempenho silvicultural e tecnológico de interesse comercial. Princípios Biológicos da Silvicultura Clonal Para maior compreensão da silvicultura clonal, o entendimento dos princípios específicos da biologia e dos conceitos de multiplicação das plantas torna-se pré-requisito. Para as plantas superiores de forma geral, a propagação pode ser conseguida pelas vias sexuada e assexuada; a primeira caracteriza- se por ter a semente como elemento de propagação, enquanto a segunda tem nos propágulos vegetativos o meio de multiplicação da planta. Estas formas de propagação de plantas podem ter seus elementos de propagação conceituados como: Semente: elemento de reprodução das plantas que resulta da fecundação e desenvolvimento de óvulo maduro, compreendendo o embrião, as substâncias de reserva e um ou mais tegumentos. Normalmente, é o resultado da recombinação genética entre plantas. A também o termo Semente Sintética, usando para embriões produzidos via embriogênese somática, os quais são posteriormente encapsulados. Propágulo Vegetativo: em geral, é qualquer estrutura que serve para propagação ou manipulação vegetativa de uma planta. É o elemento de propagação da planta que não envolve recombinação genética, permitindo a reprodução fiel do genótipo da planta, dada a totipotência da célula vegetal. A propagação vegetativa somente é possível devido a capacidade que células, parte de órgãos ou órgãos tem para regenerar órgãos ou plantas, em razão da sua totipotência. Essa é a capacidade de qualquer célula do organismo vegetal de regenerar uma planta completa. Uma célula reprogramada se torna totipotente, ou seja, adquire a habilidade de reproduzir uma planta inteira,