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Políticas e Gestão da Saúde Pública

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Políticas e Gestão da 
saúde Pública
Prof.a Talita Cristiane Sutter
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Talita Cristiane Sutter
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S967p
Sutter, Talita Cristiane
Políticas e gestão da saúde pública. / Talita Cristiane Sutter. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
188 p.; il.
ISBN 978-65-5663-025-0
1. Saúde - Administração. - Brasil. Centro Universitário Leonardo 
Da Vinci.
CDD 362.11068
III
aPresentação
A Saúde Pública no Brasil ao longo do tempo ainda se apresenta 
com inúmeros desafios para ser alcançada com qualidade dentro de um 
serviço organizado, em um modelo de gestão que atenda todos os princípios 
organizativos do Sistema Único de Saúde (SUS) e com profissionais atuantes 
nas necessidades das famílias no território em que estão inseridas.
Neste livro didático será elucidado um breve resgate histórico da 
situação da Saúde Pública no Brasil, buscando compreender a partir da 
história natural das doenças os fatores que podem ocasionar doenças e 
principalmente a importância da prevenção dos agravos.
Os determinantes de saúde e o processo de saúde doença também 
farão parte do conteúdo, trazendo como conhecimento as condições 
socioeconômicas, culturais e ambientais responsáveis pelo adoecimento. 
Atualmente, a Saúde Pública no Brasil está organizada como 
Redes de Atenção à Saúde (RAS), já que as necessidades dos usuários são 
atendidas, avançando os níveis primário, secundário e terciário, conforme a 
complexidade de cada caso. Também estudaremos o Programa de Estratégia 
de Saúde da Família e o Núcleo Ampliado de Saúde da Família, assim como 
a Política Nacional de Humanização que no dia a dia é utilizada como 
ferramenta de análise e diálogo sobre os processos de trabalho implantada 
nesses Programas. 
Com a recente implantação das Práticas Integrativas e Complementares 
de Saúde (PICS) no SUS, descreveremos sobre algumas já instituídas nas 
unidades de saúde. As PICS tornam-se uma estratégia de ampliação da oferta 
de recursos terapêuticos através de profissionais habilitados que atuam na 
rede de saúde do município.
Por fim, refletiremos sobre a formação do profissional de saúde e 
seus desafios, o fazer saúde na comunidade através da educação popular em 
saúde e a importância do olhar para a saúde de quem cuida. 
Bom estudo a todos! 
Prof.a Talita Cristiane Sutter
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ...............................................................................1
TÓPICO 1 – BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA ................................................................3
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3
2 HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E PREVENÇÃO DOS AGRAVOS ............................4
2.1 DETERMINANTES DE SAÚDE E O PROCESSO DE SAÚDE – DOENÇA .............................6
2.2 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE .................................................................................................9
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................22
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................23
TÓPICO 2 – A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO .............................................................25
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................25
2 HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DO SUS....................................................................................26
2.1 O BRASIL ANTES DO SUS ............................................................................................................26
2.2 MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA ..............................................................................32
2.3 LEGISLAÇÃO ESTRUTURANTE .................................................................................................35
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................42
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................43
TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS E FUNÇÕES DO SUS .............................................................................45
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45
2 PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS .......................................................................................................45
2.1 UNIVERSALIDADE ........................................................................................................................46
2.2 EQUIDADE ......................................................................................................................................46
2.3 INTEGRALIDADE .........................................................................................................................47
3 PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS ....................................................................................................47
3.1 REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO ............................................................................47
3.2 RESOLUBILIDADE .........................................................................................................................48
3.3 DESCENTRALIZAÇÃO .................................................................................................................48
3.4PARTICIPAÇÃO POPULAR ..........................................................................................................49
3.5 COMPLEMENTARIEDADE DO SETOR PRIVADO ..................................................................49
4 FUNÇÕES DO SUS ..............................................................................................................................50
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................54
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................56
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................57
UNIDADE 2 – MODELO DE ATENÇÃO À SAÚDE ........................................................................59
TÓPICO 1 – NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE ................................................................................61
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61
2 ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ....................................................................................................63
3 ATENÇÃO SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA À SAÚDE ..................................................................68
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................71
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................72
sumário
VIII
TÓPICO 2 – PRINCIPAIS AÇÕES, PROGRAMAS E ESTRATÉGIAS DE SAÚDE...................73
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................73
2 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) .............................................................................73
2.1 EQUIPE DO ESF...............................................................................................................................74
2.2 ORGANIZAÇÃO E FUNÇÃO ......................................................................................................75
3 NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMILIA E ATENÇÃO BÁSICA (NASF-AB) .........76
3.1 EQUIPE DO NASF...........................................................................................................................77
3.2 ORGANIZAÇÃO E FUNÇÃO ......................................................................................................77
4 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ............................................................................79
4.1 DIRETRIZES .....................................................................................................................................80
5 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES DE SAÚDE ..........................................81
5.1 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA – ACUPUNTURA .....................................................83
5.2 PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA .................................................................................84
5.3 REIKI .................................................................................................................................................86
5.4 DANÇA CIRCULAR .......................................................................................................................87
5.5 ARTETERAPIA ................................................................................................................................89
5.6 YOGA ................................................................................................................................................90
5.7 MEDITAÇÃO ...................................................................................................................................91
5.8 TERAPIA COMUNITÁRIA ............................................................................................................93
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................95
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................96
TÓPICO 3 – PRINCIPAIS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE ........................................................97
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................97
2 REDE CEGONHA .................................................................................................................................97
3 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ..........................................................................................99
4 REDE DE CUIDADOS À PESSOA COM DEFICIÊNCIA ..........................................................105
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113
UNIDADE 3 – PROCESSOS DE TRABALHO NO SUS ................................................................115
TÓPICO 1 – FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE .................................................117
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117
2 A INTEGRALIDADE NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ......................118
3 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE ................................122
4 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PELO TRABALHO PARA A SAÚDE (PET SAÚDE) .........124
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
TÓPICO 2 – ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE......................................................131
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131
2 TRABALHO COM GRUPOS ...........................................................................................................131
3 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE .............................................................................................136
4 COMUNICAÇÃO EM SAÚDE ........................................................................................................142
5 TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUIPE ........................................................................144
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................149
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................150
IX
TÓPICO 3 – SAÚDE DO TRABALHADOR DO SUS ....................................................................151
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151
2 DESAFIOS NA ATUAÇÃO COM A COMUNIDADE ................................................................151
3 SAÚDE DO TRABALHADOR E PRÁTICAS PARA UM ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL .....158
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................163
RESUMODO TÓPICO 3......................................................................................................................166
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................169
X
1
UNIDADE 1
A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o processo histórico da Saúde Pública; 
• identificar os determinantes sociais de saúde;
• conhecer o surgimento do SUS;
• compreender os princípios e as diretrizes do SUS.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. 
TÓPICO 1 – BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
TÓPICO 2 – A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS E FUNÇÕES DO SUS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
1 INTRODUÇÃO 
Analisar o atual cenário da saúde pública no Brasil requer compreender 
os problemas coletivos de saúde do passado. É na vida social que se reconheceu 
a importância e a necessidade de promover a saúde e tratar as doenças, é nessa 
consciência que se aloja a saúde pública, passando pela idealização higienista até 
a participação popular nas decisões de se fazer saúde.
Nas mais antigas civilizações já foram constatados banheiros e esgotos 
nas construções dos povos antigos e encontrados através de escavações. Toda 
edificação era elaborada com materiais que eles tinham à disposição na época, 
como tijolos cimentados com argamassa de barro e canos de drenagem feitos 
com cerâmica e emplastro de gesso. O abastecimento da água também era uma 
preocupação e em muitas ruínas foram encontrados poços públicos para a retirada 
da água (ROSEN, 1994). 
Tais medidas já eram estabelecidas como uma forma de engenharia 
sanitária da época, em que o ambiente físico estava sendo considerado como uma 
ameaça à saúde da população. A limpeza pessoal estava mais ligada às crenças e 
práticas religiosas, as pessoas se mantinham limpas para se apresentarem puras 
para os seus deuses e não por uma questão de higiene, mas de aparência para 
aquele que se tem por adoração. O povo inca, a cada ano, realizava a Cerimônia 
da Saúde, além das orações e oferendas aos deuses, também limpavam todos os 
lares (ROSEN, 1994).
Foi somente na época do Renascimento (1300-1600) que iniciou a suspeita de 
que o surgimento das doenças poderia advir também pelo fator ambiental. Os gases 
emitidos da putrefação de materiais orgânicos e expostos nas ruas penetravam no 
corpo e adoeciam as pessoas. Esse fenômeno era designado como miasmas. Após a 
descoberta dos microrganismos, em 1674, a teoria dos miasmas foi sendo superada 
pelo conhecimento científico, já que na microbiologia pode-se afirmar que “cada 
doença tem por agente causal um organismo específico, que poderia ser identificado, 
isolado e ter suas características estudadas” (CRUZ, 2009, p. 25).
Podemos evidenciar que a saúde sempre foi uma questão relevante para 
o ser humano na organização do ambiente, espiritualidade e para a manutenção 
da sua vida.
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
4
FIGURA 1 – QUADRO REPRESENTANDO DOENÇAS CAUSADAS POR FATORES AMBIENTAIS
FONTE: <https://www.unifesp.br/reitoria/dci/images/DCI/revistas/Entreteses/materias-ed06/
p027_quadro.jpg>. Acesso em: 9 ago. 2019.
2 HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E PREVENÇÃO DOS 
AGRAVOS
Leavell e Clark (1977) foram os precursores nos estudos sobre o modelo 
da história natural das doenças e os níveis de prevenção (primária, secundária e 
terciária). Eles afirmavam que toda condição de saúde e doença no homem tem 
sua origem em outros processos, antes mesmo que o homem esteja envolvido. 
Fatores hereditários, sociais, econômicos ou do meio ambiente podem estar criando 
estímulos patogênicos muito antes que o homem e o estímulo comecem a interagir 
para produzir a doença. Essa interação preliminar dos fatores relacionados com 
o agente potencial, o hospedeiro e o meio ambiente na produção da doença são 
denominados de período pré-patogênese. A fase patogênica é identificada a 
partir da primeira integração com os estímulos que provocaram a doença até as 
mudanças na função ou forma evoluindo até a morte. É a evolução de um distúrbio 
sem o tratamento com o aparecimento dos sinais e sintomas. A combinação destes 
dois processos (pré-patogênese e patogênese) é referida como a história natural das 
doenças e pode ser utilizada para a finalidade de prevenção dos agravos. 
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
5
FIGURA 2 – PERÍODOS DE PRÉ-PATOGÊNESE E PATOGÊNESE DA HISTÓRIA NATURAL
FONTE: Leavell e Clark (1977, p. 15)
HISTÓRIA NATURAL DE QUALQUER PROCESSO MÓRBIDO NO HOMEM
Período de 
pré-patogênese Período de patogênese
Antes de o 
homem adoecer
Interação de:
O curso da doença no homem
Fatores ambientais 
que produzem 
ESTÍMULO
à doença
Agente
da 
doença
Hospedeiro 
humano
Morte
Estado
crônico
Invalidez
Recuperação
HORIZONTE 
CLÍNICO
Patogênese 
precoce
Doença 
precoce 
discernível
Doença
avançada
Convalescença
Interação
HOSPEDEIRO-
ESTÍMULO
A prevenção da doença pode ser realizada no período de pré-patogênese, 
através de medidas destinadas a desenvolver a saúde integral pela proteção 
específica do homem contra os agentes patológicos ou pelas ações contra os 
agentes do meio ambiente. Trata-se do modelo de atenção primária. Após o 
diagnóstico da doença, no início da patogênese, o tratamento deve ser iniciado 
para minimizar os agravos, denominada de prevenção secundária. Ao se instalar 
os efeitos das sequelas e limitações, a reabilitação se faz necessário através da 
prevenção terciária (LEAVELL; CLARK, 1977). Cada fase não é estática, é uma 
progressão caso não for resolvida dentro de cada etapa.
QUADRO 1 – NÍVEIS DE APLICAÇÃO DE MEDIDAS PREVENTIVAS NA HISTÓRIA 
NATURAL DAS DOENÇAS
FONTE: Leavell e Clark (1977, p. 17)
Nível de atenção Medidas
Prevenção primária • Promoção da Saúde• Proteção Específica
Prevenção Secundária • Diagnóstico e Tratamento Precoce• Limitação da Invalidez
Prevenção terciária • Reabilitação
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
6
2.1 DETERMINANTES DE SAÚDE E O PROCESSO DE 
SAÚDE – DOENÇA
Os fenômenos sociais, inclusive a saúde e a doença dos indivíduos, 
são resultados de uma interação com múltiplos fatores. “As pessoas sofrem 
a influência, mas também reagem aos fatores e sujeitos com quem interagem” 
(CAMPOS et al., 2007, p. 42). Tais fenômenos são considerados complexos, já que 
a sua interação consiste entre os indivíduos e a coletividade. Campos et al. (2007) 
classificam como coprodução do processo saúde-doença três fatores. São eles: 
campos de coprodução, modos de intervenção e fatores de coprodução. 
QUADRO 2 – COPRODUÇÃO DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
FONTE: Adaptado de Campos et al. (2007)
Campos da 
coprodução Modos de intervenção Fatores de coprodução
Particular --------------------------- Biológicos Subjetivos: desejo e interesse.
Singular Política, Gestão, Trabalho, Práticas Cotidianas.
Interferência dos sujeitos no mundo e em si 
mesmo.
Universal Transcendente ao sujeito. Necessidades sociais, instituições e organizações, contexto econômico, cultural e social, ambiente.
O ser humano busca compreender a si mesmo e ao mundo, esse processo 
pode ser de maneira espontânea pela rotina, vida cotidiana ou sistemática através 
do pensamento científico. Neste, a condição de interferir sofre os fatores são 
oriundos de uma capacidade reflexiva desenvolvida. É identificada no campo 
singular, já que o particular expressa os desejos e os interesses individuais(CAMPOS et al., 2007). 
É no campo universal que está a dinâmica dos determinantes sociais do 
processo saúde-doença, que reflete a importância da organização social e sanitária 
nos territórios e em um período específico. Dessa forma, fatores econômicos como 
renda, emprego e organização da produção interferem positiva ou negativamente 
na saúde da população (CAMPOS et al., 2007). 
Diversos estudos foram e são publicados com o objetivo de analisar a saúde 
pública e as desigualdades nas condições de vida da população. Para representar 
os fatores que implicam no processo saúde-doença, o modelo apresentado por 
Dahlgren e Whitehead (1991) é o mais difundido e utilizado até hoje.
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
7
FIGURA 3 – DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
FONTE: Dahlgren e Whitehead (1991, p. 28)
As disposições das camadas na Figura 3 dispõem sobre a base das redes 
sociais e comunitárias, sendo que o apoio da participação popular está sendo 
ancorado como fundamento desse processo.
Buss e Filho (2007) expressam o conceito elaborado pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS) sobre os determinantes sociais. Resumidamente, 
podemos considerar que são as condições sociais em que as pessoas vivem ou 
trabalham.
Dahlgren e Whitehead (1991) esclarecem que as condições sociais não 
podem ser generalizadas, ou seja, pensar e agir no âmbito da saúde do mesmo 
modo para todos os grupos populacionais. Não há um modelo de política de 
saúde que possa ser aplicado da mesma forma em todos os países. Para elaborar 
uma estratégia de ação, devemos analisar alguns dados:
• Fatores de risco para o desenvolvimento de determinada doença.
• Considerar as desigualdades regionais para fazer saúde.
• Condições de pobreza da comunidade.
• Condições inadequadas de moradia.
• Condições impróprias para o trabalho.
• Desemprego.
• Restrição de acesso a nutrientes.
• Dificuldades de acesso a serviços essenciais (água, esgoto, eletricidade...).
• Apoio social e comunitário fragilizados.
Para Borde et al. (2015, p. 847), a determinação social dos processos saúde-
doença implica “reconhecer as dinâmicas sociais que engendram os processos 
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
8
de produção e reprodução dos padrões estruturais de dominação, exploração 
e marginalização nas sociedades concretas, moldam os modos de vida e se 
expressam nos processos saúde-doença”.
Michel (2004) relata que o social é que liga os indivíduos, tornando-os 
aliados e estabelecendo suas próprias regras e códigos. As relações sociais são 
consideradas como tais na medida em que são normalizadas segundo os acordos 
implícitos estabelecidos pelo grupo. A língua comum é considerada a melhor 
expressão do social, já que possibilita a comunicação entre os membros do grupo 
a se reconhecerem e realizarem ações consensuais.
Em qualquer comunidade é evidenciado suas normas e regras, porém, 
muitas vezes, para conhecê-la, o profissional da saúde necessita identificar 
as lideranças desse grupo para poder trabalhar de forma conjunta as ações de 
saúde. O fazer saúde na coletividade não é possível pelo conhecimento isolado, 
este precisa ser colocado na prática em conjunto, tecendo parcerias e sobretudo 
estabelecendo vínculos com a comunidade.
Minayo (2004, p. 15) ressalta que “a saúde enquanto questão humana e 
existencial é uma problemática compartilhada por todos os segmentos sociais”. Deve-
se avaliar em qualquer situação as condições de vida e de trabalho, já que qualificam 
de forma diferenciada a maneira pela qual as classes e seus segmentos pensam, sentem 
e agem a respeito dela. A saúde e a doença perpassam o corpo individual e social, 
confrontando com os problemas do ser humano na sua totalidade. 
“Os processos saúde-doença e a determinação social das iniquidades são 
reduzidas a uma combinação aleatória de eventos relacionados, porém discretos (políticas 
‘ruins’, práticas discriminatórias, baixa renda etc.), reforçando uma visão descontextualizada 
das iniquidades sociais em saúde” (BORDE et al., 2015, p. 853).
IMPORTANT
E
Podemos compreender a partir dessa análise que uma gestão política 
estruturada na equidade, justiça social, oportunidades de emprego e educação 
corroborariam para uma mudança no espectro da determinação social do processo 
saúde-doença. Como vimos anteriormente, muitos problemas identificados como 
fatores de risco para as doenças, instituído no espectro de Dahlgree e Whiterhead 
(1991), poderiam ser sanados a partir de uma política visando à equidade social.
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
9
2.2 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE
A expressão “qualidade de vida” se tornou popular e disseminado por 
todos, porém o seu conceito é complexo e exige a compreensão através da relação 
que temos com a saúde. Esse campo está inter-relacionado com o biológico, social, 
político e econômico e não só voltado para o discurso publicitário do bem-estar e 
atividade física (ALMEIDA et al., 2012).
A qualidade de vida deve ser compreendida de forma mais ampla, 
envolvendo os determinantes sociais de saúde e principalmente avaliando as 
possibilidades da mudança de estilo de vida dentro da realidade em que se vive.
O consumo do álcool é um problema de saúde pública que afeta diretamente 
a qualidade de vida de todos.
IMPORTANT
E
Os fatores de risco relacionado ao comportamento são identificados como 
uma opção para o indivíduo, sugerindo que ele cometa a mudança de hábitos e 
transforme o seu estilo de vida. Sabe-se que, na realidade, o ambiente e os fatores 
econômicos implicam nesse processo, inclusive de reconhecimento de um estilo 
de vida saudável (FILHO, 2011).
Podemos analisar o consumo do álcool como um exemplo de fator de risco 
para muitas doenças e situações de violência, afetando a vida não só do indivíduo, 
mas de toda a sua família e comunidade. A pessoa alcoolista, muitas vezes, utiliza 
essa substância como um escape de uma situação que lhe traz sofrimento. 
O consumo excessivo de álcool está relacionado ao impacto da iniquidade 
em saúde, os trabalhadores manuais, em comparação com outras profissões, 
possuem o hábito de beber excessivamente nos finais de semana, sendo que 
os demais distribuem o seu consumo de forma regular durante a semana. “A 
natureza do trabalho faz com que trabalhadores manuais sejam mais propensos a 
acidentes e traumatismos relacionados com o álcool” (FILHO, 2011, p. 1).
A Organização Pan Americana de Saúde (2019) divulgou a atual situação 
mundial: três milhões de mortes por ano resultam do uso nocivo do álcool, 
representando 5,3% de todas as mortes. O uso nocivo de álcool é um fator causal 
para mais de 200 doenças e lesões.
 
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
10
O consumo de álcool causa morte e incapacidade relativamente cedo na 
vida. Na faixa etária de 20 a 39 anos, aproximadamente 13,5% do total de mortes 
são atribuíveis ao álcool. Além das consequências para a saúde, o uso nocivo do 
álcool provoca perdas sociais e econômicas significativas para os indivíduos e 
para a sociedade em geral. 
FIGURA 4 – ÁLCOOL E SUAS COMPLICAÇÕES
FONTE: <https://www.grupovidasorocaba.com.br/images/blog/EFEITOS-DEVASTADORES-DO-
ALCOOLISMO.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2019.
Os países têm a responsabilidade de formular, implementar, monitorar e 
avaliar as políticas públicas para reduzir o uso nocivo do álcool, desenvolvendo 
as seguintes estratégias:
• Regular a comercialização de bebidas alcoólicas.
• Regular e restringir a disponibilidade de álcool.
• Promulgar políticas adequadas de condução sob os efeitos do álcool.
• Reduzir a demanda por meio de mecanismos de tributação e preços.
• Sensibilização para os problemas de saúde pública causados pelo uso nocivo 
do álcool e garantia do apoio a políticas eficazes.
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
11
• Fornecer tratamento acessível para pessoas com transtornos relacionados ao 
uso de álcool.
• Implementar em serviços de saúde programas de identificação e intervenção 
breve para consumo perigoso enocivo de álcool Organização Pan Americana 
de Saúde (2019). 
O vício em álcool também é um fator de risco para o desenvolvimento 
da depressão. Um transtorno psiquiátrico que pode ocorrer em pessoas de 
qualquer idade e sexo. Nesse transtorno, há a prevalência do desânimo e outros 
sintomas que são ligados a desequilíbrios cerebrais, quando há a diminuição de 
neurotransmissores como a serotonina, um hormônio que é ligado à sensação 
de prazer e bem-estar. A depressão é diferente da tristeza, pois mesmo se algo 
positivo acontece na vida da pessoa, ela continuará profundamente triste e 
poderá também desenvolver pensamentos suicidas. Essa doença já é considerada 
pela Organização Mundial da Saúde como o “Mal do Século” (BRASIL, 2019b). 
Outros fatores de risco para o desenvolvimento de depressão (BRASIL, 
2019b, p. 1):
• Histórico familiar.
• Transtornos psiquiátricos correlatos.
• Estresse crônico.
• Ansiedade crônica.
• Disfunções hormonais.
• Excesso de peso.
• Sedentarismo e dieta desregrada.
• Vícios (cigarro, álcool e drogas ilícitas).
• Uso excessivo de internet e redes sociais.
• Traumas físicos ou psicológicos.
• Problemas cardíacos.
• Separação conjugal.
• Enxaqueca crônica.
A depressão é um transtorno que acomete pessoas em todo o mundo. 
Cerca de 300 milhões de pessoas possuem o diagnóstico dessa doença. “Ela pode 
causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola 
ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio” 
(OPAS, 2018a, p. 1). Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano – 
sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 
e 29 anos.
Poucas pessoas em todo o mundo (menos de 10%) recebem o tratamento 
adequado para a depressão. A dificuldade está na falta de recursos, estigma social 
sobre problemas mentais e a falta de profissionais capacitados que acarretam 
numa avaliação imprecisa e tratamentos inadequados. “A carga da depressão e de 
outras condições de saúde mental está em ascensão no mundo. Uma resolução da 
Assembleia Mundial da Saúde, aprovada em maio de 2013, exigiu uma resposta 
integral e coordenada aos transtornos mentais em nível nacional” (OPAS, 2018a, p. 1).
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
12
A depressão pode ser prevenida de várias formas, é importante estar 
atento aos fatores de risco já descritos para poder intervir buscando uma rede de 
apoio para auxiliar a pessoa em sofrimento. 
• Alimentação saudável.
• Prática de atividades físicas regulares.
• Saber lidar com o estresse.
• Compartilhar os problemas com amigos e familiares.
• Praticar Meditação e Yoga.
• Ter um tempo para si (ler, ter hobbies e se divertir).
• Aprender a fazer coisas novas.
• Manter a mente ativa com pensamentos positivos (BRASIL, 2019b, p. 1).
Por desconhecimento, a depressão muitas vezes pode ser percebida pelas 
pessoas próximas à vítima como um estado de preguiça e desmotivação, já que o 
indivíduo apresenta falta de vontade para realizar as coisas, se sente inativa e sem 
perspectivas futuras. É importante não julgar, reprimir ou comparar o seu estado 
com o das outras pessoas. Toda ação nesse sentido será inútil e não ajudará no 
processo de recuperação. É importante o indivíduo estar sob os cuidados de um 
profissional especializado como psicólogo ou psiquiatra. Muitas vezes, a resolução 
para o problema é identificada nas sessões de terapia, dissolvendo a causa do 
sofrimento e reforçando as habilidades de lidar com as situações estressoras.
Abraham Maslow era psicólogo e em 1954 elaborou a Teoria da 
Hierarquia Necessidades Humanas, que definiu cinco categorias de satisfação 
pessoal e profissional (básicas, segurança, sociais, autoestima e autorrealização). 
“A natureza interna de cada pessoa é, em parte, singularmente sua e, em parte, 
universal na espécie” (MASLOW, 1962, p. 23). Ele acreditava ser possível estudar 
cientificamente essa natureza interna e identificar a sua constituição. Essa 
teoria é utilizada até hoje inclusive na área da saúde. Podemos exemplificar 
as categorias conforme a pirâmide de Maslow, que traz a hierarquização nas 
necessidades básicas até a autorrealização.
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
13
FIGURA 5 – PIRÂMIDE DE MASLOW
FONTE: <https://cristinamonte.com.br/wp-content/uploads/2018/11/REVISANDO-A-
HIERARQUIA-DAS-NECESSIDADES-DE-MASLOW___.png> Acesso em: 30 jul. 2019.
A base da pirâmide compreende as necessidades de nível baixo, que 
são as necessidades fisiológicas e de segurança; o topo da pirâmide é 
constituído pelas necessidades de nível alto, representantes da busca pela 
individualização do ser, são as necessidades sociais, de estima e de auto 
realização. À medida que um nível de necessidade é atendido, o próximo 
torna-se dominante (FERREIRA; DEMUTTI; GIMENEZ, 2010 p. 4).
QUADRO 3 – NÍVEIS DA PIRÂMIDE DE MASLOW
FONTE: Adaptado de Robbins (2002 apud FERREIRA; DEMUTTI; GIMENEZ, 2010)
Nível Características
1. Fisiológicas Incluem fome, sede, abrigo, sexo e outras necessidades corporais.
2. Segurança Inclui segurança e proteção contra danos físicos e emocionais.
3. Sociais Incluem afeição, aceitação, amizade e sensação de pertencer a um grupo.
4. Estima Inclui fatores internos de estima, como respeito próprio, realização e autonomia; e fatores externos de estima, como status, reconhecimento e atenção.
5. Autorrealização A intenção de tornar-se tudo aquilo que a pessoa é capaz de ser; inclui crescimento, autodesenvolvimento e alcance do próprio potencial.
A saúde emocional depende de múltiplos fatores, algumas genéticas 
e outras ambientais que interagem como o indivíduo reage frente à vida. Por 
um lado, pode haver a vulnerabilidade ao estresse que predispõe a pessoa a ser 
sensível a situações no dia a dia que se tornam fontes de angústia e debilitam 
o emocional. Pode também adquirir a forma de predisposições à depressão, 
ansiedade e doenças mentais que permanecem latentes até serem desencadeadas 
de acordo com a programação genética ou por eventos estressores significativos 
que precipitam o seu desenvolvimento (LIPP, 2015).
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
14
Campos et al. (2007 p. 68) ressaltam que o conhecimento do profissional 
sobre essas generalidades não é suficiente, caso o trabalhador não consiga 
reconstruir tais situações diagnósticas e terapêuticas em função da circunstância 
específica. O autor aponta como caminho: “a incorporação do saber e da vontade 
do usuário na construção do projeto coletivo ou clínico”.
Toda resolução em saúde requer envolvimento do coletivo. É esperado que 
o profissional desenvolva suas ações respaldado no conhecimento além da técnica, 
envolvendo os usuários no processo do tratamento. Para isso ocorrer de forma 
resolutiva, o indivíduo necessita compreender o processo e fazer parte das decisões. 
A saúde, enquanto estado vital, setor de produção e campo do saber 
está articulada à estrutura da sociedade através das suas instâncias econômicas, 
político-pedagógicas e históricas. “As ações de saúde (promoção, proteção, 
recuperação e reabilitação) constituem em uma prática social e trazem consigo as 
influências dos relacionamentos dos grupos sociais” (ROUQUAYROL; GURGEL, 
2018, p. 21).
Passamos a ideia de que as pessoas não têm saúde porque não 
querem, porque não se esforçam, porque não tem vontade de 
ter saúde. Faltam condições de viver e saúde para a maioria da 
população brasileira, não porque ela ou eu nos descuidamos, mas 
porque as autoridades não usam o dinheiro público de acordo com 
os nossos interesses (MINAYO, 1986, p. 22).
Avaliar o impacto das doenças e o comprometimento destas na rotina 
diária dos usuários sempre foi um desafio. A elaboração de um instrumento 
válido que seja capaz de avaliar a qualidade de vida somente foi implantado 
pelo Ministério da Saúde em 1995. Foi constituído um grupo de qualidade de 
vida (WHOQOL) com o objetivo de desenvolver instrumentos numa perspectiva 
internacional. O conceito gerado pelo grupode estudos sobre qualidade de vida 
foi “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e 
sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, 
padrões e preocupações” (FLECK, 2000, p. 1). 
As aplicações desses instrumentos são amplas e incluem não somente 
a prática clínica individual, mas também a avaliação de efetividade de 
tratamentos e de funcionamento de serviços de saúde. Além disso, 
podem ser importantes guias para políticas de saúde (FLECK, 2000, p. 1).
Foi no ano de 1964 que o termo qualidade de vida foi expressado 
publicamente pelo presidente dos Estados Unidos Lyndon Jhonson, que declarou: 
“os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só 
podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas” 
(FLECK et al., 1999, p. 2). A partir desse momento, tal expressão chamou a atenção 
dos cientistas sociais, filósofos e políticos, que se interessaram em estudar o 
conceito de qualidade de vida.
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
15
A expressão “qualidade de vida” é mais ampla do que condições de 
saúde e funcionamento social e inclui “condições que podem afetar a percepção 
do indivíduo, seus sentimentos e comportamentos relacionados ao seu 
funcionamento diário” (BULLINGER, 1993 apud FLECK et al., 1999, p. 20).
Kluthcovsky e Takayanagui (2006), em seus estudos sobre os aspectos 
conceituais da qualidade de vida, identificaram que esse termo surgiu nas bases 
de dados da Medline (base de dados de estudos científicos da área da saúde) a 
partir de 1977 e foram mais de 50.000 artigos publicados com esse tema depois 
de 1987. Ficou evidenciado, no estudo, que até hoje não existe um consenso na 
conceituação sobre qualidade de vida; segundo as autoras, isso se dá por envolver 
aspectos objetivos e subjetivos multidimensionais e relevante quando relacionado 
à promoção da saúde.
As considerações amplas trazidas nesse conteúdo acerca da abordagem 
sobre qualidade de vida se distanciam da responsabilidade única do indivíduo 
em conquistar esse estado. Já a compreensão do Ministério da Saúde minimiza 
tais fenômenos, orientando o sujeito a seguir um passo a passo para adquiri-la. 
O Ministério da Saúde instituiu os cinco passos para obter a qualidade de 
vida, que inclui:
• 1º Passo: adotar hábitos saudáveis como não fumar, não ingerir 
bebidas alcoólicas, dormir no mínimo oito horas por dia, fazer 
atividades físicas e lazer, resolver os problemas de forma racional 
com positividade, administrar o tempo fazendo uma atividade de 
cada vez e cultivar o bom humor. 
• 2º Passo: no trabalho, procure tirar férias anuais, não levar serviço 
para casa, manter o ambiente do trabalho limpo, ventilado e 
iluminado, ter um local sem barulho e sem poluição, e em momentos 
de tensão fazer respiração lenta e pausada.
• 3º Passo: fazer 30 minutos de atividade física diariamente, escutar 
música, sair com os amigos e família, fazer passeios ao ar livre e tirar 
um tempo para si.
• 4º Passo: pegar sol com os devidos cuidados: busque as horas mais 
frescas do dia e evite exposição prolongada ao sol; use sempre 
protetor solar nas áreas expostas ao sol; use óculos escuros e roupas 
claras, chapéu ou boné para proteger-se.
• 5º Passo: alimentação: coma frutas, legumes e verduras (mínimo 
cinco refeições diárias); evite refrigerantes e salgadinhos; beba pelo 
menos dois litros (6 a 8 copos) de água por dia; faça as refeições 
em ambiente calmo e nunca assistindo televisão; evite comer em 
excesso quando estiver nervoso ou ansioso (BRASIL, 2015b, p. 1).
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
16
FIGURA 6 – HÁBITOS SAUDÁVEIS
FONTE: <https://www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.718966!/image/image.jpg_gen/
derivatives/landscape_653/image.jpg>. Acesso em: 9 ago. 2019.
Reserve um tempo
para curtir a vida 
e a convivência
com os outros Viva 
intensamente
seus momentos
em família
Pratique 
atividades
físicas
Mantenha 
uma
alimentação
saudável
Reforce 
seus laços
de amizade
Não abra 
mão de 
boas noites
de sono
Não tenha
vergonha de 
buscar ajuda de 
profissionais
E lembre-se:
você não é
um per-herói.
Reconheça 
seus limites
e viva a vida
intensamente!
Na saúde pública, devemos pensar no coletivo, muitas vezes uma família 
não tem como fazer cinco alimentações em um dia, nem cultivar o bom humor 
frente ao desemprego, nem estar morando longe do barulho e da poluição, nem 
ter a prioridade de comprar protetor solar. Essas questões devem ser analisadas 
quando se está trabalhando com a comunidade. Conhecer a realidade da população 
que estamos atendendo é fundamental para a resolução dos problemas.
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
17
FIGURA 7 – INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
FONTE: Fleck (2000, p. 1)
Quadro 1
Domínios e facetas do WHOQOL.
Domínio I – domínio físico
1. dor e desconforto
2. energia e fadiga
3. sono e repouso
Domínio II – domínio psicológico
4. sentimentos positivos
5. pensar, aprender, memória e concentração.
6. autoestima
7. imagem corporal e aparência
8. sentimentos negativos
Domínio III – nível de independência
9. mobilidade
10. atividades da vida cotidiana
11. dependência de medicação ou de tratamentos
12. capacidade de trabalho
Domínio IV – relações sociais
13. relações pessoais
14. suporte (apoio) social
15. atividade sexual
Domínio V – meio ambiente
16. segurança física e proteção
17. ambiente do lar
18. recursos financeiros
19. cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
20. oportunidade de adquirir novas informações e habilidades
21. participação em e oportunidade de recreação / lazer
22. ambiente físico (poluição / ruído/ trânsito/ clima)
23. transporte
Domínio VI – aspectos espirituais/religião/ crenças pessoais
24. espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais
Na Figura 7, consta o instrumento WHOQOL -100, que integra as 
perguntas relacionadas aos vários campos individuais e sociais para poder 
avaliar a qualidade de vida do ser humano. As categorias estão separadas por 
domínio físico, domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, 
meio ambiente e aspectos espirituais.
Todos os domínios categorizados no instrumento para a avaliação da 
qualidade de vida são considerados como necessidades tangíveis para poder viver 
plenamente. No meio social, é perceptível as diferenças culturais entre os grupos 
sociais, separados pela história ou por origens étnicas. A multiculturalidade 
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
18
expressa um desafio “perante a concepção do termo qualidade de vida e, 
principalmente, sobre instrumentos de quantificação, devido à relatividade de 
compreensão e a expectativa sobre o que é um bom nível de vida” (ALMEIDA et 
al., 2012, p. 29).
A atuação na área da saúde requer esse olhar dinâmico que deveria acolher 
a todos, sem partir de julgamentos da cultura ou origem de cada indivíduo. O 
fazer saúde implica ser dinâmico nas percepções para o planejamento das ações. 
A saúde coletiva é considerada um campo transdisciplinar, de (re)
construção de saberes a partir de novos olhares exercidos pelos profissionais 
da saúde frente ao cenário que se encontram. Também deve ser um campo para 
viabilização de novas ideias e projetos a fim de consolidar resultados satisfatórios 
através de ações inovadoras.
A temática sobre qualidade de vida adquiriu relevância na área da saúde 
devido a três fatores (GIANCHELLO, 1996 apud OGATA, 2015, p. 93):
• Evolução tecnológica que aumentou a sobrevida.
• Mudança no perfil epidemiológico das doenças, com grande 
prevalência de doenças crônicas, onde não há cura, mas necessidade 
de se conviver com as limitações.
• Necessidade de se considerar as pessoas como seres biopsicossociais.
Não podemos deixar de citar sobre ambientes saudáveis quando tratamos 
de qualidade de vida. Campos et al. (2007) exploram sobre a importância dos 
ecossistemas saudáveis numa abordagem de ecologia da promoção da saúde 
humana. “O objetivo desse enfoqueé desenvolver novos conhecimentos sobre a 
relação saúde e ambiente, em realidades concretas, de forma que permita ações 
adequadas, apropriadas e saudáveis das pessoas e para as pessoas que ali vivem” 
(CAMPOS et al., 2007, p. 92).
Não é possível ter qualidade de vida vivendo em um ambiente insalubre, 
sem ventilação, sem luz solar, sem água potável, sem ter contato com a natureza, 
se alimentando de forma precária ou sem ingerir alimentos com os nutrientes que 
nosso organismo necessita, sem respirar ar puro etc. Todas essas questões estão 
ligadas à natureza e a nossa própria sobrevivência.
“A Saúde é fator fundamental para o desenvolvimento, cujos efeitos corroboram 
para uma vida saudável” (CAMPOS et al., 2007, p. 93).
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
19
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o órgão responsável 
pela fiscalização e monitoramento dos agrotóxicos utilizados nos alimentos. O 
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) foi criado 
em 2001 e já analisou mais de 30 mil amostras referentes a 25 tipos de alimentos 
de origem vegetal. No último relatório apresentado no período de 2013 a 2015 
do total das amostras monitoradas, 9.680 amostras (80,3%) foram consideradas 
satisfatórias, sendo que 5.062 dessas amostras (42,0%) não apresentaram resíduos 
dentre os agrotóxicos pesquisados e 4.618 (38,3%) apresentaram resíduos de 
agrotóxicos dentro do Limite Máximo de Resíduos (LMR), estabelecido pela 
Anvisa. Foram consideradas insatisfatórias 2.371 amostras (19,7%), sendo que 
362 destas amostras (3,00%) apresentaram concentração de resíduos acima do 
LMR e 2.211 (18,3%) apresentaram resíduos de agrotóxicos não autorizados para 
a cultura (ANVISA, 2016).
Somente no primeiro semestre do ano de 2019 foram liberados 290 
agrotóxicos pelo Ministério da Agricultura. Desses, 32% foram proibidos de serem 
utilizado na Europa. “O Ministério da Saúde registrou 4.003 casos de intoxicação 
aguda por agrotóxicos em 2017 – quase 11 por dia – e 148 mortes. De 2015 a 
2017, foram confirmados 1.141 casos de intoxicação crônica” (DAMASIO, 2019, p. 
1). Um dos pesticidas utilizados (sulfoxaflor) é o responsável pelo declínio dos 
enxames de abelhas por todo o Brasil (MEIRELLES, 2019). 
“Por mais que a agricultura ainda dependa de agrotóxicos, [é necessário] que 
ela venha a depender de agrotóxicos de menor toxicidade e que faça um manejo mais 
ecológico e sustentável, em vez de optar pelo uso desenfreado de veneno, pautando 
seu modo de produção em cima disso” (MEIRELLES, 2019, p. 1).
FIGURA 8 – EXTERMINAÇÃO DAS ABELHAS PELO USO DOS AGROTÓXICOS
FONTE: ABRASCO (2019, s.p.)
A água é fonte essencial para a vida humana e de todo ecossistema. É 
uma questão de saúde pública pois está ligada à manifestação de várias doenças, 
quando não está apta para o consumo. Entre as doenças transmitidas através da 
água por agentes biológicos destacam-se: 
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
20
• Doenças veiculadas pela ingestão da água: febre tifoide, febre 
paratifoide, cólera, dissentiria bacilar, amebíase, enteroinfecções em 
geral, hepatite infecciosa, giardíase e poliomielite.
• Doenças veiculadas pelo contato da água com pele ou com as 
mucosas: esquistossomose, doenças de pele, infecções de ouvido, 
olhos, nariz e garganta (ROUQUAYROL; GURGEL, 2018, p. 366).
Dados da ONU indicam que 3,5 milhões de pessoas morrem no mundo 
anualmente, devido à distribuição inadequada de água, falta de saneamento e 
ausência de políticas de higiene. A falta de saneamento básico é um dos principais 
determinantes da redução da potabilidade da água: apenas 46% dos domicílios 
têm coleta de esgoto, grande parte sem tratamento adequado. Desmatamento, 
impermeabilização do solo, degradação e contaminação dos rios e desperdício 
são alguns outros fatores. “Não se trata de um capricho da natureza, mas do 
resultado de escolhas sociais e econômicas insustentáveis. Quem demanda mais 
mercadoria paga menos. O consumo humano fica em segundo plano” (ROCHA, 
2014, p. 3).
Precisamos de um meio ambiente saudável e em equilíbrio para a nossa 
sobrevivência. A Saúde Pública abrange todas as esferas relacionadas à saúde da 
população. Nesse sentido, o Ministério da Saúde instituiu a normativa 01/2005 
sobre a importância da saúde ambiental. Trata-se de um campo de práticas 
intersetoriais e transdisciplinares voltadas para os reflexos, na saúde humana, 
das relações ecogeossociais do ser humano com o ambiente com vistas ao bem-
estar, à qualidade de vida e à sustentabilidade, a fim de orientar políticas públicas 
formuladas com a utilização do conhecimento disponível e com a participação e 
controle social (BRASIL, 2009). 
Em 1997, foi implantada a Lei das Águas, lei federal que estabelece a 
gestão dos recursos hídricos, sendo que se estabeleceu a partir desta data a Política 
Nacional de Recursos Hídricos. Um dos principais fundamentos do documento 
é que “a água é considerada um bem de domínio público e um recurso natural 
limitado, dotado de valor econômico” (BATALHA, 2018, p. 13).
A Política Nacional de Recursos Hídricos prevê inclusive que, em situações 
de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e de 
animais e a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a 
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades (BRASIL, 1997).
A Cidade do Cabo, na África do Sul, com 4 milhões de habitantes, passou 
por uma situação crítica de acesso à água. Uma cidade turística e populosa sem 
nenhuma gota de água na torneira. Com a escassez da chuva por três anos, em 2018 
teve seus reservatórios com menos de 25% de água e uma contagem regressiva 
para evitar o temido dia sem ter água nas torneiras e cada morador terá direito 
somente a 25 litros de água por dia, fornecidos em fontes públicas espalhadas pela 
cidade. “O atual racionamento permite que o gasto diário seja de até 50 litros. De 
acordo com a ONU, o consumo médio em condições normais é de 110 litros por 
TÓPICO 1 | BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA
21
pessoa. Um bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à quantidade de água 
suficiente para abastecimento mínimo diário, que é de 20 litros por dia; segundo 
a Organização Mundial da Saúde” (BATALHA, 2018, p. 14). 
“Os governos têm o dever e a responsabilidade de executar políticas 
eficazes e eficientes, sem negligenciar nenhuma agenda ambiental” (BOCHUHY, 
2019, p. 1). Com o objetivo de demonstrar as maiores lacunas e obrigações a fazer, 
o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) apresentou subsídios sobre 
as demandas (mínimas/básicas) para a construção de um plano ambiental geral 
para o Brasil (BOCHUHY, 2019).
22
Neste tópico, você aprendeu que:
• É na vida social que se reconheceu a importância e a necessidade de promover 
a saúde e tratar as doenças, é nessa consciência que se aloja a saúde pública, 
passando pela idealização higienista até a participação popular nas decisões de 
se fazer saúde.
• Leavell e Clark (1977) foram os precursores nos estudos sobre o modelo da história 
natural das doenças e os níveis de prevenção (primária, secundária e terciária).
• A combinação dos dois processos: pré-patogênese e patogênese é referida 
como a história natural das doenças e pode ser utilizada para a finalidade de 
prevenção dos agravos.
• A prevenção da doença pode ser realizada no período de pré-patogênese, 
através de medidas destinadas a desenvolver a saúde integral pela proteção 
específica do homem contra os agentes patológicos ou pelas ações contra os 
agentes do meio ambiente. Trata-se do modelo de atenção primária.
• Após o diagnóstico da doença, no início da patogênese, o tratamento deve ser 
iniciado para minimizar os agravos, é denominada de prevenção secundária.
• Ao se instalar, os efeitos das sequelas e limitações, a reabilitação se faz necessário 
através da prevenção terciária.
• A qualidade de vida deve ser compreendida de forma mais ampla, envolvendo 
osdeterminantes sociais de saúde e, principalmente, avaliando as possibilidades 
da mudança de estilo de vida dentro da realidade em que se vive.
• A saúde coletiva é considerada um campo transdisciplinar, de (re)construção de 
saberes a partir de novos olhares exercidos pelos profissionais da saúde frente 
ao cenário que se encontram. Também deve ser um campo para viabilização de 
novas ideias e projetos a fim de consolidar resultados satisfatórios através de 
ações inovadoras.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
1 Como a manifestação da doença era percebida na época do Renascimento?
2 Analise as sentenças a seguir e classifique V para verdadeiro e F para falso:
( ) Os níveis de atenção da prevenção das doenças são considerados como 
primário, secundário e terciário.
( ) Na atenção secundária, é prevista a reabilitação.
( ) Moradia e emprego são considerados fatores dos determinantes sociais do 
processo saúde-doença.
( ) O consumo de álcool é um problema de saúde pública no Brasil e fator de 
risco para várias outras doenças, inclusive a depressão. 
3 Descreva pelo menos três aspectos que integram o instrumento na avaliação 
da qualidade de vida.
AUTOATIVIDADE
24
25
TÓPICO 2
A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Imagine que você se envolva em um acidente de trânsito, a primeira reação 
de qualquer cidadão que presencie o acontecimento é ligar para o Serviço Móvel 
de Atendimento de Urgência (SAMU), este chegará ao local da ocorrência para 
prestar o atendimento de urgência/emergência, e encaminhará, se necessário, os 
feridos para um hospital. No hospital, as vítimas poderão passar por uma série 
de exames e até serem submetidas a intervenções cirúrgicas e permanecerem 
internadas por um determinado tempo. Todos esses serviços são gratuitos. 
Segundo o Conselho Federal de Medicina (2019), os acidentes de trânsito no 
Brasil já deixaram mais de 1,6 milhões de feridos nos últimos dez anos e tiveram 
um custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Além da emergência, outros serviços são prestados aos cidadãos sem 
custo, por exemplo: vacinas, transplante de órgãos, hemodiálise, tratamento para 
HIV, fiscalização da água e de alimentos, entre outros. Tudo isso só é possível 
porque no Brasil a saúde passou a ser considerada – como veremos nesta unidade 
com mais detalhes – um direito do cidadão e dever do Estado. 
Para um sistema tão complexo, o SUS é relativamente jovem e tem muitos 
desafios pela frente para o aperfeiçoamento do serviço. Em países como Canadá, 
Inglaterra e França, o atendimento médico também é gratuito e tem qualidade. No 
entanto, nos Estados Unidos, por exemplo, onde não há um serviço de saúde pública, 
a situação de acidentes como descrito antes seria totalmente custeada pela vítima 
ou pelo seu plano de saúde. Sem falar dos casos de doenças como o câncer, que 
necessitam de um tratamento caro e muitas vezes de longo prazo, fazendo com que 
as pessoas vendam o seu patrimônio para obter alguma chance de cura. 
Avançando os estudos nesse sentido, refletiremos sobre o seguimento da 
saúde pública no Brasil com o olhar crítico do que ainda pode ser melhorado, 
mas com a compreensão de que o SUS é uma conquista que deve ser preservada.
 A seguir, estudaremos sobre o histórico da construção do SUS, procurando 
entender como era o sistema de saúde do Brasil antes dessa conquista, o percurso 
da sua criação, passando pelo movimento da reforma sanitária até a identificação 
das legislações que hoje compõem o sistema. 
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
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2 HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DO SUS
No longo caminho da constituição do SUS, existem marcos que foram 
necessários para que pudéssemos criar o sistema de saúde que temos hoje. 
Legislações específicas foram criadas ao longo dos anos, para que, aos poucos, 
conseguíssemos estruturar o sistema de maneira sólida. 
2.1 O BRASIL ANTES DO SUS
Desde a época do Brasil Colônia, o acesso para a cura individual de 
doenças era voltado somente para as pessoas com bom nível socioeconômico, que 
poderiam pagar pela totalidade do tratamento. A outra parcela da população, 
menos favorecida, recorria ao saber popular como meio de assistência. Segundo 
Andrade et al. (2018, p. 444), “mais precisamente até meados do século XIX, os 
problemas de saúde e higiene ficavam sob a responsabilidade das localidades 
com a execução de medidas contra a imundície nas ruas e quintais”.
A assistência à população pobre e indigente ficava sob os cuidados da 
iniciativa filantrópica de figuras de importância econômica e social e 
de instituições beneficentes ligadas à Igreja Católica, como as Santas 
Casas de Misericórdia. A parcela restante da população buscava 
socorro dos médicos existentes, ou então de cirurgiões, barbeiros, 
sangradores, empíricos, curandeiros, parteiros e curiosos (COSTA, 
1985 apud ANDRADE et al., 2018, p. 444).
Com a chegada das Santas Casas de Misericórdia, que foram instituições 
criadas pelo Estado português, que depois se instauraram também no Brasil, a 
fim de prestar assistência social, é que os menos favorecidos começaram a ter 
algum tipo de atendimento (ABREU, 2001). 
FIGURA 9 – SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO
FONTE: <https://santacasasp.org.br/upSrv01/up_publicacoes/12516/24080_Hospital%20
Central_009.jpg>. Acesso em: 22 out. 2019.
TÓPICO 2 | A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
27
O vocábulo “misericórdia” tem sua origem no latim e significa em 
sentido estrito “doar seu coração a outrem” (“misere” e “cordis”). Em 
sentido mais amplo quer dizer “doar a quem necessita”. As Santas 
Casas de Misericórdia trabalham com o objetivo de atender este 
princípio, recebendo os mais necessitados (CMB, 2019, p. 1).
Depois de criadas, logo após o descobrimento do Brasil, as Santas Casas 
atendiam aos enfermos, e sua assistência também era voltada ao amparo à velhice, 
às crianças vulneráveis, aos portadores de hanseníase, entre outros. Destaca-se 
também que essas instituições foram responsáveis em vários países, inclusive 
no Brasil, pela implantação e exercício dos primeiros cursos de Medicina e 
Enfermagem, e hoje atuam como responsáveis pelo maior número de residências 
médicas, contribuindo para a formação destes profissionais da saúde (CMB, 2019).
Iniciando a abordagem sobre a reforma higienista, deve-se considerar que 
o Brasil sofreu um golpe de Estado, no qual se instaurou o regime republicano 
com lugar de destaque para a elite cafeeira. Nessa época, a situação sanitária 
do país era muito precária e como não havia nenhuma medida para controlar 
a situação, as doenças endêmicas e graves epidemias ocorriam, sem falar das 
doenças pestilenciais como: cólera, febre amarela, varíola, entre outras e as de 
origem infecto-parasitárias como: tuberculose, hanseníase e febre tifoide (VERDI; 
COELHO, 2005).
Nesse contexto da política republicana com a entrada do capitalismo, 
começou a preocupação de mudar a imagem do Brasil perante os investimentos 
estrangeiros, pois era considerado um país sujo e pestilento (COSTA, 1985 apud 
VERDI; COELHO, 2005).
 Em 1903, o médico Oswaldo Cruz foi nomeado para a Diretoria Geral de 
Saúde Pública. Sua designação ao cargo foi fundamental para a saúde pública 
do país e com inúmeros desafios para controlar as doenças transmissíveis que 
estavam disseminadas naquele período.
O principal problema da época era a febre amarela, que matou quase mil 
pessoas somente em 1902 na cidade do Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz era adepto 
da teoria do médico cubano Juan Carlos Finlay, que dizia que a febre amarela se 
dava pela picada do mosquito Stegomyia fasciata (hoje o conhecemos como Aedes 
aegypti). Várias estratégias e planos de ação contra os focos do mosquito foram 
iniciados, ele criou inclusive brigadas sanitárias, que desinfectavam todos os locais 
diariamente onde poderiam haver focos. Também buscou educar a população 
entregando folhetos informativos sobre as medidas que estavam sendo tomadas. 
Em 1907, já não se comentava mais sobrea febre amarela, a epidemia aos poucos 
foi perdendo força (FIOCRUZ, 2019b).
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
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FIGURA 10 – OSWALDO CRUZ
FONTE: <http://www.oswaldocruz.com/site/images/artigos/osvaldocruzreproducao.jpg>. 
Acesso em: 24 jul. 2019.
FIGURA 11 – GUARDAS SANITÁRIOS E APARELHOS UTILIZADOS NO CONTROLE DOS FOCOS 
DE MOSQUITOS E DE RATOS
FONTE: <http://oswaldocruz.fiocruz.br/images/igallery/resized/301-400/74-356-900-606-100.jpg>. 
Acesso em: 24 jul. 2019.
Após a campanha da febre amarela, esforçou-se pela erradicação da 
peste bubônica. Entretanto, toda a polêmica ocorreu no caso da varíola. Em 1904, 
Oswaldo Cruz sancionou uma lei em que os habitantes do Rio de Janeiro e cidades 
com maior quantidade de habitantes eram obrigados a se vacinarem. Esse projeto 
tinha medidas autoritárias, exigindo inclusive atestados de vacinação para 
matrículas em escolas, empregos públicos, entre outros. Caso fosse constatado 
que a pessoa não tinha se vacinado, ela podia sofrer algum tipo de punição 
(FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2001 apud VERDI; COELHO, 2005).
O fator imediatamente deflagrador da Revolta da Vacina foi a 
publicação, no dia 9 de novembro de 1904, do plano de regulamentação 
da aplicação da vacina obrigatória contra a varíola [...].
TÓPICO 2 | A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
29
O argumento do governo era de que a vacinação era de inegável e 
imprescindível interesse para a saúde pública. E não havia como 
duvidar dessa afirmação, visto existirem inúmeros focos endêmicos 
da varíola no Brasil, o maior deles justamente na cidade do Rio de 
Janeiro (SEVCENKO, 2010, p. 8).
A população, ao perceber que o poder público agiu de forma autoritária, 
revoltou-se contra as medidas sanitárias, processo que foi chamado de Revolta da 
Vacina. Milhares de manifestantes durante uma semana se organizaram em torno 
de uma liga que chamavam “Liga contra a Vacina Obrigatória”, parando a cidade, 
protestando nas ruas etc. Esse modelo do sanitarismo higienista permaneceu até 
os anos 1920 (VERDI; COELHO, 2005).
Segundo Sevcenko (2010, p. 12), a charge a seguir “mostra o senador 
Lauro Sodré e o personagem popular ‘Zé Povinho’ contra o sanitarista Osvaldo 
Cruz e o presidente Rodrigues Alves”. 
FIGURA 12 – CHARGE: REVOLTA DA VACINA
FONTE: Sevcenko (2010, p. 12)
sociedade brasileira, nos fornece uma visão particularmente 
esclarecedora de alguns elementos estruturais que preponderaram 
em nosso passado recente – repercutindo até mesmo nos dias atuais. 
A constituição de uma sociedade predominantemente urbanizada 
e de forte teor burguês no início da fase republicana, resultado do 
enquadramento do Brasil nos termos da nova ordem econômica 
mundial instaurada pela Revolução Científico-Tecnológica (por 
volta de 1870), foi acompanhada de movimentos convulsivos e crises 
traumáticas, cuja solução convergiu insistentemente para um sacrifício 
cruciante dos grupos populares (SEVCENKO, 2010, p. 5).
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
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Em 1923, foi criada a Lei Eloy Chaves, consolidando a base do sistema 
previdenciário brasileiro “determinando a criação de uma Caixa de Aposentadorias 
e Pensões – CAP, para os trabalhadores de ferrovias” (BATICH, 2004, p. 1). 
No artigo 9º da lei, constam os direitos que foram obtidos pelos empregados 
ferroviários: 
1º a socorros médicos em casos de doença em sua pessoa ou pessoa de 
sua família, que habite sob o mesmo teto e sob a mesma economia;
2º a medicamentos obtidos por preço especial determinado pelo 
Conselho de Administração;
3º aposentadoria;
4º a pensão para seus herdeiros em caso de morte (BRASIL, 1923, p. 1).
Dessa forma, podemos analisar que, a partir dessa lei, começaram as 
discussões sobre atender às necessidades dos empregados. Nos anos posteriores, 
estendeu-se para outras classes de trabalhadores, em 1926 o regime da lei foi 
estendido aos portuários e marítimos; em 1928, aos trabalhadores dos serviços 
telegráficos e radiotelegráficos; em 1930, para os empregados nos serviços de 
força, luz e bondes; em 1931, aos empregados dos demais serviços públicos 
concedidos ou explorados pelo Poder Público, em 1932 os trabalhadores nas 
empresas de mineração (BRASIL, 2015a).
FIGURA 13 – LEI ELOY CHAVES
FONTE: A autora
Ano
1923
Lei Eloy Chaves
Caixa de aposentadoria 
e pensão - CAP
Beneficiava 
poucas categorias 
profissionais
Organizadas
por empresas
Haviam diferenças entre os planos de benefícios das CAPs, pois como 
não existiam regras comuns de funcionamento técnico e administrativo para 
elas, cada órgão podia formar sua própria norma. Para substituir esse sistema, 
foram fundados os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs), aliando os 
trabalhadores de um dado ofício ou setor de atividade (MERCADANTE, 2002). 
A partir desse momento, a filiação era dada sobre as categorias profissionais, 
diferente das CAPs, que se organizavam por empresas. No entanto, essa decisão 
novamente era voltada somente para trabalhadores, que teriam exclusivamente o 
acesso à medicina previdenciária.
TÓPICO 2 | A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
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FIGURA 14 – CRIAÇÃO DO IAPS
FONTE: A autora
Ano
1932
Institutos de 
Aposentadoria e Pensão 
IAPS
Organizados 
por categorias 
profissionais
Criado a partir 
da fusão das 
CAPS e IAPS
Posteriormente, em 1966, todos os IAPS foram fundidos no Instituto 
Nacional da Previdência Social (INPS) através do Decreto-Lei nº 200 de 1967, esse 
também atribuiu a função de formular a política nacional de saúde ao Ministério 
da Saúde (criado em 1953), porém, seu orçamento ainda era precário.
Em 1977, foi criado o Sistema Nacional da previdência Social (SINPAS), 
esse novo sistema transferiu funções que eram exercidas pelo INPS para duas 
outras instituições: Instituto de Administração da Previdência Social (IAPAS), 
que faria a gestão financeira, e o Instituto Nacional de Assistência Médica da 
Previdência Social (INAMPS) que asseguraria a assistência médica somente 
aos trabalhadores de carteira assinada e seus dependentes, o que resultou na 
construção de unidades de atendimento ambulatorial e hospitalar. No INPS, 
permaneceu apenas a competência para a concessão de benefícios (FGV, 2019; 
BRASIL, 2002a; VERDI; COELHO, 2005).
FIGURA 15 – CRIAÇÃO DO INAMPS
FONTE: A autora
Ano
1977
Sistema Nacional da 
Previdência Social - 
SINPAS
Constituição do INAMPS: 
Assistência médica para 
trabalhadores de carteira 
assinada
Como o sistema do INAMPS beneficiava somente os trabalhadores de 
carteira assinada, uma parte da população brasileira continuava sem direito à 
saúde. Nessa época, os brasileiros, com relação à assistência à saúde, estavam 
divididos em três categorias, a saber:
• “Os que podiam pagar pelos serviços.
• Os que tinham direito a assistência prestada pelo INAMPS.
• Os que não tinham nenhum direito” (BRASIL, 2002a, p. 12).
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
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Em 1978, houve a Conferência Internacional sobre Atenção Primaria 
de Saúde, realizada na cidade de Alma-Ata, no Cazaquistão, organizada pela 
Organização Mundial da Saúde, fundamentando-se na necessidade de promover 
saúde a todos os povos do mundo. A partir dessa conferência, foi criada a 
Declaração de Alma Ata, que se compõe por dez itens, salientando a busca por 
uma solução dos problemas de saúde mundiais, enfatizando a importância da 
atenção primária. 
Seguem os dois primeiros tópicos da declaração: 
A Conferência reafirma enfaticamente que a saúde – estado de completo bem 
estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou 
enfermidade – é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais 
alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja 
realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além 
do setor da saúde.
A chocante desigualdade existente no estado de saúde dos povos, particularmente 
entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como dentro dos 
países, é política, social e economicamente inaceitável e constituipor isso objeto da 
preocupação comum de todos os países (BRASIL, 2002b).
Em março de 1986 foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde, 
com forte participação social, que deu espaço para mais tarde ser possível a 
criação dos sistemas unificados e descentralizados de saúde (SUDS).
2.2 MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA
O médico Dr. Sergio Arouca é considerado o precursor do movimento da 
reforma sanitária no Brasil. Ele se referia a esse movimento como nascido da luta 
contra a ditadura, no final dos anos 1960 e começo dos anos 1970, um período 
de grande repressão no país. Nessa época, o setor da saúde se preocupava em 
como as doenças eram transmitidas, e era embasado nas ciências biológicas. A 
grande mudança dessa visão aconteceu quando foi incorporada a teoria marxista, 
o materialismo dialético e o materialismo histórico, que nos mostra que a doença 
está socialmente determinada. Nos debates prévios da 8ª Conferência Nacional 
de Saúde, o termo “reforma sanitarista” foi utilizado para falar sobre ideias que 
se tinham sobre as modificações que eram necessárias na área da saúde, em que o 
objetivo seria a melhoria das condições de vida da população, ou seja, um grupo 
de pessoas tinham ideias comuns para o setor da saúde estavam nessa ação 
social. Com o fim da ditadura militar, o movimento, que já tinha suas propostas, 
conseguiu se pronunciar em um documento chamado “Saúde e Democracia” e 
enviou para a aprovação do Legislativo. Uma das ideias centrais era a transferência 
do INAMPS para o Ministério da Saúde. Esse documento foi apresentado na 
8ª conferência Nacional de Saúde, depois Arouca foi eleito deputado federal e 
designado relator da extinção do INAMPS (FIOCRUZ, 2019a). 
TÓPICO 2 | A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
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FIGURA 16 – SÉRGIO AROUCA
FONTE: <http://www.ccs.saude.gov.br/cns/images/arouca.jpg>. Acesso em: 23 jul. 2017.
No processo de “resistência democrática” ao governo autoritário, no 
período de 1960/1970 até o início dos anos 1980, fruto de análise crítica 
da política de saúde hegemônica naquela época, nasceu e desenvolveu-
se o chamado movimento sanitário, que se consolida em meados da 
década de 1970 e, progressivamente, politiza a questão da saúde, 
procurando agrupar a oposição com base nua proposta reformadora 
para o setor. Esse movimento amplia sua proposta, evoluindo para um 
projeto de sistema de saúde em que o princípio central é “saúde: direito 
de todos e dever do Estado, envolvendo a universalização. Integração, 
equidade e descentralização com efetiva participação da população. 
Surge, então, a proposta da Reforma Sanitária” (AROUCA, 1991, 
COHN, 1991, HEIMANN, 1992; ALMEIDA, 1995 apud ANDRADE et 
al., 2018, p. 445).
Em março de 1986, aconteceu a VIII Conferência Nacional de Saúde, ela 
conseguiu uma grande representatividade, “cumpriu o papel de sistematizar 
tecnicamente e disseminar politicamente um projeto democrático de reforma 
sanitária” (FGV, 2019, p. 1).
FIGURA 17 – 8a CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE
FONTE: <https://apsp.org.br/wp-content/uploads/2016/03/8%C2%AA-Confer%C3%AAncia-1.jpg>. 
Acesso em: 23 jul. 2019.
UNIDADE 1 | A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
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Sérgio Arouca referiu que “a saúde enquanto projeto pode ser demarcada 
antes e depois da Oitava, onde novamente discutimos o valor da participação da 
população, o valor do controle social, o valor da democracia direta e da luta pela 
redemocratização do país” (BRASIL, 2019a, p. 1).
A Comissão Nacional da Reforma Sanitária elaborou um documento 
no ano de 1987, composto pelo conjunto de estudos que subsidiaram os seus 
trabalhos, que tomou como base o relatório final da 8ª Conferência Nacional de 
Saúde, segue um trecho do documento: 
A Reforma Sanitária é, portanto, o movimento de construção do 
novo Sistema Nacional de Saúde, a partir das principais conclusões e 
recomendações da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Isto pressupõe que: 
• A saúde seja entendida como um processo resultante das condições 
de vida e a atenção à saúde não se restrinja à assistência médica, 
mas a todas as ações de promoção, proteção e recuperação; 
• A saúde seja um direito de todos e um dever do Estado, assegurados 
constitucionalmente, daí decorrendo a natureza social das ações e 
serviços de saúde, subordinados ao interesse público; 
O setor saúde seja reorganizado e redimensionado, de forma a 
permitir o acesso universal e igualitário de toda a população a todas as 
ações e serviços necessários, dentro do conhecimento e da tecnologia 
disponíveis (COMISSÃO NACIONAL DA REFORMA SANITÁRIA, 
1987, p. 11).
Nesse mesmo documento, além do citado, foram apresentados as 
diretrizes e os princípios que após serão contemplados no sistema que estava por 
vir, o SUS. Dessa forma, podemos perceber o SUS estava sendo desenhado.
O SUS é um produto da Reforma Sanitária Brasileira, originada do 
movimento sanitário, processo político que mobilizou a sociedade 
brasileira para propor novas políticas e novos modelos de organização 
de sistema, serviços e práticas de saúde. Uma realização importante 
desde processo foi a inserção no texto constitucional da saúde como 
direito de cidadania e dever do Estado, o que realçou e deu força jurídica 
de relevância pública às ações e serviços de saúde (VASCONCELOS; 
PASCHE, 2007, p. 532).
Em 1987, foram criados os sistemas unificados e descentralizados de 
saúde (SUDS), momento marcante na história, pois foi a primeira vez que o 
Governo Federal repassou recursos para estados e municípios ampliarem a rede 
de serviços. Além disso, em suas diretrizes já constavam algumas que seriam 
utilizadas posteriormente no SUS (REIS et al., 2017).
Na prática, a implantação do SUDS gerou polêmica, pois foram 
mantidos mecanismos de controle centralizados que favoreceram 
a manipulação política e a reprodução da lógica privatizante. Desta 
maneira, o SUDS não alterou o modelo assistencial vigente, persistindo 
a desigualdade de acesso aos serviços, a baixa resolutividade e 
produtividade dos recursos, a estrutura inadequada de financiamento 
do setor e a ausência da integralidade das ações (ESCOREL, 1998 apud 
VERDI; COELHO, 2005, p. 57).
 
TÓPICO 2 | A SAÚDE COMO DIREITO DO CIDADÃO
35
Pode-se dizer que o SUDS era um ensaio para o SUS, ainda era preciso 
definições constitucionais e uma lei complementar. Como a prática do SUDS era 
por meio da celebração de convênio, a participação do Governo dos Estados era 
opcional. Então cada Estado poderia decidir se continuaria com o INAMPS ou 
com o SUDS (BRASIL, 2003a).
Mesmo com essa análise crítica, o SUDS com certeza foi quem facilitou 
a constituição do SUS na Constituição Federal de 1988 (ANDRADE et al., 2018). 
Então, em 1988, por intermédio do Movimento da Reforma Sanitária, ocorreu a 
definição na Constituição Federal relativa ao setor da saúde, que hoje fazem parte 
dos fundamentos legais do SUS. Falaremos no próximo tópico sobre a legislação 
que estrutura o nosso sistema de saúde atualmente.
A concepção ampliada da saúde que podemos identificar no discurso de 
Arouca, a seguir, busca a superação da visão dominante em que a saúde era vista 
somente pela doença antes da reforma sanitarista. “Saúde não é simplesmente 
ausência de doenças, é muito mais que isso. É bem-estar mental, social, político. 
As sociedades criam ciclos que, ou são ciclos de miséria, ou são ciclos de 
desenvolvimento” (BRASIL, 2019a, p. 1).
Algumas conquistas do movimento:
Universalização da saúde. 
Definição do dever do Estado e função complementar da saúde 
privada.
A ideia de que a saúde deve ser planejada com base em conferências. 
A formalização dos conselhos de saúde como parte do SUS, com 50% 
de usuários.
A formação da Comissão Nacional da Reforma Sanitária (FIOCRUZ, 
2019a, p. 1).
2.3 LEGISLAÇÃO ESTRUTURANTE
Afinal, em que momento o SUS “nasce”? Pode-se dizer que com o texto 
da Constituição Federal, e que, após ele, foi regulamentado, instituído, pela Lei 
n° 8.080/90 e Lei n° 8.142/90. 
Os fundamentos legais do SUS estão explicitados

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