Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ALEITAMENTO MATERNO É o aleitamento (direto na mama ou ordenhado) do bebê independente da introdução de outras substâncias. ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO Se caracteriza por ser a única fonte de alimento ao bebê. Sendo exceções: medicamentos, minerais, sais de reidratação orais, xaropes com vitaminas. ALEITAMENTO MATERNO PREDOMINANTE É quando o aleitamento vindo do leite humanos, mas há a inserção de outras substâncias como água ou à base de água (chás, sucos de frutas). ALEITAMENTO MATERNO COMPLEMENTADO É quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. ALEITAMENTO MATERNO MISTO OU PARCIAL É quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. A OMS e o Ministério da Saúde sugerem que a amamentação deve durar cerca de 2 anos, época em que vai se iniciar o processo de desmame natural, sendo que os primeiros 6 meses a amamentação deve ser exclusiva. Isso é importante pois vários estudos mostram que quando se insere outros tipos de alimento antes dos 6 meses, a probabilidade de contrair doenças e evoluir pra óbito é muito maior de quem não insere. Além de outras consequências como: diarreia, menor absorção de nutrientes, desnutrição etc. EVITA MORTES INFANTIS EVITA DIARREIA Há fortes evidências de que o leite materno protege contra diarreia, principalmente em crianças mais pobres. É importante destacar que essa proteção pode diminuir quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo. Oferecer à criança amamentada água ou chás, pode dobrar o risco de diarreia nos primeiros seis meses. Além de evitar a diarreia, a amamentação também exerce influência na gravidade dessa doença. Crianças não amamentadas têm um risco três vezes maior de desidratarem e de morrerem por diarreia quando comparadas com as amamentadas. EVITA INFECÇÃO RESPIRATÓRIA A proteção do leite materno contra infecções respiratórias foi demonstrada em vários estudos realizados em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil. Assim como ocorre com a diarreia, a proteção é maior quando a amamentação é exclusiva nos primeiros seis meses. DIMINUI O RISCO DE ALERGIAS Estudos mostram que a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, de dermatite atópica e de outros tipos de alergias, incluindo asma e sibilos recorrentes. DIMINUI O RISCO DE HIPERTENSÃO, COLESTEROL ALTO E DIABETES Há evidências sugerindo que o aleitamento materno apresenta benefícios em longo prazo. Uma revisão concluiu que os indivíduos amamentados apresentaram pressões sistólica e diastólica mais baixas, níveis menores de colesterol total e menor risco de apresentar diabetes tipo 2. Não só o indivíduo que é amamentado adquire proteção contra diabetes, mas também a mulher que MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO amamenta. Atribui-se essa proteção a uma melhor homeostase da glicose em mulheres que amamentam. REDUZ A CHANCE DE OBESIDADE Entre os possíveis mecanismos implicados a essa proteção, encontram-se um melhor desenvolvimento da autorregularão de ingestão de alimentos das crianças amamentadas e a composição única do leite materno participando no processo de “programação metabólica”, alterando, por exemplo, o número e/ou tamanho das células gordurosas ou induzindo o fenômeno de diferenciação metabólica. Foi constatado que o leite de vaca altera a taxa metabólica durante o sono de crianças amamentadas, podendo esse fato estar associado com a “programação metabólica” e o desenvolvimento de obesidade. MELHOR NUTRIÇÃO O leite materno é capaz de suprir sozinho as necessidades nutricionais da criança nos primeiros seis meses, e continua sendo uma importante fonte de nutrientes no segundo ano de vida, especialmente de proteínas, gorduras e vitaminas. EFEITO POSITIVO NA INTELIGÊNCIA Os mecanismos envolvidos na possível associação entre aleitamento materno e melhor desenvolvimento cognitivo ainda não são totalmente conhecidos. Alguns defendem a presença de substâncias no leite materno que otimizam o desenvolvimento cerebral; outros acreditam que fatores comportamentais ligados ao ato de amamentar e à escolha do modo como alimentar a criança são os responsáveis. MELHOR DESENVOLVIMENTO DA CAVIDADE BUCAL O exercício que a criança faz para retirar o leite da mama é muito importante para o desenvolvimento adequado de sua cavidade oral, propiciando uma melhor conformação do palato duro, o que é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e uma boa oclusão dentária. Quando o palato é empurrado para cima, o que ocorre com o uso de chupetas e mamadeiras, o assoalho da cavidade nasal se eleva, com diminuição do tamanho do espaço reservado para a passagem do ar, prejudicando a respiração nasal. Assim, o desmame precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, podendo prejudicar as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala, ocasionar má- oclusão dentária, respiração bucal e alteração motora- oral. PROTEÇÃO CONTRA CÂNCER DE MAMA EVITA NOVA GRAVIDEZ A amamentação é um excelente método anticoncepcional nos primeiros seis meses após o parto (98% de eficácia), desde que a mãe esteja amamentando exclusiva ou predominantemente e ainda não tenha menstruado. Estudos comprovam que a ovulação nos primeiros seis meses após o parto está relacionada com o número de mamadas; assim, as mulheres que ovulam antes do sexto mês após o parto em geral amamentam menos vezes por dia que as demais. PROMOÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO ENTRE MÃE E FILHO Acredita-se que a amamentação traga benefícios psicológicos para a criança e para a mãe. Uma amamentação prazerosa, os olhos nos olhos e o contato contínuo entre mãe e filho certamente fortalecem os laços afetivos entre eles, oportunizando intimidade, troca de afeto e sentimentos de segurança e de proteção na criança e de autoconfiança e de realização na mulher. Amamentação é uma forma muito especial de comunicação entre a mãe e o bebê e uma oportunidade de a criança aprender muito cedo a se comunicar com afeto e confiança. MELHOR QUALIDADE DE VIDA O aleitamento materno pode melhorar a qualidade de vida das famílias, uma vez que as crianças amamentadas adoecem menos, necessitam de menos atendimento médico, hospitalizações e medicamentos, o que pode implicar menos faltas ao trabalho dos pais, bem como menos gastos e situações estressantes. Além disso, quando a amamentação é bem-sucedida, mães e crianças podem estar mais felizes, com repercussão nas relações familiares e, consequentemente, na qualidade de vida dessas famílias. Apesar da sucção do RN ser um ato reflexo, ele precisa aprender a retirar o leite de uma forma correta. Quando o bebê pega a mama de forma adequadas forma-se um vácuo que impede a saída da mama da boca do bebê. Essa pega adequada é garantida pelo abocanhamento da porção da aréola – não somente do mamilo – garantindo a formação de um lacre. MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO A língua eleva suas laterais e sua ponta formando uma espécie de um cano que leva o leite até a faringe posterior e esôfago, lá será ativado o reflexo de deglutição. A língua faz um movimento rítmico de peristaltismo para trás. As narinas continuam sugando o ar de forma normal, mantendo a respiração. A posição da dupla (mãe-bebê) é muito importante para o desenvolvimento da amamentação. Se há um posicionamento que leve a má pega, não vai haver esvaziamento dela e uma consequente diminuição na produção de leite, ou ainda, o bebê não consegue mamar todo o leite e não consegue ganhar peso.Além disso, a má pega machuca os mamilos. Pega adequada: Posição da mãe: Pontos a serem vistos para facilitar a mamada: • Roupas da mãe e do bebê adequadas e sem restringir movimentos • A mãe deve estar confortável e bem posicionada, com apoio, sem curvaturas para frente e para trás. O apoio dos pés acima do chão é aconselhável • Corpo do bebê todo voltado para a mãe, barriga com barriga • Cabeça e corpo alinhados • Nádegas do bebê apoiadas • Braço do bebê não deve ficar preso • Segurar a mama de forma que ela fique livre • A cabeça do bebê deve estar no mesmo nível da mama, com o nariz na altura do mamilo • A mãe deve esperar o bebê abrir bem a boca e abaixar a língua antes de colocá-lo no peito • O bebê deve abocanhar parte da aréola com as gengivas e a língua • O queixo do bebê toca a mama • As narinas do bebê livres • O bebê tem que manter a boca bem aberta colada na mama, sem apertar os lábios • Os lábios do bebê devem curvar para fora, formando um lacre • A língua do bebê está curvada para cima nas bordas laterais • O bebê mantém-se fixado à mama, sem escorregar ou largar o mamilo • As mandíbulas do bebê estão se movimentando • A deglutição é visível e/ou audível Diante de todos esses pontos observados, a OMS traz um grupo de 8 pontos que são essenciais para um bom funcionamento e uma pega adequada: PONTOS-CHAVE DO POSICIONAMENTO ADEQUADO 1. Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo; 2. Corpo do bebê próximo ao da mãe; 3. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido); 4. Bebê bem apoiado. PONTOS-CHAVE DA PEGA ADEQUADA 1. Mais aréola visível acima da boca do bebê; 2. Boca bem aberta; 3. Lábio inferior virado para fora; 4. Queixo tocando a mama. Quando a mama está muito cheia, a aréola pode estar tensa, endurecida, dificultando à pega. Em tais casos, recomenda-se, antes da mamada, retirar manualmente um pouco de leite da aréola ingurgitada. O leite tipicamente começa a fluir dentro de 48 às 96h após o parto. Antes deste período, um líquido fino amarelo chamado colostro deve aparecer. Mais rico em proteínas e mais pobre em gordura e carboidratos do que o leite maduro, o colostro fornece aproximadamente 15 kcal/28 ml e é uma fonte rica em anticorpos. Um dos componentes do leite humano é a proteína, ela oferece cerca de 6-7% da energia do LH, incluindo alfa- lactalbumina, a lactoferrina, a lisozima, a soroalbumina, as imunoglobulinas e a beta- lactoglobulina. LACTOALBUMINA A lactoalbumina no leite humano forma coágulos macios, flocosos e fáceis de digerir no estômago do lactente. Ela constitui cerca de 40% das proteínas do MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO soro do leite humano, é necessária para o transporte de ferro e ainda para a síntese de lactose na glândula mamária. LACTOFERRINA A proteína lactoferrina (glicoproteína) é um ligante do ferro no leite humando, privando as bactérias desse nutriente, dificultando, então, seu desenvolvimento. Desse modo, a lactoferrina que atua sequestrando o ferro nos fluidos corporais atua de forma antimicrobiana, defendendo o corpo do neonato de vírus, bactérias e protozoários que causam infecções do TGI (alta morbidade). De acordo com estudos, a lactoferrina é a 2° proteína mais abundante no leite humano e ainda tem maior concentração no colostro (6-6,7 mg/mL) do que no LH (0,5-2,6 mg/mL). Além disso a lactoferrina estimula a proliferação celular e desempenha a função anti-inflamatória, prevenindo infecções das crianças aleitadas ao peito. LISOZIMA A lisozima, uma enzima com ação lítica na parede celular bacteriana, ao contrário de outros compostos, está em maior quantidade no leite maduro do que no colostro. Sua ação é sinérgica à da lactoferrina e à da IgA secretória, possuindo efeito bactericida contra a maioria das bactérias Gram positivas e algumas Gram negativas. IMUNOGLOBULINAS A IgA é a imunoglobulina mais preente no leite materno, compondo cerca de 90%. Ela tem origem nas células linfoplasmoicitárias sensibilizadas maternas, e estão associadas à GALT e BALT no sistema materno. Tal anticorpo tem grande resistência ao pH e à ação proteolítica devido a sua estrutura molecular especial. No neonato, ela consegue se aderir as mucosas e impedir a aderência de microrganismos, além de atuar como um aglutinador de microrganismos e neutralizador de enterotoxinas. A IgA no colostro tem concentrações de 1,74g/dL, enquanto no leite maduro passa a ser 0,1g/dL. As outras imunoglobulinas são encontradas no colostro e no leite humano em concentrações bem mais baixas que a IgA. Dentre elas, destaca-se a IgM como a segunda mais abundante. Quando não há IgA suficiente no leite materno a IgM atua como mecanismo compensatório. Sendo assim, anticorpos IgM podem ter um importante papel na defesa das superfícies mucosas do lactente. CASEÍNA A caseína é uma proteína láctea que varia em quantidade nos leites dos mamíferos. Ela tem alta resistência ao calor e precipita a um pH menor ou igual a 5. Existem vários subtipos dela, sendo as mais predominantes no LH a beta-caseína (50%) e a kappa- caseína (20-27%). Existe uma acentuada elevação do teor da caseína do leite humano durante a lactação, acompanhada de concomitante decréscimo dos níveis de proteínas do soro. Assim, a relação proteínas do soro/caseína, que é de 90:10 no início da lactação, modifica-se rapidamente no decorrer da mesma, atingindo valores de 60:40 ou até de 50:50 na fase do leite maduro. Essa proteína vai fazer ligações estáveis e formar micelas com o cálcio e o fósforo, conferindo a aparência branca ao leite, e por essa ligação, esses minerais conseguem ser transportados de uma forma mais fácil do que apenas através de sua solubilidade. MUCINA É uma proteína presente no colostro ligada aos glóbulos de gordura. Sua principal função é inibir a adesão bacteriana ao epitélio intestinal. AMINOÁCIDOS A taurina é um aminoácido essencial para o RN, principalmente para os pré-termos. Ela auxilia na conjugação dos dais biliares, aumentando a absorção de lipídeos e de zinco; ainda, também, pode ser classificada como um neurotransmissor excitatório cerebelar e retiniano. A glutamina é um aminoácido também essencial que promove o crescimento do epitélio intestinal e é usado como combustível em períodos de estresse. A carnitina não é produzida pelos RN, sendo então muito importante a sua presença no LH. Ela participa do metabolismo dos ácidos graxos de cadeia longa, fazendo o transporte deles pela membrana mitocondrial. FIBRONECTINA Aumenta a atividade antimicrobiana dos macrófagos; ajuda-os a reparar tecidos que foram lesados por reações imunes no intestino do bebê. MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CITOCINAS As concentrações de citocinas têm um papel fundamental na imunogenicidade do leite materno. As citocinas IL-4, IL-5 e IL-13, mais envolvidas com a produção de IgE e indução de resposta de eosinófilos, podem proteger o lactente contra doenças respiratórias. O fator de crescimento transformador beta, uma das citocinas predominantes no leite humano, aumenta a capacidade do lactente de produzir IgA. A lactose fornece 42% da energia do leite humano e constitui cerca de 70% dos carboidratos dele. Outros carboidratos que podem ser encontrados são: glicose, galactose e oligossacarídeos complexos. As altas concentrações de lactose são importantes pois o seu produto metabólico que é a galactose é um componente dos galactolipídeos do SNC. Além disso, esses açúcares promovem o acúmulo de água livre (que não são excretadas com sais pelos rins), constituindo uma reserva para a termo-regulação, pela sudorese, nos lactentes. Os lactentes conseguem absorver cerca de90% da lactose do LH e as pequenas quantidades que restam na luz intestinal tem ações benéficas como: • Produção de fezes amolecidas, reduzindo a incidência de obstipação intestinal • Promoção do crescimento da flora bacteriana não patogênica em conjunto com o fator bífido (carboidrato com nitrogênio dialisável) levando à queda do pH, impedindo o desenvolvimento de bactérias patogênicas, fungos e parasitas. • Facilita a absorção de cálcio e fósforo Eles oferecem cerca de 50% da energia do LH. Sendo que a maior proporção da gordura láctea é formada a partir dos lipídeos circulantes, derivados da dieta e/ou dos depósitos maternos. Ademais, parte da gordura do leite humano pode ser sintetizada “de novo” na glândula mamária a partir da glicose. As células alveolares secretam os lipídeos para a luz do alvéolo sob a forma de glóbulos de gordura. Estes contêm uma região central hidrofóbica, e uma região periférica hidrofílica, o que vai facilitar sua mobilidade no leite, que possui água e sua digestão no organismo do neonato. A composição nutricional do leite humano, especialmente em relação ao componente lipídico, apresenta variações biológicas inerentes ao processo da lactação. Durante a mamada existe uma elevação significativa do conteúdo de gorduras, possuindo o leite final ou posterior por volta de três vezes a concentração lipídica do leite inicial ou anterior. Estas diferenças entre os leites inicial e final poderiam ser decorrentes do fenômeno mecânico de absorção dos glóbulos de gordura à superfície secretora e aos ductos dos alvéolos mamários, resultando em sua liberação tardia durante a mamada. Ou ainda pode ser explicado porque a síntese lipídica na glândula mamária está sob o controle da prolactina, hormônio cuja secreção é estimulada pela sucção do RN. Existe considerável elevação de seus níveis sanguíneos entre o início e o fim da mamada, o que poderia estar relacionado com a maior quantidade de gordura presente no leite posterior. ÁCIDOS Os principais ácidos graxos existentes no leite humano restringem-se aqueles com cadeias de 12 a 18 carbonos, ou seja, ácidos laúrico, mirístico, palmítico, palmitoléico, esteárico, oléico, linoléico e linolênico. Os AGPI, notadamente o linoleico e alfa-linoleico por não serem sintetizados pelo organismo constituem-se em ácidos graxos essenciais (AGE). Tais ácidos são elementos estruturais necessários à síntese de lipídios de tecidos, têm um papel importante na regulação de vários processos metabólicos, de transporte e excreção. Sendo, portanto, os AGPI-CL (ácidos graxos poli insaturados de cadeia longa), essenciais para o desenvolvimento, crescimento fetal e neonatal, para as funções neurológicas, comportamental e de aprendizagem. O ácido oléico monoinsaturado é o ácido graxo predominante. O ácido linoléico, um ácido graxo essencial, fornece 4% da energia. Os ácidos linoleico e linolênico são precursores de ácidos de cadeia mais longa o ácido araquidônico (AA) e o ácido docosaexaenóico (DHA), que são encontrados em grandes quantidades na retina e no cérebro, pois promovem a mielinização, além de serem precursores de mediadores inflamatórios como prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanes e leucotrienos. COLESTEROL O colesterol é um lipídeo também presente no LH e essencial para a mielinização, produção de hormônios esteroides, de ácidos biliares e de vitamina D. MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO VITAMINA E Um componente importante é o alfa-tocoferol (nutriente lipossolúvel) que tem ação oxidante e participa do desenvolvimento do sistema imunológico do neonato, sendo essencial para a vida do RN. Além disso, a vitamina E presente no leite é a única fonte para o neonato em aleitamento exclusivo, sendo muito importante para a proteção da ação dos radicais livres (estresse oxidativo). VITAMINA A A vitamina A também está presente no leite e é um micronutriente fundamental para o crescimento, diferenciação e integridade do tecido epitelial, especialmente do pulmão. Ela é relacionada a cegueira. Assim como as moléculas de defesa, as células do sistema imunológico também são abundantes no leite humano. A quantidade mais impressionante é encontrada no colostro. A maioria das células são neutrófilos, algumas evidências sugerem que os neutrófilos continuam a agir como fagócitos no intestino da criança. Eles são menos agressivos do que os neutrófilos do sangue e virtualmente desaparecem do leite materno seis semanas após o nascimento. Portanto, talvez sirvam para alguma outra função, tal como proteger a mama contra infecção. O segundo tipo de leucócito mais comum do leite é o macrófago, o qual é fagócito tal como o neutrófilo e desempenha uma série de outras funções protetoras. Os macrófagos constituem cerca de 40% de todos os leucócitos do colostro. São muito mais ativos do que os neutrófilos do leite, e recentes pesquisas mostram que são mais móveis do que os macrófagos do sangue. Além de serem células fagocíticas, os macrófagos fabricam lisozima no leite materno, aumentando sua quantidade no trato gastrointestinal da criança. Além disso, os macrófagos no trato digestivo podem se juntar aos linfócitos na sua ação contra os invasores. Os linfócitos constituem as restantes 10% de células brancas do leite. Cerca de 20% destas células são linfócitos B, produtores de anticorpos; os restantes são linfócitos T. Os linfócitos do leite parecem comportar- se diferentemente dos linfócitos do sangue. Os do leite, por exemplo, proliferam na presença de Escherichia coli, uma bactéria que pode causar doença grave em bebês, porém são muito menos sensíveis do que os linfócitos do sangue a agentes de menor agressividade. Os linfócitos do leite também fabricam várias substâncias químicas - incluindo gamainterferon, fator de migração/inibição e fator quimiotáxico do monócito - que podem reforçar uma resposta imunológica própria da criança. O conteúdo mineral no colostro é superior ao do leite maduro. Estes níveis parecem ser, na maioria das vezes, suficientes para a nutrição do RN e não resultam em sinais ou sintomas de intolerância. Os macrominerais do leite humano incluem: • SÓDIO • POTÁSSIO • CLORETO • CÁLCIO • MAGNÉSIO • FÓSFORO • SULFATO O fator responsável pelas maiores variações nos níveis lácteos desses macrominerias é o tempo de lactação: enquanto os conteúdos de sódio e cloreto diminuem com o passar dos meses, aqueles de potássio, cálcio, fósforo e magnésio se elevam. Os microminerais presentes são: • ZINCO • COBRE • FERRO • MANGANÊS • SELÊNIO • IODETO • FLUORETO, • MOLIBDÊNIO • COBALTO • CRÔMIO • NÍQUEL • CÁDMIO As propriedades anti-infecciosas do leite humano são representadas através dos componentes solúveis e celulares. Os solúveis incluem imunoglobulinas, IgA, IgM, IgD, IgE, IgG, com predominância da IgA, lisozima, lactoferrina, componentes do sistema do complemento (C3, C4), peptídeos bioativos, oligossacarídeos e lipídios (fator antiestafilococos e inativação de vírus). Os componentes celulares imunologicamente ativos são constituídos por fagócitos polimorfonucleares, linfócitos, macrófagos, nucleotídeos, plasmócitos e células epiteliais. O leite MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO humano possui também lactoperoxidase, que oxida bactérias com ação antimicrobiana. Os macrófagos e linfócitos são responsáveis pela fagocitose e pela produção de fatores do complemento. Os anticorpos presentes no leite materno são dirigidos a inúmeros microrganismos com os quais a mãe entrou em contato durante toda sua vida, representando um tipo de “repertório” imunológico. A maior parte desses microrganismos já entrou em contato com as superfícies mucosas do aparelho gastrintestinalou respiratório maternos. Além dos anticorpos, o colostro humano contém inúmeros fatores bioquímicos e células imunocompetentes, que interagem entre si e com a mucosa dos tratos digestivo e respiratório do lactente, conferindo não apenas imunidade passiva, como também estímulo ao desenvolvimento e maturação do próprio sistema imune de mucosas do neonato. Os glicoconjugados e oligossacarídeos possuem atividade antiaderente para inúmeros microrganismos causadores de doenças gastrintestinais e respiratórias. AS CARACTERÍSTICAS IMUNOLÓGICAS APROFUNDADAS E ESPECÍFICAS FORAM DITAS LÁ EM CIMA EM CADA SEGMENTO. O leite de vaca não é recomendado para crianças menores de um ano de idade. Este apresenta quantidade elevada de proteínas, relação inadequada entre a caseína e as proteínas do soro, teores elevados de sódio, de cloretos, de potássio e de fósforo e quantidades insuficientes de carboidratos, de ácidos graxos essenciais, de algumas vitaminas e minerais para essa faixa etária. O consumo de leite de vaca em idades precoces e durante a infância aumenta o risco de anemia nas crianças, sendo que para cada mês de uso do leite de vaca a partir do quarto mês de vida, ocorre queda de 0,2 g/dL nas concentrações de hemoglobina da criança. A presença de cálcio seria um fator inibidor de ferro da dieta. Estudos indicam que um dos mecanismos que estaria envolvido nessa associação entre o consumo de leite de vaca e a anemia na infância são as altas taxas de cálcio presente nesse leite, sendo quase quatro vezes maior que no leite materno, o que diminuiria a absorção de ferro. Além de associado com a anemia, o alto consumo de leite de vaca (acima de 500 mL por dia) por crianças entre seis meses e dois anos de idade tem sido relacionado também com a obesidade infantil. Além de não ser nutricionalmente adequado, o leite de vaca é um alimento muito alergênico para crianças, e seu consumo tem sido associado ao desenvolvimento de atopia. Desde o momento da concepção, as mamas passam por alterações funcionais e morfológicas com o objetivo de produzir e ofertar o leite materno para o recém-nascido. Com isso, acontece um aceleramento do crescimento mamário e diferenciação das suas estruturas chegando ao desenvolvimento máximo durante a gravidez e a lactação. Tais modificações que ocorrem na mama dependem de fatores hormonais, metabólicos, nutricionais, genéticos e nervosos. A mama se constitui pela glândula mamária e pelos tecidos conjuntivo e adiposo. É revestida por pele lisa e fina, possuindo na sua área central a aréola, que caracteriza-se como sendo uma área circular e pigmentada, sendo este um local onde estão localizadas as glândulas sudoríparas, sebáceas e os tubérculos de Montgomery (liberam uma secreção que previne a maceração da glândula mamária e nutre a flora bacteriana normal da região); e o mamilo que se situa no centro da aréola, caracterizando-se como uma pequena saliência cilíndrica, onde desembocam de 15 a 20 canais lactíferos (provavelmente não existem mesmo). A glândula mamária é exócrina (ácinos) e é composta por um conjunto de 15 a 20 lobos, sendo cada um composto por 20 a 40 lóbulos (cachos de uva) e estes são formados por 10 a 100 alvéolos (bagos de uvas). Os alvéolos são estruturas onde é produzido o leite, o qual é expulso pela contração das células mioepiteliais para os ductos lactíferos, estes, antes de chegarem ao mamilo, tornam-se mais largos, formando o seio lactífero, onde será armazenado o leite. No mamilo encontram-se os poros mamilares, por onde o leite é excretado. MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HISTOLOGIA ANATOMIA Para o desenvolvimento total da mama durante a gestação e no puerpério, a mama passa por 3 etapas: 1- MAMOGÊNESE (ou lactogênese fase I) É o desenvolvimento da glândula mamária e essa fase sofre influência de diversos hormônios. Os estrogênios são muito importantes por promoverem a ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também se envolvem nesse desenvolvimento, como o lactogênio placentário (LP), prolactina e a gonadotrofina coriônica. Na primeira metade da gestação, há crescimento e proliferação dos ductos e formação dos lóbulos. Na segunda metade, a atividade secretora se acelera e os ácinos e alvéolos ficam distendidos com o acúmulo do colostro. A secreção láctea inicia após 16 semanas de gravidez. 2- LACTOGÊNESE (ou lactogênese fase II) É o início da lactação. Nessa fase, a glândula mamária que já se encontra previamente preparada para a produção do leite vai depender totalmente da prolactina, um hormônio hipofisário que tem sua síntese aumentada após o parto onde é expulsada a placenta e diminuído os níveis de progesterona. A prolactina, pela corrente sanguínea, alcança as células dos alvéolos mamários e encontra na membrana basal dele seus receptores, estimulando a produção láctea. O hipotálamo vai produzir o PRF (fator de liberação de prolactina), que, por sua vez, irá estimular as células mamotróficas (que aumentam muito na fase final da gestação) da adenohipófise que irão produzir a prolactina (PRL). A prolactina vai, pela corrente sanguínea, até a glândula mamária e lá encontra, na MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VIII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO membrana basal dos alvéolos, seus receptores (estão aumentados no período periparto) e estimula as células secretoras dos alvéolos a produzirem o leite materno. Concomitantemente, a sucção estimula o hipotálamo a produzir ocitocina e a liberação desta pela neurohipófise. A ocitocina vai estimular as células mioepiteliais a se contraírem e liberarem o leite nos ductos, assim, o leite vai seguir a sequência da descida do leite (ductos -> poros mamilares). O leite produzido é armazenado nos alvéolos e nos ductos, e durante a ejeção do leite os ductos ficam cheios e se dilatam. A ocitocina também é estimulada pela visão, cheiro, choro etc. A produção do leite logo após o nascimento é controlada por hormônios e a “descida do leite” (costuma ser até o 3° e 4° dia pós-parto) ocorre mesmo se a criança não sugar o seio. E a secreção do leite ocorre gradativamente, no início é pouco e vai aumentando. Na amamentação, o volume de leite produzido varia, dependendo do quanto a criança mama e da frequência com que mama. Quanto mais volume de leite e mais vezes a criança mamar, maior será a produção de leite. Uma nutriz que amamenta exclusivamente produz, em média, 800 mL por dia. Em geral, uma nutriz é capaz de produzir mais leite do que a quantidade necessária para o seu bebê. 3- GALACTOPOIESE (ou lactogênese fase III) É a manutenção da lactação. Essa manutenção ocorre, principalmente, pelo reflexo neuroendócrino da sucção. A sucção do bebê estimula os nervos presentes na aréola. Em seguida, a estimulação desses nervos, por via aferente, vai ser enviado ao hipotálamo, pela medula espinhal, de forma que todo o processo descrito na lactação irá ocorrer novamente. INIBIÇÃO DA PRODUÇÃO Quando, por qualquer motivo, o esvaziamento das mamas é prejudicado, pode haver diminuição na produção do leite, por inibição mecânica e química. O leite contém os chamados “peptídeos supressores da lactação”, que são substâncias que inibem a produção do leite. A sua remoção contínua com o esvaziamento da mama garante a reposição total do leite removido. Outro mecanismo local que regula a produção do leite, ainda não totalmente conhecido, envolve os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando assim um efeito inibidor da síntesede leite. Além disso, adrenalina inibe ocitocina e a dopamina inibe a prolactina. Lembrando que a dor, o desconforto, o estresse, a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança podem inibir a liberação da ocitocina, prejudicando a saída do leite da mama. O colostro, primeiro leite secretado após o parto pela glândula mamária, é constituído de proteínas, gordura, açúcar, sais minerais e água. Em relação ao leite maduro, contém mais proteína e menos açúcar e gordura, logo, é menos calórico. É rico em anticorpos e vitaminas, como imunoglobulina A (IgA), que tem uma função especial para esta fase da vida, pela transmissão da imunidade ao recém-nascido; e caroteno o que lhe confere uma cor amarelada. Possui ação laxativa facilitando a eliminação de mecônio, primeiras fezes do bebê, ajudando assim a evitar a icterícia.
Compartilhar