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-Morfologia: A morfologia da pancreatite aguda varia desde triviais inflamação e edema a uma grave e extensa necrose com hemorragia. As alterações básicas são (1) extravasamentos microvasculares e edema, (2) necrose gordurosa, (3) inflamação aguda, (4) destruição do parênquima pancreático, e (5) destruição dos vasos sanguíneos e hemorragia intersticial. A extensão de cada uma dessas alterações depende da duração e severidade do processo. Na forma mais branda, pancreatite aguda intersticial, as alterações histológicas estão limitadas a uma leve inflamação, edema intersticial e áreas focais de necrose gordurosa no pâncreas e no tecido adiposo peripancreático. A necrose gordurosa, como vimos, resulta da atividade enzimática da lipase. Os ácidos graxos liberados combinam com o cálcio para formar sais insolúveis que conferem aparência microscópica granular azul às células adiposas. Na forma mais grave, pancreatite necrosante aguda , há necrose dos tecidos acinares e ductais, assim como das ilhotas de Langerhans. As lesões vasculares podem provocar hemorragia no parênquima pancreático. Macroscopicamente, o tecido pancreático é hemorrágico, vermelho- enegrecido, com focos branco-amarelados de necrose gordurosa calcificada. Focos de necrose gordurosa também podem ser encontrados em áreas adiposas extrapancreáticas, como no omento, no mesentério intestinal e até mesmo fora da cavidade abdominal, como no tecido adiposo subcutâneo. Na maioria dos casos, a cavidade peritoneal contém um fluido seroso, ligeiramente turvo, acastanhado, no qual glóbulos de gordura (provenientes da ação de enzimas sobre o tecido adiposo) podem ser encontrados. Na sua forma mais grave, a pancreatite hemorrágica , uma extensa necrose parenquimatosa é acompanhada por uma hemorragia abundante dentro da glândula pancreática. -A pancreatite aguda é caracterizada por lesão reversível do parênquima pancreático associada à inflamação e tem diversas etiologias, incluindo agressões tóxicas (p. ex., álcool), obstrução do ducto pancreático (p. ex., cálculos biliares), defeitos genéticos herdados, lesão vascular e infecções PancreatitePancreatite M a r i n a A l b u q u e r q u eM a r i n a A l b u q u e r q u e Pancreatite agudaPancreatite aguda L M F 5 L M F 5 -Patogenia: liberação e ativação inadequadas de enzimas pancreáticas, que destroem o tecido pancreático e estimulam uma reação inflamatória aguda L M F 5 - P a t o l o g i a - M ó d u l o 2 1 - S e m a n a 4L M F 5 - P a t o l o g i a - M ó d u l o 2 1 - S e m a n a 4 -Definida como uma inflamação prolongada do pâncreas associada com uma destruição irreversível do parênquima exócrino, fibrose e, nos estágios mais avançados, destruição do parênquima endócrino. A causa mais comum de pancreatite crônica é o abuso de álcool em longo prazo. Outras causas incluem: Obstrução prolongada do ducto pancreático por cálculos ou neoplasias, lesão autoimune da glândula, pancreatite hereditária -Patogenia: A pancreatite crônica, na maioria das vezes, segue-se a episódios repetidos de pancreatite aguda. Sugere-se que a pancreatite aguda inicie uma sequência de fibrose perilobular, distorção ductal e alterações nas secreções pancreáticas. Ao longo do tempo e com episódios múltiplos, pode levar à perda de parênquima pancreático e à fibrose. -Pancreatite autoimune: Forma patogenica- mente distinta de pancreatite crônica, que está associada à presença de plasmócitos secretores de IgG4 no pâncreas. A pancreatite autoimune é uma manifestação de doenças relacionadas à IgG, que pode envolver vários tecidos. Pode imitar os sinais e sintomas do carcinoma pancreático. É importante reconhecê-la porque responde à terapia com esteroides. -Morfologia: A pancreatite crônica é caracterizada por fibrose, atrofia e destruição de ácinos e dilatação variável de ductos pancreáticos. Imagem: região de necrose de gordura, à direita, e necrose focal do parênquima pancreático (centro) Imagem: Pâncreas seccionado longitudinalmen- te, revelando áreas escuras de hemorragia na cabeça e área focal pálida, de necrose gordurosa peripancreática (superior, à esquerda). -Aspectos clínicos: A dor é constante e intensa e se localiza na parte superior das costas e, ocasionalmente, no ombro esquerdo. Sua gravidade pode variar de leve e desconfortável a severa e incapacitante. Sintomas como anorexia, náuseas e vômitos frequentemente acompanham a dor. Os níveis plasmáticos elevados de amilase e lipase favorecem o diagnóstico de pancreatite aguda. Podem ocorrer leucocitose, coagulação intravascular disseminada, edema, síndrome da angústia respiratória aguda e necrose gordurosa difusa. Complicações envolvem choque, devido à síndrome da resposta inflamatória sistêmica, e necrose tubular renal aguda. Pancreatite crônicaPancreatite crônica -Aspectos clínicos: A pancreatite crônica pode se apresentar de diversas formas. Pode estar associada a repetidas crises de pancreatite aguda ou a ataques repetidos de dor abdominal moderada a grave, ou a persistentes dores abdominais e nas costas. Esses ataques podem ser desencadeados por abuso de álcool, excessos alimentares (por aumentar a demanda no pâncreas), ou pelo uso de opiáceos e outros fármacos que aumentam o tônus do esfíncter de Oddi. Em outros pacientes, a doença pode ser totalmente silenciosa até que se desenvolva insuficiência pancreática e diabetes melito devido à destruição do pâncreas exócrino e endócrino. Os sinais clínicos incluem dor abdominal intermitente ou persistente, má absorção intestinal e diabetes Macroscopicamente, a glândula é rígida, por vezes com ductos extremamente dilatados e visíveis contendo concreções calcificadas. Essas alterações são tipicamente acompanhadas por um infiltrado inflamatório crônico em torno dos lóbulos e dos ductos. O epitélio ductal pode ser atrofiado ou hiperplásico, ou pode mostrar metaplasia escamosa. A destruição acinar é um aspecto constante. Geralmente, há preservação relativa das ilhotas de Langerhans, que se tornam incorporadas no tecido fibroso e podem se fundir e parecer ampliadas, mas na doença avançada as ilhotas também são perdidas. A pancreatite crônica causada por abuso de álcool é caracterizada pela dilatação ductal e por concreções proteicas intraluminais e calcificações. A pancreatite autoimune é caracterizada por um infiltrado inflamatório celular misto ductal, venulite, e numerosos plasmócitos secretores de IgG4. Pseudocistos de pâncreasPseudocistos de pâncreas -Coleções localizadas de material necrótico e hemorrágico que são ricas em enzimas pancreáticas e não possuem um revestimento epitelial (por isso “pseudo”). Eles surgem na sequência de um ataque de pancreatite aguda, particularmente quando sobreposta à pancrea- tite alcoólica crônica. Lesões traumáticas no pâncreas também podem originar pseudocistos. Imagem: Pancreatite crônica. A, Fibrose e atrofia extensas deixaram apenas ilhotas residuais (à esquerda) e ductos (à direita), com esparsas células inflamatórias crônicas e alguns focos do tecido acinar. B, Maior aumento, demonstrando ducto dilatado com concreção luminal eosinofílica densa em um paciente com pancreatite crônica alcoólica. -Cistos congênitos são cistos uniloculares, com parede delgada, e acredita-se que resultem do desenvolvimento anômalo dos ductos pancreáticos -Variam em tamanho, de lesões microscópicas até 5 cm de diâmetro, e são revestidos por um epitélio cúbico uniforme e brilhante ou, se a pressão intracística for alta, por uma camada de células delgada e aplanada. Cistos congênitos são envolvidos em uma cápsula fibrosa fina e preenchidos com um líquido seroso claro -Os cistos congênitos podem ser esporádicos, ou parte de condições hereditárias como a doença renal policística autossômica dominante e doença de von Hippel-Lindau. Cistos nos rins, fígado e pâncreas frequentemente coexistem na doença renal policística. Na doença de von Hippel-Lindau, as neoplasias vasculares são encontradas na retina e no cerebelo ou no tronco cerebral, em associação com cistos congênitos(e também com neoplasias) no pâncreas, fígado e rim. Cistos congênitos de pâncreasCistos congênitos de pâncreas -Morfologia: São geralmente solitários e podem se situar dentro do pâncreas ou mais comumente envolver o saco omental menor ou o retroperitônio, entre o estômago e o cólon transverso, ou entre o estômago e o fígado. Eles podem até mesmo ser subdiafragmáticos. Pseudocistos são formados quando áreas de necrose hemorrágica da gordura intrapancreática ou peripancreática são isoladas por tecido fibroso e tecido de granulação. Variam de 2 a 30 cm de diâmetro. Embora muitos pseudocistos se resolvam espontaneamente, podem se tornar secundariamente infectados, e pseudocistos maiores podem comprimir ou até mesmo sofrer perfuração dentro de estruturas adjacentes. Imagem: Pseudocisto pancreático. A, Secção transversal revelando um cisto mal definido com parede marrom-escura necrosada. B, O cisto carece de um verdadeiro revestimento epitelial e, em vez disso, é revestido por fibrina e tecido de granulação. Referência: K. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças, 9º edição, 2016. Capítulo 19: o pâncreas