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DISPNEIA ❖ Introdução A dispneia tem sido conceituada de inúmeras formas, mas provavelmente a definição mais completa é a de que dispneia é a percepção da respiração. De fato, a respiração deve ser um fenômeno automático, não notado, e sua simples percepção denota um fenômeno anormal. Sempre se deve diferenciar dispneia subjetiva – queixa do paciente – de dispneia objetiva – percebem-se os sinais. Vários mecanismos podem explicar o surgimento da dispneia. De forma geral, sua presença pode sinalizar alteração funcional respiratória. O estímulo para a ventilação é regulado por nervos periféricos – na face e nas vias aéreas –, mecanorreceptores – na parede torácica e no diafragma – e barorreceptores – para CO2 e O2 –; uma excitação excessiva desses sensores é o gatilho para a dispneia. A seguir, estão enumeradas situações que exemplificam os mecanismos de dispneia: 1. Interferência em barorreceptores: alterações nas trocas gasosas por doenças estimulam o centro respiratório excessivamente para aumentar a ventilação, promovendo a sensação de dispneia; 2. Mecanorreceptores: receptores na parede torácica, principalmente na musculatura respiratória acessória, podem estimular o centro respiratório por compressão na parede torácica ou pelo uso excessivo da musculatura intercostal, como ocorre nos transtornos de ansiedade. A musculatura acessória é bem mais fatigável do que o diafragma e, quando utilizada em excesso, gera sensação de falta de ar; 3. Nervos periféricos: a região anterior da face e a parede das vias aéreas apresentam sensores de fluxo de ar. Quando se detectaredução do fluxo habitual, o centro respiratório é estimulado para aumentar a ventilação, como em um mecanismo de defesa. Se esses nervos estão muito sensíveis ou há redução demasiada do fluxo de ar, o centro respiratório é estimulado e a dispneia pode ocorrer. Esse mecanismo pode ser entendido no dia a dia quando observamos a conduta habitual de um leigo ao deparar com um indivíduo com mal estar repentino – geralmente, a postura é de abanar a face, o que promove uma sensação de bem- estar. Esse é o fenômeno do “ar fresco”, que exemplifica a importância dos nervos periféricos na gênese da dispneia. Um indivíduo com doenças das vias aéreas (mesmo um resfriado) apresenta desnudamento da mucosa e exposição de terminações nervosas, tendo a sua sensibilidade aumentada, podendo ocorrer a sensação de que o fluxo está inadequado, justificando a dispneia. A classificação britânica do Medical Research Council modificada (mMRC), atualmente, é mais utilizada para a avaliação da severidade da dispneia. Vale ressaltar que tais classificações serão importantes sobretudo no manejo de pacientes com diagnóstico de pneumopatias crônicas, diferentemente dos pacientes com outras patologias ou sintomas agudos. ❖ Tipos O tipo mais comum de dispneia é o que acompanha o esforço físico. O centro respiratório aumenta a frequência respiratória e/ou a profundidade da respiração (volume corrente) quando os níveis de oxigênio no sangue estão baixos ou os níveis de dióxido de carbono estão elevados. Por outro lado, se as funções cardíaca e pulmonar estiverem anormais, mesmo um pequeno esforço poderá acarretar aumento acentuado da frequência respiratória e causar a dispneia. Nas formas mais graves, pode acontecer mesmo em repouso. A dispneia de causa pulmonar pode ser consequência de distúrbios ventilatórios restritivos ou obstrutivos. Na dispneia decorrente de distúrbio ventilatório restritivo, o trabalho respiratório aumenta em virtude do comprometimento da expansão torácica devido à perda de distensibilidade dos pulmões, à deformidade da parede torácica ou ao espessamento pleural. O volume de ar que chega aos pulmões é inferior ao normal, como mostram as provas de função pulmonar. Na dispneia associada a distúrbio ventilatório obstrutivo, o paciente não é capaz de eliminar totalmente o ar previamente inalado, e a retenção intratorácica de ar – hiperinsuflação pulmonar – desloca o diafragma para baixo, diminuindo sua eficiência ventilatória, o que é interpretado como dispneia, como na DPOC. Existem situações em que há mudança do padrão respiratório, como na respiração de Cheyne-Stokes, caracterizada por alternância entre períodos de respiração acelerada (hiperpneia) e períodos de respiração lenta (hipopneia) ou de ausência de respiração (apneia). As suas possíveis causas são a insuficiência cardíaca e a redução da eficácia do centro respiratório, bem como o uso de sedação. A acidemia, ou mesmo o coma diabético, pode produzir um padrão respiratório caracterizado por respirações lentas e profundas, denominado respiração de Kussmaul, mas o indivíduo não apresenta falta de ar. Por outro lado, aquele com insuficiência renal grave pode apresentar dispneia com respiração ofegante e rápida devido à combinação de acidose, insuficiência cardíaca e anemia. Lesão cerebral súbita, decorrente de hemorragia cerebral, de traumatismo ou de qualquer outro distúrbio, pode também alterar o padrão respiratório, acarretando respiração rápida e intensa (hiperventilação). Muitos indivíduos apresentam episódios de dispneia caracterizados por respirações rápidas e profundas. Esses episódios, denominados como síndromes de hiperventilação, são comumente causados por ansiedade, e não por um problema físico. Muitos que apresentam a síndrome se assustam, julgando sofrer um infarto do miocárdio. Os sintomas devem-se a alterações das concentrações dos gases sanguíneos, principalmente em função da diminuição do nível dedióxido de carbono, provocadas pela respiração acelerada, com possível alteração da consciência, comumente descrita como sensação de que tudo ao redor está muito distante. Também há sensação de formigamento nas mãos, nos pés e em torno da boca
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