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– 1 • Conceito de Dor Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor, a dor é uma experiência SENSORIAL e EMOCIONAL desagradável, associada ou descrita em termos de LESÃO TECIDUAL, ou seja, é uma sensação complexa resultantes de diversos estímulos. É, inicialmente, um instrumento de PROTEÇÃO para estímulos nocivos. A NOCICEPÇÃO é a detecção dos ESTÍMULOS NOCIVOS, i.e., um processo inteiramente sensorial, enquanto a DOR é o processo AFETIVO E EMOCIONAL que envolve a SENSIBILIDADE DOLOROSA! • Classificação quanto ao tempo ➔ Dor Aguda – funciona como um ALERTA, sendo resultado da estimulação NOCICEPTIVA (inflamação) ou de LESÕES DIRETAS (mecânicas). É uma dor causada por ferimento, durando enquanto PERSISTIR A LESÃO DO TECIDO, ou seja, mantendo uma FUNÇÃO DE ALERTA! ➔ Dor Crônica – aquela dor que persiste além do TEMPO NORMAL DE CURA, não apresentando função de ALERTA, costuma ser decorrente de uma lesão NERVOSA (periférica, medular ou central). • Classificação quanto à origem ➔ Nociceptiva – ocorre por estímulo PERSISTENTE dos nociceptores ou aferências, podendo ser dividida em somática ou visceral: o Somática – quando afeta tecidos cutâneos e tecidos profundos. o Visceral – quando afeta vísceras torácicas, abdominais e pélvicas, podendo ser manifestada em um local distante do estímulo (dor referida). ➔ Neuropática – decorre de lesões das VIAS SENSITIVAS do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP), podendo ser ocasionada por irritação das fibras C ou deaferentação! o Disestesia – sensação anormal espontânea; o Hiperestesia – sensibilidade exagerada à estimulação; o Hiperalgesia – resposta exagerada a um estímulo pouco doloroso; o Alodínea – dor causada por estímulo não doloroso; o Hiperpatia – resposta explosiva e prolongada a um estímulo; ➔ Dor Mista – é uma mesclagem de componentes NOCICEPTIVOS e NEUROPÁTICOS. ➔ Dor Psicogênica – sem causa aparente → raro. • Classificação quanto ao padrão ➔ Contínua ➔ Episódica – episódios intermitentes de dor moderada a intensa de INÍCIO SÚBITO e CURTA DURAÇÃO em doentes com dor crônica já controlada. o Incidental – relacionadas a atividades específicas – tossir, caminhar, movimentar. o Espontânea – ocorre de forma imprevisível e não relaciona-se a outro evento. o Episódica associada ao intervalo da medicação • Classificação quanto à intensidade • Leve, moderada, intensa – 2 • Fisiopatologia Receptores de Dor São as TERMINAÇÕES NERVOSAS LIVRES (membrana axonal terminal) e os RECEPTORES ESPECÍFICOS, divididos em FIBRAS A-DELTA (mielinizadas – 20 a 30 m/s) e FIBRAS C (amielinizadas – 0,5 a 2m/s). As mielinizadas, A-DELTA, transmitem a dor rapidamente, com localização precisa, que terminam em terminações nervosas livres, causando a dor AGUDA; as fibras amielinizadas, C, são de transmissão LENTA, com localização imprecisa e responsáveis pela dor SURDA. Esses neurônios apresentam uma DISTRIBUIÇÃO LIVRE e são constituídos por um CORPO CELULAR localizado nos GÂNGLIOS DAS RAÍZES DORSAIS (GRD) da medula, de onde surge um prolongamento que se bifurca: um termina no corno dorsal da medula e outro é PERIFÉRICO = fibra sensitiva. A sensação dolorosa ocorre com o somatório de TRANSDUÇÃO + TRANSMISSÃO + MODULAÇÃO!! ✓ Transdução – ativação dos nociceptores → transformação do estímulo (químico, físico, mecânico...) em potencial de ação. ✓ Transmissão – potencial de ação no nervo periférico → gânglio da raiz dorsal → via NEOESPINOTALÂMICA → núcleo ventral posterolateral → córtex cerebral. ✓ Modulação – medular e suprassegmentar (cortical, subcortical, tronco cerebral). – 3 As moléculas do meio ambiente, por meio de SEGUNDO MENSAGEIROS/ligação a canais iônicos/ligação aos receptores, alteram as propriedades da membrana dos nociceptores e DEFLAGRAM os potenciais de ação. Neurônios Aferentes São divididos em 3 classes de acordo com a DIMENSÃO DO CORPO CELULAR e dos AXÔNIOS, também podem ser classificados quanto ao tipo de substância MECÂNICO, TÉRMICO, POLIMODAL e SILENCIOSO. ✓ Fibras C – de pequeno diâmetro, amielinizadas, velocidade < 2m/s – grande parte nociceptiva, ou seja, é uma terminação nervosa livre. o As fibras C são divididas de acordo com a expressão de substâncias, como a fibra C PEPTIDÉRGICAS (dependentes do fator de crescimento neuronal), que são responsáveis por gerar potenciais de ação induzidos por CALOR NOCIVO e por SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS (estímulos físicos e químicos); enquanto a fibra C ligadas à IG4 são mais sensibilizadas por PRÓTONS . ✓ Fibras A-Delta – médio diâmetro, discretamente mielinizadas, velocidade 25-50m/s – grande parte nociceptiva → terminação nervosa livre. ✓ Fibras A-Beta/A-Alfa – grande diâmetro, intensamente mielinizadas, elevada velocidade de condução – apenas 20% das fibras é NOCICEPTIVA (mecânica) – dor do tipo cortante. Observação: devido ao seu valor de sobrevivência, os nociceptores NÃO SE ADAPTAM a estímulos repetidos!!! – 4 Quando ocorre a lesão, inicia-se o mecanismo INFLAMATÓRIO, culminando na VASODILATAÇÃO e na liberação de MEDIADORES QUÍMICOS, como bradicinina, prostaglandinas, substância P, potássio, íons Hidrogênio. Os mastócitos após a diapedese liberam HISTAMINA, que ativa diretamente os NOCICEPTORES! Muitas vezes, os próprios nociceptores liberam substâncias que diminuem o limiar de ativação da dor, determinando a HIPERALGESIA!! A função quimiorreceptora dos nociceptores é crucial para gerar dor. As terminações das fibras nervosas sensoriais são protegidas pelo PERINEURO, que isola o tecido endoneuronal impedindo a passagem de moléculas grandes e moléculas hidrófilas, para lá dessa barreira, mas durante a inflamação, a QUEBRA DESTA BARREIRA FACILITA A DIFUSÃO DAS MOLÉCULAS e, por conseguinte, os seus efeitos sobre as respectivas substâncias alvo. A sua ação surge facilitada devido à frequente contiguidade das terminações nervosas com arteríolas e vénulas Os mediadores liberados pelas células LEUCOCITÁRIAS podem atuar diretamente nos neurônios SENSIBILIZANDO-OS e ATIVANDO-OS, porém também podem atuar em uma célula NÃO-NEURONAL, que irá liberar outro mediador que atua no neurônio (bradicinina, ATP, adenosina, serotonina, substância P). A BRADICININA está na base da HIPERSENSIBILIDADE À DOR, pois sensibiliza os terminais periféricos e potencializa a transmissão glutamatérgica na medula! Além disso, estimula macrófagos a liberarem TNF e IL-1, realizando a quimiotaxia para o local! A SUBSTÂNCIA P é responsável por traduzir o estímulo doloroso em POTENCIAL DE AÇÃO. – 5 Vias Centrais da Dor O corno DORSAL da medula e o seu homólogo BULBAR são considerados as ÁREAS SENSITIVAS PRIMÁRIAS, isto é, locais onde terminam os axônios dos neurônios aferentes primários, que fazem comunicação com os INTERNEURÔNIOS!! Rexed dividiu a substância cinzenta da medula em 10 LÂMINAS, sendo da 1 a 7 aquelas do CORNO DORSAL – as fibras C e A-DELTA terminam na ZONA MARGINAL DA LÂMINA 1 e na ZONA SUPERFICIAL da LÂMINA 2. Existem INTERNEURÔNIOS que modulam o fluxo de informação nociceptiva entre as lâminas V e VI, i.e., fazem comunicação entre um neurônio AFERENTE e um EFERENTE; e aqueles localizados nas lâminas 3 e 4 respondem a estímulos INÓCUOS que não são nocivos = NEURÔNIOS DE BAIXO LIMIAR A lâmina 5 é aquela responsável por receber sinais de DIVERSOS NEURÔNIOS, sendo um grande CAMPO RECEPTIVO para estímulos nocivos e inócuos! Na lâmina 5, especificamente na região das fibras A- DELTA, é uma estimulação do tipo INIBITÓRIA, por isso utiliza-se essa região para estimulação elétrica. Depois de chegarem à medula, seguem por vias ASCENDENTES para o encéfalo!!! Vias Ascendentes – as vias envolvidas na ascendência da dor são aquelas antero-laterais: ESPINOTALÂMICA (localizada) e a ESPINORETICULAR (dor difusa). A principalvia envolvida é o TRATO ESPINOTALÂMICO, que parte das lâminas 1, 5, 6 e 7. Lâmina 1 → projeta os neurônios para a região VENTROMEDIAL do TÁLAMO – percepção autônoma e emocional. O trato ESPINOMESENCEFÁLICO termina na substância cinzenta periaquedutal, ativando as VIAS DESCENDENTES DA DOR, causando modificações AUTÔNOMAS e SOMÁTICAS de proteção. Depois do tálamo, existem diversos NÚCLEOS NOCICEPTIVOS que se projetam para regiões CORTICAIS, onde a dor se torna consciente! Vias TALAMOCOCORTICAIS – em qualquer ponto do caminho tálamo-cortex a dor pode ser percebida. – 6 1. Via Neoespinotalâmica – trato espino-talâmico lateral – dor AGUDA, BEM LOCALIZADA e em PONTADA. • Neurônio 1 – gânglio espinal. • Neurônio 2 – Lâmina 1 Rexed. • Neurônio 3 – Núcleo ventral posterolateral. 2. Via Paleoespinotalâmica – trato espinoreticular – dor CRÔNICA, DIFUSA, sem organização somatotópica. • Neurônio 1 – gânglio espinal. • Neurônio 2 – Lâmina 5 de Rexed – formação reticular da medula. • Neurônio 3 – dá origem as fibras reticulo talâmicas da formação reticular. • Neurônio 4 – parte do tálamo para o córtex. Córtex – até agora tivemos 2 tipos de neurônios: os primários, aqueles os quais as terminações nervosas são os nociceptores e o corpo celular termina na medula; os secundários, aqueles que transmitiram a informação pelas vias ascendentes até o tálamo. A TERCEIRA ORDEM de neurônios conduz a informação do TÁLAMO – CÓRTEX SOMATOSSENSORIAL, responsável por localizar a dor em uma região específica do corpo!! • Córtex Pré-Frontal – estímulos dolorosos e agradáveis, além dos aspectos afetivos da estimulação sensorial • Córtex Insular – dá emoção às experiências sensoriais • Córtex Cingulado – componente afetivo da dor, antecipação da dor • Amígdala – processamento, memória e elaboração de respostas emocionais à dor Quando o sinal chega da periferia, há um aumento da liberação de GLUTAMATO, que se liga a receptores específicos (N-metil-D-aspartato) NMDA e depois ao receptor metabotrópico de glutamato. Ambos os receptores NÃO SÃO expressos em situações de dor aguda, mas quando ativados contribuem para a DESPOLARIZAÇÃO e para ALTERAÇÕES INTRACELULARES que aumentam o sinal nociceptivo. – 7 – 8 Referências • Alves Neto O. Dor: princípios e prática. Porto Alegre: Artmed; 2009. p. 858-66. • https://www.anestesiologiausp.com.br/wp-content/uploads/23_04_2014_Aula-de- Introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-Fisiopatologia-da-Dor.pdf • http://www.nnc.ufmg.br/hp/neuromed/Aulas_pdf/Dor.pdf https://www.anestesiologiausp.com.br/wp-content/uploads/23_04_2014_Aula-de-Introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-Fisiopatologia-da-Dor.pdf https://www.anestesiologiausp.com.br/wp-content/uploads/23_04_2014_Aula-de-Introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-Fisiopatologia-da-Dor.pdf http://www.nnc.ufmg.br/hp/neuromed/Aulas_pdf/Dor.pdf
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