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Para além da esquerda e da direita (Anthony Giddens)

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GIDDENS, Anthony. Duas teorias de democratização. In: Para além da esquerda e da direita: O futuro da política radical. Rio de Janeiro: Record, 2005. 
1- A popularidade da democracia
· O entusiasmo universal pela democracia 
No início da década de 1990, em muitos países do mundo, foram feitos movimentos para tentar substituir governos autoritários ou regimes de partido único por um sistema multipartidário.
· Perguntas que nortearão o capítulo:
a) Por que a democracia, agora, tornou-se mais ou menos universalmente popular?
b) Como deveria ser o conceito de democracia ser mais bem entendido?
c) Quais perspectivas de seu desenvolvimento futuro, visto pelo ângulo do realismo utópico?
· Abordagens sobre a popularidade da democracia 
a) Abordagem ortodoxa (perspectiva de Francis Fukuyama)
b) Visão alternativa (perspectiva de Anthony Giddens)
2- Abordagem ortodoxa
· Pergunta central da tese ortodoxa:
a) “Quando e se as ex-sociedades comunistas poderão nivelar-se às democracias liberais do Ocidente. O mesmo se aplica aos países do Terceiro Mundo. Serão eles capazes de seguir a mesma ‘estrada’- uma ‘estrada’ que não leva mais ao socialismo – que as democracias ocidentais já trilharam? ”
· A democracia assinala o “ponto final da evolução ideológica da humanidade” e a forma final de governo humano.
· Os Estados autoritários, seja de direita ou esquerda, não conseguiram desenvolver uma legitimação satisfatória de seu poder
· A relação entre liberalismo e democracia: O liberalismo seria o domínio da lei; reconhecimento dos direitos de liberdade de expressão; direito à livre propriedade. A Democracia diz respeito ao direito de todos os cidadãos de votar e formar associações políticas, sendo este direito o mais importante.
· A relação entre Democracia Liberal e Capitalismo: A “acumulação sem fim”, possibilitada pelo Capitalismo, permite uma autonomia material que possibilita uma generalização do respeito mútuo.
a) A democracia liberal e o Capitalismo estão ligados um ao outro porque o desenvolvimento econômico amplia as condições de autonomia individual.
b) O crescimento econômico, fortalecido pela ciência e pela tecnologia, requer um sistema educacional desenvolvido para possibilitar esta autonomia individual.
· Crítica conservadora ao relativismo moral
a) Pode não haver nada além da Democracia Liberal, mas essa ordem produz seus próprios problemas e fragilidades internas, como o niilismo.
3- Deficiências no pensamento de Fukuyama
· Inexistência de considerações sobre ecologia
· Discussão dos processos que levaram a universalização da democracia, de longo prazo. A democracia aparece, desse modo, como um destino, traçado desde as primeiras revoluções modernas. Sua chegada só fora demorada devido aos “entulhos” no meio da “estrada”, como o Comunismo.
· O relativismo de valor é o produto da democracia liberal ou é mais resultado da difusão dos mercados capitalistas?
4- Problemas enfrentados pela democracia liberal, atualmente
· Indiferença da população em relação às instituições políticas;
· Instabilidade das preferências do eleitorado;
· Antipolítica e individualismo;
· Crise de representatividade;
· Confinamento da democracia liberal ao Estado-Nação;
5- Visão alternativa sobre a popularidade da democracia liberal, atualmente
· Transformações no Leste Europeu:
a) Não foram lideradas por partidos políticos revolucionários organizados, foram pacíficas em sua maioria, e o poder do Estado, por assim dizer, diluiu-se sem precisar ser diretamente derrubado.
b) Influência das comunicações eletrônicas: Rádio e TV
c) A globalização subjaz às pressões para democratização nos dias de hoje:
· Globalização; Reflexividade social + Destradicionalização = Altera o status do domínio político formal.
6- O que é democracia liberal?
· Sistema de representação caracterizado por:
a) Eleições regulares;
b) Sufrágio universal;
c) Liberdade de consciência;
d) Pelo direito universal de candidatar-se a um cargo ou de formar associações políticas;
· Teoria política da democracia liberal:
a) Separação rigorosa entre Estado e sociedade civil;
7- Democracia dialógica
· Aspectos fundamentais
a) Promoção do cosmopolitismo cultural
b) Ligação entre autonomia individual e solidariedade
c) Democratização da democracia dentro da esfera do Estado democrático liberal
· Condições básicas para atingir estes aspectos
a) Seu potencial está presente na difusão da reflexividade social como uma condição das atividades diárias como da persistência de formas mais amplas de organização coletiva.
b) Pressupõe que o diálogo em um espaço público fornece um modo de viver com o “outro” em uma relação de tolerância mútua; o consenso não é seu principal objetivo 
c) Opõe-se aos fundamentalismos 
d) Diálogo como a capacidade de criar confiança ativa por meio de uma avaliação de integridade do outro
8- Avanços da democracia dialógica fora do espaço político formal
· Arena da vida pessoal: Casamento, sexualidade, amizade, relação entre pais e filhos, lanços de parentesco...
a) Relacionamento puro: Tipo ideal sociológico em que as verdadeiras relações sociais, como casamento, sexualidade, amizade, relação pais-filhos, estão direcionando-se. Se estabelecem e se mantém por si só – pelas recompensas subjetivas que a associação com o outro, ou com os outros, pode trazer. Para isto, pressupõe confiança ativa.
· Casamento: No contexto do relacionamento puro, o casamento pressupõe um laço emocional, forjado e mantido com base em atração pessoal, sexualidade e emoção, e não por razões econômicas.
· Sexualidade: Em uma ordem pós-tradicional a sexualidade torna-se plástica. A sexualidade, assim como a heterossexualidade não são mais entendidas como algo naturalmente pré-determinadas, mas como escolhas que o sujeito deve fazer.
· Relação pais-filhos: Estão tornando-se cada vez mais um relacionamento de autoridade reciprocamente negociada. Filho e pais dirigem-se um ao outro como iguais implícitos, mesmo se empiricamente o pai detiver maior autoridade.
· Como o relacionamento puro, em uma ordem pós-tradicional, relaciona-se com a democracia dialógica?
a) As habilidades de comunicação desenvolvidas dentro das arenas da vida pessoal poderiam ser generalizáveis em contextos mais amplos.
· O diálogo, livre do uso e coerção e ocupando um “espaço público”, é um meio não só de resolver disputas, mas também de criar uma atmosfera de tolerância mútua.
· Alcançar um bom entendimento de sua própria constituição emocional e comunicar-se eficientemente com os outros, em uma base pessoal, pode servir como uma boa preparação para o exercício da cidadania.
· Proliferação de movimentos sociais e grupos de autoajuda, em âmbito global
a) Movimentos sociais podem forçar a entrada no domínio discursivo de alguns aspectos de conduta social que ainda não haviam sido discutidos, ou que foram “resolvidos” pelas práticas tradicionais. Ex: Movimento feminista, movimento negro, movimento LGBT...
b) Alguns movimentos sociais e grupos de autoajuda geram, e talvez ajudem a manter, as influências democratizadoras graças à própria forma de sua associação social. Ex: Alcoólicos anônimos.

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