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Direito Constitucional - Inconstitucionalidade - Livia Fornaciari Marcos - Princípios do Direito - A Inconstitucionalidade do Instituto da Súmula Vinculante Considerando os Princípios do Direito - POR LIVIA FORNACIARI MARCOS

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Campinas 
2017 
 
 
 
LÍVIA FORNACIARI MARCOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DO INSTITUTO DA SÚMULA 
VINCULANTE CONSIDERANDO OS PRINCÍPIOS DO 
DIREITO 
 
 
 
Campinas 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DO INSTITUTO DA SÚMULA 
VINCULANTE CONSIDERANDO OS PRINCÍPIOS DO 
DIREITO 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
à Faculdade Anhanguera de Campinas, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Direito. 
Orientador: Andresa Bertão 
 
 
LÍVIA FORNACIARI MARCOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DO INSTITUTO DA SÚMULA 
VINCULANTE CONSIDERANDO OS PRINCÍPIOS DO 
DIREITO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
à Faculdade Anhanguera de Campinas, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Direito. 
 
 
 
Aprovado em: __/__/____ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a minha amada mãe, 
que acredita serenamente no meu 
potencial, e à Maria Bela, minha princesa. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus pelo acalento nas horas difíceis e por me guiar em tudo o que 
faço. 
Agradeço infinitamente a compreensão e o carinho da minha amada, querida e 
maravilhosa mãe, que nos momentos difíceis me deu consolo e me encorajou. 
Gratidão e amor indescritíveis. 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O ordenamento jurídico brasileiro adotou o juspositivismo e o civil law como pilares 
do sistema e a Constituição Federal os elenca detalhadamente através dos 
chamados princípios constitucionais e da tripartição de poderes. No entanto, o 
estudo por levantamento bibliográfico demonstrou que o instituto da súmula 
vinculante, que se apresenta como ativismo judicial, oferece afronta direta a esses 
elementos, tornando-o inconstitucional. Sua inconstitucionalidade fica evidente 
quando analisada pela ótica dos princípios constitucionais da legalidade, da 
inafastabilidade da jurisdição, do devido processo legal, da ampla defesa e 
contraditório, da coisa julgada e da independência do juiz, inclusive porque, neste 
ultimo exemplo, o magistrado é obrigado a aplicar súmula vinculante no caso 
concreto, sob pena de ser responsabilizado por ato de insubordinação. Em outro 
aspecto, o estudo em tela demonstrou que a essência do instituto está na 
transposição do concreto para o abstrato, de modo que se exclui os fatores 
concretos dos paradigmas para se alcançar o enunciado vinculativo. E, ainda, pôde-
se verificar pela análise cronológica da edição sumular, pela matéria enunciada e 
pelo exame da frequência do seu cancelamento e revisão, que o instituto é utilizado, 
sobretudo, para regulamentar matérias de Direito Tributário, Administrativo e 
Processual, sugerindo, por fim, novos estudos. 
 
Palavras-chave: Súmula vinculante; Ativismo judicial; Inconstitucionalidade; 
Princípios constitucionais; Civil law; 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The Brazilian legal system adopted juspositivism and civil law as pillars of the system 
and the Federal Constitution drains them through the so-called constitutional 
principles and the tripartition of powers. However, the study by bibliographic survey 
showed that the institute of the binding summary, which presents itself as judicial 
activism, offers direct affront to these elements, making it unconstitutional. Its 
unconstitutionality is evident when analyzed from the point of view of the 
constitutional principles of legality, the inafasability of jurisdiction, due process of law, 
ample defense and contradictory, res judicata and independence of the judge, also 
because, in this last example, the magistrate is obliged To apply binding precedent in 
the specific case, under penalty of being blamed for an act of insubordination. 
In another aspect, the on-screen study has demonstrated that the essence of the 
institute is in the transposition of the concrete to the abstract, so that the concrete 
factors of the paradigms are excluded to reach the binding statement. And, also, it 
could be verified by the chronological analysis Of the summative edition, by the 
matter stated and by examining the frequency of its cancellation and revision, that the 
institute is mainly used to regulate matters of Tax, Administrative and Procedural 
Law, suggesting, finally, new studies. 
Key-words: Binding summary; Judicial activism; Unconstitutionality; 
Constitutional principles; Civil law; 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 – Princípio da legalidade no mundo .......................................................... 26 
Tabela 2 – Independência do juiz nas Constituições do mundo .............................. 34 
Tabela 3 – Análise comparativa das súmulas vinculantes do Brasil ........................ 54 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 
2. ESTRUTURA DO ORDENAMENTO JURÍDICO ............................................... 13 
2.1. PERFIL DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL......................................................................... 13 
2.2. JUSNATURALISMO E JUSPOSITIVISMO .............................................................................................................. 13 
2.3. COMMON LAW E CIVIL LAW ........................................................................................................................... 15 
2.4. ACEPÇÕES DO TERMO “CONSTITUIÇÃO” ........................................................................................................... 16 
2.5. DA TRIPARTIÇÃO DE PODERES ......................................................................................................................... 18 
2.6. DA ATIVIDADE LEGISLATIVA NO BRASIL ............................................................................................................ 19 
2.7. ATIVISMO JUDICIAL ...................................................................................................................................... 20 
2.7.1. A súmula vinculante na Constituição Federal ........................................................................... 21 
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .... 24 
3.1. ASPECTOS GERAIS: PRINCÍPIOS X REGRAS: APLICAÇÃO ........................................................................................ 24 
3.2. A FUNÇÃO DO PRINCÍPIO ............................................................................................................................... 25 
3.3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ............................................................................................................................. 26 
3.4. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO .............................................................................................. 28 
3.5. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ........................................................................................................... 30 
3.6. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO........................................................................................... 31 
3.7. PRINCÍPIO DA COISA JULGADA ........................................................................................................................ 32 
3.8. PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DO JUIZ ............................................................................................................ 35 
4. ASPECTOS DAS SÚMULAS VINCULANTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO ............................................................................................................ 37 
4.1. DIFERENÇA ENTRE SÚMULA VINCULANTE, SÚMULA COMUM E LEI ..........................................................................37 
4.2. LEI 11.417 – REGULAMENTA A SÚMULA VINCULANTE: EDIÇÃO, REVISÃO E CANCELAMENTO ..................................... 38 
4.3. APLICAÇÃO DO INSTITUTO E CONSEQUÊNCIAS ................................................................................................... 40 
4.4. ANÁLISE GERAL DAS MATÉRIAS SUMULADAS ..................................................................................................... 42 
4.4.1. Análise cronológica da utilização do instituto .......................................................................... 42 
4.4.2. Análise por matéria.................................................................................................................. 42 
4.4.3. Análise da eficácia por cancelamento ou revisão ..................................................................... 43 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 44 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46 
ANEXOS ................................................................................................................... 54 
ANEXO A ................................................................................................................................................................ 55 
11 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 O presente trabalho visa demonstrar a inconstitucionalidade do instituto 
da súmula vinculante no Brasil, instituído pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004 
e posteriormente regulamentada pela Lei 11.417/2006. 
Diz-se inconstitucional porque, como se verá ao longo do trabalho, o 
Brasil adotou o sistema civil law em seu ordenamento jurídico juspositivista, guiando-
se, sobretudo, pelo princípio da legalidade em todos os seus aspectos e, por esse 
motivo, a edição sumular contraria toda a sua essência e sua estrutura, quedando-
se, assim, inconstitucional. 
Além da oposição ao princípio da legalidade, a súmula vinculante no 
Brasil afronta a tripartição dos poderes e as atribuições de cada um deles, porquanto 
ao judiciário não é atribuída função legislativa, ao contrario, lhe é designada a 
função de aplicar e garantir o cumprimento da lei originada nos demais poderes, 
apenas. Isso demonstra que a Emenda Constitucional que implementou a súmula 
vinculante extrapolou os limites constitucionais e ensejou determinada espécie de 
ativismo judicial. 
Em suma, o ativismo judicial é produto da mora e da omissão do Poder 
Legislativo e se concretiza na postura proativa do magistrado na busca da efetivação 
de determinado valor diante de uma matéria submetida a seu julgamento; 
Consequentemente é perfeitamente possível sua prática no instituto da súmula 
vinculante. 
Sabe-se que direito é fato social, e como fato social está em constante 
mutação. Essa mutação é sentida principalmente pelo juiz de primeiro grau pois é 
aquele que analisa os fatos ainda sem interferência da justiça, fatos não lapidados 
(ou deturpados) pelas decisões, aqueles fatos reais. Assim, é o juiz de primeiro grau 
que tem condições de tomar providencias puras capazes de garantir a formação de 
seu convencimento, conforme o artigo 371 do Novo Código de Processo 
Civil; contudo frente ao instituto sumular vinculativo, que torna cogente determinado 
entendimento, esse juiz perde as prerrogativas do seu exercício de convencimento, 
expressado pelo princípio da independência do juiz, e se torna aplicador e replicador 
de decisões verticalizadas, o que ataca diretamente o Estado Democrático de 
Direito. 
12 
 
Nesse sentido, percebe-se que a súmula vinculante é capaz de afetar 
princípios primordiais da relação jurídica como, por exemplo, a inafastabilidade da 
jurisdição, o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, a coisa julgada, 
entre outros. 
Com efeito, o instituto em tela é praticado, essencialmente, pelo sistema 
common law que não compõe originalmente o ordenamento jurídico brasileiro. 
Contudo, embora se saiba que os costumes e os precedentes se constituem como 
fontes do direito, se fazendo imprescindível para a evolução da norma, sabe-se que 
essa norma deve ter origem no Poder Legislativo, e não no Poder Judiciário. 
De outro modo, sabe-se que a súmula vinculante foi criada para garantir 
agilidade e segurança jurídica ao judiciário, por isso, considerando esse aspecto, 
será analisado, no presente trabalho, o perfil da prática do instituto, para verificação 
de sua eficiência, tomando por base a frequência de sua edição, revogação e as 
matérias reguladas. 
 
13 
 
2. ESTRUTURA DO ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
2.1. Perfil da Constituição da República Federativa do Brasil 
 
Primeiramente, cabe dizer que a Constituição Federal brasileira é 
composta por um texto formal e escrito; é dogmática pois elaborada pelo Poder 
Constituinte; é promulgada pois deriva do trabalho do Poder Constituinte, que é 
composto pelo povo; é de conteúdo analítico, uma vez que comporta todos os 
assuntos que se entendeu relevante para sua formação, isto é, além das normas 
gerais (MORAES, 2012, p. 8-11). 
Além disso, a Carta Magna do Brasil é caracterizada por sua estabilidade 
rígida, só podendo ser alterada através de emenda constitucional atendendo os 
requisitos do artigo 60 da CF, como se verá adiante. 
 
2.2. Jusnaturalismo e Juspositivismo 
 
Os termos jusnaturalismo e juspositivismo são empregados para exprimir 
as formas de existência da norma jurídica e seu estudo é datado desde o século V 
a.C, como se verá adiante. 
O direito natural é aquele que tem em toda parte a mesma eficácia (o 
filósofo [Aristóteles] emprega o exemplo do fogo que queima em qualquer parte), 
enquanto o direito positivo tem eficácia apenas nas comunidades políticas singulares 
em que e posto. (BOBBIO, 2006, p. 17). 
O jusnaturalismo, ou direito natural, compreende diversos entendimentos, 
dentre eles o de justiça divina, justiça da natureza, realidade pessoal e realidade 
além da vontade dos particulares, a qual todos estão submetidos, independente da 
vontade de alguém. (BITTAR, 2009, p. 26). Sendo o jusnaturalismo espontâneo, 
Aristóteles o identifica na educação familiar, que é dada aos filhos, praticada por 
eles durante a vida e reproduzida de geração em geração, como tradição familiar. 
Observe que o que se considera nesse exemplo não é o teor da educação, mas sim 
a repetição dos ensinamentos por força da tradição familiar (BOBBIO, 2006, p. 16). 
Cícero, filosofo grego, por sua vez, define jusnaturalismo como sendo 
uma lei verdadeira, cuja instituição divina não se possa ab-rogar nem permitir 
14 
 
derrogar, pois sendo imutável, será lei única e eterna, para todas as nações em 
todos os tempos (CAVALIERI, 2010, p. 19). 
O Juspositivismo, contudo, representa o sistema escrito de normas de 
direito, não importando se suas origens são estas ou aquelas, mas sim como é, uma 
vez sancionada (BOBBIO, 2006, p. 16). Assim, uma vez sancionada, determinada 
norma passa a ser de observância obrigatória, sendo que seu descumprimento 
possui sanção respectiva. 
 Nessa seara, Aulo Gelio, aproximadamente aos 130 d.C. referiu-se ao 
jusnaturalismo como algo sem interferência do homem, enquanto que o 
juspositivismo como o que é ou por convenção de todos ou por ditado pelo homem. 
Mais tarde, Julius Paulus “Prudentíssimus”, mais conhecido como Paulo, conceituou 
os direitos aqui tratados como sendo o primeiro universal e moral, e o segundo, 
nomeado por ele como direito civil, aquele cujas coisas e atos regulados são 
necessariamente uteis, presos no tempo e no espaço (BOBBIO, 2010, p.19). 
Em 1.273, São Tomás de Aquino, por sua vez, criou duas possibilidades 
da formação do direito positivo, sendo a primeira por conclusão, determinada pela 
indução do raciocínio logico, ou seja, que se utiliza do silogismo para explicar a 
razão de ser; e a segunda que parte da observação darealidade genérica e busca a 
especificidade da aplicação objetiva, por exemplo, onde existe crime (realidade 
genérica) deve haver sanção (especificidade) (BOBBIO, 2010, p. 20). 
O estudo desses institutos demonstrou que, ao contrario do que se tentou 
demonstrar durante muitos anos, o jusnaturalismo e o juspositivismo são 
complementares, haja vista que o segundo decorre do primeiro, isto é, só haverá 
norma positivada, se houver direito natural a ser tutelado, por exemplo o direito à 
vida (GUSMÃO, 2012, p. 53). 
Ainda sobre o juspositivismo, uma das ideias supremas regidas por esse 
instituto é a legalidade, responsável por obrigar o individuo a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa, somente se determinado comando estiver disposto em lei escrita, não 
questionável, e sim imposta, ideia contida no Artigo 5º, inciso II, da Constituição 
Federal, in verbis: 
 
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei; 
 
15 
 
 
2.3. Common law e Civil law 
 
O common law e o civil law são dois sistemas jurídicos distintos, sendo o 
primeiro criado pelos próprios juízes e o segundo criado pelo Estado. 
Surgido na Inglaterra, o common law significa direito comum e é definido 
como o conjunto de decisões judiciais baseadas na tradição, no costume e na 
continuidade, sendo que os julgados atuais fazem precedentes para o futuro e 
constituem fontes de direito (WAMBIER, 2009, p. 54). 
O common law não foi sempre como é hoje, mas a sua principal 
característica sempre esteve presente: casos concretos são considerados fonte do 
direito. O direito inglês, berço de todos os sistemas de common law, nasceu e se 
desenvolveu de um modo que pode ser qualificado como “natural”: os casos iam 
surgindo, iam sendo decididos. Quando surgiam casos iguais ou semelhantes, a 
decisão tomada antes era repetida para o novo caso. Mais ou menos como se dava 
no direito romano. (WAMBIER, 2009, p. 54) 
Paolo Grossi exalta o sistema common law, dizendo que se o direito é 
coisa de jurista, então é jurista que deve fixá-lo e exprimi-lo, pois, na sua opinião, 
isso garante o desenvolvimento da justiça em relação às necessidades sociais 
(GROSSI, 2006, p. 55-56). 
No entanto, por Bobbio, Jeremy Bentham, jurista e filósofo inglês, critica o 
common law indicando 5 defeitos, sendo eles 1) a incerteza e a insegurança jurídica 
de saber se determinado ato é ou não ilícito e se caso ilícito, qual será a sanção 
correspondente; 2) retroatividade do direito comum, isto é, se determinado caso não 
puder ser decidido utilizando-se os precedentes, criar-se-á um novo precedente que 
surtirá, então, efeito retroativo; 
 
Quando o juiz cria um novo precedente, a saber, quando, achando-se 
diante de um caso que não pode ser resolvido com base numa norma 
deduzível das sentenças precedentes, resolve esse caso com uma 
norma que na realidade ele mesmo cria ex novo, tal norma tem 
eficácia retroativa, visto que é aplicada a um comportamento que foi 
assumido quando ela própria não existia ainda (BOBBIO, 2010, p. 98). 
 
 3) aplicação do princípio da utilidade, que deveria ser ausente nesse tipo 
de sistema. Disso entende-se que o princípio da utilidade (o que é mais útil, justo e 
16 
 
eficaz) entra em conflito com o princípio da imparcialidade que deve ter o juiz; 4) o 
quarto defeito apontado por Bentham, está na possível falta de competência do juiz 
para criar determinado precedente; 5) Falta de controle do povo, isto é, não há 
mecanismos de controle de abuso de poder a ser exercido pelo povo (BOBBIO, 
2010, p. 97-99). 
Como se nota, Bentham critica o sistema common law comparando-o ao 
civil law, que é, segundo Thomas Hobbes, o poder exclusivo do soberano de pôr o 
direito, onde esse monopólio do Estado é imprescindível para assegurar seu poder 
absoluto (BOBBIO, 2010, p. 34). Para Hobbes, o civil law pressupõe a existência de 
duas características, quais sejam, o formalismo e o imperativismo. O formalismo se 
refere a autoridade de estabelecer a norma e o imperativismo é o comando que diz o 
certo e o errado. 
O civil law pode ser identificado sobretudo nos sistemas jurídicos 
dispostos em ordenamentos (códigos), já que possui estruturação e sistematização 
de assuntos e temas, pressupõe a hierarquia entre os textos legais e também a 
exigência de procedimentos formais para alteração dos mesmos. 
 
2.4. Acepções do termo “constituição” 
 
Em sentido geral, o termo “constituição” compreende o modo de 
composição ou a estrutura de alguma coisa ou objeto (NETO, 1999, p. 16). No 
dicionário comum a palavra “constituição”, além do significado acima, também 
corresponde a “Lei fundamental num Estado, que contem normas de formação dos 
poderes públicos, direitos e deveres dos cidadãos” (AURÉLIO, 2010, p. 192). 
Contudo, no dicionário jurídico, o termo “constituição” se apresenta mais 
aprofundado representando o conjunto de regras e preceitos essenciais, criados a 
partir da soberania de determinado povo que objetiva a organização política e a 
concretização dos diretos e deveres de cada indivíduo (SILVA, 2012, p. 164). 
Como se vê, o mero estudo do termo não é capaz de satisfazer a 
compreensão do que vem a ser a constituição de um país, pois cada autor, como se 
verá adiante, faz uma tomada diferente do tema propondo ao longo dos anos 
diferentes entendimentos e abordagens. 
São diversas as acepções do termo “constituição”, passando por setores 
sociológicos, filosóficos, políticos, até alcançar o jurídico. LASSALE, em sua 
17 
 
empreitada sociológica sobre o tema, diz que Constituição é o registro em linguagem 
escrita da “soma dos fatores reais de poder”, que ao obter a forma escrita, deixam 
de ser simples fatores reais, assumindo a posição de instituição jurídica obrigatória, 
que, por sua vez, para ter validade, deve estar ajustada à realidade da sociedade, 
pois se assim não estiver, correrá o risco de ser apenas uma folha de papel. 
(LASSALE, 2002, p. 68). 
 
De nada serve o que se escreve numa folha de papel se não se 
ajusta à realidade, aos fatores reais e efetivos do poder. (LASSALE, 
2002, p. 68). 
 
Contrapondo-se à ideia de Lassale, surge Carl Schmitt para o qual a 
Constituição é ato de um poder soberano, que dita a ordem social, política e jurídica, 
mas não se torna absoluta por isso, porquanto não surge de si mesma, e sim da 
vontade política daquele que a dá (NETO, 1999, p. 19). 
 
A essência da Constituição não está contida numa lei ou numa 
norma. No fundo de toda normatização reside uma decisão política 
do titular do poder constituinte, quer dizer, do Povo na Democracia e 
do Monarca na Monarquia autêntica. (SCHMITT, 1932, p.27). 
Quando Carl Schmitt identifica que na verdade a Constituição se dá pela 
vontade política, este remonta a ideia apresentada por Platão, na obra “A 
República”, onde seu personagem Trasímaco traz que justiça é relativa e que 
depende do mais forte e do mais poderoso, (apud CLARET, 2000, p. 16); Nota-se 
que da fala de Trasímaco pode-se extrair a ideia de Estado Soberano, aquele que 
concentra a vontade política e o jus persequendi e o jus puniendi, que detém o poder 
de tomar decisões em relações de terceiros, através da jurisdição, (LARAIA, 2008, p. 
27). 
No mesmo período de Carl Schmitt, Hans Kelsen apresenta a Teoria Pura 
do Direito, que explica o ponto de partida do processo de criação do Direito Positivo, 
admitindo dois planos distintos: O primeiro plano jurídico-positivo que é a norma 
hipotética, pressuposta, invisível (norma constitucional) e o segundo plano, chamado 
logico-jurídico, que é a norma material e visível (norma infraconstitucional), que 
depende da validade do primeiro plano (NETO, 1999, p. 21). 
 
18 
 
(...) a norma fundamental é a instauração do fato fundamental da 
criação jurídica (...). Ela é o ponto de partida de um processo: do 
processo de criação do Direito positivo. Ela própria não é norma 
posta pelo costumeou pelo ato de um órgão jurídico, não é uma 
norma positiva, mas uma norma pressuposta (...) (NETO, 1999, p. 
21). 
 
No Estado Democrático de Direito, a Constituição é formulada pelo Poder 
Constituinte responsável pela manifestação soberana da vontade política de um 
povo social e juridicamente organizado (MORAES, 2012, p. 24). A ideia de Poder 
Constituinte surgiu com as Constituições escritas, e haverá sempre um novo Poder 
Constituinte quando houver uma nova Constituição, independente de existir ou não 
outras anteriores. Segundo MELLO FILHO, a titularidade do Poder Constituinte é do 
povo, porem seu exercício é delegado a um órgão representante da vontade popular 
(MELLO FILHO, 1985, p. 14). 
Com efeito, a Carta Magna dispôs em seu artigo 60, §4º, II e IV, que não 
será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir o voto direto, 
secreto, universal e periódico, pois são mecanismos que garantem o Estado 
Democrático, e impediu, também, a abolição ou alteração que prejudique os direitos 
e garantias individuais do Homem, fornecendo-lhes status de cláusula pétrea. 
 
2.5. Da tripartição de poderes 
 
Estados Democráticos de Direito adotaram a tripartição de poderes em 
executivo, legislativo e judiciário, conforme a ideia apresentada por Montesquieu em 
sua obra “O Espirito das Leis”, visando controlar e limitar o poder estatal, conferindo 
autonomia, independência e harmonia entre as funções e instituições do Estado. 
Nesse tipo de Estado não há que se falar em supremacia de qualquer um dos 
Poderes em relação ao outro (SILVA, 2004). 
Ao desenvolver a teoria da separação dos poderes, Montesquieu buscou 
impedir que o julgador tivesse poder arbitrário sobre a vida dos indivíduos (que seria 
caso legislasse e julgasse ao mesmo tempo) ou tivesse a força de opressor (caso 
tivesse as atribuições do Poder Executivo). 
A tripartição dos poderes está associada ao Estado Democrático de 
Direito e o Brasil assim declarado no Art. 2º, da CF, inclusive com clausula pétrea de 
separação dos poderes, conforme ditames do Artigo 60, Parágrafo 4, inciso III, da 
19 
 
CF, possui os três poderes acima indicados. O Poder Executivo é encarregado de 
governar o povo e administrar os interesses públicos, bem como traçar diretrizes 
orçamentárias e projetos prioritários, rejeitar ou sancionar leis e editar medidas 
provisórias. Nesse último caso, o poder executivo exerce função legiferante 
autorizado pela Constituição Federal. Já o Poder Legislativo é responsável por, 
principalmente, formular, discutir e aprovar leis, fiscalizar os gastos de recursos 
públicos e a execução dos programas do Poder Executivo. Outras atribuições do 
poder legislativo é aprovar o Orçamento da União e cuidar das contas do presidente 
da República. Por fim, o Poder judiciário é incumbido de aplicar a lei e garantir o seu 
cumprimento por todos. 
 
2.6. Da atividade legislativa no Brasil 
 
A Constituição Federal previu uma sequência de atos que devem ser 
observados pelos órgãos legislativos para a realização das espécies normativas 
previstas no artigo 59 da CF: Emenda à Constituição, lei complementar, lei ordinária, 
lei delegada, medida provisória, decreto legislativo e resolução. Alexandre de 
Moraes define processo legislativo como 
 
Juridicamente, o conjunto coordenado de disposições que disciplinam 
o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na 
produção de leis e atos normativos que derivam diretamente da 
própria constituição, enquanto sociologicamente, o conjunto de fatores 
reais que impulsionam e direcionam os legisladores a exercitarem 
suas tarefas (MORAES, 2012, p. 671). 
 
A não observância dos atos procedimentais para elaboração legislativa 
acarreta a inconstitucionalidade formal da lei ou do ato normativo, possibilitando 
pleno controle de constitucionalidade tanto pelo método difuso como pelo 
concentrado (MORAES, 2012, p. 671). 
Ainda segundo Alexandre de Moraes, o respeito ao devido processo 
legislativo é imprescindível para a consagração do princípio da legalidade, porquanto 
o Estado somente pode exigir do povo o cumprimento de uma norma se ela estiver 
em consonância com a Carta Magna (MORAES, 2012, p. 672). 
Sabe-se que a atividade legislativa erga omnes no Brasil é 
desempenhada, mormente, pelo Poder Legislativo, mas existem hipóteses que 
20 
 
permitem a produção normativa por órgãos de outros poderes, como por exemplo a 
Medida Provisória e decretos autônomos, pelo Executivo. 
 
2.7. Ativismo judicial 
 
Note-se que ao longo do presente trabalho se falou sobre a atividade 
legislativa do poder legislativo e do poder executivo, mas não se falou sobre o poder 
judiciário na função legislativa. Isto porque o judiciário tem função apenas de 
aplicador da norma e para isso deve utilizar os mecanismos de interpretação 
oferecidos pela própria lei e pela prática doutrinaria. 
É importante frisar, a título de adendo, que embora a afirmação acima 
seja correta, é admitida atividade legiferante do judiciário apenas para regimentos 
internos e para atos do Conselho Nacional de Justiça, que, por sua vez, não 
alcançam todos os indivíduos, ou seja, não é erga omnes, por isso será 
desconsiderada neste trabalho. 
Voltando à função típica do poder judiciário no Brasil, tem-se que em 
decorrência do juspositivismo e do civil law, seus membros não poderiam inovar pela 
criação de conteúdo normativo, mas somente pela interpretação do existente, no 
entanto, a inovação é frequente. 
A inovação legislativa feita pelo poder judiciário recebe o nome de 
ativismo judicial que, segundo Marshall, é a recusa dos Tribunais em se manterem 
nos limites impostos pelo legislativo (VALE, 2015). Por outro lado, Ran Hirschl 
entende que o ativismo judicial é a transferência progressiva dos poderes do 
legislativo para o judiciário, de modo a reger as transformações sociais que tendem 
a formar grupos privilegiados em detrimento de outros (VALE, 2015). 
Segundo Uadi Lamegos Bulos, “ativismo judicial é o ato em que os juízes 
criam pautas legislativas de comportamento, como se fossem próprios membros do 
Poder Legislativo”. O referido doutrinador explica ainda que sua prática torna o 
judiciário descomedido, afastando o magistrado da função jurisdicional, passando a 
atuar de maneira contrária às normas constitucionais. (BULOS, 2014) 
No entanto, mais moderado, Luís Roberto Barroso considera que: 
 
A ideia de ativismo judicial está associada a uma participação mais 
ampla e intensa do Judiciário na concretização de valores e fins 
21 
 
constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos 
outros dois Poderes. (BARROSO, 2013, p. 357). 
 
Flavio Gomes distingue duas espécies de ativismo judicial: o inovador, 
onde o juiz cria a norma ou o direito, e o revelador no qual o juiz complementa o 
entendimento de uma norma por agregação de princípio ou valor. Essas espécies 
ocorrem no caso concreto, aferidas conforme o teor da súmula e da matéria 
(GOMES, 2009). 
Em suma, o ativismo judicial é produto da mora e omissão do Poder 
Legislativo e se concretiza na postura proativa do magistrado na busca da efetivação 
de determinado valor diante de uma matéria submetida a seu julgamento. 
 
2.7.1. A súmula vinculante na Constituição Federal 
 
O ativismo judicial desempenhado pelo magistrado é pautado na inovação 
e no extrapolamento de suas funções, principalmente quando a decisão inovadora 
passa a ter efeitos além de determinado processo judicial, passando a constituir 
fonte normativa protagonizada pelo instituto da súmula vinculante. 
A súmula vinculante foi instituída no ordenamento jurídico brasileiro pela 
Emenda Constitucional nº 45 de 2004, que acrescentou o artigo 103-A à 
Constituição Federal de 1988, e tem o objetivo de consolidar e pacificar a 
jurisprudência em relação a determinada matéria. 
Do latim, summula significa sumário ou índice de alguma coisa, e de 
acordocom De Plácido e Silva, súmula seria algo “que de modo abreviado explica o 
teor ou o conteúdo integral de alguma coisa” (SILVA, 2012, p. 558). 
Ainda sobre a definição do termo “súmula”, Evandro Lins e Silva bem 
explica tanto o termo, como sua origem. 
 
Súmula foi a expressão de que se valeu Victor Nunes Leal, nos idos 
de 1963, para definir, em pequenos enunciados, o que o Supremo 
Tribunal Federal, onde era um dos seus maiores ministros, vinha 
decidindo de modo reiterado acerca de temas que se repetiam 
amiudadamente em seus julgamentos (SILVA, 1998, p. 34). 
 
22 
 
A súmula vinculante é de edição exclusiva do Supremo Tribunal Federal 
e, após ser promulgada pelo Supremo, todos os tribunais inferiores são obrigados a 
seguirem tal entendimento. 
Miguel Reale explica que súmulas 
 
[...] são como que uma sistematização de prejulgados, ou, numa 
imagem talvez expressiva, “o horizonte da jurisprudência”, que se 
afasta ou se alarga à medida que se aprimoram as contribuições da 
Ciência Jurídica, os valores da doutrina, sem falar, é claro, nas 
mudanças resultantes de novas elaborações do processo legislativo. 
(REALE, 2004, p. 175) 
 
Já conforme José Rocha súmula vinculante é “uma norma geral, 
provavelmente, a mais geral do ordenamento brasileiro, pois obriga a todos os 
membros do Poder Judiciário, das administrações públicas das três esferas de 
governo e, por extensão, a toda sociedade brasileira”. (ROCHA, 2009, p. 19). 
Em outro sentido, porém, Carmem Lucia Antunes, atual ministra 
presidente do STF, teceu críticas à época do projeto da Emenda Constitucional que 
implementou a súmula vinculante no ordenamento jurídico brasileiro, alertando para 
a função paralegal do instituto com força de norma constitucional, e pior ainda, seu 
efeito reformador emprestado pelo ativismo judicial, in verbis: 
O objeto, pois, do pronunciamento do Supremo Tribunal Federal é 
exatamente a matéria constitucional. Como a súmula terá, na fórmula 
proposta, vinculatividade, obrigatoriedade e definitividade, ela não 
terá, quando editada pelo STF, “força de lei”, mas “força de norma 
constitucional” (...) somente modificável pelo Poder Legislativo por 
emenda constitucional. O Supremo Tribunal Federal estaria 
transformado em verdadeiro “poder constituinte de segundo grau”, ou 
“poder constituinte reformador”. 
 
E completa 
 
(...) O cidadão não terá como participar, direta ou indiretamente, da 
elaboração da norma contida na súmula [vinculante], vendo-se 
marginal do processo de sua formação e positivação, e sendo-lhe 
retirado, assim, um dos direitos fundamentais, qual seja, o de poder 
vir a participar diretamente, até, pela iniciativa popular, do processo 
de sua elaboração. 
 
Assim, segundo a ministra, se no Estado Democrático de Direito (art. 1º, 
CF) todo poder emana do povo (art. 1º, Parágrafo Único, CF) através do sufrágio do 
voto direto (art. 14, CF), que expressa a vontade soberana popular para eleger o 
Poder Legislativo (art. 44, CF), responsável por discutir e aprovar leis (art. 59, CF), a 
23 
 
súmula vinculante editada pela Máxima Corte do país, subtrai do povo um de seus 
direitos fundamentais que é a representatividade na formulação de leis, inclusive 
pelo fato de o instituto em voga não permitir a iniciativa popular no processo de 
elaboração. Esse e outros aspectos da súmula vinculante serão tratados no capítulo 
4. 
 
24 
 
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
O presente trabalho tece a relação da súmula vinculante com os 
princípios constitucionais a partir da análise crítica de sua inconstitucionalidade 
formal frente ao ordenamento jurídico. Tratando o trabalho dessa relação com os 
princípios cabe definir alguns conceitos importantes para entendimento e leitura do 
que aqui se busca. Para tanto, segue breve reflexão do que vem a ser e a diferença 
de princípios e regras do direito no ordenamento jurídico brasileiro. 
3.1. Aspectos gerais: princípios X regras: aplicação 
Primeiramente cumpre destacar que ambos são fontes de direito, contudo 
configuram modos distintos de aplicação. As regras, segundo Canotilho, são normas 
que prescrevem imperativamente uma exigência, isto é, ou permitem ou proíbem 
algo (CANOTILHO,1997) Para Dworkin (apud JUDICE, 2007), filósofo do direito 
americano, as regras são aplicáveis à maneira do tudo-ou-nada, pois ou é aplicada 
integralmente no caso concreto, e então é válida, ou é indiferente e em nada 
contribui para a decisão, e por isso é inválida para aquele caso concreto. Quando 
duas regras colidem, uma afasta a aplicação da outra por meio da subsunção, por 
exemplo, a lei especial derroga a lei geral, a lei posterior afasta a anterior, etc. 
((apud JUDICE, 2007). 
Já princípios, para o aludido autor, são padrões que devem ser 
observados pois são dotados de valor econômico, político e social que idealizam 
uma situação específica para exigir justiça, equidade ou qualquer dimensão de 
moralidade. Ainda segundo Dworkin (apud JUDICE, 2007), princípios são abstratos 
e determinam padrões gerais a serem seguidos (JUDICE, 2007). Entretanto, quando 
ocorre colisão de princípios, é necessário ponderar a força relativa de cada um 
deles, tomando um em maior consideração, sem abandonar ou invalidar o outro 
(LARAIA, 2009, p. 16). 
Tangendo a essa ideia, Roberty Alexy (apud JUDICE, 2007), filósofo do 
direito alemão, aponta que princípios são como “mandados de otimização”, que 
ordenam que algo seja realizado na maior medida possível atentando-se para as 
possibilidades jurídicas e fáticas do caso (JUDICE, 2007). 
No entanto, de acordo com o inglês Herbert Hart, filósofo do direito, 
princípios e regras se distinguem por dois aspectos. O primeiro deles é uma questão 
25 
 
de grau, onde os princípios são mais extensos e gerais e menos específicos que as 
regas. O segundo deles é que os princípios estabelecem certo objetivo, finalidade ou 
valor, e partindo de certo ponto de vista concluir-se-á se desejável mantê-los 
simplesmente por mantê-los ou aderi-los por majoração de sua aplicação (LARAIA, 
2009, p. 17). 
Os princípios, conforme Laraia, não são criados e sim identificados pelos 
juristas nos fatos econômicos, sociais, políticos e jurídicos, e por isso não estão 
sujeitos a regras de validação e reconhecimento, pois são “natos”. 
Nesse sentido Pontes de Miranda leciona: 
 
Ninguém deve improvisar princípios jurídicos, como ninguém pode 
fazer regras econômicas, políticas ou morais. É com tijolo que se 
constroem casas, e não com palavras. É das realidades que se tiram 
os princípios, de modo que entre as leis e eles pode haver paralelismo 
e a ineficácia daquelas será proporcional à discordância entre uns e 
outros (MIRANDA, 2005, p. 232-233). 
 
Por fim, Bertoncini ao interpretar Canotilho conclui que se o ordenamento 
jurídico fosse formado isoladamente por regras ou princípios haveriam problemas, já 
que a contribuição de cada um é imprescindível ao equilíbrio da dinâmica do 
judiciário, in verbis: 
 
Um sistema só de regras geraria um ordenamento rígido e fechado, 
exigindo uma quantidade absurda de comandos para atender às 
necessidades naturalmente dinâmicas da sociedade. Por sua vez, 
um ordenamento jurídico exclusivamente principiológico produziria 
insegurança, haja vista o elevado grau de abstração dos princípios, 
voltados de modo secundário à prescrição de comportamentos. 
(BERTONCINI, 2002, p.78) 
 
3.2. A função do princípio 
Os princípios do direito atuam de diferentes maneiras no ordenamento 
jurídico e o autor Sergio Sérvulo da Cunha anota seis funções: a) gerar normas 
(função nomogenética); b) orientar a interpretação (função hermenêutica); d) inibir a 
eficácia de norma que os contrarie (função inibitória); d) suprir a falta de norma 
(função supletiva); e) regular o sistema (função de regulação do sistema); f) projetar 
o texto sobre a sociedade (função de projeção) (CUNHA, 2006, p. 191). 
26Mais ampla e aceita é a interpretação do autor Carlos Henrique Bezerra 
Leite que leciona três funções, quais sejam a) informativa, aquela destinada ao 
legislador, oferece sugestões para formulação de novas normas jurídicas de acordo 
com os anseios da sociedade; b) interpretativa, destinada ao aplicador do direito, 
oferece significado e sentido às normas através de métodos de hermenêutica; c) 
normativa, também destinada ao aplicador do direito, atua de forma direta, por 
exemplo na derrogação de uma norma por um princípio (LEITE, 2014, p. 65), o 
princípio da norma mais favorável ao trabalhador (CF, art. 7º, caput), e de forma 
indireta, na aplicação do princípio da preclusão no âmbito processual (DELGADO, 
2011, p. 198). 
Nota-se que os princípios possuem funções específicas no ordenamento 
jurídico e assim exercem papel fundamental em todos os âmbitos do direito. 
 
3.3. Princípio da legalidade 
 
Constituição Federal – Artigo 5º, inciso II: ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em 
virtude de lei. 
 
A noção de legalidade é compreendida de diversas maneiras e uma delas 
é a de que a forma e a matéria das leis infraconstitucionais devem seguir um 
mandamento constitucional, sabendo que isto só pode ser imposição de caráter 
constitucional ou supraconstitucional. 
O princípio aqui tratado visa combater o poder arbitrário do Estado, 
determinando que só por meio das espécies normativas em consonância com o 
devido processo legislativo constitucional é que se pode criar direitos e obrigações 
para indivíduo (MORAES, 2012, p. 41). Assim, o princípio da legalidade - presente 
nas Constituições brasileiras de 1824 (art. 179, inciso I), 1891 (art. 72, § 1º), 1934 
(art. 113, 2)), 1946 (art. 141, § 2º), 1967 (art. 150, § 2º) e 1988 (art. 5º, inciso II - 
atual) - partindo da lei como primado soberano, cessa o privilegio da vontade 
caprichosa do déspota ou detentor do poder, transformando-se mais em garantia 
constitucional do que em direito individual, pois, embora não tutele especificamente 
um bem, ele assegura ao particular a prerrogativa de repelir as injunções impostas 
por outras vias que não seja a da lei (MORAES, 2012, p. 41). 
Em outras palavras, entende-se que a presença do princípio da legalidade 
como base do ordenamento jurídico é a garantia contra o arbítrio do Estado, pois 
27 
 
sua ausência implicaria a inexistência do Estado Democrático de Direito (TAVARES, 
2012, p. 665). 
Como se vê, o princípio da legalidade é o ápice do Estado Democrático 
de Direito, pois quando retirada a ideia de Estado como editor do ordenamento 
jurídico, ainda resta a soberania da vontade popular do qual emana o poder daquele 
para editar, fornecendo à legislação, em qualquer caso, legitimidade suficiente para 
ser respeitada e obedecida. Nas palavras de André Ramos Tavares: 
 
É regra que aponta a presença de um Estado de Direito, pois, 
retirando o arbítrio do Estado, exige-se que sua conduta esteja 
amoldada à lei, como expressão da vontade geral (TAVARES, 2012, 
p. 664). 
 
O princípio da legalidade na Constituição Federal brasileira de 1988 está 
expresso nos seguintes dispositivos: 
TABELA 1: PRINCÍPIO DA LEGALIDADE NO BRASIL 
Dispositivo Matéria Comando textual 
 
Art. 5º, Inciso II, CF 
Constitucional / 
civil 
"ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei" 
Art. 5º, Inciso 
XXXIX, CF 
Constitucional / 
penal 
"não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal" 
Art. 150, Inciso I, CF 
Constitucional / 
tributário 
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e 
aos Municípios: 
"exigir ou amentar tributo sem lei que o estabeleça" 
Art. 37, Caput, CF 
Constitucional / 
administrativo 
"a administração pública direta e indireta de qualquer 
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de 
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência" 
Fonte: autora (2017). 
 
Importante notar que a expressão “será obrigado” do artigo 5º, inciso II da 
CF, abrange, além de obrigações, direitos, porquanto não há obrigação sem direito 
correlato, uma vez que o gozo de um direito próprio subtende o dever de respeitar o 
gozo do mesmo direito pelo outro indivíduo. Nas palavras de André Ramos Tavares 
“não há, pois, direito sem dever correlato” (TAVARES, 2012, p. 667). Aqui a ideia de 
28 
 
legalidade deixa o campo puramente formal e avança sobre a ideia de justiça 
proporcionada pela ordem constitucional, de modo que corresponda aos seus 
valores e mandamentos. 
A exigência da legalidade, por sua vez, ampara-se em dois aspectos. O 
primeiro corresponde à lei posta, pela ótica de sua formalidade. O segundo 
corresponde ao comando propriamente dito, impondo que não se crie direito ou 
dever sem amparo legal, isto é, se não há lei, não há suporte para qualquer 
exigência ou benefício público (TAVARES, 2012, p. 668). 
Segundo Alexandre de Moraes há motivos para que ocorra o monopólio 
da atividade legislativa pelo Parlamento, sendo três: i) trata-se de sede institucional 
dos debates políticos, ii) caixa de ressonância para efeito de informação e 
mobilização da opinião pública, iii) órgão que por ser eleito democraticamente torna 
a lei não apenas expressão dos sentimentos dominantes em determinado setor 
social, mas sim a vontade resultante da síntese de posições antagônicas e 
pluralistas da sociedade (MORAES, 2012, p. 42). 
O princípio da legalidade está estreitamente relacionado com o devido 
processo legislativo, que é aquele que estipula e cumpre os ritos e as fases 
procedimentais da edição de uma lei (discussão, votação bicameral, sanção ou veto) 
obedecendo a ordem constitucional sobre o assunto. Além disso, deve-se atentar 
para a competência da matéria tratada na lei constitucional e infraconstitucional, uma 
vez que é ao Poder Legislativo compete uma parte das matérias e ao Presidente da 
República outras matérias, via decreto, medida provisória e regulamento para a fiel 
execução da lei (TAVARES, 2012, p. 667). 
 
 
3.4. Princípio da Inafastabilidade da jurisdição 
 
 
Constituição Federal - Artigo 5º, inciso XXXV: a lei não excluirá 
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 
 
 
Conforme ensina Sylvio Motta e Gustavo Barchet, o princípio da 
inafastabilidade da jurisdição consagra-se como verdadeiro alicerce do Estado de 
Direito da sociedade civilizada e democrática, pois o Estado que chama para si o 
29 
 
monopólio da justiça, evita a autotutela1 indiscriminada do barbarismo. Além disso, a 
inafastabilidade da jurisdição é regra que submete ao Poder Judiciário todo e 
qualquer conflito de interesse juridicamente relevante, para que seja julgado sob o 
ângulo imparcial do juiz. (MOTTA e BARCHET, 2007, p. 207). 
O aludido princípio é destinado ao legislador e dispõe que o mesmo não 
deve tentar impedir o exercício do acesso à justiça pelo indivíduo que se ache em 
situação de lesão ou ameaça a direito. Nas palavras de Nelson Nery Jr.: 
 
Nisso reside a essência do princípio: o jurisdicionado tem o direito de 
obter do Poder Judiciário a tutela jurisdicional adequada. A lei 
infraconstitucional que impedir a concessão da tutela adequada será 
ofensiva ao princípio constitucional do direito de ação. [...] todo e 
qualquer expediente destinado a dificultar ou mesmo impedir que a 
parte exerça sua defesa no processo civil atenta contra o princípio da 
ação e, por isso, deve ser rechaçado (NERY JR., 2004, p. 133 – 
138). 
 
O princípio da inafastabilidade da jurisdição no ordenamento jurídico 
brasileiro carrega consigo algumas prerrogativas próprias, como por exemplo, o fato 
de não ser admitido no Brasil o contencioso administrativo, sendo que apenas o 
Poder Judiciário tem competência para decidir com força definitiva, fazendo coisa 
julgada. Em outras palavras, aindaque o litigio tenha sido iniciado na esfera 
administrativa onde a decisão tenha sido desfavorável, o litigante insatisfeito poderá 
submeter a demanda à tutela jurisdicional, pois só assim será feita a decisão 
irreformável e definitiva, desvinculada da esfera administrativa (MOTTA e 
BARCHET, 2007, p. 207). 
O princípio em voga assume também outras abrangências e veda a 
cobrança de valores exagerados a título de custas e emolumentos judiciais, de modo 
a não constituir impedimento ou dificuldade de acesso ao judiciário para o indivíduo 
menos favorecido economicamente. Em outro aspecto, a inafastabilidade da 
jurisdição não significa, contudo, assegurar o duplo grau de jurisdição, porquanto se 
sabe que o processo de competência originária do STF não é submetido a reexame. 
Ainda nesse sentido, é pacífico na doutrina o fato de que não é toda e qualquer 
matéria que pode ser apreciada pelo judiciário, uma vez que a tripartição de poderes 
 
1
 Não obstante, a legislação permite a autotutela em casos de legítima defesa, estado de 
necessidade, desforço pessoal em esbulho possessório, penhor legal, entre outros (MOTTA e 
BARCHET, 2007, p. 207). 
30 
 
fornece ao senado federal, órgão do Poder Legislativo, por exemplo, a legitimidade 
para julgar o presidente da república em processo de impeachment (MOTTA e 
BARCHET, 2007, p. 208). 
No que tange ao instituto da súmula vinculante, o princípio da 
inafastabilidade da jurisdição é passível de ser violado caso o STF edite uma súmula 
sobre determinada matéria a que algum litigante proponha ação em sentido 
contrário, o juiz de primeira instancia deverá indeferir a petição inicial sob a alegação 
de falta de condição de ação, isto é, pedido juridicamente impossível. Assim decorre 
a ideia de que o presente instituto afronta o princípio consagrado na Carta Magna, 
porquanto está condicionando a apreciação pelo judiciário da lesão ou ameaça a 
direito, violando, consequentemente, o artigo 60, §4º, IV, da CF, que fez clausula 
pétrea dos direitos e das garantias individuais. 
 
3.5. Princípio do devido processo legal 
 
Constituição Federal - Artigo 5º, inciso LIV: ninguém será 
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo 
legal; 
 
O princípio do devido processo legal em verdade expressa um direito, por 
isso pode ser enquadrado na função normativa indireta que se deve ao fato de seu 
comando ser literal. Esse princípio consta em Constituições de vários países, 
inclusive na Declaração Universal dos Direitos do Homem. No Brasil foi expresso 
inauguralmente na Constituição Federal de 1988 no artigo 5º, inciso LIV - ninguém 
será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. 
O devido processo legal compreende vários aspectos jurídico-formais. O 
primeiro a se observar é a garantia concedida à parte em utilizar todos os meios 
jurídicos existentes para buscar a satisfação de seu pretendido direito. Em 
determinado momento o princípio do devido processo legal se funde com o do 
contraditório, pois como se nota, utilizar todos os meios jurídicos existentes para 
demonstrar o direito é, senão, o próprio contraditório (TAVARES, 2012, p. 741). 
Outrossim o devido processo legal também abrange a noção da plenitude 
de defesa, que significa direito à defesa técnica, à publicidade da decisão, à citação, 
à produção ampla de provas, ao juiz natural, aos recursos legais e constitucionais, à 
decisão imutável, à revisão criminal, ao duplo grau de jurisdição. Nesse sentido 
31 
 
também é compreendida a ideia da ampla defesa, pois o processo realizado em 
consonância dos ritos processuais, por consequência alcança a ampla defesa. 
De outro modo, no aspecto material, o referido princípio compreende a 
noção de proporcionalidade no tocante à vida, à liberdade e à propriedade 
(TAVARES, 2012, p. 741). 
Ainda sobre o devido processo legal, André Tavares cita Guilherme 
Amorim Campos da Silva dizendo que a Emenda Constitucional nº 45/2004 que 
acrescentou o inciso LXXVIII “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são 
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade 
de sua tramitação”, apresentou certa repetição, pois o inciso anterior (LIV) é aberto 
em relação ao tipo de processo, abrangendo, portanto administrativo e judicial, além 
disso, o que diz respeito à razoável duração e à celeridade, entende-se que o 
processo deve ser rápido o suficiente para socorrer o jurisdicionado e lento o 
suficiente a garantir a produção de provas, ampla defesa e contraditório, ideias 
também captadas pelo inciso anterior (TAVARES, 2012, p. 743). 
Das lições acima, conclui-se que ordenamento jurídico brasileiro, na 
crítica de Guilherme Amorim Campos da Silva, resultou no “paradoxo da dispersão 
de enfoques”, onde se cria normas programáticas pensando suprir a crise da 
sobrecarga do judiciário, que não passam de promessas vãs (TAVARES, 2012, p. 
744). 
Com efeito, em relação ao instituto da súmula vinculante, o princípio do 
devido processo legal recebe afronta pois, nas lições de José Anchieta da Silva o 
texto constitucional homenageia o cidadão com a garantia do devido processo legal, 
no entanto, em relação ao cidadão comum, o que não é parte, adotando-se a 
súmula, não haverá qualquer processo. Haverá apenas uma decisão impedindo o 
ingresso na jurisdição. Os cidadãos sobre cujas cabeças recairá o tal efeito 
vinculante estarão reduzidos a meros figurantes (apud GOMES, 2009). 
 
3.6. Princípio da ampla defesa e do contraditório 
 
Constituição Federal - Artigo 5º, inciso LV: aos litigantes, em 
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, 
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios 
e recursos a ela inerentes; 
 
O princípio da ampla defesa é responsável por garantir à parte condições 
de levar ao processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade, bem 
32 
 
como o direito de calar-se ou omitir-se, caso entenda necessário (MORAES, 2012, p. 
111). Já o princípio do contraditório é exteriorização da ampla defesa, porquanto 
permite à outra parte reagir à ação da primeira, isto é, nas palavras de Alexandre de 
Moraes: “a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de opor-
se-lhe ou de dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou ainda, de fornecer uma 
interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor” (MORAES, 2012, p. 112). 
Sobre isso, Nelson Nery Junior diz: 
 
O princípio do contraditório, além de fundamentalmente constituir-se 
em manifestação do princípio do Estado de Direito, tem íntima 
ligação com o da igualdade das partes e o do direito de ação, pois o 
texto constitucional, ao garantir aos litigantes o contraditório e a 
ampla defesa, quer significar que tanto o direito de ação, quanto o 
direito de defesa são manifestação do princípio do contraditório. 
(NERY JR, 1995, p. 122). 
 
Entende-se, ainda, que enquanto o princípio do contraditório compreende 
o exercício do direito de ação, a ampla defesa é compreendida como o direito de 
defesa ampla e irrestrita, podendo-se afirmar, portanto, que na relação processual 
um depende do outro. 
De acordo com Nelson Nery Junior, os referidos princípios não são mera 
formalidade processual, posto que a não observância destes gera efeitos decisivos 
no processo, quer dizer, a não observância do contraditório acarreta nulidade de 
atos processuais gerando, assim como a não observância da ampla defesa, o 
cerceamento de defesa (NERY JR, 2004, p. 174.) 
Com efeito, impedir determinado ato ou recurso considerando que a 
sentença foi proferida de acordo com entendimento de súmula vinculante, é 
inviabilizar o contraditório e a ampla defesa, porquanto o esgotamento das vias 
judiciais deve se dar com o esgotamento de instancias (GOMES, 2009). 
 
3.7. Princípio da coisa julgada 
 
Constituição Federal - Artigo 5º, inciso XXXVI: a lei não 
prejudicaráo direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa 
julgada; 
 
Código de Processo Civil - Artigo 506. A sentença faz coisa 
julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando 
terceiros. 
 
33 
 
O princípio da coisa julgada em verdade é um instituto e se perfaz com a 
manifestação final e definitiva do princípio da inafastabilidade jurisdicional. Consiste 
na decisão judicial irrecorrível, quer porque intempestivo, quer em virtude de 
impossibilidade processual. 
A coisa julgada é responsável por fornecer ao processo e às partes 
segurança e estabilidade das decisões judiciais. Segundo Osmar Mendes Paixão 
Côrtes, o direito da coisa julgada compreende a certeza de que as relações jurídicas 
não podem ser alteradas sem previsão, pois isso as tornaria instáveis e inseguras 
quanto ao futuro, presente e até mesmo passado (CÔRTES, 2008, p. 28). 
É por esse motivo que o ordenamento jurídico brasileiro prevê no Código 
de Processo Civil de 2015: 
 
Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna 
imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a 
recurso; 
 
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem 
força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida; 
 
Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas 
relativas à mesma lide, [salvo exceções]; 
 
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é 
dada, não prejudicando terceiros. 
 
Na Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (decreto-lei nº 4.657, 
de 4 de setembro de 1942): 
 
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato 
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
 
A coisa julgada alcançada pela sentença ou acórdão transitado em 
julgado consolida a aplicação do direito ao caso concreto e estabiliza a relação entre 
as partes do processo, proporcionando que elas saibam qual a próxima providencia 
a se tomar. Vê-se, então, que a segurança jurídica formada no caso concreto possui 
força de lei com efeito para as partes. 
Pelos ensinamentos de Barbosa Moreira, apud Geila Lídia Diniz: 
 
34 
 
A segurança pode ser constatada por mais de um ângulo de 
expressão: para o vencedor, a certeza de que a sua situação é 
aquela definida na sentença e não outra qualquer, passando a 
ter o direito à observância do julgado; para o vencido, não 
obstante os efeitos psicológicos de ter sucumbido na demanda, 
a definição de que o seu interesse deve submeter-se ao de seu 
adversário, na exata proporção determinada na sentença, nem 
menos, nem mais; para a sociedade, a confiança na seriedade 
e eficiência da máquina judicial, capaz de resolver, em 
definitivo, os conflitos que lhes são submetidos; e, por fim, ao 
Estado, que fica desonerado da obrigação de repetir a mesma 
prestação jurisdicional quantas vezes lhe solicitar a parte 
irresignada (DINIZ, 2009, p. 27): 
 
 
A coisa julgada contém dois aspectos, sendo o primeiro formal, onde a 
decisão não aceita mais recurso, ou seja, transitou em julgado, e o segundo 
material, onde se considera o bem tutelado reconhecido ou denegado pela sentença 
irrecorrível. A Constituição Federal não especifica nem exclui nem um dos aspectos, 
portanto, interpreta-se a norma de forma ampla. 
Com efeito, o instituto da coisa julgada é muito relacionado com a 
irretroatividade de nova lei, atingindo, dessa forma, apenas o legislador como um 
dispositivo de vedação. Contudo, é preciso valer-se da hermenêutica constitucional, 
de modo a ampliar a interpretação da norma que impede que o Poder Judiciário vá 
contra a coisa julgada (LEITE, 2006, p. 159). 
No tocante ao instituto da súmula vinculante, o princípio da coisa julgada 
é violado no momento em que a decisão determinado processo alcança a forma de 
um enunciado genérico aplicável a casos semelhantes. Ou seja, a decisão que deve 
ter efeito inter partes, passa a ter efeito erga omnes, alcançando terceiros. Nas 
lições de José Anchieta (apud GOMES, 2009), o instituto da súmula vinculante é 
capaz de gerar a sentenciação maciça por intermédio da vinculação, promovendo a 
supressão de instancias. 
 
É impossível, em face desse direito fundamental, proferir-se decisão 
judicial cuja execução alcance quem não foi litigante, quem não teve 
a oportunidade de se defender, fazer prova, expor suas razões, 
discutir o fato e o Direito [...] (CUNHA, apud GOMES, 2009). 
 
 
35 
 
3.8. Princípio da independência do juiz 
 
 
O Poder Judiciário, ao contrário do Legislativo e Executivo, não é eleito 
por voto popular, mas sim pela presunção de conhecimento jurídico aferido em 
rigoroso concurso público ou no notório saber em sabatinas de Tribunais superiores. 
Dessa forma, o Judiciário está sujeito exclusivamente às leis oriundas dos órgãos 
legiferantes, voz da vontade popular, e expressa, nas decisões judiciais, as 
aspirações da sociedade (TOLEDO, 2005). 
Nas palavras de Lucia Toledo “os juízes se legitimam a cada processo, a 
cada decisão que proferem, na medida em que esse processo foi corretamente 
instruído e essa decisão foi legalmente prolatada” e ainda possuem função jurídico-
politica, pois satisfazem de modo definitivo e irrevogável os interesses jurídicos da 
sociedade. Para isso é necessário que o juiz possua independência - assegurada 
pela Lei Orgânica de Magistratura Nacional, artigo 35, inciso I: “São deveres do 
magistrado: cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as 
disposições legais e os atos de ofício” - de modo que assegure o Estado 
Democrático de Direito. 
O ministro Celso de Mello (apud GOMES, 2009) leciona que a 
independência do juiz para decidir com autonomia as controvérsias, se traduz na 
prerrogativa destinada a proteção da coletividade contra eventuais interferências 
ilegítimas do poder estatal. 
Tamanha a importância do princípio em voga, segue abaixo um breve 
apanhado das Constituições democráticas no mundo que o dispõe de forma 
expressa: 
 
TABELA 2: INDEPENDÊNCIA DO JUIZ NAS CONSTITUIÇÕES DO MUNDO 
País Dispositivo Comando textual 
 
Alemanha Art. 97 Os juízes são independentes e somente se submetem à lei 
Áustria Art. 87 
Os juízes são independentes no exercício de suas funções 
judiciárias 
Dinamarca Art. 64 
No exercício de suas funções os magistrados devem se conformar 
à lei 
36 
 
Espanha Art. 117 
A justiça emana do povo e ela é administrada em nome do rei por 
juízes e magistrados que constituem o poder judiciário e são 
independentes, inamovíveis, responsáveis e submetidos 
exclusivamente ao império da lei 
França Art. 64 
O presidente da República é garante da independência da 
autoridade judiciária. Ele é assistido pelo Conselho superior da 
magistratura. Uma lei orgânica traz estatuto dos magistrados. Os 
magistrados de carreira são inamovíveis 
Grécia Art. 87-2 
A justiça é composta por tribunais constituídos de magistrados de 
carreira que possuem independência funcional e pessoal." (art. 87-
1) - “No exercício de suas funções, os magistrados são submetidos 
somente à Constituição e às leis; eles não são, em nenhum caso, 
obrigados a se submeter a disposições contrárias à Constituição. 
Irlanda Art. 35-2 
Os juízes são independentes no exercício de suas funções 
judiciárias e submetidos somente à presente Constituição e à lei." 
Itália Art. 101 
A justiça é exercida em nome do povo. Os juízes se submetem 
apenas à lei 
Portugal Art. 218-2 
Os juízes não podem ser tidos por responsáveis de suas decisões, 
salvo exceções consignadas na lei 
Fonte: Autora (2017). 
 
O princípio da independência do juiz é afrontado pelo instituto da súmula 
vinculante, porquanto este segundo impõe ao magistrado que interpretação deve 
seguir e, pior ainda, que prova deve prevalecer no caso concreto. Embora restrinja a 
ação do magistrado apenas em casos regulados por súmula vinculante, nos casos 
que incide, o instituto fere o princípioda independência, sendo, portanto, nesse 
caso, inconstitucional na matéria (GOMES, 2009). 
 
37 
 
4. ASPECTOS DAS SÚMULAS VINCULANTES NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO BRASILEIRO 
4.1. Diferença entre súmula vinculante, súmula comum e lei 
 
Inicialmente, cumpre esculpir, mesmo que brevemente, a definição de lei 
e sumula comum, nas palavras de Motta e Barchet 
A súmula não se confunde com a lei. A lei é ato que obriga, dotado 
de alto coeficiente de generalidade e abstração. A súmula, por sua 
vez, é uma interpretação que o Poder Judiciário dá à lei quando da 
sua aplicação em casos concretos. A lei tem caráter coercitivo. A 
súmula apenas denota-lhe o alcance, dando um significado mais 
concreto à abstração legal. A lei é legislativa porque, em regra, 
emana do Poder Legislativo. A súmula é judicial porque sempre 
emana do Poder Judiciário. A lei comporta várias formas de 
interpretações. A súmula jamais comporta interpretação analógica 
(Motta e Barchet, 2007, p. 762). 
Em sentido amplo, nas palavras de De Plácido e Silva, súmula 
É o que de modo abreviadíssimo explica o teor, ou o conteúdo 
integral de alguma coisa. Assim, a súmula de uma sentença, de um 
acórdão, é o resumo, ou da própria ementa da sentença ou do 
acórdão (SILVA, 2012, p. 558). 
No Brasil, o instituto sumular foi criado na década de 1960 pelo Supremo 
Tribunal Federal como forma de pacificação de sua jurisprudência, através da 
Comissão de Jurisprudência composta pelos Ministros Gonçalvez de Oliveira, Pedro 
Chaves e Victor Nunes Leal, sendo este último, como já mencionado no subtítulo 
2.7.1. o mentor do instituto. Neste momento da história, o referido Tribunal alterou 
seu regimento interno para admitir e dispor a súmula, num processo de escolha dos 
temas, discussão técnico-jurídica, aprovação, publicação para conhecimento de 
todos e vigência. 
Marcelo Alves Dias de Souza ensina que a súmula comum foi 
monopolizada pelo STF até o surgimento do Código de Processo Civil de 1973, que 
passou a autorizar, em seu artigo 479, a edição de súmula pelos tribunais superiores 
(STJ, TSE e TST). Atualmente, o Código de Processo Civil de 2015 trata o tema nos 
seguintes dispositivos: 
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-
la estável, íntegra e coerente. 
38 
 
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no 
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula 
correspondentes a sua jurisprudência dominante. 
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às 
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação. 
A súmula comum possui mero efeito elucidativo e orientador, porquanto 
reflete a corrente majoritária do entendimento adotado pelos ministros dos tribunais 
superiores, não obrigando, todavia, o juiz a quo a decidir conforme aquele 
enunciado. A doutrina entende que essa espécie sumular funcionou, na prática, 
como bussola de precedentes, auxiliando o advogado na exaustiva pesquisa 
jurisprudencial (SOUZA, 2012). 
Entretanto, a súmula vinculante, como o próprio nome sugere, vincula e 
obriga o aplicador da norma a seguir determinado entendimento, conforme se verá a 
seguir. 
 
4.2. Lei 11.417 – Regulamenta a súmula vinculante: edição, revisão e 
cancelamento 
 
A súmula vinculante é tratada pela Constituição Federal em seu artigo 103-A, in 
verbis: 
O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, 
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas 
decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir 
de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em 
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração 
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, 
bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma 
estabelecida em lei. 
 
Nos termos do artigo acima transcrito, a súmula vinculante deverá ser 
aprovada por maioria de 2/3 dos votos do Supremo Tribunal Federal (8 votos), 
devendo tratar sobre matéria constitucional que tenha sido objeto de decisões 
reiteradas no Tribunal. Ainda, tem por objetivo superar controvérsia atual sobre a 
validade, a interpretação e a eficácia de normas capazes de gerar insegurança 
jurídica e relevante multiplicação de processos. Como se vê abaixo: 
 
CF - 103-A, § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a 
interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais 
haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a 
39 
 
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e 
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. 
 
Gilmar Mendes, ministro do STF, declara que considerando a ampla 
competência que tem o Supremo Tribunal Federal, as súmulas vinculantes podem 
abranger questões atuais sobre interpretação de normas constitucionais isoladas ou 
em face de normas infraconstitucionais que poderão ser federais, estaduais ou 
municipais, embora seja possível que trate apenas de interpretação da própria 
Constitucional como em casos submetidos à Corte para discutir a interpretação da 
Constituição Federal adotada pelos órgãos jurisdicionais (MENDES, 2008, p. 966). 
Outro notável requisito para edição da súmula vinculante é a 
preexistência de reiteradas decisões sobre matéria constitucional. Essa ideia, ainda 
conforme o aludido autor, pressupõe a maturidade da questão controvertida através 
da reiteração das decisões, vedando que seja baseada em decisão isolada. De outra 
forma, é necessário que ela seja espelho da jurisprudência da Corte (MENDES. 
2008, p. 967). 
Ainda, Gilmar Mendes identifica que os requisitos acima acabam por 
definir o conteúdo das súmulas vinculantes, em regra, formuladas a partir de 
questões processuais de massa ou homogêneas, de matéria previdenciária, 
administrativa, tributária e processual, suscetíveis de uniformização e padronização 
(MENDES, 2008, p. 967). 
 
CF - 103-A, § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, 
a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser 
provocada por aqueles que podem propor a ação direta de 
inconstitucionalidade. 
Lei 11.417/2006 - Art. 3o São legitimados a propor a edição, a revisão 
ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante: 
I - o Presidente da República; 
II - a Mesa do Senado Federal; 
III – a Mesa da Câmara dos Deputados; 
IV – o Procurador-Geral da República; 
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; 
VI - o Defensor Público-Geral da União; 
40 
 
VII – partido político com representação no Congresso Nacional; 
VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito 
nacional; 
IX – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do 
Distrito Federal; 
X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; 
XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou 
do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os 
Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e 
os Tribunais Militares. 
§ 1o O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de 
processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento 
de enunciado de súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão 
do processo. 
O trecho acima transcrito revela que podem propor, revisar e cancelar os 
legitimados para propositura de ação direta de inconstitucionalidade, além dos que 
forem previstos em lei (também transcrito). 
Outrossim, consoante palavras de André Ramos Tavares, o processo de 
revisão das súmulas vinculantes é imprescindível para a evolução do direito e 
prevenção de seu engessamento, porquanto todos os enunciados com força geral 
obrigatória têm mecanismos semelhantes, então no presente instituto não poderia 
ser diferente (TAVARES, 2012, p. 436). 
Sabe-se que o instituto da súmula vinculante foi regulamentado pela Lei 
nº 11.417/2006, porém, consoante observa André Ramos Tavares, não se pode 
dizer quea Lei apresentou grandes novidades. A essência da diferença da CF para 
a Lei está na transposição do concreto para o abstrato-geral, isto é, entendeu-se que 
para alcançar o efeito erga omnes se deve criar um enunciado abstrato, onde se 
exclui os fatores concretos dos paradigmas levados até a Corte. 
 
 
4.3. Aplicação do instituto e consequências 
 
A Emenda Constitucional nº 45 de 2004 conferiu ao texto constitucional 
uma contrapartida processual inerente a casos em que se deixar de aplicar súmula 
vinculante, seja por contraria-la seja por aplica-la indevidamente, valendo tanto para 
ato administrativo como para decisão judicial. 
41 
 
 
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula 
aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao 
Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato 
administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e 
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da 
súmula, conforme o caso (grifado) 
 
Com efeito, a existência de sanção (anulação e cassação) aplicável no 
processo que desobedecer sumula vinculante, é a real afirmação da coercibilidade e 
obrigatoriedade do instituto, podendo o magistrado, de acordo com Ricardo 
Lewandowski (apud LENZA, 2013), ser responsabilizado por ato de insubordinação, 
embora não expressamente previsto na lei. Esse raciocínio decorre da interpretação 
das obrigações do magistrado dispostas na já citada Lei Orgânica da Magistratura 
Nacional que, em seu artigo 35, inciso I, dispõe que “são deveres do magistrado: 
cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições 
legais e os atos de ofício”, associada ao dispositivo da Constituição e da Lei n. 
11.417/2006 que estabelecem que a partir da sua publicação na imprensa oficial, a 
súmula vinculante vinculará os órgãos do Poder Judiciário (LENZA, 2013). 
Da decisão ou ato que desobedecer súmula vinculante cabe reclamação 
ao STF, sendo essa reclamação instrumento jurídico com status constitucional que 
visa preservar a competência da Corte e garantir a autoridade de suas decisões. 
Para tanto, são legitimados ativos, nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni (apud 
BORBA, 2013): 
(...) o jurisdicionado, em seu respectivo caso, reclama a autoridade 
dos fundamentos determinantes das decisões do STF em nome da 
coerência do direito e da segurança jurídica. Note-se que não está 
em jogo a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade 
de específica norma, mas a força ou autoridade dos seus 
fundamentos adotados pela Corte para decidir pela 
constitucionalidade ou inconstitucionalidade. Portanto, em vista da 
eficácia vinculante, legitimados são os prejudicados pelo ato que 
negou os fundamentos determinantes e aquele que o praticou. 
Esse último infringe a autoridade da decisão do STF, enquanto o 
primeiro por ser tutelado pelo precedente constitucional, necessita da 
reclamação (grifado). 
 
Como bem elucidado, tem legitimidade ativa para propor reclamação ao 
STF sobre aplicação de súmula vinculante os prejudicados pelo ato ou decisão que 
a desobedeceu, bem como aquele que a praticou. 
 
42 
 
 
4.4. Análise geral das matérias sumuladas 
 
Atualmente há 56 súmulas vinculantes editadas pelo STF, sendo que 
dentre elas, apenas uma está pendente de publicação, ou seja, ainda não possui 
validade e eficácia no ordenamento jurídico. 
A análise pontual de cada súmula vinculante gerou alguns resultados que 
serão explanados abaixo: 
 
4.4.1. Análise cronológica da utilização do instituto 
 
Cinco meses após a promulgação da lei 11.417/2006, que regulamenta as 
súmulas vinculantes, o Supremo Tribunal Federal editou 3 (três) súmulas 
vinculantes, sendo de matéria trabalhista, constitucional e administrativo. Já no 
próximo ano, em 2008, editou 10 (dez) súmulas vinculantes sendo 2 (duas) de cada 
das seguintes matérias: constitucional, administrativo, tributário, processual, penal. 
Em 2009, por sua vez, foram editadas 14 (quatorze) súmulas vinculantes, entre elas: 
uma de constitucional, 2 (duas) de administrativo, 2 (duas) de tributário, 6 (seis) de 
processual, uma de penal, uma de trabalhista e uma de civil. No ano de 2010 foram 
editadas 3 (três) e em 2011 apenas uma, todas sobre direito tributário. Os anos de 
2012 e 2013 não tiveram edição de súmula vinculante, passando em 2014 a produzir 
5 (cinco), entre elas 2 (duas) sobre direito previdenciário, 2 (duas) sobre direito 
processual e uma sobre administrativo. 
O ano de 2015 é peculiar pela aprovação de 16 (dezesseis) súmulas 
vinculantes, sendo 5 (cinco) de constitucional e 5 (cinco) de administrativo, mais 4 
(quatro) de tributário e 2 (duas) de processual. Durante 2016, entretanto, editaram 
apenas 3 (três) súmulas vinculantes, entre elas uma de constitucional, uma de 
administrativo e uma de direito penal. 
 
4.4.2. Análise por matéria 
 
Dessa análise, conforme tabela 3 (pagina 54), observou-se que Direito 
Tributário é a matéria que mais contem súmula vinculantes, contendo ao todo 13 
(treze), sendo 4 (quatro) sobre incidência de imposto (ISS, ICMS, taxa), e o restante 
43 
 
sobre depósito prévio para ação judicial, imunidade tributária, princípio da 
anterioridade, espécie de imposto aplicável, base de cálculo, entre outros. 
Em segundo lugar vem Direito Administrativo com 12 súmulas vinculantes 
sua maioria versando sobre direitos do servidor público, mais especificamente sobre 
remuneração. 
Empatado com Direito Administrativo está Direito Processual, abrangendo 
civil, penal e trabalhista, possuindo ao todo 12 (doze) súmulas vinculantes, sendo 5 
(cinco) sobre competência e dessas 5, 3 (três) são sobre competência da justiça do 
trabalho. As demais versam sobre processo administrativo, recurso administrativo, 
honorários advocatícios, precatórios, acesso aos autos, etc. 
Em quarto lugar está Direito Constitucional com 10 (dez), abordando 
desde nepotismo e competência legislativa, até inconstitucionalidade da cobrança de 
taxa nas universidades públicas, entre outros. 
Com menor número de súmulas vinculantes está Direito Penal com 4 
(quatro) entre assuntos que vão desde recepção de norma anterior pela Constituição 
Federal de 1988, estabelecimento penal, entre outros. 
Já Direito Previdenciário possui 2 (duas) súmulas vinculantes, uma sobre 
aposentadoria especial de servidor público e outra sobre gratificação. 
Direito do Trabalho também contém 2 (duas) súmulas vinculantes, sendo 
uma sobre contribuição social e outra sobre gratificação. 
Por fim, sobre Direito Civil, existe apenas uma súmula vinculante 
dispondo a ilicitude da prisão civil do depositário infiel. 
 
4.4.3. Análise da eficácia por cancelamento ou revisão 
 
Nenhuma súmula vinculante foi cancelada ou revisada até o 
encerramento do presente trabalho. 
 
 
 
 
 
44 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
O presente trabalho proporcionou a análise do instituto da súmula 
vinculante no ordenamento jurídico brasileiro a partir do estudo da origem da 
Constituição Federal do Brasil, bem como pela análise da evolução histórica do 
instituto do juspositivismo aliado ao commow law, até alcançar a tripartição de 
poderes dada por Monstesquieu e adotada pela maioria dos países democráticos. 
Ademais, vislumbrou-se que o ativismo judicial exercido pelo Supremo 
Tribunal Federal através da súmula vinculante viola, sobretudo, o princípio da 
legalidade, pois considerando este, a súmula vinculante não poderia ter efeito 
vinculativo, já que seu modo de edição não compreende os mecanismos rígidos 
relativos ao processo legislativo da Carta Magna, inclusive porque os ministros da 
citada Corte não possuem o poder de representatividade, que é dado pelo sufrágio. 
Além disso, foi estudado o reflexo do instituto frente a diversos princípios 
do Direito, apurando-se que oferece afronta i) à independência do juiz já que o 
mesmo é obrigado, pela Lei Orgânica

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