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Vacinas – Conceitos Gerais Breve histórico Edward Jenner (1749-1823), médico do condado de Gloucestershire na Inglaterra, percebeu que as ordenhadoras de vacas que estavam infectadas com a varíola bovina, não adquiriam a varíola humana (a exposição ao vírus da varíola bovina, que é pouco virulenta ao humano, poderia, de alguma forma, proteger contra o microrganismo que causava a doença humana). Ele então inoculou o pus da ferida das mulheres ordenhadoras em um garoto saudável e, após algumas semanas, inoculou o fluido corpóreo de um doente no mesmo garoto. O menino, ao contrario do esperado, não desenvolveu a doença, e estava imunizado contra o patógeno. Apesar de ter sido completamente arriscado e contra as diretrizes éticas atuais, Jenner deu o pontapé inicial para o entendimento e desenvolvimentos das vacinas (do latim vaccinus, que significa “originado da vaca”). No Brasil, a vacinação foi introduzida pelo Barão de Barbacena em 1840. Em 1904, no Rio de Janeiro, estava havendo uma epidemia de febre amarela, varíola e tétano. A partir disso, o governo, sobre a orientação do cientista Oswaldo Cruz, instituiu a vacinação obrigatória em adultos e crianças, porém devido ao pouco entendimento acerca das vacinas por parte da população, esse movimento foi rejeitado – Revolta das Vacinas. Apesar da revolta inicial, em 1908, depois de uma forte onda de varíola, a população aceitou a vacinação. O que é uma vacina? É um produto que apresente um antígeno/corpo estranho ao sistema imunológico de modo a provocar uma resposta imune. A ideia da vacina é que se tenha um contato inicial (sensibilização) de modo a ser ter uma resposta muito mais eficaz em contatos seguintes com o mesmo agente infectante. · Vacina ideal · Conter antígenos que são alvo do sistema imune · Gerar imunidade efetiva (anticorpos/linfócitos T) e imunidade protetora (contra reinfecção) · Segura e estável · Relativo baixo custo por dose · Fácil de administrar (logística/distribuição) · Pouco/nenhum efeito colateral *Ao se formular uma vacina é preciso levar em conta como o sistema imunológico reage ao corpo estranho, quem precisa ser vacinado e qual é a tecnologia que melhor se encaixa no desenvolvimento. Tipos de imunização · Ativa – o nosso corpo desencadeia · Natural: introdução acidental de antígenos (exposição ao ambiente) · Artificial: formação de anticorpos através de antígeno artificial (vacina) · Passiva – aquela em que adquirimos os anticorpos prontos · Natural: anticorpos maternos (através da gestação e do aleitamento) · Artificial: anticorpos injetados no corpo (soros) Tipos de produção de vacinas · Vacinas de primeira geração · Organismo vivo atenuado – o organismo ou vírus é submetido a processos que visam à diminuição da sua patogenicidade. · Produzida a partir de cultivos em laboratório e/ou engenharia genética · Resposta imune forte e duradoura com o uso de uma ou duas doses · Necessita de refrigeração · Pacientes imunodeprimidos podem ter reações indesejadas (pouco provável) · Existe o risco do organismo/vírus mutar para sua original · Exemplos de vacinas do tipo organismo vivo atenuado: · Viral – Rotavírus, Poliomielite (Sabin), Varíola, Rubéola, Caxumba, Influenza e Sarampo. · Bacteriana – Tuberculose (BCG). · Organismo morto/inativado – utiliza como antígeno uma versão morta ou inativada do patógeno · Sem mutação ou reversão da virulência · Pode ser usada melhor em indivíduos imunodeprimidos · Não fornece uma proteção tão forte quanto a vacina do tipo organismo vivo atenuado, necessita de doses de reforço · Custo mais elevado · Exemplos de vacinas do tipo organismo morto/inativado: · Viral – Influenza, Hepatite A, Poliomielite (Salk) e Raiva. · Bacteriana – Peste, Cólera, Coqueluche e Febre tifóide. · Vacinas de segunda geração (acelulares) – utiliza elementos do patógeno · Acelular toxóide – contra patógenos que secretam exotoxinas · A toxina é tratada e convertida em toxóide (inativação da toxicidade, mas mantem a imunogenicidade) · Acelular recombinante de subunidade/conjugado – visa partes específicas dos patógenos (PNTs, carboidratos, capsídeos – vírus) · Garante uma imunização muito forte, direcionada a porção virulenta do antígeno · Pode ser usada em pacientes imunodeficientes · Necessita de doses de reforço · Subunidade: fração do patógeno · Conjugado: fração do microrganismo (ex.: carboidrato) conjugado a proteína · Exemplos de vacinas do tipo acelular recombinante: · Viral: Hepatite B, HPV (papiloma vírus humano) e Herpes zoster (varicella-zoster). · Bacteriana: Haemophilus influenzae tipo B (meningite bacteriana) e Infecção por pneumococcus (pneumonia bacteriana). · Vacinas de terceira geração · Vacina de DNA – utiliza-se de técnicas de biologia molecular para reconhecer os genes responsáveis pela produção do antígeno · Gera resposta imune humoral e celular de longa duração · Possibilita a utilização de vários genes simultaneamente e sem risco de causa a doença · Exemplos de vacinas de DNA: · Viral: Comirnaty (Pfizer), mRNA-1273 (Moderna). Processo de produção de vacinas (produção leva de 15 a 45 dias; desenvolvimento, normalmente, leva até 20 anos) *As vacinas contra a Covid-19, foram desenvolvidas em tempo recorde. · Upstream (primeira etapa) · Seleção da linguagem de microrganismo de interesse · Crescimento/multiplicação do microrganismo em meio de cultura · Biorreatores ou crescimento em ovos (mais usado em partículas virais) · Downstream (segunda etapa/processo de refinamento) · Recuperação e purificação do microrganismo · Centrifugação, filtração, cromatografia · Inativação e (novamente) purificação · Adição de calor, formalina, triton X-100 · Formulação da vacina · Adição de adjuvantes (facilitam a entrada do antígeno), conservantes e estabilizantes e resíduos do processo de fabricação (ex.: antibióticos, proteínas do ovo) Qualidade das vacinas · Controle do tempo e temperatura de produção (sistema fechado, área de fabricação limpa e controlada) · Atenção à possibilidade de contaminações, quando mais de uma vacina está sendo produzida · Controladores “in-line” – processamento direto, minimizando as chances de variabilidade de lote para lote · Precaução a potencial degradação de produtos (materiais biológicos) Referências: Vaz, Rogerio. (2007). Biotecnologia na Indústria Farmacêutica. Biotecnologia Ciência &Desenvolvimento. 37. 36 - 39. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/258729412_Biotecnologia_na_Industria_Farmaceutica DINIZ, Mariana de Oliveira; FERREIRA, Luís Carlos de Souza. BIOTECNOLOGIA APLICADA AODESENVOLVIMENTO DE VACINAS. Estudos Avançados. São Paulo v. 24, n. 70, 2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142010000300003. TRABULSI, L.R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 6° ed. São Paulo: Atheneu, 2015. DELVES, P. J.; MARTIN, S. J.; BURTON, D.R.; ROITT, I. M. Roitt – Fundamentos de Imunologia. 12ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
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