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1 Laiane Sousa-fisiologia O sistema excitatório específico do co- ração O nosso coração possui um sistema próprio de excitação, que é rítmico e au- tônomo, devido a sua capacidade de ge- rar impulsos elétricos de forma inde- pendente, que estimulam o coração ra- pidamente e como um todo (sincício). Sua capacidade de excitar todo o ven- trículo em diferentes porções ao mesmo tempo é importante para gerar a pressão necessária para o funciona- mento da bomba cardíaca. Sua especialização do impulso elétrico é possível devido a suas estruturas pró- prias: • o nodo sinusal, também chamado de sinoatrial ou S-A, • o nodo atrioventricular, • o feixe atrioventricular e as • fibras de Purkinje. O coração consegue criar o seu próprio impulso elétrico por isso ele consegue ficar batendo por um tempo mesmo fora no corpo, como é observado em transplantes. O nodo sinusal O nodo sinusal é feito de músculo cardí- aco especializado, encontrado na parede póstero lateral superior do átrio direito. Ele quase não possui capacidade contrá- til e se conecta diretamente às fibras musculares atriais. Sua principal função é criar a ritmici- dade das contrações cardíacas, uma vez que o nodo sinusal é capaz de se auto- excitar, sem precisar de estímulo exte- rior. Com isso, ele causa uma descarga elétrica automática e rítmica que dita a frequência dos batimentos cardíacos. Para entender melhor seu mecanismo de ritmicidade, partimos do potencial de repouso do nodo sinusal, que é de apro- ximadamente −55 milivolts. Quando comparada com o potencial de repouso de um ventrículo (normalmente de −85 milivolts) notamos que as membranas celulares do nodo sinusal são menos ne- gativas e, por natureza, mais permeá- veis ao cálcio e ao sódio. Vale lembrar agora das especialidades do músculo cardíaco quanto a sua capa- cidade de contração: o coração possui canais rápidos de sódio, canais lentos de cálcio e canais de potássio, que são ex- plicados com mais detalhes na aula de fisiologia do coração. Por hora, é impor- tante entender que o valor de repouso menos negativo do nodo sinusal impede a ação dos canais rápidos de sódio, que já são inativados a esta voltagem, e só os canais lentos de cálcio conseguem se abrir. Dessa maneira, o potencial de ação é mais lento no nodo sinusal do que no 2 Laiane Sousa-fisiologia músculo cardíaco normal: não só para a propagação do impulso como também para o retorno ao repouso. Além disso, a inativação dos canais rápidos de sódio causa um influxo do íon entre os bati- mentos cardíacos, o que aumenta o va- lor do potencial de membrana de re- pouso, até o limiar de voltagem. A con- clusão é que o vazamento de íons de sódio e cálcio no nodo sinusal é fator determinante da autoexcitação. O excesso de negatividade dentro das fibras do nodo sinusal causa um fenô- meno chamado de hiperpolarização. Ainda que exista um vazamento de íons, as fibras do nodo sinusal não permane- cem continuamente despolarizadas pelo funcionamento do canal de cálcio e de potássio. O nodo, então, sinusal chega ao músculo atrial e se propaga até o nodo átrio-ventricular. O Nodo átrio – ventricular O nodo átrio-ventricular fica na parede posterior do átrio direito, atrás da valva tricúspide. O impulso elétrico chega nele cerca de 0,03 segundos após a saída do nodo sinusal. Já o tempo gasto durante a passagem do impulso elétrico no pró- prio nodo átrio ventricular é de aproxi- madamente 0,09 segundos, antes de alcançar o feixe atrioventricular. Com isso, o retardo do impulso elétrico até então é de aproximadamente 0, 012 segundos. Grande parte da lentificação do impulso elétrico no nodo átrio-ventricular é cau- sada pelo número reduzido de GAP junctions, que gera resistência na pas- sagem de íons excitatórios de uma fibra condutora para outra. Feixe átrio-ventricular O feixe atrioventricular é o próximo local onde o impulso elétrico vai correr, gas- tando aproximadamente 0,04 segundos por todo seu percurso. Com isso, o atraso total do impulso desde o nodo sinusal até o tecido contrátil ventricular é de aproximadamente 0,016 segundos. Além de possuir menor número de jun- ções comunicantes como no nodo A-V, o feixe ainda tem a divisão fibrosa que existe entre o átrio e o ventrículo para atrasar o impulso mais um pouco. De todas as fibras excitatórias do cora- ção, o feixe atrioventricular é incapaz de conduzir impulso elétrico ao contrário, ou seja, de maneira retrógrada. Isso significa que o sua condução é sempre unilateral, o que impede a entrada de impulsos elétricos do ventrículo para o átrio. A porção distal do feixe atrioven- tricular se prolonga para baixo em dire- ção ao ápice do coração, onde se divide em ramo direito e ramo esquerdo. Fibras de purkinje As fibras de purkinje fazem a condução do feixe atrioventricular para os ventrí- culos. Essas fibras são especializadas e, por isso, são muito calibrosas (maiores, inclusive, que as fibras musculares do ventrículo) e sua condução é quase 150 vezes mais rápida que no feixe átrio- ventricular. Sua velocidade elevada per- mite transmissão instantânea do im- pulso elétrico por todo o resto do cora- ção, e isso é possível devido ao elevado 3 Laiane Sousa-fisiologia número de junções comunicantes nos discos intercalados. Com isso, os íons são transmitidos de uma célula a outra com muita facilidade e, consequente- mente, de forma muito rápida. Após ter atingido a extremidade final das fibras de Purkinje, o impulso elétrico é transmitido para todo o músculo ven- tricular por cerca de 0,03 segundos. Marca – passo a auto excitação não é uma caracterís- tica apenas dessa fibra excitatória: tanto o feixe atrioventricular, como o nodo atrioventricular e as fibras de purkinje são capazes de iniciar sua pró- pria condução do impulso elétrico, cada uma com sua frequência e sua capaci- dade. Ainda assim, o nodo sinusal é conside- rado o marca passo do coração, ou seja, ele é aquele que controla a ritmicidade do coração. E o nodo sinusal tem esse posto por uma questão simples: sua auto excitação é mais rápida do que to- das as outras fibras excitatórias. Antes mesmo do nodo A-V ou das fibras de purkinje repolarizar, o nodo sinusal al- cança seu limiar de autoexcitação, de modo que sua frequência é a mais alta de qualquer outra parte do coração. O sistema nervoso e o impulso elétrico do coração Os nervos parassimpáticos inervam principalmente os nodos sinusal e A-V, além dos átrios, mesmo que em pouca quantidade. A estimulação parassimpá- tica libera acetilcolina, o que diminui o ritmo do nodo sinusal e reduz a excita- bilidade das fibras A-V, o que lentifica o impulso cardíaco e diminui a frequência dos batimentos. Esse estímulo pode, in- clusive, interromper a excitação rítmica do nodo sinusal, interrompendo o bati- mento cardíaco. Com isso, o coração passa a acompanhar o ritmo de outras fibras excitatórias, criando o fenômeno que chamamos de escape ventricular. Além disso, a liberação de acetilcolina aumenta a permeabilidade dos íons po- tássio, o que provoca hiperpolarização prolongada das células. Com isso, de- mora muito mais tempo para se alcan- çar o limiar de auto excitação das célu- las, diminuindo assim a frequência car- díaca. Já os nervos simpáticos, inervam prin- cipalmente o músculo ventricular. Dife- rente do estímulo parasimpático, o es- tímulo simpático aumenta a velocidade de condução e a excitabilidade do cora- ção, aumentando a frequência de des- cargas no nodo sinusal e a força de contração do músculo cardíaco. Isso é possível pela liberação de noradrenalina, que aumenta a permeabilidade das fi- bras aos íons sódio e cálcio, o que facilita sua autoexcitação.
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