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FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | CARDIOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Valvulopatias Anatomia: Câmara Esquerda: - Válvula Mitral: presa através das cordoalhas e músculos papilares, bicúspide - Válvula Aórtica: indo para a aorta, logo antes do óstio das coronárias, possui 3 cúspides Câmara Direita - Válvula Pulmonar: saindo do VD em direção à artéria pulmonar, possui 3 cúspides - Válvula Tricúspide: parecida com a mitral, presa por cordoalhas e músculos papilares, possui 3 cúspides As patologias valvares podem ser divididas em: Insuficiência: deixa o sangue voltar/regurgitar, podendo ser quantificada em graus. Pode ser → - Mitral ← mais importantes - Tricúspide - Aórtica ← mais importantes - Pulmonar Estenose: dificuldade do sangue sair dos ventrículos (aórtica/pulmonar) ou entrar (mitral/tricúspide) - Aórtica ← mais importantes - Mitral ← mais importantes - Tricúspide - Pulmonar Etiologias: Como principal etiologias de tais patologias tem-se a degeneração senil (principalmente estenose aórtica), doença reumática, endocardite infecciosa, congênita (valva aórtica biscuspide, valva mitral em paraquedas, estenose pulmonar, Ebstein…), prolapso, doencas do colágeno/ reumatológicas, degeneração mixomatosa, síndromes carcinóides, secundária ou funciona (ex. ICC, isquêmica). Quantificação/Grau da Disfunção: pode ser separada em leve (grande prevalência, poucas alterações), moderada e importante Sintomas: - Assintomático: apenas acompanhamento - Dispneia I (esforços maiores que habituais), II (esforços habituais), III (menores que habituais) e IV (em repouso) - Dor torácica - Síncope - ICC - Outros Valvulopatias Mitrais: Anatomia: é presa pelas cordoalhas tendíneas aos músculos papilares do VE, é formada pela cúspide ant e post. FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | CARDIOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Insuficiência Mitral: a IM primária crônica é uma das valvopatias mais prevalentes mundialmente. A etiologia reumática ainda é predominante no Brasil, embora o prolapso da valva mitral tenha aumentado em frequência. Exame Físico da IM importante: - Ictus cordis desviado para a esquerda e para baixo → crescimento das câmaras esquerdas - Primeira bulha hipofonética - Segunda bulha hiperfonética → hipertensão pulmonar - Sopro sistólico regurgitativo ≥ +++/6+ → chama bastante atenção, mais audível em foco mitral e irradiando para o dorso e axila - Sinais clínicos de insuficiência cardíaca direta ECG da IM importante: - Sobrecarga de câmaras esquerdas, arritmias atriais ou ventriculares (extra sístoles e taquicardia) e fibrilação atrial RX da IM importante: - Aumento das câmaras esquerdas e sinal de congestão pulmonar Ecocardiograma da IM importante: - Área do jato ≥ 40% da área do átrio esquerdo - Fração regurgitante ≥ 50% - Volume regurgitante ≥ 60 mL/batimento - Vena contracta ≥ 0,7cm → largura do jato saindo da valv. - Área efetiva do orifício regurgitante ≥ 0,40cm2 Conduta: ↴ Tratamento: IM Importante Primária Plástica da valva mitral: É o tratamento de escolha mas em pacientes reumáticos apresenta resultados menos favoráveis. É indicado para o prolapso valvar mitral de cúspide posterior. Troca da valva mitral: indicado em caso de impossibilidade de plástica valvar Clipagem percutânea da valva mitral - MitraClip:é reservada a pacientes de alto risco ou com contraindicação cirúrgica com sintomas refratários. OBS: Prolapso Mitral: é a anormalidade valvar mais comum do coração ,afetando 5 a 10% da população mundial. Nos pacientes com Prolapso da Válvula Mitral o aparelho mitral (valvas e cordoalhas) é acometido por um processo chamado degeneração mixomatosa, onde a estrutura protéica do colágeno, o tecido que compõe as valvas, leva ao espessamento, alargamento e redundância dos folhetos e cordoalhas. Quando o ventrículo se contrai, os folhetos redundantes projetam-se (prolapsam) para o atrio esquerdo, chegando às vezes a permitir a regurgitação do sangue para dentro do átrio esquerdo. Quando importante, a regurgitação mitral pode levar a insuficiência cardíaca e a anormalidades do rítmo do coração. FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | CARDIOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Insuficiência Mitral Secundária: a IM crônica, secundária ou funcional ocorre quando há alterações na geometria ventricular (má coaptação das cúspides valvares e aparecimento de refluxo valvar). Habitualmente é causada por doença isquêmica cardíaca ou por outras cardiopatias dilatadas, de diversas etiologias. O problema básico não está nas cúspides valvares e sim na dilatação do VD, IAM, logo a indicação de intervenção na IM secundária deve ser restrita a casos refratários ao tratamento clínico convencional. Estenose Mitral: é uma patologia prevalente. No Brasil e países em desenvolvimento a principal causa de EM ainda é a febre reumática, já nos países desenvolvidos, a estenose mitral degenerativa é mais frequente, associada a uma calcificação do anel mitral, principalmente em pacientes idosos. Exame Físico da EM importante: - Fácies mitralis: pouco comum - nariz mais fino e bochechas com manchas rosas purpúreas no rosto (devido ao baixo débito cardíaco e a vasoconstrição periférica - Estalido de abertura - Primeira bulha hiperfonética → fases mais iniciais (fechamento da mitral e tricúspide). Pode haver hipofonese em fases mais avançadas, quando a válvula está calcificada e não faz mais som a se fechar - Segunda bulha hiperfonética → fechamento das válvulas aórticas e pulmonar, logo a hiperfonese ocorre pelo componente pulmonar da hipertensão causada pela estenose. - Sopro diastólico em ruflar, com reforço pré sistólico se o paciente estiver em ritmo sinusal → pode ser difícil de escutar pois tem baixa frequência - Sinais de congestão pulmonar e insuficiência cardíaca direita - Presença de insuficiência tricúspide → sobrecarga das câmaras direitas ECG da EM importante: - Sobrecarga de AD, câmaras direitas e FA (devido ao aumento dos átrios e rearranjo das fibras) - Sobrecarga de AD → onda P bifásica, onda talhada, aumento de amplitude ou duração. Bom ver em DII e V1 - Características de crescimento do VD → desvio do eixo para direita (D1 e AVF); R amplas em V1 ou RR', qR; S importante até V6; T negativa e assimétrica em V1 - FA → Rr irregular, ondas F (tremidas) RX da EM importante: - Índice cardiotorácico normal - Sinais de aumento do átrio esquerdo: elevação do brônquio fonte esquerdo (sinal da bailarina), duplo contorno atrial à direita, quarto arco na silhueta cardíaca esquerda - Sinais de congestão pulmonar Ecocardiograma da EM importante: - Área valvar mitral < 1,5cm2 - Gradiente diastólico médio átrio esquerdo/ventrículo esquerdo ≥ 10mmHg - Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 50 mmHg em repouso - Pressão sistólica da artéria pulmonar ≥ 60 mmHg em esforço FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | CARDIOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Conduta: ↴ Tratamento: Valvuloplastia mitral por cateter-balão: É o método de escolha na etiologia reumática e tem indicação em pacientes com sintomas com classe funcional II-IV e/ou fatores complicadores e quando há escore ecocardiográfico ≤ 8 (aparelho subvalvar e calcificação ≤ 2). Contra-indicado se trombo em átrio esquerdo, insuficiência mitral moderada ou fenômeno embólico recente Comissurotomia/troca valvar: método utilizado quando há estenose mitral reumática classe funcional III-IV com contra-indicações a valvuloplastia mitral por cateter balão, estenose mitral reumática com fatores complicadores, não elegíveis para valvuloplastia mitral por cateter balão, estenose mitral degenerativa refratária ao tratamento clínico. A troca pode ser feita com prótese biológica ou metálica. Valvulopatias Aórticas: Estenose aórtica: é uma das principais patologias com o envelhecimento da população e sua causa mais comum é a calcificação aórtica, que acomete principalmente pacientes idosos. O tratamentotranscateter tornou-se uma opção à troca valvar cirúrgica em casos selecionados após avaliação cuidadosa da expectativa de vida do grau de fragilidade e da anatomia valvar aórtica. Exame Físico da EAo importante: - Pulso parvus et tardus → fino e longo - Sopro sistólico ejetivo com pico telessistólico: irradia para a fúrcula e carótida - É um sopro sistólico de ejeção, de alta frequência localizado no foco aórtico e radiando para fúrcula e carótida de direita. Ausculta é acentuada com paciente sentado e com o tórax para frente - Hipofonese de B2 - Fenômeno de Gallavardin → irradiação do sopro para o foco mitral ECG da EAo importante: - Sinais de sobrecarga do VD (hipertrofia) - Alteração de repolarização ventricular (padrão de Strain - T neg mais difusa) RX da EAo importante: - Índice cardiotorácico normal - Sinais de congestão pulmonar Ecocardiograma da EAo importante: - AVAo ≤1,0 cm2 - AVAo indexada ≥ 0,6cm2/m2 - Gradiente VE/Ao ≥ 4m/s - Ração das velocidades de fluxo entre a via de saída do VE e valva aórtica < 0,25 - Impedância valvuloarterial > 5 mmHg/mL/m2, sobretudo em pacientes com elevada PA FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | CARDIOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Etiologia da EAo: Aterosclerótica/degenerativa: tem prevalência de 3 a 5% da população maior de 65 anos e é relacionada à calcificação valvar aórtica. Há presença de fatores de risco relacionados à aterosclerose e são associados à doença arterial coronariana em 50% dos casos. Reumática: ocorre numa faixa etária mais jovem e associada a variados graus de insuficiência aórtica. Há fusão comissural e acometimento mitro-aórtico Bicúspide: prevalência em 2% da população e tem forte associação com aortopatias (70% dos casos). Se há a orientação laterolateral da fenda comissural: preditor evolutivo da estenose aórtica Sintomas da EAo: determina prognóstico - se aparecerem, indique troca valvar! Dispnéia (2 anos de vida se não tratado): - Disfunção diastólica: hipertrofia ventricular esquerda → redução da complacência → deslocamento da curva pressão/volume ventricular para cima e para esquerda → elevação das pressões de enchimento → hipertensão venocapilar pulmonar - Disfunção sistólica: ocorre na hipertrofia inadequada (afterload mismatch) e baixo fluxo/baixo gradiente Angina (3 anos de vida se não tratado): - Desbalanço da oferta/consumo de oxigênio no miocárdio hipertrófico - Redução do gradiente de perfusão miocárdico (pd2 elevada) Síncope (5 anos de vida se não tratado): - Resulta da incapacidade de incrementos de débito cardíaco em situações de redução expressiva da resistência periférica total. Pode decorrer do uso de vasodilatadores (ag. deflagradores comuns). 50% dos casos estão associados a reflexo cardioinibitório. Conduta: ↴ Tratamento: Cirurgia de troca valvar aórtica: é a primeira escolha para pacientes de baixo risco e risco intermediário (STS < 8%). Implante de bioprótese aórtica transcateter (TAVI): tem ampliado indicação para pacientes de risco intermediário (STS 4 a 8%) mas alto risco cirúrgico. É a primeira escolha em risco cirúrgico proibitivo ou contra-indicação à cirurgia convencional. É necessária a decisão do HeartTeam institucional e a via transfemoral é a preferencial para realização do procedimento. Valvoplastia aórtica por cateter balão: ponte terapêutica para procedimentos definitivos como a cirurgia ou implante de bioprótese aórtica transcateter. É paliação nos casos com contra-indicações definitivas a outros procedimentos. Insuficiência aórtica: é um transtorno da válvula aórtica caracterizado pelo retorno do sangue da aorta para o o ventrículo esquerdo do coração durante a diástole ventricular. Exame Físico da IAo importante: - Sopro diastólico aspirativo decrescente com B1 hipofonética FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | CARDIOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Sopro mesossistólico de hiperfluxo - Sopro de Austin Flint (jato da IAo não permite a abertura valvar mitral, gerando sopro diastólico em ruflar) - Pulso em martelo d'água ou corrigan: ascenso rápido e alta amplitude - Divergência entre pressão sistólica e diastólica - Sinais clínicos de aumento de pressão de pulso: sinal de Musset (cabeça pulsa), sinal de Becker, dança das artérias, sinal de Muller (úvula pulsa) - NA IAo TUDO PULSA ECG da IAo importante: sinais de sobrecarga de câmaras esquerdas RX da EAo importante: - Aumento da silhueta cardíaca às custas de dilatação de VD - Sinais de dilatação ou ectasia da aorta Ecocardiograma da EAo importante: permite a avaliação da etiologia da doença, diâmetro da aorta ascendente, diâmetros ventriculares e função ventricular - Vena contracta > 0.6cm - Largura do jato > 0,65 - Área do jato ≥ 60% - Volume regurgitante ≥ 50% - Fração regurgitante ≥ 60 mL/batimento - ERO ≥ 0,30cm Etiologia e Conduta: Tratamento: Cirurgia de troca valvar: é o tratamento de escolha e é realizada a troca valvar combinada com a correção da aorta ascendente, quando indicada TAVI: requer estudos que validem sua indicação OBS Estudo Hemodinâmico: necessário nos casos de dissociação clínica-ecocardiográfica (elevação da pressão de enchimento, regurgitação aórtica durante a aortografia) RM: avaliação da aorta, avaliação de função ventricular em casos limítrofes e de função valvar nos casos de dissociação clínica-ecocardiográfica
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