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Antologia Poética Amor E sua infinidade Introdução Não existem pessoas que não conhecem a Arte. Há pessoas que não a enxergam. A arte está em todo o canto, está no cantar dos pássaros, está numa grande e antigaárvore e também no céu. O sol, as estrelas, a lua, o azul claro e forte do céu na manhã ou no azul escuro e profundo da noite. E você pode estar pensando - ainda não vejo a arte - Ora, pense em poesia! A poesia pode estar em qualquer lugar que desperte em ti sensações puras, felizes, prazerosas, aventureiras... A poesia provoca as emoções e quando ela aparece, turbilhões de sensações vêm juntas para mexer com o íntimo daqueles que por imensurável graça, têm o prazer de portar consigo, dentro do coração, algo chamado Sensibilidade. Essa sensibilidade lhe faz enxergar poesia no que há de mais belo para se ver, ouvir e sentir. Ora, poesia é algo abstrato! Sente-se tanto, porém é quase inexplicável e intocável. Poesia é sentimento. Poesia? É Arte. Arte que vai desde o prazer em observar o nascer do sol, as estrelas ou a lua, até o prazer de olhar nos olhos de quem se ama. E se tu és capaz de notar poesia ao teu redor, em cada lugar, alegre-se. Você enxerga a Arte. É sensível e transborda emoções. Isso é ruim? Bom? Estranho? Isso é poesia, é sentimento, é arte, é sensibilidade, e não há nada pior do que o homem que não se dá ao prazer de sentir... de enxergar a Arte! De se permitir amar! Espero que permita-se enxergar por viés dessa antologia a arte, principalmente a que guarda em seu interior. Índice Introdução...................................................................pagina 2 Biografia-Cecília Meireles.............................................pagina 3 Poema-Ninguém venha me dar vida..............................pagina 4 Resenha do poema......................................................pagina 5 Biografia-Mario de Andrade.........................................pagina 6 Poema-Soneto de amor total.......................................pagina 7 Resenha do poema......................................................pagina 9 Biografia-Carlos Drummond de Andrade......................pagina 11 Poema -O tempo não passa.........................................pagina 12 Resenha do poema......................................................pagina 13 Biografia-Vinícius de Moraes.......................................pagina 14 Poema-Ternura...........................................................pagina 15 Resenha dopoema......................................................pagina 16 Biografia- Oswaldo de Andrade...................................pagina 17 Poema- A Dona Branca Clara.......................................pagina 18 Biografia- Manuel Bandeira.........................................pagina 19 Poema- Chama e fumo................................................pagina 20 Resenha do poema......................................................pagina 21 Biografia-Augustos dos anjos.......................................pagina 22 Poema-Soneto esplêndido...........................................pagina 23 Resenha Cecília Meireles “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.” Cecília Meireles (1901-1964) foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreia na literatura com o livro "Espectros". A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominando os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos Ninguém me venha dar vida Ninguém me venha dar vida, que estou morrendo de amor, que estou feliz de morrer, que não tenho mal nem dor, que estou de sonho ferida, que não me quero curar, que estou deixando de ser e não me quero encontrar, que estou dentro de um navio que sei que vai naufragar, já não falo e ainda sorrio, porque está perto de mim o dono verde do mar que busquei desde o começo, e estava apenas no fim. Corações, por que chorais? Preparai meu arremesso para as algas e os corais. Fim ditoso, hora feliz: guardai meu amor sem preço, que só quis a quem não quis. (Cecilia Meireles) Resenha Neste poema o eu lírico nos mostra a entrega exacerbada a uma paixão findada, sendo que, como em um suicídio voluntario ele se entrega ao delicioso veneno de não ser correspondido. Simplesmente se deixa levar pelas trevas e mergulhar no sofrimento! Ele sente um estranho gozo em sofrer, e como numa peça de teatro dramática, padece, mas o amor platônico não o deixa ouvir a consciência, deixa somente ouvir aplausos de uma plateia falsa feita de sombras, mentiras e utopias. De certa forma e inegável o estado de embriaguez em que o eu lírico se encontra, entregando-se, exorbitantemente, a dor de um amor não correspondido. Ele o aceita e contraditoriamente ama este amor pérfido. SONETO DO AMOR TOTAL Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim muito e amiúde, É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. (Vinicius de Moraes) Resenha Soneto de Amor Total trata de uma declaração de amor de um poeta apaixonado a sua amada, onde unem-se o amor espiritual ao carnal. Na terceira estrofe, o autor enfatiza o amor Eros ao citar: “Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente.” O amor Eros consiste naquele amor irracional, que sente desejo pela pessoa amada e busca o prazer sexual, como já citado. Notamos que as características predominantes neste poema são o exagero sentimental e o amor carnal, assim sendo, podemos perceber a ambiguidade dos sentimentos -neste caso o amor- onde, amor, percebe-se como algo que vai além de sua palavra dita, revela o desejo, e a intensidade da flama que este faz arder, no coração e na carne daqueles que o sentem. Vinicius de Moraes Vinicius de Moraes (1913-1980) foi um poeta e compositor brasileiro. "Garota de Ipanema", feita em parceria com Antônio Carlos Jobim, é um hino da música popular brasileira A produção poética de Vinícius passou por duas fases. A primeira é carregada de misticismo e profundamente cristã, como expressa em "O Caminho para a Distância" e em "Forma e Exegese". A segunda fase vai ao encontro do cotidiano e nela se ressalta a figura feminina e o amor, como em "Ariana, a Mulher". Vinícius também se inclina para os grandes temas sociais do seu tempo. Carlos Drummond de Andrade Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um poeta brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. O Modernismo exerceu grande influência em Carlos Drummond de Andrade. O seu estilo poético era permeado por traços de ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida e de humor. Drummond fazia verdadeiros "retratos existenciais" e os transformava em poemas com incrível maestria. O Tempo Passa? Não Passa O tempo passa? Não passa no abismo do coração. Lá dentro, perdura a graça do amor, florindo em canção. O tempo nos aproxima cada vez mais, nos reduz a um só verso e uma rima de mãos e olhos, na luz. Não há tempo consumido nem tempo a economizar. O tempo é todo vestido de amor e tempo de amar. O meu tempo e o teu, amada, transcendem qualquer medida. Além do amor, não há nada, amar é o sumo da vida. São mitos de calendário tanto o ontem como o agora, e o teuaniversário é um nascer toda a hora. E nosso amor, que brotou do tempo, não tem idade, pois só quem ama escutou o apelo da eternidade. (Carlos Drummond de Andrade) Resenha Neste poema de Carlos Drummond de Andrade, o eu lírico se apresenta apaixonado, e lastimando a dor de um amor não correspondido. Entretanto, é notório que ele entende que não se deve sofrer por um amor póstumo e findado, sendo que, ficar sofrendo por isso o estagniza e de nada adianta, porque o que importa, não é a solidão ou a dor, e sim os bons momentos que passou, as memórias que irá guardar, as coisas bonitas que presenciou, as coisas que realmente valem a pena. Mário de Andrade Mário de Andrade (1893-1945) foi um escritor brasileiro. Publicou "Pauliceia Desvairada" o primeiro livro de poemas da primeira fase do Modernismo. Foi crítico de arte em jornais e revistas. Teve papel importante na implantação do Modernismo no Brasil. No Primeiro Tempo do Modernismo (1922-1930) a lei era se libertar do modismo europeu, procurar uma linguagem nacional e promover a integração entre o homem brasileiro e sua terra. 1922 foi um ano importantíssimo para Mário de Andrade. Além da Semana de Arte Moderna, foi nomeado professor catedrático do Conservatório de Música. TERNURA Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentado Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente. E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o [olhar extático da aurora. (Vinicius de Moraes) A DONA BRANCA CLARA Tome-se duas dúzias de beijocas Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo Adicione-se três gramas de polvilho de Ciúme Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia Coloque-se dois ovos Agite-se com o braço da Fatalidade E dê de duas em duas horas marcadas No relógio de um ponteiro só! Amor - chama, e, depois, fumaça... Medita no que vais fazer: O fumo vem, a chama passa... Gozo cruel, ventura escassa, Dono do meu e do teu ser, Amor - chama, e, depois, fumaça... Tanto ele queima! e, por desgraça, Queimado o que melhor houver, O fumo vem, a chama passa... Paixão puríssima ou devassa, Triste ou feliz, pena ou prazer, Amor - chama, e, depois, fumaça... A cada par que a aurora enlaça, Como é pungente o entardecer! O fumo vem, a chama passa... Antes, todo ele é gosto e graça. Amor, fogueira linda a arder! Amor - chama, e, depois, fumaça... Portanto, mal se satisfaça (Como te poderei dizer?...) O fumo vem, a chama passa... A chama queima. O fumo embaça. Tão triste que é! Mas...tem de ser... Amor?...- chama, e, depois, fumaça: O fumo vem, a chama passa. (Manoel Bandeira) Oswaldo de Andrade José Oswald de Sousa Andrade foi escritor brasileiro. Em 18 de março de 1924 lançou um dos mais importantes manifestos do Modernismo, o "Manifesto Pau-Brasil" publicado no Correio da Manhã. Em 1925, lança o livro de poemas "Pau-Brasil", que colocava em prática os princípios propostos no manifesto. Conhecido por seu ar irônico e gozador, foi militante político e idealizador dos principais manifestos modernistas. Manuel Bandeira Manuel Bandeira (1886-1968) foi um poeta brasileiro, que marcou a fase modernista da literatura. Os temas mais comuns de sua obra são: a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância. Manuel Bandeira vai cada vez mais se engajando no ideário modernista. Em 1924, publica "Ritmo Dissoluto". A partir de 1925, escreve crônicas para jornais onde faz críticas de cinema e música, oque acaba por efetivar sua figura na literatura brasileira. Clarice Lispector A imensurável personalidade de Clarice marcou efetivamente o modernismo, com sua escrita. Clarice Lispector (1920-1977) nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, porem veio para o Brasil em março de 1922, para a cidade de Maceió acompanhando sua mãe. As melhores prosas da autora se mostram nos contos de "Laços de Família" (1960) e de "A Legião Estrangeira" (1964). Em obras como "A Maçã no Escuro" (1961), "A Paixão Segundo G.H." (1961) e "Água-Viva" (1973), os personagens alienados e em busca de um sentido para a vida, adquirem gradualmente consciência de si mesmos e aceitam seu lugar num universo arbitrário e eterno. SONETO EXPLÊNDIDO Canta teu riso esplêndido sonata, E há, no teu riso de anjos encantados, Como que um doce tilintar de prata E a vibração de mil cristais quebrados. Bendito o riso assim que se desata - Citara suave dos apaixonados, Sonorizando os sonhos já passados, Cantando sempre em trínula volata! Aurora ideal dos dias meus risonhos, Quando, úmido de beijos em ressábios Teu riso esponta, despertando sonhos... Ah! Num delíquio de ventura louca, Vai-se minha alma toda nos teus beijos, Ri-se o meu coração na tua boca! (Augusto dos Anjos) RESENHA No poema expõe-se a história infeliz de uma pessoa, que parte ao encontro de seu amor, entretanto é rejeitada. Nota-se o pessimismo como ainda o jogo de palavras típico da poesia de Augusto dos Anjos. Pode-se deduzir que o eu lírico padece então por um amor não correspondido, ficando à espera do ser amado, não compreendendo seu amor e nem sua existência. É nítido uma de suas relevantes características do poema que é a fixação à morte, bem como o eu lírico quando expõe que almejou a adorada sem conseguir sequer retorno se afastou da porta em carcaça dentro de um caixão e somente em pele e osso. Desse modo, revela os sentimentos do eu lírico ao ser deixado e desamparado ao frio daquele dia (...) fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta Cortava assim como em carniça O aço das facas incisivas corta! Mas tu não vieste ver minha Desgraça! (...) Suas Poesias descrevem uma visão aflita da vida, ou seja, pessimista, juntamente com uma lamúria perto de ser cruel e vulgar, repreende a condição humana. RESENHA A inegável visão do autor no que diz respeito ao amor, é claramente algo utópico. Inconcebível. Ideal e imaginário. O amor de Bandeira dói. Dói porque não se concretiza. É “chama, e, depois, fumaça...”. E atenta bem, aconselha, “o fumo vem, a chama passa...”. Momentâneo, interrupto, ligeiro, ilusório, é escasso, e o pior de tudo, finito. Depois de “fogueira linda a arder!” é fumo que embaça, inevitável, corriqueiro, triste. É o que tem que ser. Acabado, findo, resolvido, pois para tudo o poeta concebe a morte. A vida, o mundo, tudo se termina. Mesmo o que se sente. Sendo amor, metaforizado, em forma de um cigarro, que seguramos em nossos dedos ate o ultimo “toco”, mesmo sabendo que o mesmo irá te queimar, você escolhe tragar ate a ultima dose de nicotina, a fim de saciar sua ânsia, pelo vicio que é amar. RESENHA O poema é iniciado pelo pedido de perdão por amar repentinamente por quem ama já há muito tempo e cujo amor já foi declarado tantas vezes, o amor é uma canção que já foi ouvida. Não é um amor novo, nem imprevisto, nem súbito, mas um amor que se declara mais uma vez, de repente. A frase poética “embora meu amor seja uma velha canção nos seus ouvidos” remete à canção de ninar. O pai que incansavelmente diz “eu te amo” para sua filha. O afeto dele, que ele entrega pelo amor por ela, é como uma herança que ele deixa. Um amor incondicional. Ele termina dizendo que agora é hora de dormir! Apenas que se aquiete, que se acalme, que a noite chegou. E a convence a dormir dizendo que a frieza da noite trará o infalível dia que surge através da beleza extasiante do sol que raia. Resumidamente a imagem paterna, de um pai cantando uma canção de ninar para sua filha. RESENHA Nestepoema Oswaldo nos trás uma receita, feita por Dona Branca Clara, que retrata a forma como ela vê o amor. Assim sendo percebe-se que o eu lírico vê o amor como algo tênue e singelo, algo inexplicável, conforme a visão futurista do autor. Ele tem uma visão de amor descompromissada, sem a necessidade de se "morrer de amor", como os românticos pregavam, sendo que o amor não pode ser explicado em um poema (mas quem sabe em uma receita), o amor é algo imensurável, porem parece simples na receita, composta por ações, emoções e sentimentos.
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