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Prova de Economia Política - Serviço Social

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2017
AntropologiA SociAl 
e culturAl
Profª Milena Cassal
Profª Priscila Farfan Barroso
Copyright © UNIASSELVI 2017
Elaboração:
Profª Milena Cassal
Profª Priscila Farfan Barroso
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
301
B277a Barroso, Priscila Farfan
 Antropologia social e cultural / Priscila Farfan Barroso; 
Milena Cassal. Indaial : UNIASSELVI, 2017.
 
 221 p. : il.
 
 ISBN 978-85-515-0079-8
 
 1.Sociologia e Antropologia. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
Impresso por:
III
ApreSentAção
Ao iniciar este livro de estudos, convidamos você a mergulhar na 
história da antropologia e em suas diversas vertentes, buscando conhecer 
outras formas de perceber os indivíduos em sociedade. A antropologia 
desvenda os detalhes existentes entre os grupos sociais. A partir da etimologia 
(origem da palavra) sabemos que ANTHROPOS=HOMEM e LOGIA= 
ESTUDO. Ou seja, antropologia é o estudo do homem. Mas por que devemos 
estudar o homem? Já não existem tantas ciências a estudá-lo?
Ao estudar antropologia, compreendemos melhor o funcionamento de 
determinados grupos sociais. Deste modo é mais fácil desconstruir determinadas 
visões sobre diversos assuntos. A desconstrução de ideias é um dos principais 
enfoques das ciências sociais, com uma forte contribuição da antropologia, 
já que a base de muitas de suas pesquisas inicia-se pelo “senso comum” e o 
“transformam” em outros conceitos, a partir da perspectiva do pesquisado.
A antropologia surgiu na segunda metade do século XIX, juntamente 
com a sociologia, devido a grandes acontecimentos sociais, econômicos e 
políticos. No decorrer dos séculos, esta ciência se modificou para observar e 
compreender as mudanças citadas acima. Neste sentido, estudar antropologia 
é caminhar por várias formas de “ver” o mundo.
Este livro de estudos apresenta as concepções da antropologia, assim 
como sua abordagem na sociedade. Apresenta as especificidades antropológicas, 
buscando conhecer como é produzido o fazer antropológico a partir das suas 
diversas correntes teóricas. Na primeira unidade buscamos compreender 
a origem da antropologia, assim como seus métodos, e iniciamos nossa 
caminhada pela antropologia cultural e social. Continuamente, na Unidade 2, 
verificamos os principais teóricos e suas abordagens dentro deste campo de 
estudo, e ao chegarmos à Unidade 3 trabalharemos com temas que permeiam o 
fazer do professor na área das ciências sociais: antropologia e educação.
Neste livro de estudos avaliamos que seria importante trabalhar 
com um contexto dinâmico, com uma linguagem voltada para o cotidiano 
do aluno, fazendo com que ele tenha mais facilidade na compreensão dos 
conceitos apresentados, realizando de forma mais integrada os exercícios 
propostos neste livro.
Seja bem-vindo, acadêmico, ao universo da Antropologia Social e 
Cultura! 
Profª Milena Cassal
Profª Priscila Farfan Barroso
IV
UNI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, 
há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o 
material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato 
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação 
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir 
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda 
mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza 
materiais que possuem o código QR Code, que 
é um código que permite que você acesse um 
conteúdo interativo relacionado ao tema que 
você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, 
acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor 
de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa 
facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
VII
Sumário
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA ... 1
TÓPICO 1 - CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA .......................... 3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 3
2 COMO SURGEM OS ESTUDOS DO HOMEM ............................................................................. 4
3 O QUE É ETNOCENTRISMO? ........................................................................................................ 11
4 IDEOLOGIAS ETNOCÊNTRICAS .................................................................................................. 14
5 O DISTANCIAMENTO, O ESTRANHAMENTO E A ALTERIDADE ..................................... 16
6 A XENOFOBIA E SUA LIGAÇÃO COM O ETNOCENTRISMO ............................................. 17
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 18
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 23
TÓPICO 2 - O QUE É ANTROPOLOGIA? ........................................................................................ 25
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 25
2 CAMPOS INICIAIS DA ANTROPOLOGIA ................................................................................. 26
3 A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA NO BRASIL .................................................................. 29
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 33
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 36
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 37
TÓPICO 3 - METODOLOGIA DA ANTROPOLOGIA .................................................................. 39
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 39
2 OBJETOS DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA ........................................................................... 39
3 O OLHARDO PESQUISADOR ....................................................................................................... 43
4 O OUVIR DO PESQUISADOR ........................................................................................................ 44
5 O ESCREVER DO PESQUISADOR ................................................................................................. 45
6 A ESCRITA ANTROPOLÓGICA E A CONSTRUÇÃO DE “PERFIS” SOCIAIS ................... 45
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 49
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 53
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 54
UNIDADE 2 - PERSPECTIVAS SÓCIO-HISTÓRICAS DA ANTROPOLOGIA ...................... 57
TÓPICO 1 - A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO ............................. 59
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 59
2 EVOLUCIONISMO SOCIAL E MATERIALISMO CULTURAL ............................................... 59
 2.1 MORGAN E A SOCIEDADE ANTIGA ....................................................................................... 60 
 2.2 TYLOR E A CIÊNCIA DA CULTURA ......................................................................................... 61
 2.3 FRAZER E A ANTROPOLOGIA SOCIAL ................................................................................. 62
 2.4 PARTICULARISMO HISTÓRICO E CULTURAL .................................................................... 64
 2.5 MÉTODO ETNOGRÁFICO E A ESCRITA .................................................................................. 67
 2.6 FUNÇÃO, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL ............................................................ 70
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 74
VIII
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 80
TÓPICO 2 - PERSPECTIVAS CLÁSSICAS DA TEORIA ANTROPOLÓGICA ........................ 81
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 81
2 A ESCOLA FRANCESA ...................................................................................................................... 81
 2.1 REPRESENTAÇÕES COLETIVAS E FORMAS PRIMITIVAS DE CLASSIFICAÇÃO ......... 82
 2.2 PENSAMENTO SELVAGEM E ESTRUTURALISMO ............................................................... 86
3 A ESCOLA AMERICANA ................................................................................................................... 90
 3.1 CULTURA, PERSONALIDADE E GÊNERO .............................................................................. 91
 3.2 INTERPRETATIVISMO E DESCRIÇÃO DENSA ....................................................................... 96
4 A ESCOLA BRITÂNICA ................................................................................................................. 100
 4.1 PROCESSO RITUAL E OS DRAMAS SOCIAIS ....................................................................... 100
 4.2 PUREZA E SIMBOLISMO ........................................................................................................... 103
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 106
RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 110
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 111
TÓPICO 3 - INQUIETAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA ANTROPOLOGIA ...................... 113
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 113
2 CULTURA COMO INVENÇÃO ..................................................................................................... 113
 2.1 AUTORIDADE DO ETNÓGRAFO E POSSIBILIDADE DE ESCRITAS ............................... 116
 2.2 GRANDES RUPTURAS E NOVOS QUESTIONAMENTOS .................................................. 118
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 120
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 123
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 124
UNIDADE 3 - TEMAS CONTEMPORÂNEOS EM ANTROPOLOGIA SOCIAL E 
CULTURAL ............................................................................................................................................ 125
TÓPICO 1 - CITAÇÕES ....................................................................................................................... 127
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 127
2 EDUCAÇÃO E ANTROPOLOGIA ................................................................................................ 128
3 DESIGUALDADES NA EDUCAÇÃO: UM OLHAR DA ANTROPOLOGIA ...................... 135
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 138
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 143
RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 153
TÓPICO 2 - DISCUSSÕES DE CONTEÚDOS ............................................................................... 155
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 155
2 TEMAS DA EDUCAÇÃO E ANTROPOLOGIA ......................................................................... 156
 2.1 DESIGUALDADE ECONÔMICA ENTRE GÊNEROS ............................................................ 157
 2.2 AS RELAÇÕES ÉTNICAS RACIAIS NA EDUCAÇÃO .......................................................... 159
3 GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA SEGUNDO A ANTROPOLOGIA ..................... 173
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 179
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 184
RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 189
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 191
TÓPICO 3 - ANTROPOLOGIA: POR UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E REFLEXIVA ....... 193
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................193
IX
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 199
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 205
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 210
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 211
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 213
X
1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO E CONCEITOS 
FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• conceituar antropologia, sua origem e métodos;
• compreender o significado da antropologia cultural e social.
Esta unidade está organizada em três tópicos. Neles você encontrará dicas, 
textos complementares, observações e atividades que lhe darão uma maior 
compreensão dos temas a serem abordados.
TÓPICO 1 – CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
TÓPICO 2 – O QUE É A ANTROPOLOGIA?
TÓPICO 3 – METODOLOGIA DA ANTROPOLOGIA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
CONCEITOS INICIAIS PARA 
ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Iniciamos nossa jornada de estudos buscando compreender melhor o 
significado de antropologia cultural e social, que, no caso, diz respeito a TUDO 
que constitui uma sociedade, incluindo a nossa: “[...] seus modos de produção 
econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de 
parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua 
psicologia, suas criações artísticas” (LAPLANTINE, 2000, p. 19). 
De acordo com Lévi-Strauss (1974, p. 80), o antropólogo busca compreender 
aquilo que os homens “não pensam habitualmente em fixar na pedra ou no papel”. 
Os gestos, as trocas simbólicas, os detalhes do comportamento humano são os objetos 
do estudo do homem. A antropologia é o estudo das culturas humanas, assim como 
de um TODO na sua diversidade histórica e geográfica (LAPLANTINE, 2000).
A antropologia social trabalha, inicialmente, com os sistemas de 
pensamento, destaca a coesão das instituições, o caráter integrativo da família, 
da moral e da religião (DURKHEIM,1979). A antropologia social e cultural tem o 
mesmo campo de investigação:
O social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, 
de dominação...), que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo 
conjunto (etnia, região, nação...) e para com outros conjuntos, também 
hierarquizados. A cultura, por sua vez, não é nada mais que o próprio 
social, mas é considerado dessa vez sob o ângulo dos caracteres 
distintivos que apresentam os comportamentos individuais dos 
membros desse grupo, bem como suas produções originais (artesanais, 
artísticas, religiosas...) (LAPLANTINE, 2000, p. 95).
Os antropólogos culturais e sociais possuem os mesmos métodos 
etnográficos, fazem análises comparativas. No ângulo da antropologia social, a 
comparação é o social como sistema de relações sociais e na antropologia cultural 
observa-se o social através dos comportamentos particulares dos membros do 
grupo pesquisado. “Nossas maneiras específicas, enquanto homens e mulheres 
de uma determinada cultura, de pensar, de encontrar, trabalhar, se distrair, 
reagir frente aos acontecimentos (por exemplo, o nascimento, a doença, a morte) 
(LAPLANTINE, 2000, p. 96).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
4
A partir destes pontos destacamos os seguintes questionamentos: como 
surge o estudo do homem? O que é antropologia? Qual é o seu método?
Verificaremos nas próximas páginas as respostas para estas perguntas, 
assim como nas unidades seguintes conheceremos seus principais autores e linhas 
de pensamento teórico. 
FIGURA 1 - ESTUDO DO HOMEM
FONTE: Disponível em: <https://kmarx.files.wordpress.com/2015/10/multicult-
stubble-brush.jpg>. Acessado em: 15 out. 2016.
2 COMO SURGEM OS ESTUDOS DO HOMEM 
A antropologia tem origem na Europa, assim como a sociologia. Na França 
e em alguns países, muitos cientistas sociais não fazem distinção entre as duas. 
O surgimento da sociologia e da antropologia deve-se a uma série de mudanças 
políticas, sociais e econômicas do cenário daquela época. O contato com os novos 
povos gerou muitos questionamentos, desde o início das grandes navegações 
nos séculos XIV e XV. Marco Polo (apud LAPLANTINE, 2000, p. 60) fez um dos 
primeiros questionamentos antropológicos a partir da experiência de estar em 
contato com novos povos: “Como podem povos tão iguais (física e biologicamente) 
produzir culturas tão diferentes?” 
O que você acha, caro acadêmico? Como povos tão iguais desenvolvem 
culturas tão diferentes? Vivemos em um país com diversas culturas locais 
riquíssimas, mas fazemos parte da mesma nacionalidade, somos todos brasileiros, 
no entanto, praticamos ações e visões culturais bastante diferentes dos demais em 
nosso país. 
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
5
Voltamos para as grandes navegações e suas expansões pelos saberes 
antropológicos. Primeiramente, as sociedades espanhola e portuguesa delegaram 
à Igreja Católica Romana a função de conhecer e compreender os povos 
conquistados, através das pesquisas dos jesuítas com os indígenas no processo 
de catequização. Seus estudos tinham o objetivo de conhecer o povo nativo para 
“dominá-lo” e colonizá-lo. Como bem sabemos, os indígenas (e depois os africanos 
escravizados) foram utilizados como mão de obra em muitas terras conquistadas 
pelos portugueses e espanhóis. Os britânicos, franceses e holandeses utilizaram 
outra técnica de dominação dos povos nativos, que não estava ligada à religião. 
Desejavam manipular sua base econômica para a produção comercial, não se 
interessavam em mudar as leis dos povos ou impor-lhes sua religião, tinham 
um objetivo: “Conhecer para manter”. A partir desta origem, a antropologia está 
embasada em três temas: 
Antropologia pragmática, “conhecer outros povos para explorá-los”, 
que poderia ser trabalhada no estudo da linha evolucionista na antropologia. 
Antropologia romântica, que tenta proteger o povo conquistado do contato e 
absorção pela civilização dominadora. E a antropologia científica, sendo estudada 
na linha funcionalista e estruturalista – social e cultural. Estas linhas serão 
estudadas na Unidade 2.
A antropologia estuda todas as sociedades humanas, inclusive a nossa 
sociedade. É recente o estudo das chamadas sociedades complexas, as primeiras 
pesquisas trataram dos aspectos “tradicionais” das sociedades não tradicionais. 
Analisavam-se as comunidades camponesas europeias, logo após a atenção foi 
voltada para grupos marginais e há poucos anos iniciou-se o estudo nas cidades.
Anteriormente, a antropologia voltou-se para o estudo das civilizações 
primitivas, porém seu objeto de pesquisa mudou e, assim, muitas reflexões foram 
desenvolvidas para que as bases epistemológicas fossem amadurecidas.
A profissão de antropólogo e a ciência antropológica surgiram no início 
do século XX, com os antropólogos Franz Boas (USA) e Bronislaw Malinowski 
(Inglaterra). A antropologia como ciência contribui com diversas formas de analisar 
as sociedades, o estranhamento da cultura do outro, o choque cultural a partir do 
contato com outra cultura e a negação do etnocentrismo são fatores positivos para 
um olhar diferenciado para o modo de viver em sociedade. 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
6
FIGURA 2 - CULTURA OU CULTURAS
FONTE: Disponível em: <https://www.kickante.com.br/
campanhas/cultura-box>. Acessoem: 15 out. 2016.
A antropologia estuda ou analisa diversas formas de culturas e suas relações 
com o viver em sociedade. Segundo Giddens (2005), a cultura de uma sociedade 
compreende tanto aspectos intangíveis – as crenças, as ideias e os valores que a 
formam –, como também os aspectos tangíveis, ou seja, os objetos, os símbolos ou 
a tecnologia que expressam este conteúdo. 
A noção de cultura parece ofertar a resposta mais ampla à questão da 
diferença entre os povos. De acordo com Cuchê (1999), o homem é essencialmente 
um ser cultural. “A cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu 
meio, mas também adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessidades e 
seus projetos. Em suma, a cultura torna possível a transformação da natureza” 
(CUCHÉ, 1999, p. 10).
No final do século XVIII e no início do século XIX, o termo germânico 
“Kultur” era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma 
comunidade, enquanto a palavra francesa “Civilization” referia-se principalmente 
às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por 
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
7
Edward Tylor (1832-1917) (1971, p. 71) no vocábulo inglês “Culture”, que "tomado 
em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, 
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos 
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Com esta definição 
Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana, 
além de marcar fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à 
ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos (LARAIA, 2005).
O conceito de cultura, utilizado atualmente, foi definido pela primeira vez 
por Tylor. Ele formalizou uma ideia que vinha crescendo na mente humana. A 
ideia de cultura, com efeito, estava ganhando consistência talvez mesmo antes 
de John Locke (1632-1704) que, em 1690, ao escrever Ensaio acerca do entendimento 
humano, procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que uma caixa 
vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter 
conhecimento, através de um processo que hoje chamamos de endoculturação. 
Locke (1978) refutou fortemente as ideias correntes na época, de princípios ou 
verdades inatas impressas hereditariamente na mente humana, ao mesmo tempo 
em que ensaiou os primeiros passos do relativismo cultural ao afirmar que os 
homens têm princípios práticos opostos: 
Quem investigar cuidadosamente a história da humanidade, 
examinar por toda a parte as várias tribos de homens e com 
indiferença observar as suas ações, será capaz de convencer-
se de que raramente há princípios de moralidade para serem 
designados, ou regra de virtude para ser considerada... que não 
seja, em alguma parte ou outra, menosprezado e condenado pela 
moda geral de todas as sociedades de homens, governadas por 
opiniões práticas e regras de condutas bem contrárias umas às 
outras (LOCKE apud LARAIA, 2005, p. 14-15).
Mais de um século transcorrido, Kroeber (1950, p. 85) escreveu que "a maior 
realização da Antropologia na primeira metade do século XX foi a ampliação e a 
clarificação do conceito de cultura". Porém, as centenas de definições formuladas 
após Tylor serviram mais para estabelecer uma confusão do que ampliar os limites 
do conceito. Em 1973, Geertz escreveu que o tema mais importante da moderna 
teoria antropológica era o de "diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo 
num instrumento mais especializado e mais poderoso teoricamente" (GEERTZ 
apud CUCHÊ,1999, p. 15). A cultura, segundo Clifford Geertz (1978), é um sistema 
de teias de significado que foi tecido pelo próprio homem. A cultura não seria uma 
ciência experimental, mas uma ciência interpretativa à procura de um significado.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
8
FIGURA 3 - O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE CULTURA
FONTE: <https://www.google.com.br/search?sa=G&hl=pt&q=co
municacion+marketing&tbm=isch&tbs=simg:CAQSkwEJSq74TsQ
QGWkahwELEKjU2AQaAAwLELCMpwgaYgpgCAMSKKsUpxSfCrIU-
RO3FKUUrBSmCbYU-D35Pcw3mjWZNZkptiebKfMi-ygaMAvBeg6wg7RL
jcyqN705jhayOVsx52pspk9V4S_1xa1ApgP3Kg4lY6idFDKSL4oHDyCAED
AsQjq7-CBoKCggIARIEwFQNCgw&ved=0ahUKEwj8koPO4cvQAhWBG
ZAKHSkLDVgQ2A4IGygB&biw=1366&bih=662#imgdii=YnK1cCmMC_
z0cM%3A%3BYnK1cCmMC_z0cM%3A%3BbtAyr1D_
W7hWOM%3A&imgrc=YnK1cCmMC_z0cM%3A>. Acesso em: 16 out. 2016.
A primeira definição de cultura que foi formulada do ponto de vista 
antropológico, como vimos, pertence a Edward Tylor, no primeiro parágrafo de seu 
livro Primitive Culture (1871). Tylor (1871) procurou, além disto, demonstrar que 
cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, “pois trata-se de um fenômeno 
natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma 
análise capazes de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a 
evolução” (TYLOR apud LARAIA, 2005, p. 17).
Mais do que preocupado com a diversidade cultural, Tylor preocupava-
se com a igualdade existente na humanidade. A diversidade é explicada por 
ele como o resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de 
evolução. Assim, uma das tarefas da antropologia seria a de "estabelecer, grosso 
modo, uma escala de civilização", simplesmente colocando as nações europeias 
em um dos extremos da série e em outro as tribos selvagens, dispondo o resto 
da humanidade entre dois limites. Mercier (1974) mostra que Tylor pensava as 
"instituições humanas tão distintamente estratificadas quanto a terra sobre a 
qual o homem vive. Elas se sucedem em séries substancialmente uniformes por 
todo o globo, independentemente de raça e linguagem – diferenças essas que 
são comparativamente superficiais –, mas moduladas por uma natureza humana 
semelhante, atuando através das condições sucessivamente mutáveis da vida 
selvagem, bárbara e civilizada" (LARAIA, 2005, p. 18).
Para entender Tylor é necessário compreender a época em que ele viveu. O 
seu livro foi produzido nos anos quando a Europa sofria o impacto da Origem das 
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
9
espécies, de Charles Darwin, e a “nascente antropologia foi dominada pela estreita 
perspectiva do evolucionismo unilinear” (LARAIA, 2005, p. 18) A principal reação 
ao evolucionismo, então denominado método comparativo, inicia-se com Franz 
Boas (1858-1949), nascido em Westfália (Alemanha) e inicialmente um estudante 
de física e geografia em Heidelberg e Bonn. Uma expedição geográfica a Baffin 
Land (1883-1884), que o “colocou em contato com os esquimós, mudou o curso de 
sua vida, transformando-o em antropólogo” (LARAIA, 2005, p. 19).
São as investigações históricas – reafirma Boas (1986) – o que convém para 
descobrir a origem deste ou daquele traço cultural e para interpretar a maneira 
pela qual toma lugar num dado conjunto sociocultural. Em outras palavras, Boas 
(1986) desenvolveu o particularismo histórico (ou a chamada Escola Cultural 
Americana), segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em 
função dos diferentes eventos históricos que enfrentou. A partir daí a explicação 
evolucionista da cultura só tem sentido quando ocorre em termos de uma 
abordagem multilinear BOAS apud LARAIA, 2005, p. 20).
Alfred Kroeber (1950) (1876-1960), antropólogo americano, em seu artigo 
"O superorgânico", mostrou como a cultura atua sobre o homem, ao mesmo tempo 
em que se preocupou com a discussão de uma série de pontos controvertidos, pois 
suas explicações contrariam um conjunto de crenças populares. Demonstrou que 
graças à cultura, a humanidade distanciou-se do mundo animal. Para ele, o homem 
passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas. 
A preocupação de Kroeber era evitar a confusão, ainda tão comum, entre 
o orgânico e o cultural.Não se pode ignorar que o homem, membro proeminente 
da ordem dos primatas, depende muito de seu equipamento biológico. Para se 
manter vivo, independentemente do sistema cultural ao qual pertença, ele tem que 
satisfazer um número determinado de funções vitais, como a alimentação, o sono, 
a respiração, a atividade sexual etc., mas, embora estas funções sejam comuns a 
toda humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra. É 
esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de funções que faz 
com que o homem seja considerado um ser predominantemente cultural. Os seus 
comportamentos não são biologicamente determinados. A sua herança genética 
nada tem a ver com as suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem 
inteiramente de um processo de aprendizado. 
O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é 
um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento 
e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. A 
manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações 
e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o 
resultado do esforço de toda uma comunidade. 
De acordo com Laraia (2005), não basta a natureza criar indivíduos 
altamente inteligentes, isto ela o faz com frequência, mas é necessário que coloque 
ao alcance desses indivíduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade 
de uma maneira revolucionária. 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
10
Resumindo, a contribuição de Kroeber, segundo Laraia (2005) para a 
ampliação do conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos: 
1. A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do 
homem e justifica as suas realizações.
2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram 
parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo pelo qual passou. 
3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em vez 
de modificar o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento 
superorgânico.
4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras 
das diferenças ambientais e transformar toda a Terra em seu hábitat.
 5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado 
do que a agir através de atitudes geneticamente determinadas.
6. Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é este 
processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação) que determina o 
seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.
 7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica 
das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do 
indivíduo.
8. Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade de 
utilizar o conhecimento existente ao seu dispor, construído pelos participantes 
vivos e mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova 
técnica. Nesta classificação podem ser incluídos os indivíduos que fizeram as 
primeiras invenções, tais como o primeiro homem que produziu o fogo através 
do atrito da madeira seca; ou o primeiro homem que fabricou a primeira 
máquina capaz de ampliar a força muscular, o arco e a flecha etc. São eles gênios 
da mesma grandeza de Santos Dumont e Einstein. 
Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje consideradas 
modestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isto, talvez nem mesmo a 
espécie humana teria chegado ao que é hoje. 
No final do século XIX havia uma ideia de que civilizados eram os europeus 
e os norte-americanos, e as outras populações eram vistas como menos evoluídas, 
ou atrasadas. Franz Boas (1986) critica o uso do termo cultura com o sentido de 
ser mais ou menos civilizado. Para ele a cultura era múltipla, não se tratava de 
uma cultura, mas sim de várias “culturas”. Ao pensar cultura no “plural” pode-
se desconstruir as hierarquias do pensamento colonial e racista da época, assim 
como analisamos cada cultura em sua perspectiva. Para Franz Boas (1986), os 
diferentes povos que há no mundo possuem diferentes culturas e entre elas é difícil 
estabelecer qualquer hierarquia. Em sua pesquisa com povos indígenas do noroeste 
americano e do Alasca, Boas (1986) verificou que as histórias das comunidades são 
tão particulares e preenchidas por interesses tão diversos que não há possibilidade 
de comparação. 
Para Franz Boas, cultura era um todo integrado, e não um conjunto 
desagregado de práticas, hábitos, técnicas, relações e pensamentos. Tal integração 
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
11
de múltiplos elementos se dá a partir de um princípio compartilhado por todos os 
indivíduos de uma sociedade específica, assim se criaria a cultura. Por isso seria 
única e exclusiva de cada sociedade, o que inviabilizaria qualquer comparação. 
Segundo Boas (1986), qualquer comparação exigiria tanto cuidado e investigação 
histórica e antropológica que, na prática, seria muito difícil realizar tal ação, 
porque [...] “a cultura inclui o processo de simbolização, ou seja, de processos de 
substituição de uma coisa por aquilo que a significa” (SANTOS, 2006, p. 41).
Para Santos (1984), a cultura é compreendida como a totalidade de uma 
dimensão da sociedade. Nos tempos atuais, ela seria algo como o conhecimento 
num sentido ampliado, ou seriam as maneiras pelas quais a realidade que se 
conhece é codificada por uma sociedade, através de palavras, ideias, doutrinas. 
3 O QUE É ETNOCENTRISMO? 
Vamos falar um pouco sobre a negação do etnocentrismo e o que isto tem a 
ver com antropologia e com nossas relações cotidianas. Começaremos com alguns 
exemplos para a tentativa de compreensão do que é etnocentrismo. Seguimos 
pela área musical, você gosta de que tipo de música? Você acredita que o estilo 
musical funk é melhor que a música popular brasileira (MPB)? Ou MPB é melhor 
que música clássica?
De que forma classificamos o que é “melhor” ou “pior” em termos 
generalizantes? Quem dita as regras, ou normas, do que é bom para cada grupo 
social, povo ou nação? Questionamentos como estes nos levam a iniciar nossas 
reflexões a respeito do etnocentrismo, que etimologicamente significa: ETNOS: 
nação, tribo ou pessoas que vivem juntas, e CENTRISMO: centro. Logo, a ideia 
de que o grupo está no centro. Assim, as ideias, conceitos, modos de conviver, 
regramentos sociais, morais, culturais, sexuais, religiosos, ambientais, políticos, 
são para o grupo o centro de tudo. Ou seja, tais pontos dão-se como o “certo” e o 
que não se ajusta a isso está “errado”. 
CUCHÉ (1999) relata que de acordo com o sociólogo americano William G. 
Sumner (1906), etnocentrismo “é o termo técnico para a visão das coisas segundo 
a qual nosso próprio grupo é o centro de todas as coisas e todos os outros grupos 
são medidos e avaliados em relação a ele”.
Cada grupo alimenta seu próprio orgulho e vaidade, considera-se 
superior, exalta suas próprias divindades e olha com desprezo as 
estrangeiras. Cada grupo pensa que seus próprios costumes (folkways) 
são os únicos válidos e se ele observa que outros grupos têm outros 
costumes, encara-os com desdém (SIMON apud CUCHÊ, 1999).
Para Rocha (1994), o etnocentrismo pode ser visto por dois planos, o 
plano intelectual e o plano afetivo. No plano intelectual o etnocentrismo pode 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
12
ser observado como a dificuldade de pensarmos a diferença. Já no plano afetivo, 
analisamos como sentimentos de estranheza, medo e hostilidade etc. De acordo 
com Everaldo Rocha (1994), o etnocentrismo mistura estes dois planos, pois 
eles compõem um fenômeno bastante presente na sociedade e que também é 
muito encontradoem nosso cotidiano. De certo modo, ao nos depararmos com o 
“diferente” nos sentimos ameaçados, já que nossa identidade cultural está sendo 
ferida ou contestada. 
Existe uma clara distinção entre grupos, o grupo do “EU” e o grupo do 
“OUTRO”. O choque cultural se dá quando se verificam as formas como o viver de 
cada grupo se difere e nestes aspectos a diferença sobressai, assim o “EU” determina 
que sua visão é a única, ou a superior, a correta. Os questionamentos sobre como o 
grupo do “OUTRO” vive de determinada forma são frequentemente explanados. O 
grupo do “OUTRO” irá apresentar-se diante do grupo do “EU” como o engraçado, 
absurdo, anormal etc. O grupo do “EU” trabalha na perspectiva de fortalecimento 
da identidade, identificando-se como “perfeitos”, “excelentes” ou “ser humano”, e 
ao “OUTRO” chamam de “macacos da terra” ou “ovos de piolhos” (por exemplo). 
O grupo do “EU” é visto como “superior” e “civilizado”, seria a sociedade onde 
existem o saber e o progresso, já a do “OUTRO” seria “atrasada”.
Voltando aos estilos musicais, identificamos diversos tipos de músicas, 
muitas são visualizadas como “boas” ou “ruins”, “decentes” ou “indecentes” e 
também são caracterizadas conforme sua origem de classe social. Caso venha de 
classe mais abastada, com grande poder aquisitivo, de um grupo que “aparenta” 
ter “conhecimento” de música, é vista como músicas “boas”, porém se o estilo 
musical tem origem de classes mais pobres, em que já se preconiza um estereótipo 
de “falta de conhecimento”, as músicas já são vistas como “ruins”. Contudo, 
estamos colocando nestas observações juízos de valores etnocêntricos, pois cada 
grupo vai compreender que seu estilo musical é melhor, assim, não se consegue 
desenvolver uma crítica mais qualificada sobre o processo de criação musical e 
qual sua função nos meios em que é praticado.
Segundo Lévi-Strauss (1986), os homens têm dificuldade de encarar a 
diversidade das culturas como um fenômeno natural. Quando falamos das grandes 
navegações, iniciamos a construção do conceito de humanidade. Para os povos 
primitivos, a humanidade acaba em suas fronteiras étnicas ou linguísticas, assim 
denominam-se “os homens”, “os excelentes” ou “os verdadeiros”, opondo-se aos 
estrangeiros que não são reconhecidos como humanos completos. Na sociedade 
greco-romana antiga, todos que não participavam da cultura greco-romana eram 
“bárbaros”. Na Europa ocidental, os que não pertenciam à civilização ocidental 
eram “selvagens”. O barbarismo demonstra confusão, desarticulação e desordem 
(ROCHA,1994).
Aqueles que são diferentes do grupo do “EU” – os diversos “OUTROS” 
deste mundo –, por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam 
representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas 
ideológicas de determinados momentos (ROCHA, 1994, p. 15).
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
13
Ser etnocêntrico, pensar de forma etnocêntrica, pode causar formas 
extremas de intolerância cultural, religiosa, política. A antropologia inicia a 
ideia de relatividade das culturas e da não hierarquização. Para a antropologia, 
recomenda-se a aplicação do método da observação participante para escapar do 
etnocentrismo na pesquisa. Para a antropologia, segundo Rocha (1994), a diferença 
é a forma como os grupos sociais deram soluções distintas a limites ou problemas 
existenciais comuns. A diferença não seria uma ameaça ou algo ruim, mas sim 
uma alternativa, ou uma possibilidade que o “OUTRO” pode abrir para o “EU”.
Você já deve ter ouvido falar em noticiários, nas redes sociais e demais 
meios de comunicação, sobre o grande aumento de casos de xenofobia. Mas, afinal, 
o que é isso? O que a antropologia tem a ver com este fenômeno social?
Xenofobia é o ato de repudiar, hostilizar e/ou odiar estrangeiros, 
fundamenta-se em fatores sociais, culturais, raciais, religiosos, históricos etc. O 
termo "xenofobia" é formado por dois termos: “xénos” (estrangeiro, estranho ou 
diferente) e “phobos” (medo), que corresponde, literalmente, ao medo do diferente.
Ao constatarmos que uma cultura se sobrepõe como fator de superioridade a 
outra, estamos contribuindo com um olhar preconceituoso e xenófobo, produzindo 
estereótipos que podem violentar uma cultura e um povo de diversas formas.
Para contrapor o etnocentrismo existem algumas ideias, e entre elas está a 
relativização. Mas o que seria a relativização?
Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de 
essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando. 
Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta, 
mas no contexto em que acontece: estamos relativizando. Quando 
compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: 
estamos relativizando. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo 
como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim 
ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre 
elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. 
Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores 
e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por 
ser diferente (ROCHA, 1994, p. 20).
A antropologia, ao longo de seus estudos, busca visualizar as diferentes 
formas, maneiras, resoluções que os indivíduos deram para as situações que se 
configuravam como limites existenciais. A diferença, para a antropologia, não é 
ameaça, é alternativa. Segundo Rocha (1994, p. 10), “Ela (diferença) não é uma 
hostilidade do “outro”, mas uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o 
“eu””.
Compreender que a diferença do “EU” em relação ao “OUTRO” pode 
ser pensada através do olhar da relativização é algo que vem a desconstruir os 
pensamentos etnocêntricos. As ideologias mais extremas, por exemplo, possuem 
grande dificuldade de aceitar a relativização, pois são gestadas e mantidas pelo seu 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
14
próprio monólogo, e a relativização descentraliza o pensamento, o que causa uma 
multiplicidade de pontos de vista, questionamentos e respostas. Franz Boas nos 
mostra a partir do relativismo que a cultura do homem só poderia ser interpretada 
na perspectiva de sua cultura local.
O outro passou a ser visto na condição de fazedor de cultura e essa 
cultura entendida a partir do contexto no qual estava inserida. Isto é, 
análise não acontecia mais em função dos padrões do analista, mas em 
função dos padrões do próprio pesquisado (MENESES, 2009, p. 51).
Sob a perspectiva do etnocentrismo, compreendemos a cultura como 
algo único, sendo entendida do ponto de vista daquele que está contando a 
história. Como exemplo, o colonizador insere em suas narrativas suas formas de 
contar, suas crenças, hábitos, costumes, formas de ver o mundo. Todavia, com o 
relativismo, ao percebermos a cultura em que o colonizado está inserido, fica mais 
fácil compreender o ponto de vista deste.
4 IDEOLOGIAS ETNOCÊNTRICAS
Ao longo da história, várias ações etnocêntricas foram sendo desenvolvidas 
em prol da evolução da humanidade. Nas visões etnocêntricas, as relações de 
poder, superioridade e dominação sempre são estabelecidas. “[...] a negação do 
“Outro” enquanto tal. E nega-o por senti-lo como uma ameaça à sua própria 
maneira de ser, e mesmo ao seu ser. E como a melhor defesa é o ataque, pode partir 
para a eliminação física do Outro (PAULO, 2006, p. 13).
Como exemplo histórico destas relações de dominação, relembramos o 
holocausto judeu, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Hitler compreendia 
que a raça ariana era superior à judaica e outras. Milhares de pessoas foram retiradas 
de suas casas, cidades, famílias e aprisionadas em campos de concentração, onde 
eram expostas a trabalhos forçados, experiências médicas e mortas em câmaras de 
gás.
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARAESTUDO DA ANTROPOLOGIA
15
FIGURA 4 - HOLOCAUSTO JUDEU
FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/
search?q=bosnia+kosovo&espv=2&biw=1280&bih=894&source=
lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiZqY7v0r_
PAhUJgJAKHWlhB5UQ_AUICCgD#tbm=isch&q=holocausto&imgrc=g0caTTAE0YN5jM%3A>. 
Acesso em: 4 nov. 2016.
Recentemente, Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia, liderou uma 
guerra civil, em que bósnios e kosovares foram dizimados, causando um verdadeiro 
genocídio. Já citamos aqui também o processo da escravidão dos africanos, nas 
Américas e Europa, onde os escravizados eram sequestrados de suas regiões na 
África e, ao chegar nas colônias, eram batizados com nomes cristãos, pois eram 
considerados seres sem alma, ou seja, inferiores aos colonizadores. 
Existe uma forma mais sutil de lidar com o outro: mantendo a alteridade, 
porém esta é pretexto para oprimi-lo. 
A diferença torna-se título que legitima a dominação e exploração, já 
que demonstra uma degradação da condição humana; por isso, merece 
um estatuto de inferioridade e de discriminação. Por exemplo, maior 
esforço na produção, menor fatia na distribuição, privação do poder 
decisório; não ter a plenitude dos direitos do cidadão; ser considerado 
como objeto e não como sujeito da história (PAULO, 2006, p. 13).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
16
Vejamos alguns exemplos de ideologias etnocêntricas:
• Grandes navegações: Supremacia cristã, em que Deus era o único a ser venerado. 
Durante as expedições ao Novo Mundo, costumes e rituais que não eram 
cristãos, o demônio era retirado das pessoas pagãs. 
• Época das luzes: A desqualificação do outro se dá pelo “atraso” em relação 
à civilização ocidental, devido ao triunfo do racionalismo e do cientificismo. 
Desejava-se expandir a “cultura” e o progresso sobre os continentes bárbaros. 
Inúmeras barbáries em prol do progresso foram realizadas, destruições de 
culturas, pilhagem econômica, opressão política e massacres.
• Racismo: Formulado com conceitos científicos, onde a raça branca era superior 
às demais, que situavam entre os primatas superiores e o homem europeu, onde 
se entende a Europa como centro (eurocentrismo). Veremos mais sobre racismo 
na Unidade 3.
• Evolucionismo cultural: Prega que o europeu ou o wasp americano ocupe o 
lugar mais alto da cultura, ou seja, é aquele em que a sociedade e a cultura 
europeia são as mais evoluídas. A cultura é vista em etapas, todas caminharão 
para a evolução, que no caso seria a visão europeia de cultura. Deste modo, 
os “civilizados” controlariam as populações selvagens, bárbaras ou primitivas, 
até que possam alcançar a evolução cultural ou maturidade cultural, conduzida 
pelos europeus.
5 O DISTANCIAMENTO, O ESTRANHAMENTO E A ALTERIDADE
O antropólogo, ao investir em uma nova pesquisa, desenvolve algumas 
formas de analisar seus objetivos. Nas primeiras sociedades estudadas houve um 
contato direto com os nativos, os antropólogos faziam uma espécie de imersão 
no contexto estudado. Distanciavam-se de suas realidades e aproximavam-se dos 
locais e pessoas pesquisados, contudo, deveriam fazer o exercício de distanciamento 
inúmeras vezes para que pudessem analisar, com certa neutralidade, os dados 
coletados. O estranhamento, a perplexidade ao deparar-se com o não conhecido foi 
fundamental para o exercício do fazer etnográfico antropológico. Estranhar leva à 
modificação do “olhar” que temos sob a cultura do outro e também a nossa. “[...] 
presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas míopes 
quando se trata da nossa” (LAPLANTINE, 2000, p. 21).
Distanciar, estranhar e compreender o outro a partir de suas especificidades, 
a partir de suas peculiaridades e diferenças, ou seja, exercer a alteridade é o 
exercício inicial para compreender a antropologia e suas reflexões. A experiência 
da alteridade pode nos fazer “ver” que não teríamos condições de imaginar, devido 
a nossa dificuldade em prestar atenção no que é habitual, familiar e cotidiano, e, é 
claro, o que é evidente. O conhecimento antropológico de nossa cultura perpassa 
pelo conhecimento de outras culturas, deste modo percebemos que não somos a 
única cultura que existe, e nem a “mais correta” ou “ética”, nossa cultura pode ser 
possível entre tantas existentes.
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
17
 Gilberto Velho (1987, p. 126), no texto “Observando o familiar”, relata o 
exercício de estranhar o familiar.
O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar, mas não é 
necessariamente conhecido, e o que não vemos e encontramos pode ser 
exótico, mas, até certo ponto, conhecido. No entanto, estamos sempre 
pressupondo familiaridades e exotismo como fontes de conhecimento 
ou desconhecimento, respectivamente. 
Praticar o exercício de integração, empatia, talvez possa ajudar neste 
processo de tornar o desconfortável em “menos desconfortável”, pois acreditamos 
que ao tornar-se confortável demais, alguns olhares de pesquisadores perdem-se. 
Para melhor compreender o conceito e desenvolvimento da xenofobia, segue um 
texto para reflexão.
6 A XENOFOBIA E SUA LIGAÇÃO COM O ETNOCENTRISMO
Ao decorrer das gerações, alguns grupos étnicos se elevaram em relação 
a outros menos favorecidos economicamente e tecnologicamente. Com a 
ascensão e o poder destes grupos, demais etnias e culturas começaram a ser 
menosprezadas, tornadas como ridículo ou motivo de ódio.
Tomando como base a realidade atual mundial, podemos fazer uma 
analogia e dizer que o povo europeu é um destes membros opressores que se 
mantém nessa posição etnocentrista. Com vários países europeus possuindo 
partidos políticos que visam o favorecimento da “população nacional”, começa 
a ocorrer o surgimento agrupado de xenófobos organizados, na qual por 
muitas vezes se manifestam contrários, publicamente, acerca de imigrantes ou 
descendentes desses. (No caso europeu, principalmente muçulmanos).
Em um mundo tão moderno como o atual, é incrível ainda ouvir pessoas 
discutindo sobre superioridade de tal nação tendo como critérios sua cultura, 
características físicas e afins, já que além de ser uma ação puramente etnocentrista 
e sem fundamentos, esses comentários “a la Gobineau” muitas vezes servem 
apenas para que o indivíduo agressor se autoafirme. Mas mesmo assim, é visível 
que um grande número de pessoas ainda tenha essas atitudes.
É interessante notar que a ideia de xenofobia não se restringe apenas 
para imigrantes, mas também migrantes – pessoas da própria nação. Tomando 
o Brasil como exemplo, infelizmente é comum encontrar – principalmente 
por meios digitais como a internet – indivíduos que difamam pessoas de 
outros estados e regiões, por exemplo, o Acre e todo o Nordeste. No programa 
Fantástico, exibido pela Rede Globo, em um dos episódios do quadro “Vai 
fazer o quê?”, foi encenado um ataque xenofóbico entre uma paulista contra 
uma vendedora de pipoca de origem nordestina com o objetivo de ver a reação 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
18
do público. Eticamente houve pessoas que declararam à paulista sua repulsa 
pelo que ela fizera. Assim, felizmente mostrando que o xenofobismo não é uma 
atitude exercida por toda a população. 
Em contrapartida, um fato real ocorreu em Porto Alegre, RS, o qual teve 
grande repercussão por causa de um vídeo gravado por um brasileiro agredindo 
a imagem de imigrantes haitianos que exerciam seus trabalhos em um posto 
de abastecimento. Perante entrevista para o programa CQC, ao ser questionado 
pelo repórter, o xenófobo fica sem argumentos para se explicar acerca do que 
fizera, mostrando incapacidade de sustentar sua defesa.
Concluindo, a xenofobia é um grave problema social, que, se analisado, 
ocorre em maior escala em países desenvolvidos, onde os indivíduos sentem-se 
ameaçados de certa forma porpovos diferentes. Essa aversão a estrangeiros, 
contudo, é inexplicável, já que com um mundo globalizado que pertencemos, 
até mesmo o país onde vive o xenófobo, ao longo dos tempos, recebeu certa 
influência estrangeira. 
FONTE: Disponível em: <http://www.geledes.org.br/xenofobia-e-sua-ligacao-com-o-
etnocentrismo/#ixzz4EmzKXgNX>. Acesso em: 18 jul.2016.
LEITURA COMPLEMENTAR
A DIVERSIDADE CULTURAL: ALGUMAS REFLEXÕES
Fragmento do texto currículo e diversidade cultural, 
de Nina Lino Gomes
O ser humano se constitui por meio de um processo complexo: somos 
ao mesmo tempo semelhantes (enquanto gênero humano) e muito diferentes 
(enquanto forma de realização do humano ao longo da história e da cultura). 
Podemos dizer que o que nos torna mais semelhantes enquanto gênero humano é 
o fato de todos apresentarmos diferenças: de gênero, raça/etnia, idades, culturas, 
experiências, entre outros. E mais: somos desafiados pela própria experiência 
humana a aprender a conviver com as diferenças. O nosso grande desafio está 
em desenvolver uma postura ética de não hierarquizar as diferenças e entender 
que nenhum grupo humano e social é melhor ou pior do que outro. Na realidade, 
somos diferentes. Ao discutir a diversidade cultural, não podemos nos esquecer 
de pontuar que ela se dá lado a lado com a construção de processos identitários. 
Assim como a diversidade, a identidade, enquanto processo, não é inata. Ela se 
constrói em determinado contexto histórico, social, político e cultural. Jacques 
d’Adesky (2001, p. 76) destaca que a identidade, para se constituir como realidade, 
pressupõe uma interação. A ideia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, 
é intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em decorrência de sua ação. 
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
19
Assim como a diversidade, nenhuma identidade é construída no 
isolamento. Ao contrário, ela é negociada durante a vida toda dos sujeitos por 
meio do diálogo, parcialmente exterior, parcialmente interior, com os outros. 
Tanto a identidade pessoal quanto a identidade social são formadas em diálogo 
aberto. Estas dependem de maneira vital das relações dialógicas com os outros. 
A diversidade cultural varia de contexto para contexto. Nem sempre aquilo que 
julgamos como diferença social, histórica e culturalmente construída recebe a 
mesma interpretação nas diferentes sociedades. Além disso, o modo de ser e de 
interpretar o mundo também é variado e diverso. Por isso, a diversidade precisa ser 
entendida em uma perspectiva relacional. Ou seja, as características, os atributos 
ou as formas “inventadas” pela cultura para distinguir tanto o sujeito quanto 
o grupo a que ele pertence dependem do lugar por eles ocupado na sociedade 
e da relação que mantêm entre si e com os outros. Não podemos esquecer que 
essa sociedade é construída em contextos históricos, socioeconômicos e políticos 
tensos, marcados por processos de colonização e dominação. Estamos, portanto, 
no terreno das desigualdades, das identidades e das diferenças. 
Trabalhar com a diversidade na escola não é um apelo romântico do 
final do século XX e início do século XXI. Na realidade, a cobrança hoje feita em 
relação à forma como a escola lida com a diversidade no seu cotidiano, no seu 
currículo, nas suas práticas faz parte de uma história mais ampla. Tem a ver com 
as estratégias por meio das quais os grupos humanos considerados diferentes 
passaram cada vez mais a destacar politicamente as suas singularidades, cobrando 
que as mesmas sejam tratadas de forma justa e igualitária, desmistificando a 
ideia de inferioridade que paira sobre algumas dessas diferenças socialmente 
construídas e exigindo que o elogio à diversidade seja mais do que um discurso 
sobre a variedade do gênero humano. Ora, se a diversidade faz parte do acontecer 
humano, então a escola, sobretudo a pública, é a instituição social na qual as 
diferentes presenças se encontram. Então, como essa instituição poderá omitir 
o debate sobre a diversidade? E como os currículos poderiam deixar de discuti-
la? Mas o que entendemos por currículo? Segundo Antonio Flávio B. Moreira e 
Vera Maria Candau (2006, p. 86), existem várias concepções de currículo, as quais 
refletem variados posicionamentos, compromissos e pontos de vista teóricos. As 
discussões sobre currículo incorporam, com maior ou menor ênfase, debates sobre 
os conhecimentos escolares, os procedimentos pedagógicos, as relações sociais, os 
valores e as identidades dos nossos alunos e alunas. 
Os autores se apoiam em Silva (1999), ao afirmarem que, em resumo, 
as questões curriculares são marcadas pelas discussões sobre conhecimento, 
verdade, poder e identidade. Retomo, aqui, uma discussão já realizada em outro 
texto (GOMES, 2006, p. 31-2). O currículo não está envolvido em um simples 
processo de transmissão de conhecimentos e conteúdos. Possui um caráter político 
e histórico e também constitui uma relação social, no sentido de que a produção 
de conhecimento nele envolvida se realiza por meio de uma relação entre pessoas. 
Segundo Tomaz Tadeu da Silva (1995, p. 194), o conhecimento, a cultura e o 
currículo são produzidos no contexto das relações sociais e de poder. Esquecer 
esse processo de produção – no qual estão envolvidas as relações desiguais de 
poder entre grupos sociais – significa reificar o conhecimento e reificar o currículo, 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
20
destacando apenas os seus aspectos de consumo e não de produção. Ainda 
segundo esse autor, mesmo quando pensamos no currículo como uma coisa, como 
uma listagem de conteúdos, por exemplo, ele acaba sendo, fundamentalmente, 
aquilo que fazemos com essa coisa, pois, mesmo uma lista de conteúdos não teria 
propriamente existência e sentido, se não se fizesse nada com ela. Nesse sentido, o 
currículo não se restringe apenas a ideias e abstrações, mas a experiências e práticas 
concretas, construídas por sujeitos concretos, imersos em relações de poder. 
 Currículo pode ser considerado uma atividade produtiva e possui um 
aspecto político que pode ser visto em dois sentidos: em suas ações (aquilo que 
fazemos) e em seus efeitos (o que ele nos faz). Também pode ser considerado 
um discurso que, ao corporificar narrativas particulares sobre o indivíduo e a 
sociedade, participa do processo de constituição de sujeitos (e sujeitos também 
muito particulares). Sendo assim, as narrativas contidas no currículo, explícita 
ou implicitamente, corporificam noções particulares sobre conhecimento, sobre 
formas de organização da sociedade, sobre os diferentes grupos sociais. Elas 
dizem qual conhecimento é legítimo e qual é ilegítimo, quais formas de conhecer 
são válidas e quais não o são, o que é certo e o que é errado, o que é moral e o que 
é imoral, o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio, quais vozes são 
autorizadas e quais não o são (SILVA, 1995, p. 195). A produção do conhecimento, 
assim como sua seleção e legitimação, está transpassada pela diversidade. 
Não se trata apenas de incluir a diversidade como um tema nos currículos. As 
reflexões do autor nos sugerem que é preciso ter consciência, enquanto docentes, 
das marcas da diversidade presentes nas diferentes áreas do conhecimento e no 
currículo como um todo: ver a diversidade nos processos de produção e de seleção 
do conhecimento escolar. O autor ainda adverte que as narrativas contidas no 
currículo trazem embutidas noções sobre quais grupos sociais podem representar 
a si e aos outros e quais grupos sociais podem apenas ser representados ou até 
mesmo serem totalmente excluídos de qualquer representação. Elas, além disso, 
representam os diferentes grupos sociais de forma diferente: enquanto as formas 
de vida e a cultura de alguns grupos são valorizadas e instituídas como cânone, as 
de outros são desvalorizadas eproscritas. 
Assim, as narrativas do currículo contam histórias que fixam noções 
particulares de gênero, raça, classe – noções que acabam também nos fixando em 
posições muito particulares ao longo desses eixos (de autoridade) (SILVA, 1995, 
p. 195). A perspectiva de currículo acima citada poderá nos ajudar a questionar a 
noção hegemônica de conhecimento que impera na escola, levando-nos a refletir 
sobre a tensa e complexa relação entre esta noção e os outros saberes que fazem 
parte do processo cultural e histórico no qual estamos imersos. Podemos indagar 
que histórias as narrativas do currículo têm contado sobre as relações raciais, os 
movimentos do campo, o movimento indígena, o movimento das pessoas com 
deficiência, a luta dos povos da floresta, as trajetórias dos jovens da periferia, 
as vivências da infância (principalmente a popular) e a luta das mulheres? São 
narrativas que fixam os sujeitos e os movimentos sociais em noções estereotipadas 
ou realizam uma interpretação emancipatória dessas lutas e grupos sociais? 
Que grupos sociais têm o poder de se representar e quais podem apenas ser 
representados nos currículos? Que grupos sociais e étnico/raciais têm sido 
TÓPICO 1 | CONCEITOS INICIAIS PARA ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
21
historicamente representados de forma estereotipada e distorcida? Diante das 
respostas a essas perguntas, só nos resta agir, sair do imobilismo e da inércia e 
cumprir a nossa função pedagógica diante da diversidade: construir práticas 
pedagógicas que realmente expressem a riqueza das identidades e da diversidade 
cultural presente na escola e na sociedade. Dessa forma poderemos avançar na 
superação de concepções românticas sobre a diversidade cultural presentes nas 
várias práticas pedagógicas e currículos.
DICAS
Para um melhor aprendizado, sugerimos que assista ao filme “ELE ESTÁ DE VOLTA” 
(2015). Na trama baseada no livro Ele Está de Volta, de Timur Vermes, Hitler acorda de um longo 
sono na Berlim de 2011. Completamente perdido, é confundido com um imitador perfeito, 
torna-se celebridade instantânea e ganha um programa de televisão! Dirigido por David 
Wnendt (Feuchtgebiete), o longa tem cenas filmadas com câmeras escondidas durante uma 
espécie de turnê que a equipe fez com Oliver devidamente caracterizado. Foram nessas 
interações que as pessoas se mostraram mais simpáticas com o político, o que estarreceu o 
ator principal.
FONTE: Disponível em <http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-116517/>. 
Acesso em: 18 jul. 2016.
22
Neste tópico você viu que:
• A antropologia tem origem na Europa. O surgimento da sociologia e da 
antropologia deve-se a uma série de mudanças políticas, sociais e econômicas do 
cenário daquela época.
• Os três temas da antropologia são: Antropologia pragmática, “conhecer outros 
povos para explorá-los” (linha evolucionista); Antropologia romântica, que tenta 
proteger o povo conquistado do contato e absorção pela civilização dominadora; 
e a antropologia científica, sendo estudada na linha funcionalista e estruturalista 
– social e cultural.
• A cultura, segundo Clifford Geertz, é um sistema de teias de significados que foi 
tecido pelo próprio homem. A cultura não seria uma ciência experimental, mas 
uma ciência interpretativa à procura de um significado.
• Para Franz Boas, cultura era um todo integrado, e não um conjunto desagregado 
de práticas, hábitos, técnicas, relações e pensamentos.
• Etnocentrismo, segundo Sumner (1906), “é o termo técnico para a visão das 
coisas segundo a qual nosso próprio grupo é o centro de todas as coisas e todos os 
outros grupos são medidos e avaliados em relação a ele.
• Xenofobia é o ato de repudiar, hostilizar e/ou odiar estrangeiros, fundamenta-se 
em fatores sociais, culturais, raciais, religiosos, históricos etc.
• Quando a cultura se sobrepõe como fator de superioridade a outra, estamos 
contribuindo para um olhar preconceituoso e xenófobo, produzindo estereótipos 
que podem violentar uma cultura e um povo de diversas formas.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
1. Ao ler esta unidade, convidamos você a relacionar exemplos de 
situações/fatos/ações etnocêntricas e xenofóbicas. Identifique-
as também no seu cotidiano.
AUTOATIVIDADE
2. Disserte sobre o conceito de cultura a partir da concepção de Franz Boas e 
Tylor.
24
25
TÓPICO 2
O QUE É ANTROPOLOGIA?
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Muito frequentemente surge o questionamento acerca do que é a 
antropologia, e logo surge no imaginário algo bem primário, como a imagem 
de uma pessoa vestida com roupas estilo safári ou como Indiana Jones. Primeira 
informação a se saber sobre antropologia é: NÃO! Escavadores de túmulos ou 
cavadores da arca perdida, assim como paleontólogos ou arqueólogos, não são 
ANTROPÓLOGOS! De acordo com Rafael José dos Santos (2005, p. 17), no livro 
Antropologia para quem não vai ser antropólogo, a antropologia é:
Antropologia pode ser pensada como um conjunto de teorias (nem 
sempre concordantes) e diferentes métodos e técnicas de pesquisa que 
buscam explicar, compreender ou interpretar as mais diversas práticas 
dos homens e mulheres em sociedade. 
Para que estas teorias sejam desenvolvidas, os antropólogos realizam 
pesquisas de campo onde, através da participação direta com seus “objetos” de 
pesquisa, retiram dados para que possam ser analisados e refletidos, surgindo 
assim novas teorias antropológicas.
De acordo com Hoebel e Frost (apud MARCONI; PRESOTTO, 2010), 
antropologia é uma ciência da humanidade e da cultura. Seria uma ciência 
superior social e comportamental, em sua relação com as artes, é também uma 
disciplina humanística, devido ao fato do antropólogo comunicar os modos de 
viver de povos ou grupos sociais específicos. Para responder ao que é o homem, ou 
os seres humanos, a antropologia ramifica-se em algumas dimensões: a biológica, 
com a antropologia física; a dimensão sociocultural, com a antropologia social e/
ou cultural, e a dimensão filosófica, com a antropologia filosófica. É uma ciência 
polarizadora, e necessita da colaboração de outras áreas do saber, porém mantém 
sua essência, seu foco é o estudo do homem e da cultura.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
26
FIGURA 5 - O QUE É ANTROPOLOGIA?
FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/
search?q=antropologia&espv=
2&biw=1280&bih=899&site=webhp&source=lnms&tbm
=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiQhfLs0YTLAhUHFZAKHR62AAoQ_
AUIBigB>. Acesso em: 10 fev. 2016. 
2 CAMPOS INICIAIS DA ANTROPOLOGIA
Durante muito tempo a antropologia foi considerada a história natural física 
do homem e seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Deste modo, houve uma 
restrição em seu campo de estudos, o que privilegiaria a antropometria, ciência 
que trata das mensurações do homem fóssil e dos seres vivos. A antropologia 
desempenha um papel muito maior no estudo dos seres humanos, definindo, 
assim, uma ciência que estuda suas produções e seus comportamentos. 
Enquanto uma espécie (o homem) que se caracteriza pela formação 
de grupos sociais, agrupamentos de indivíduos que compartilham de 
uma mesma história e de uma mesma visão de mundo, e que definem 
regras de comportamento, convivência e sobrevivência. O conjunto 
dessas regras é o que se convencionou chamar de CULTURA. Então, 
todo grupo social, ou sociedade, possui uma cultura que, como já foi 
dito, define a visão que seus indivíduos têm do mundo em que vivem, 
definindo formas de atuarem sobre ele. Todo grupo social é também 
um grupo cultural; toda sociedade possui a sua cultura particular 
(PASSADOR, 2002, p. 1).
Preocupa-se em revelar os fatos da natureza e da cultura, interessa-se pelo 
homem biológico e o ser cultural existente neste homem. Na busca de compreender 
a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço-tempo, identifica 
também a compreensão dasmanifestações culturais, do comportamento e da vida 
social.
TÓPICO 2 | O QUE É ANTROPOLOGIA?
27
As questões sobre o homem sempre foram frequentes. Este sempre foi 
objeto de atenções. Alguns homens teóricos “inventaram” modelos elaborados 
em “casa”. Os famosos antropólogos de gabinete, como bem veremos na Unidade 
2. Analisar o homem de forma antropológica se dá através de uma abordagem 
integrativa, objetivando a observação das inúmeras dimensões do ser humano em 
seu grupo social.
Ao efetivar a coleta de dados e desenvolver formas de investigação, o 
antropólogo aprende que seu fazer se dá nas correlações que realiza em seus e 
com seus campos de investigações. Ele não os separa totalmente, a fim de poder 
visualizar todos os ângulos de seu objeto. Neste sentido, o antropólogo relaciona-
se com cinco áreas. Vamos conhecê-las?
Antropologia biológica ou física: Tem sua atenção nas relações entre o 
patrimônio genético e o meio (geográfico, ecológico, social). Esta área atenta para 
as particularidades morfológicas e fisiológicas ligadas a um meio ambiente, assim 
como observa a evolução destas particularidades.
O antropólogo biologista estará atento aos fatores culturais que influenciam 
o crescimento e a maturação do indivíduo. Esta área é importante para manter a 
comunicação entre as ciências biológicas e as ciências humanas.
Antropologia pré-histórica: é o estudo do homem através dos vestígios 
materiais enterrados nos solos. Integra-se à arqueologia, busca reconstituir as 
sociedades desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais, quanto 
suas produções culturais e artísticas. 
Antropologia linguística: É o estudo dos dialetos, e também das novas 
técnicas modernas de comunicação. O estudo da língua busca compreender como 
os homens pensam, o que vivem e o que sentem, analisam-se suas categorias 
psicoativas e psicocognitivas (etnolinguística). 
“Compreendemos também como os homens expressam o universo 
e o social” (LAPLANTINE, 2000, p. 18), através do estudo da literatura, com a 
tradição oral. Assim, compreendemos com a antropologia linguística como são 
interpretados seu próprio saber e saber-fazer, as chamadas etnociências.
Antropologia psicológica: É o estudo dos processos e do funcionamento 
do psiquismo humano. Através da análise de comportamentos, conscientes ou 
inconscientes, dos homens em seus grupos sociais, é que podemos apreender esta 
totalidade. A dimensão psicológica é absolutamente indissociável do campo da 
antropologia, ela é parte integrante destes estudos.
Antropologia social e cultural: É o estudo que está relacionado a “tudo” 
que constitui uma sociedade. “Seus modos de produção econômica, suas técnicas, 
sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA
28
conhecimentos, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas criações 
artísticas” (LAPLANTINE, 2000, p. 19).
A antropologia social e cultural procura compreender, de acordo com 
Levi Strauss, “o que os homens não pensam habitualmente em fixar na pedra 
ou no papel” (LAPLANTINE, 2000). Os gestos, as trocas simbólicas, os detalhes 
dos comportamentos, fazem com que a antropologia social e cultural tenha uma 
abordagem fundamentalmente diferente dos métodos utilizados pelos colegas 
geógrafos, economistas, juristas, sociólogos, psicólogos etc. Trabalha-se com o 
estudo de todas as sociedades humanas, das culturas da humanidade em suas 
diversidades históricas e geográficas.
Inicialmente, a antropologia atribuiu como seu objeto de estudo as 
populações não ocidentais, que seriam as chamadas sociedades primitivas. Com 
o avanço da evolução social, o universo dos “selvagens” desaparece, assim o 
antropólogo depara-se com uma crise de identidade: seria o fim da antropologia?
Neste momento, o antropólogo reflete sobre seu fazer, retoma seus 
contatos com as ciências humanas e reencontra a sociologia, a partir da sociologia 
comparada. Deste modo, busca-se uma nova área de investigação: o camponês, o 
nativo que estava mais perto do que se imaginara. Ao voltar sua atenção para sua 
prática, compreende que a especificidade de seu fazer não está apenas no objeto 
empírico o selvagem, o camponês, mas sim em uma abordagem epistemológica 
constituinte. A antropologia constitui-se no enfoque que trabalhamos ao efetivar o 
“estudo do homem inteiro e o estudo do homem em todas as sociedades, sob todas 
as latitudes e todos os seus estados em todas as épocas” (LAPLANTINE, 2000, p. 
16). 
Para aprofundar seus conhecimentos sobre as linhagens antropológicas, 
segue texto para reflexão, de autoria de Mariza Peirano.
LINHAGENS ANTROPOLÓGICAS
Mariza G. S. Peirano
É sobre a tensão entre o presente teórico e a história da disciplina que a tradição 
da antropologia se transmite, resultando que, no processo de formação, cada 
iniciante estabelece sua própria linhagem como inspiração, de acordo com 
preferências que são teóricas, mas também existenciais, políticas, às vezes, 
estéticas e mesmo de personalidade. Assim, além dos clássicos Durkheim, Marx 
e Weber, que ensinarão a postura sociológica, o antropólogo em formação entra 
em contato com uma verdadeira árvore genealógica de autores consagrados (e 
outros malditos), na qual construirá uma linhagem específica sem desconhecer 
a existência de outras. Na antropologia, as linhagens disciplinares são tão 
importantes que se pode imaginar que, sem elas, o antropólogo não tem lugar na 
comunidade de especialistas. Mas, como ocorre até nas mais rígidas linhagens 
TÓPICO 2 | O QUE É ANTROPOLOGIA?
29
africanas, as mudanças são aceitas e, neste caso, vistas como ‘conversão’. Este 
foi o caso de Marshall Sahlins que, partindo de uma vertente economista-
ecológica, se converteu ao estruturalismo, como o atestam as mudanças de Stone 
age economics (1972) para Cultura e razão prática (1979) ou Ilhas da história (1990).
 Nesse processo de transição disciplinar, o conhecimento etnográfico a respeito de 
várias sociedades e culturas se enriquece. Isso significa que um antropólogo bem 
formado teoricamente é um antropólogo bem informado etnograficamente. Para 
alguns, este treinamento através da literatura permite que, hoje, o antropólogo 
prescinda da pesquisa de campo em sociedade desconhecida antes de confrontar 
a sua própria; para outros, trata-se da surpresa de descobrir-se subitamente com 
capacidades inesperadas, como a de reconhecer as diferenças estéticas entre uma 
máscara Iatmul da Nova Guiné, de outra dos Kwakiutl do Noroeste da América 
do Norte, ou dos Bororo do Brasil Central, através da leitura de Bateson, Boas e 
Lévi-Strauss. Mas o fato mais marcante talvez seja o seguinte: a transmissão de 
conhecimento e a formação de novos especialistas através dos processos pelos 
quais se deu o refinamento de conceitos, mas mantiveram-se os problemas – 
favorece uma prática na qual os autores nunca são propriamente ultrapassados. 
Nomes conhecidos, que um dia foram criticados e combatidos, frequentemente 
são incorporados nas gerações seguintes porque, relidos, revelam riquezas 
antes desconhecidas. Este mecanismo de incorporação de autores, que marca 
a disciplina, talvez se explique como um culto a ancestrais: embora raramente 
se encontre hoje um especialista que se autodefina como um estruturalista 
stricto senso, também dificilmente um antropólogo deixa de incluir vários dos 
princípios do estruturalismo na sua prática disciplinar. O mesmo talvez possa 
ser dito a respeito de todos os fundadores de linhagens, num mecanismo que 
não respeita fronteiras: aqui no Brasil, Darcy Ribeiro incorporou Herbert Baldus, 
que foi incorporado, junto com Florestan Fernandes, por Roberto Cardoso de 
Oliveira, e assim sucessivamente. (O reconhecimento das filiações é, contudo, 
muito menos explicitado do que no

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