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MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO A etimologia da palavra Puericultura, oriunda do latim, já nos aponta a sua significação ampla, dado que, “puer” significa criança e “cultus/cultura” significa criação ou cuidados dispensados a alguém. Devemos entender a Puericultura essencialmente como o conhecimento e a prática visando a prevenção de doenças e a promoção da saúde humana, da concepção ao final da adolescência. Fases para as consultas: • Lactente: 0 a 2 anos • Pré-escolar: 2 aos 6 anos • Escolar: 6 a 10 • Adolescente: 10 a 19 A Puericultura é fundamentalmente Pediatria Preventiva, que só se realiza com forte componente de educação recíproca entre crianças, seus familiares e o pediatra, além de toda a equipe de saúde e a comunidade. A meta e a tarefa da Puericultura são precisamente afastar, tanto quanto possível, todas as influências negativas sobre a criança e ao adolescente, mantendo- os eutróficos e hígidos, com desenvolvimento saudável e pleno de suas potencialidades, chegando à idade adulta com saúde e qualidade de vida. Desta forma, cuidando da saúde das crianças, estaremos cuidando da saúde do adulto que ela será. A Puericultura, entendida no seu sentido correto pode, a rigor, ser aplicada durante a gestação, no acompanhamento pré-natal, ou até mesmo antes da concepção, no aconselhamento genético. O pediatra deve atuar mesmo na ausência de doenças e evidentemente com o intuito de preveni-las e de elevar o nível de saúde e qualidade de vida do seu paciente. Deve-se procurar sempre fortalecer a sua autoestima e o vínculo mãe-filho, não restringindo o tempo na orientação materna e nem reforços positivos quando de seus sucessos, desta forma a mãe, sentindo-se segura e valorizada, certamente terá suavizado e esclarecido o seu papel, o que levará a benefícios para a criança que, afinal, é o centro de toda a questão. Ao final das consultas deve ser dado o diagnóstico de normalidade de cada critério da puericultura: • Crescimento • Estado nutricional • Vacinação • Alimentação • Desenvolvimento psicomotor • Ambiente físico e emocional Logo após o nascimento, a maternidade deverá notificar a Secretaria Municipal de Saúde através de email, informando as altas do dia da mãe e da criança, assim, após o 1° dia útil, o ACS ou o técnico/auxiliar de enfermagem devem comparecer no domicílio, para promover a captação precoce do RN e outras avaliações na puérpera e no bebê. No 5° dia após o nascimento, o bebê deve ser levado à USF para ter sua 1° consulta, sendo necessário o acolhimento e orientação da família. Nesse dia se inicia o preenchimento do cartão da criança, além das avaliações de anamnese e exames descritos a seguir. Todo o atendimento prestado à criança deve ser registrado na carteira de saúde da criança, preenchido os gráficos de acompanhamento de peso, altura e informado ao cuidador as condições de saúde da criança. É necessário estratificar o risco da criança para que se tenha um melhor acompanhamento e monitorização daquelas que mais necessitam. RISCO HABITUAL Toda criança que não apresentar condições ou patologias que evidenciam algum risco. RISCO INTERMEDIÁRIO • Filhos de mãe negra e indígena; • Filhos de mãe com menos de 15 anos ou mais de 40 anos; MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO • Filhos de mães analfabetas ou com menos de 3 anos de estudos; • Filhos de mães com menos de 20 anos com 1 filho morto anteriormente; • Filhos de mães com menos de 20 anos e mais de 3 partos; • Filhos de mães que morreram no parto/puerpério. ALTO RISCO • Asfixia grave (Apgar < 7 no 5º minuto de vida); • Baixo peso ao nascer; • Desnutrição grave; • Crescimento e/ou desenvolvimento inadequados; • Presença de doenças de transmissão vertical (toxoplasmose, sífilis, HIV) e triagem neonatal positiva. • Na 1° ou 2° semana de vida • Mensal até 6 meses • Trimestral até 2 anos • Semestral até os 5 anos • Anual até os 19 anos A anamnese completa é feita, principalmente, na 1° consulta, visto que nas consultas subsequentes tudo estará documentado no prontuário. A partir da anamnese, procura-se avaliar principalmente as condições do nascimento da criança: • Tipo de parto • Local do parto • Peso ao nascer • Idade gestacional • Índice de Apgar • Intercorrências clínicas na gestação, no parto, no período neonatal e nos tratamentos realizados E busca-se também os antecedentes familiares: • As condições de saúde dos pais e dos irmãos • O número de gestações anteriores • O número de irmãos Nas consultas subsequentes deve-se investigar: • Calcular a idade da criança pela data de nascimento em anos, meses e dias e anotar no prontuário • Amamentação/alimentação • Padrão de sono e vigília • Padrão das eliminações • Vacinas em atraso • Possíveis queixas ou dúvidas do cuidador • Principais marcos do desenvolvimento (segura a cabeça? Já senta? Anda? Fala?) • Sexualidade • Exposição às mídias • Desempenho escolar ANTROPOMETRIA Peso: obtido com a criança totalmente despida e o mais imóvel possível, colocada na região central da balança. Existe uma fórmula que pode ser usada para crianças de 3 aos 11 anos: Comprimento: O termo comprimento é usado para determinar o crescimento linear em crianças até dois anos. A partir dos dois anos, usamos o termo altura. A MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO “estatura”, por sua vez faz referência a ambos os termos. Fórmula de crianças dos 3 aos 11 anos: Perímetro craniano: É uma medida que representa o crescimento do cérebro. Nos primeiros meses de vida é muito útil para identificação de desvios do desenvolvimento neurológico. Deve ser feito por cima das orelhas e da sobrancelha. É ESSENCIAL SER FEITO, PELO MENOS ATÉ OS 2 ANOS. Parâmetros: EXAME ESPECÍFICO Pele: observar a presença de edema, palidez, cianose, icterícia. Além disso olhar a elasticidade, coloração, lesões e hidratação. A pele do RN normalmente está, lisa, macia, rósea e opaca. Crânio: examinar as fontanelas em sei tamanho, formato e outras carcaterísticas. Olhos: aspecto e simetria, reflexos visuais, presença de secreção, lacrimejamento, estrabismo, cor da esclera, fotofobia etc. Orelhas e audição: formas, alterações, implantação das orelhas, acuidade auditiva, susto ou direcionamento da cabeça em resposta ao estímulo sonoro. Nariz: inspeção e palpação, pesquisar desvio de septo. Boca: inspeção dos dentes e gengivas, face interna das bochechas, língua e palatina, presença de hiperemia, integridade da mucosa e palato (fenda palatina ou labial) e outras alterações. Pescoço: inspeção e palpação de gânglios, rigidez de nuca. Tórax: forma, simetria, deformidades, sinais de raquitismo e mamilos. Pulmão: percussão e ausculta, expansibilidade torácica, ritmo, uso de músculos. Coração: ausculta de frequência, intensidade, ritmo e qualidade do batimento; presença de cianose e edema. Abdome: presença de hiperemia e secreção no coto umbilical (mumificação completa entre o 7º e o 15º dia de vida), alterações globais de forma, volume e abaulamento, presença de hérnias umbilicais, inguinais e ventrais. Observar sinais de alteração na região do fígado e rins (percutir, auscultar e realizar palpação superficial e profunda), observar presença de dor e rigidez. Genitália: 1) Meninos: integridade da pele e mucosa, edema, secreção e esmegma, comprimento do pênis, orifício uretral, verificar presença de fimose, testículos na bolsa escrotal ou criptorquidia (condição medica na qual não houve uma descida correta do testículo da cavidade abdominalpara o escroto, geralmente a migração dos testículos ocorre até os 3 meses), presença de hérnias e hidrocele; 2) Meninas: integridade da pele e mucosa, presença dos grandes e pequenos lábios, hímen, edema, secreção vaginal, existência de fistulas. Ânus e reto: pérvio ou presença de fistula ou fissuras. Membros superiores e inferiores: tamanho, simetria, amplitude dos movimentos, deformidades ou malformações, fraturas, presença de massas, linha palmar e plantar, presença de acesso venoso e arterial Coluna vertebral: rigidez, postura, mobilidade e curvatura, espinha bífida, tufos de pelos e hipersensibilidade. MEDIDA DE PRESSÃO ARTERIAL Esse procedimento, normalmente é feito após os 3 anos de idade, sendo que existem os instrumentos do tamanho correto para a criança. Chamamos de desenvolvimento neuropsicomotor o conjunto de todas as reações da criança, todo o seu comportamento que evolui progressivamente ao longo do tempo sob a forma de funções e habilidades cada MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO vez mais específicas. Esses comportamentos da criança, exemplificados por reações, no início são ações reflexas e estereotipadas, e progressivamente tornam-se mais específicas, voluntárias e aprendidas. As bases fisiológicas que explicam esta evolução neuropsicomotora assentam-se no próprio crescimento somático e desenvolvimento (mielinização, formação e remodelamento sinápticos) das vias motoras, sensitivas, sensoriais, de linguagem, raciocínio e memória dos sistemas nervoso central e periférico. ÁREAS/CONDUTAS DE ANÁLISE Estudar o desenvolvimento neuropsicomotor infantil, implica avaliar o ganho de funções e habilidades em 5 grandes áreas ou condutas: 1- Conduta adaptativa: compreende as reações da criança frente aos estímulos apresentados (como cubo, argola, chocalho). Aqui se espera uma resolução de problemas e algum tipo de exploração do objeto apresentado. 2- Conduta motora fina: compreendem as habilidades cada vez mais precisas e específicas com o uso da mão e dedos, garantindo-lhe a exploração cada vez mais delicada do objeto. É muitas vezes estudada juntamente com a conduta adaptativa. Por exemplo, espera-se que um lactente tenha uma pega palmar aos 4 meses, uma pega radial aos 7 meses, e uma pega em pinça (oposição entre o polegar e o indicador) aos 12 meses. 3- Conduta motora grosseira: compreendem as habilidades motoras gerais, como sustentar cabeça, tronco, sentar-se, rolar, engatinhar, andar, pular e assim por diante. Também é uma conduta dependente da interação das vias motoras centrais e periféricas, assim como órgãos dos sentidos especiais e vias de equilíbrio. 4- Conduta de linguagem: referem-se à capacidade de compreender e exprimir sensações e pensamentos. Incluem as reações de comunicação não verbal (ex.: sorriso, riso alto, choro, apontar, expressões faciais) e verbal (sons guturais, balbulcio, lalação, primeiras palavras, frases, histórias). 5- Conduta pessoal-social: referem-se às reações da criança frente às outras pessoas (mãe, pai, examinador, brincadeiras com outras crianças) e frente às situações de vida diária (alimentação, sono, higiene, vestimenta, controle esfincteriano). A sequência do desenvolvimento neuropsicomotor ocorre no sentido céfalo-caudal, proximal-distal e da borda ulnar-borda radial. Por exemplo, o lactente adquire primeiro o controle de cabeça, para depois adquirir o controle de tronco, o sentar, o engatinhar e o andar; primeiro é adquirida a capacidade proximal de levar as mãos à linha média para depois se aprimorar a capacidade de preensão; a pega é palmar ulnar inicialmente, e com a evolução se torna uma pega palmar radial, para depois alcançar o controle mais fino que é o de pega em pinça. REFLEXOS Os reflexos primitivos neonatais são respostas motoras estereotipadas deflagradas por estímulo externo do examinador, e representam as primeiras reações do neonato ao meio. São chamadas “primitivas” porque não são voluntárias ou aprendidas, e estão sob controle de centros subcorticais, tronco encefálico e medula. Possuem um caráter transitório, isto é, estão presentes ao nascimento, mas possuem uma época determinada para desaparecer. O desaparecimento do reflexo primitivo permite o surgimento de uma conduta motora voluntária, aprendida e sob controle cortical, o que é possível fisiologicamente pelo processo de amadurecimento do SNC – e que envolve mielinização e formação de sinapses. • Reflexo de Moro (do “abraço”) Na posição supina (tronco para cima) eleva-se o bebê pelo tronco acima do plano da mesa e repentinamente o solta, apoiando-o em seguida para que não caia. O objetivo é produzir uma extensão rápida do pescoço e cabeça. Obtemos a abdução seguida da adução e flexão das extremidades superiores, flexão do pescoço e choro. MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO VII – NASCIMENTO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Desaparecimento: Aos 3 meses ele desaparece em sua forma “típica” ou completa, conforme descrevemos. Aos seis meses desaparece definitivamente. • Reflexo Tônico Cervical Assimétrico O bebê na posição supina sofre uma rotação da cabeça para um lado por 15 segundos. A resposta esperada é a extensão das extremidades do lado do queixo e flexão das extremidades do lado occipital. Desaparecimento: Aos três-quatro meses. • Reflexo da Preensão Palmar Na posição supina o examinador coloca o dedo na face palmar do bebê. A resposta esperada é a flexão dos dedos e fechamento da mão. Aparecimento: 27 semanas de idade gestacional. Desaparecimento: Aos quatro meses. • Reflexo de Preensão Plantar Na posição supina, o examinador comprime o seu polegar sobre a face plantar, abaixo dos dedos. A resposta é a flexão dos dedos do pé. Desaparecimento: Aos quinze meses. • Reflexo de Galant Coloca-se o bebê em prona, com o tronco apoiado sobre o braço do examinador. Com o dedo da mão contralateral estimula-se a pele do dorso, fazendo um movimento linear vertical que parte do ombro até as nádegas a cerca de 2 cm da coluna. A resposta esperada é a flexão do tronco, com a concavidade virada para o lado estimulado. Desaparecimento: Aos quatro meses. • Reflexo do Apoio Plantar e Marcha Se segura o recém-nascido de pé pelas axilas e ao colocar seus pés apoiados sobre uma superfície, imediatamente ele retificará o corpo e iniciará a marcha reflexa. Desaparecimento: Aos dois meses. • Reflexo de Babkin Pressionamos a mão do lactente e o que verificamos é a abertura da boca. • Reflexo de Sucção Ao tocar os lábios de um lactente com o cotonete, verificamos movimentos de sucção. Desaparecimento: Entre quatro e seis meses.
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