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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2011 Filosofia Disciplina na modalidade a distância Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus UnisulVirtual – Educação Superior a Distância Reitor Unisul Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Máximo Pró-Reitora Acadêmica Miriam de Fátima Bora Rosa Pró-Reitor de Administração Fabian Martins de Castro Pró-Reitor de Ensino Mauri Luiz Heerdt Campus Universitário de Tubarão Diretora Milene Pacheco Kindermann Campus Universitário da Grande Florianópolis Diretor Hércules Nunes de Araújo Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Diretora Adjunta Patrícia Alberton Secretaria Executiva e Cerimonial Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Marcelo Fraiberg Machado Tenille Catarina Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessoria de Relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessoria DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Carlos Alberto Areias Cláudia Berh V. da Silva Conceição Aparecida Kindermann Luiz Fernando Meneghel Renata Souza de A. Subtil Assessoria de Inovação e Qualidade de EAD Denia Falcão de Bittencourt (Coord) Andrea Ouriques Balbinot Carmen Maria Cipriani Pandini Iris de Sousa Barros Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Felipe Jacson de Freitas Jefferson Amorin Oliveira Phelipe Luiz Winter da Silva Priscila da Silva Rodrigo Battistotti Pimpão Tamara Bruna Ferreira da Silva Coordenação Cursos Coordenadores de UNA Diva Marília Flemming Marciel Evangelista Catâneo Roberto Iunskovski Assistente e Auxiliar de Coordenação Maria de Fátima Martins (Assistente) Fabiana Lange Patricio Tânia Regina Goularte Waltemann Ana Denise Goularte de Souza Coordenadores Graduação Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luísa Mülbert Ana Paula R. Pacheco Arthur Beck Neto Bernardino José da Silva Catia Melissa S. Rodrigues Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Fabiano Ceretta José Carlos da Silva Junior Horácio Dutra Mello Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso Henkes Janaína Baeta Neves Jardel Mendes Vieira Joel Irineu Lohn Jorge Alexandre N. Cardoso José Carlos N. Oliveira José Gabriel da Silva José Humberto D. Toledo Joseane Borges de Miranda Luciana Manfroi Luiz G. Buchmann Figueiredo Marciel Evangelista Catâneo Maria Cristina S. Veit Maria da Graça Poyer Mauro Faccioni Filho Moacir Fogaça Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Fontanella Rogério Santos da Costa Rosa Beatriz M. Pinheiro Tatiana Lee Marques Valnei Carlos Denardin Roberto Iunskovski Rose Clér Beche Rodrigo Nunes Lunardelli Sergio Sell Coordenadores Pós-Graduação Aloisio Rodrigues Bernardino José da Silva Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Ernani Monteiro Will Giovani de Paula Karla Leonora Nunes Leticia Cristina Barbosa Luiz Otávio Botelho Lento Rogério Santos da Costa Roberto Iunskovski Thiago Coelho Soares Vera Regina N. Schuhmacher Gerência Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores (Gerente) Fernanda Farias Secretaria de Ensino a Distância Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Adenir Soares Júnior Alessandro Alves da Silva Andréa Luci Mandira Cristina Mara Schauffert Djeime Sammer Bortolotti Douglas Silveira Evilym Melo Livramento Fabiano Silva Michels Fabricio Botelho Espíndola Felipe Wronski Henrique Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Indyanara Ramos Janaina Conceição Jorge Luiz Vilhar Malaquias Juliana Broering Martins Luana Borges da Silva Luana Tarsila Hellmann Luíza Koing Zumblick Maria José Rossetti Marilene de Fátima Capeleto Patricia A. Pereira de Carvalho Paulo Lisboa Cordeiro Paulo Mauricio Silveira Bubalo Rosângela Mara Siegel Simone Torres de Oliveira Vanessa Pereira Santos Metzker Vanilda Liordina Heerdt Gestão Documental Lamuniê Souza (Coord.) Clair Maria Cardoso Daniel Lucas de Medeiros Eduardo Rodrigues Guilherme Henrique Koerich Josiane Leal Marília Locks Fernandes Gerência Administrativa e Financeira Renato André Luz (Gerente) Ana Luise Wehrle Anderson Zandré Prudêncio Daniel Contessa Lisboa Naiara Jeremias da Rocha Rafael Bourdot Back Thais Helena Bonetti Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Moacir Heerdt (Gerente) Aracelli Araldi Elaboração de Projeto e Reconhecimento de Curso Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Francielle Arruda Rampelotte Extensão Maria Cristina Veit (Coord.) Pesquisa Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Mauro Faccioni Filho(Coord. Nuvem) Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Biblioteca Salete Cecília e Souza (Coord.) Paula Sanhudo da Silva Renan Felipe Cascaes Gestão Docente e Discente Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Capacitação e Assessoria ao Docente Simone Zigunovas (Capacitação) Alessandra de Oliveira (Assessoria) Adriana Silveira Alexandre Wagner da Rocha Elaine Cristiane Surian Juliana Cardoso Esmeraldino Maria Lina Moratelli Prado Fabiana Pereira Tutoria e Suporte Claudia Noemi Nascimento (Líder) Anderson da Silveira (Líder) Ednéia Araujo Alberto (Líder) Maria Eugênia F. Celeghin (Líder) Andreza Talles Cascais Daniela Cassol Peres Débora Cristina Silveira Francine Cardoso da Silva Joice de Castro Peres Karla F. Wisniewski Desengrini Maria Aparecida Teixeira Mayara de Oliveira Bastos Patrícia de Souza Amorim Schenon Souza Preto Gerência de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Márcia Loch (Gerente) Desenho Educacional Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Silvana Souza da Cruz (Coord. Pós/Ext.) Aline Cassol Daga Ana Cláudia Taú Carmelita Schulze Carolina Hoeller da Silva Boeing Eloísa Machado Seemann Flavia Lumi Matuzawa Gislaine Martins Isabel Zoldan da Veiga Rambo Jaqueline de Souza Tartari João Marcos de Souza Alves Leandro Romanó Bamberg Letícia Laurindo de Bonfim Lygia Pereira Lis Airê Fogolari Luiz Henrique Milani Queriquelli Marina Melhado Gomes da Silva Marina Cabeda Egger Moellwald Melina de La Barrera Ayres Michele Antunes Corrêa Nágila Hinckel Pâmella Rocha Flores da Silva Rafael Araújo Saldanha Roberta de Fátima Martins Roseli Aparecida Rocha Moterle Sabrina Bleicher Sabrina Paula Soares Scaranto Viviane Bastos Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letícia Regiane Da Silva Tobal Mariella Gloria Rodrigues Avaliação da aprendizagem Geovania Japiassu Martins (Coord.) Gabriella Araújo Souza Esteves Jaqueline Cardozo Polla Thayanny Aparecida B.da Conceição Gerência de Logística Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente) Logísitca de Materiais Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Abraao do Nascimento Germano Bruna Maciel Fernando Sardão da Silva Fylippy Margino dos Santos Guilherme Lentz Marlon Eliseu Pereira Pablo Varela da Silveira Rubens Amorim Yslann David Melo Cordeiro Avaliações Presenciais Graciele M. Lindenmayr (Coord.) Ana Paula de Andrade Angelica Cristina Gollo Cristilaine Medeiros Daiana Cristina Bortolotti Delano Pinheiro Gomes Edson Martins Rosa Junior Fernando Steimbach Fernando Oliveira Santos Lisdeise Nunes Felipe Marcelo Ramos Marcio Ventura Osni Jose Seidler Junior Thais Bortolotti Gerência de Marketing Fabiano Ceretta (Gerente) Relacionamento com o Mercado Eliza Bianchini Dallanhol Locks Relacionamento com Polos Presenciais Alex Fabiano Wehrle (Coord.) Jeferson Pandolfo Karine Augusta Zanoni Marcia Luz de Oliveira Assuntos Jurídicos Bruno Lucion Roso Marketing Estratégico Rafael Bavaresco Bongiolo Portal e Comunicação Catia Melissa Silveira Rodrigues Andreia Drewes Luiz Felipe Buchmann FigueiredoMarcelo Barcelos Rafael Pessi Gerência de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francini Ferreira Dias Design Visual Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Alice Demaria Silva Anne Cristyne Pereira Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Daiana Ferreira Cassanego Diogo Rafael da Silva Edison Rodrigo Valim Frederico Trilha Higor Ghisi Luciano Jordana Paula Schulka Marcelo Neri da Silva Nelson Rosa Oberdan Porto Leal Piantino Patrícia Fragnani de Morais Multimídia Sérgio Giron (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo Cleber Magri Fernando Gustav Soares Lima Conferência (e-OLA) Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.) Bruno Augusto Zunino Produção Industrial Marcelo Bittencourt (Coord.) Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Maria Isabel Aragon (Gerente) André Luiz Portes Carolina Dias Damasceno Cleide Inácio Goulart Seeman Francielle Fernandes Holdrin Milet Brandão Jenniffer Camargo Juliana Cardoso da Silva Jonatas Collaço de Souza Juliana Elen Tizian Kamilla Rosa Maurício dos Santos Augusto Maycon de Sousa Candido Monique Napoli Ribeiro Nidia de Jesus Moraes Orivaldo Carli da Silva Junior Priscilla Geovana Pagani Sabrina Mari Kawano Gonçalves Scheila Cristina Martins Taize Muller Tatiane Crestani Trentin Vanessa Trindade Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual Palhoça UnisulVirtual 2011 Revisão e atualização de conteúdo Leandro Kingeski Pacheco Design instrucional Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Roseli Rocha Moterle 4ª edição Filosofia Livro didático Leandro Kingeski Pacheco Maria Juliani Nesi Edição – Livro Didático Professores Conteudistas Leandro Kingeski Pacheco Maria Juliani Nesi Revisão e atualização de conteúdo Leandro Kingeski Pacheco Design Instrucional Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Lívia da Cruz Roseli Rocha Moterle (4ª edição) ISBN 978-85-7817-193-3 Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Rafael Pessi Anne Cristyne Pereira (4ª edição) Ilustrações Alex Xavier Revisão Diane Dal Mago Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2011 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 100 P11 Pacheco, Leandro Kingeski Filosofia : livro didático / Leandro Kingeski Pacheco, Maria Juliani Nesi; revisão e atualização de conteúdo Leandro Kingeski Pacheco ; design instrucional Karla LeonoraDahse Nunes, Leandro Kingeski Pacheco, [Lívia da Cruz], Roseli Rocha Moterle. – 4. ed. – Palhoça: UnisulVirtual, 2011. 234 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-193-3 1. Filosofia. 2. Teoria do conhecimento. I. Nesi, Maria Juliani. II. Nunes, Karla Leonora Dahse. III. Cruz, Lívia da. IV. Moterle, Roseli Rocha. V. Título. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 Palavras dos professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 - O sentido primordial da Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 - Lógica? Para que te quero? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 UNIDADE 3 - Algumas ideias sobre a Teoria do Conhecimento . . . . . . . . . 65 UNIDADE 4 - As raízes da Teoria do Conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 UNIDADE 5 - Questões do conhecimento no pensamento moderno e contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 UNIDADE 6 - Ética e moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 UNIDADE 7 - A ética de Aristóteles, de Kant e de Mill . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 UNIDADE 8 - Questões da Ética contemporânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 Sobre os professores conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 225 Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 7 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Filosofia. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz. Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. Palavras dos professores Caro aluno (a), Você está iniciando o estudo da disciplina Filosofia. Com o apoio deste livro didático, você mergulhará no mundo fascinante da Filosofia. Você estudará, basicamente, duas grandes áreas de atuação da Filosofia: a Teoria do Conhecimento e a Ética. Antes de abordar tais saberes, você estudará uma breve caracterização do sentido primordial de Filosofia, assim como da Lógica. Ao estudar o sentido primordial da Filosofia você iniciará os primeiros passos nesta área e conhecerá a autonomia, a reflexão, a crítica e a criatividade como competências que gostaríamos que você desenvolvesse durante o estudo deste livro. Com a Lógica, uma área específica e básica de estudo da Filosofia, você aprenderá a desenvolver algumas estratégias para ler um texto filosófico (ou mesmo textos do cotidiano) ao reconhecer, por exemplo, a estrutura básica do raciocínio. Assim, você poderá se apropriar de valiosos instrumentos para examinar os trechos dos próprios filósofos, utilizados em algumas unidades. Com o estudo da Teoria do Conhecimento você identificará inúmeras respostas acerca de como o conhecimento é constituído. Há mais de 2.500 anos o homem tenta decifrar como ocorre o conhecimento, e essa é uma pergunta básica para o filósofo. Veja que a pergunta é crucial para todas as pessoas, inclusive para você, pois se descobrirmos quais são as nossas limitações e os nossos facilitadores mais expressivos no ato de conhecer, mais fácil e rapidamente aprenderemos. Estudando a ética, você percorrerá alguns caminhos, algumas reflexões que investigaram quais condutas morais devem ser escolhidas pelo homem. Que devemos fazer? Quais condutas 10 Universidade doSul de Santa Catarina morais são corretas ou erradas? E, que critérios devemos utilizar para justificar uma ação moral? Várias respostas foram propostas para essas perguntas. Com o conhecimento delas, você terá melhores condições de avaliar que ações devem ser tomadas e de se posicionar diante do nosso cotidiano, do nosso mundo, tão repleto de conflitos. Bom estudo! Professor Leandro Kingeski Pacheco e Professora Maria Juliani Nesi Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: o livro didático; o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação); o Sistema Tutorial. Ementa Tópicos do pensamento ocidental: Teoria do Conhecimento e Ética. Objetivos Geral Ler e interpretar textos filosóficos e produzir textos escritos. 12 Universidade do Sul de Santa Catarina Específicos Compreender o sentido primordial de Filosofia e identificar alguns temas específicos de estudo da Filosofia. Conhecer a Lógica, tipos de proposição, funções da proposição no raciocínio e tipos de raciocínio válidos e inválidos. Compreender algumas questões fundamentais da Teoria do Conhecimento e distinguir formas de conhecimento. Distinguir a concepção de conhecimento segundo Sócrates, Platão e Aristóteles. Distinguir a concepção de conhecimento segundo Descartes, Hume e Kant. Conhecer contribuições de Kuhn e Feyerabend para pensar o conhecimento científico. Distinguir a Ética da moral. Compreender o surgimento da Ética com a ética de Sócrates. Distinguir a ética de Aristóteles, de Kant e de Mill. Distinguir considerações éticas propostas por Nietzsche, Foucault, Rawls e Singer. Carga horária A carga horária total da disciplina é de 60 horas-aula. 13 Filosofia Conteúdo programático/objetivos Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá deter para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Neste sentido, veja a seguir as oito unidades que compõem o livro didático desta Disciplina, bem como os seus respectivos objetivos Unidades de estudo: 8 Unidade 1 – O sentido primordial da Filosofia Nesta unidade você conhecerá e compreenderá o sentido primordial da Filosofia ao estudar o seu significado etimológico e as atividades do primeiro filósofo. Verá, contudo, que a Filosofia pode apresentar vários sentidos, em função do que vários filósofos pensam. Também identificará algumas características fundamentais para o Filosofar: a autonomia, a reflexão, a crítica e a criatividade. Ainda, estudará que a Filosofia abrange uma vasta área de estudos, cada uma com um objeto específico de estudo. Unidade 2 – Lógica? Para que te quero? Você estudará o que é a Lógica. Nesse sentido, estudará o raciocínio e os elementos que o compõem. A partir do instrumental fornecido pela Lógica, você aprimorará sua capacidade de interpretar os raciocínios e de evitar algumas armadilhas lógicas. Assim, você poderá ler e interpretar textos filosóficos, ou mesmo textos simples do nosso cotidiano, apreendendo o seu sentido. Unidade 3 – Algumas ideias sobre a Teoria do Conhecimento Nesta unidade você identificará características básicas do conhecimento humano e tratará de questões fundamentais acerca da Teoria do Conhecimento, que atravessaram a história ocidental desde os primeiros filósofos gregos até a contemporaneidade. 14 Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade 4 – As raízes da Teoria do Conhecimento Aqui você estudará o pensamento dos filósofos pré-socráticos, Sócrates, Platão e Aristóteles sobre como podemos conhecer. E verá, brevemente, o legado que eles deixaram para os pensadores de períodos posteriores. Unidade 5 – Questões do conhecimento no pensamento moderno e contemporâneo Nesta unidade você estudará o pensamento dos seguintes filósofos modernos: Descartes, Hume e Kant. Também estudará, questões que foram propostas na contemporaneidade, e, nesse sentido, reflexões sobre as ciências e os limites da razão. Foram escolhidos para essa análise os filósofos: Kuhn e Feyerabend. Unidade 6 – Ética e moral O propósito desta unidade é que você estude a distinção entre ética e moral, mesmo sendo elas indissociáveis. Você verá que a origem da Ética está ligada à de Sócrates. Também estudará que as teorias éticas podem ser classificadas como ética normativa, pragmática e metaética. Unidade 7 – A ética de Aristóteles, de Kant e de Mill Nesta unidade você estudará três singulares teorias éticas, de Aristóteles, Kant e de John Stuart Mill. Estudará, em Aristóteles, a importância do meio-termo para cultivarmos a virtude; em Kant, a importância do imperativo categórico, e em Mill, a utilidade como o critério para nortear a ação. Unidade 8 – Questões da ética contemporânea Você estudará considerações éticas de alguns filósofos contemporâneos, especificamente de Nietzsche, Foucault, Rawls e Singer. Tais considerações ampliam nosso entendimento sobre como deve ser a ação moral. 15 Filosofia Agenda de atividades/Cronograma Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) 1UNIDADe 1O sentido primordial da Filosofia Leandro Kingeski Pacheco Objetivos de aprendizagem Compreender o sentido primordial da Filosofia. Refletir sobre as categorias de autonomia, de reflexão, de crítica e de criatividade. Identificar alguns temas específicos de estudo da Filosofia. Analisar e sintetizar trechos de textos filosóficos. Seções de estudo Seção 1 O sentido primordial da Filosofia Seção 2 Autonomia, reflexão, crítica e criatividade Seção 3 Alguns temas específicos de estudo da Filosofia 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, você começa a estudar o que é a Filosofia e verá que ela apresenta várias áreas de estudo. Ao investigar alguns temas específicos, compreenderá que a Filosofia não é um conhecimento definitivo, acabado, porém, encontra-se em constante movimento e revisão. Você também identificará a autonomia, a reflexão, a crítica e a criatividade como procedimentos básicos e decisivos para a Filosofia e para o filósofo – assim como será estimulado a desenvolver essas capacidades durante o estudo deste livro didático. Seção 1 – O sentido primordial da Filosofia Afinal o que é Filosofia? Se perguntarmos para dez filósofos o que é Filosofia, cada um proporá uma resposta diferente para essa questão. Esta diversidade de perspectivas, por mais incrível que pareça, não é considerada no meio filosófico um problema, e sim, uma rica oportunidade de confrontar diferentes posições e de aprendermos com elas. As várias concepções sobre o que é Filosofia são influenciadas tanto pela diversidade de inúmeros contextos,sócio-político- histórico e cultural, quanto pela rica vivência e experiência de cada filósofo. Você, que faz um estudo introdutório como este em Filosofia, quer certamente saber do que se está falando. Porém, uma compreensão adequada desse termo requer tempo e dedicação. Antes de aprofundarmos o estudo sobre o que é a Filosofia, como exercício, procure expor o que é a Filosofia: Além das obras referidas para aprofundamento de estudos nesta unidade, é pertinente indicar a leitura de algum livro específico sobre história da Filosofia. Entre elas, muito esclarecedora é o estudo da coleção de oito volumes dirigida por Châtelet. O próprio Châtelet (1974, v. 1-v. 8, p. 9) evidencia o aspecto cronológico da coleção e uma limitação óbvia: “O título desta obra coletiva é História da Filosofia – Ideias, Doutrinas. Cumpre torná-lo no rigor dos termos. Trata-se certamente de uma história: a ordem adotada é cronológica, à medida que a cronologia é intelectualmente mais eficaz que a classificação alfabética, por exemplo, e que permite frequentemente localizar filiações, onde essas existem [...] Entretanto, [...] essa história da filosofia não se coloca absolutamente como um ideal, uma restauração integral do pensamento filosófico, em que todos os autores, sua influência e suas relações estivessem assinalados [...]. 19 Filosofia Unidade 1 Agora que você empenhou-se em pensar no que é a Filosofia, vamos aproximar-nos do respectivo sentido primordial, referente à etimologia e ao seu surgimento. Acompanhe, assim, a etimologia da palavra ‘Filosofia’. A palavra ‘Filosofia’ tem origem grega e é composta por duas outras palavras: ‘philo’ e ‘sophia’. ‘Philo’ significa, basicamente, amizade, amor. ‘Sophia’ significa saber, sabedoria. Observe que a partir dessa simples análise etimológica, Filosofia significa amor ao saber e o filósofo é aquele que ama o saber. Esse sentido primordial de Filosofia é justamente o proposto pelo filósofo da Grécia antiga Pitágoras (570-490 a.C.) ao cunhar, criar o termo. Pitágoras, em certa ocasião, foi chamado de sábio. Pitágoras replicou afirmando que não era sábio, mas um amante do saber, um filósofo. A Filosofia, então, seria uma procura pelo saber, um amor à sabedoria, assim como os saberes consequentes desta busca. Pitágoras também dizia que o verdadeiro saber pertence aos deuses, e que os homens, embora ignorantes, por meio da Filosofia, do empenho em saber, podem aproximar-se dos deuses, do plano divino. Essa concepção etimológica de Filosofia não é aceita por todos os filósofos, uma vez que eles pensam a Filosofia a partir de suas respectivas concepções sobre o mundo. De fato, muitas definições atuais de Filosofia não coincidem com o sentido primordial proposto por Pitágoras. Visando a ampliar sua compreensão sobre a Filosofia, foram dispostas, no final desta unidade, atividades de autoavaliação que abordam algumas outras concepções sobre o que é a Filosofia, e, mesmo, sobre o filósofo e o filosofar. Agora que você conheceu a origem etimológica da palavra Filosofia, acompanhe, brevemente, a atitude radical do primeiro filósofo com o consequente surgimento da Filosofia. fonte primeira, sentido que origina, principia. Conforme Diôgenes Laêrtios (1988, p. 230) “[...] Pitágoras, quando Lêon, tirano de Fliús, perguntou-lhe quem era ele, respondeu: ‘Um filósofo.’. Comparava a vida aos Grandes Jogos, aos quais alguns compareciam para lutar, outros para fazer negócios, e outros ainda – os melhores – como espectadores; com efeito, alguns crescem escravos da fama, outros ambiciosos de ganhos, e os filósofos ávidos da verdade.” Figura 1.1 – Pitágoras Fonte: Mathematical Thought (2010). 20 Universidade do Sul de Santa Catarina Quem foi o primeiro filósofo? Foi o grego Tales de Mileto (624-546 a.C.). Observe, assim, que a Filosofia apresenta uma data e um local de surgimento preciso. Tales foi o primeiro filósofo porque radicalizou a atitude do homem em relação ao mundo. O que ele fez? Começou a questionar racionalmente a natureza 1 com perguntas como essas: Por que uma planta cresce? Por que ela se desenvolve e morre? Por que os seres vivos nascem, se desenvolvem e morrem? O que garante a vida dos seres vivos? Qual o princípio (arkhé)2 que origina todos os seres? Hoje, esses questionamentos podem parecer ‘bobos’ para você. Mas, há 2.500 anos, as respostas existentes estavam impregnadas de misticismo, de religião e de mistério. Ademais, essas perguntas não são tão simples. A última, por exemplo, ainda não recebeu uma resposta que seja um consenso, aceita por todos. A formulação dessas perguntas e o modo como Tales 3 as responde inauguram a Filosofia. Tales, para tanto, não apela para divindades ou para eventos inexplicáveis, pois ele não se satisfaz com as respostas já dadas. O radicalismo de Tales está presente ao procurar investigar, compreender o nosso mundo (com os escassos recursos que havia há 2.500 anos) de modo racional. Tales acredita que há razões, motivos, em função dos quais uma planta, por exemplo, nasce, cresce e morre. Fundamenta a investigação de Tales a concepção de que o nascimento, o crescimento e a morte são efeitos que podemos perceber, mas que existe uma causa que originou essa mudança. Essa relação de causa e efeito, o princípio da causalidade, é uma prova indiscutível da racionalidade humana e do surgimento da Filosofia como tentativa de investigação racional da realidade. Tales, ao procurar por respostas, buscou explicações que serviriam não para um único ser ou para uma única espécie, mas para toda a coletividade, para toda a totalidade dos seres. Nesse sentido, a Filosofia surge, primordialmente, com o propósito de 1 Os gregos antigos tinham uma concepção de natureza diferente da nossa, de hoje. O conceito de natureza (physis) grego abrangia todas as coisas que existem, inclusive a subjetividade humana, o processo de nascimento, desenvolvimento e morte dos seres, o processo de geração e corrupção das coisas. 2 Arkhé é uma palavra grega que designa princípio. Os primeiros filósofos, os pré-socráticos, tinham em comum o fato de que investigavam qual seria o princípio (arkhé) constitutivo de todas as coisas, presentes na natureza (natureza essa entendida em seu sentido amplo como physis). Figura 1.2 – Tales de Mileto Fonte: Peniche (2006). 3 Tales é considerado o primeiro filósofo assim como também um filósofo pré-socrático. Marcondes (2005, p. 11) explica que “Os pré-socráticos foram os primeiros pensadores que, nas cidades gregas da Ásia Menor por volta do séc. VI a. C., procuravam desenvolver formas de explicação da realidade natural, do mundo que os cercava, independentemente do apelo a divindades e a forças sobrenaturais.” 21 Filosofia Unidade 1 fornecer respostas amplas e válidas para todos os seres. Veja que a Filosofia investiga, fundamentalmente, como nosso mundo é, como nossa realidade é. Em função do surgimento da Filosofia, a partir do primeiro filósofo, podemos propor essa definição: A Filosofia é uma procura racional por respostas, ao se considerar a totalidade dos seres, considerando o princípio da causalidade como um guia fundamental para essa investigação. Observe, contudo, que esta é apenas uma definição de Filosofia, contextualizada em função da atividade primordial do primeiro filósofo. Muitas outras definições poderiam ser estudadas. Lembramos que, na seção de ‘atividades de autoavaliação’ desta unidade, propomos exercícios sobre a identificação de uma série de definições, com o objetivo de ampliar sua concepção sobre o que é Filosofia. Antes de passarmos para o próximo tópico, saiba que Tales propôs a água como o princípio emfunção do qual se originam todos os seres - como resposta àquela última pergunta (Qual o princípio que origina todos os seres?). 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais sobre a água como princípio Conforme Aristóteles, Metafísica; A 3, 983 b6 (apud KIRK; RAVeN; SCHOFIeLD, 1994, p. 86-87) “Na sua maior parte, os primeiros filósofos pensaram que os princípios, sob a forma de matéria, foram os únicos princípios de todas as coisas: pois a fonte original de todas as coisas que existem, aquela a partir da qual uma coisa é primeiro originada e na qual por fim é destruída, a substância que persiste, mas se modifica nas suas qualidades, essa, afirmam eles, é o elemento e o primeiro princípio das coisas existentes, e por essa razão consideram que não há geração ou morte absolutas, com base no fato de uma tal natureza sempre ser preservada... pois deve haver alguma substância natural, uma ou mais do que uma, de que provêm as outras coisas, enquanto ela é preservada. Contudo, sobre o número e a forma desta espécie de princípio nem todos estão de acordo; mas Tales, o fundador desse tipo de filosofia, diz que é a água [...], tendo talvez formulado essa suposição por ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio calor dele provém e vive graças a ele (aquilo de que provém é o princípio de todas as coisas) – formulou a hipótese não só a partir disso, como ainda do fato dos embriões de todas as coisas terem uma natureza úmida, sendo a água o princípio natural das coisas úmidas.” Sabe-se, hoje, que essa resposta está equivocada, pois a água não é o ‘princípio’, a única coisa, que origina ‘todos os seres’, vivos ou não. Contudo, se a resposta não está certa, o perguntar e o modo como Tales procurou compreender nosso mundo influenciou grandemente o surgimento da Filosofia e o amadurecimento da humanidade. Acompanhe agora, brevemente, alguns procedimentos fundamentais para a Filosofia e para o filósofo, que foram e são importantes para o “amadurecimento da humanidade”: as categorias de autonomia, reflexão, crítica e criatividade. A compreensão dessas categorias e a prática constante delas também contribuem para o nosso amadurecimento. 23 Filosofia Unidade 1 Seção 2 - Autonomia, reflexão, crítica e criatividade Sempre que alguém estuda Filosofia, algumas competências, habilidades ou atitudes afloram, iniciam um desenvolvimento ou um amadurecimento. Dentre essas competências, habilidades ou atitudes sobressaem a autonomia, a reflexão, a crítica e a criatividade. Mas, como você, por meio da Filosofia, pode desenvolver essas competências, habilidades ou atitudes? Para começar, precisamos entender o que significa cada uma. Depois, precisamos exercitar. Autonomia Veja que a autonomia está ligada à capacidade de pensar por si próprio. A palavra autonomia é de origem grega e é composta por duas outras palavras, ‘autós’ e ‘nómos’. ‘Autós’ refere-se à condição de independência, de realizar algo por si mesmo, por si próprio. ‘Nómos’ refere-se à lei, à norma, à regra. Assim, aquele que é autônomo é capaz de pensar por si só, é aquele que estabelece regras e procedimentos a partir de si mesmo. Todos os seres humanos devem desenvolver a autonomia, mas, infelizmente, vivemos em uma sociedade que não valoriza essa capacidade. Vamos a um exemplo. 24 Universidade do Sul de Santa Catarina As mídias inundam nosso mundo com propagandas sobre como é bom consumir. Mas, lá pelas tantas, você cansa do consumo exagerado e começa a se perguntar se tudo aquilo que você tem consumido em demasia é realmente necessário. Começa a questionar se é preciso ter mais de um carro, se tal carro precisa mesmo atingir 300 Km por hora (quando o limite de velocidade é 100 Km por hora), se é preciso trocar de carro todo ano; se é preciso ter mais de uma TV em casa; se é preciso ter cinquenta pares de sapato; se é preciso ser milionário para ser feliz etc. Ao questionar o consumo exagerado e propor consumir apenas produtos e serviços necessários para você, já temos um exemplo de exercício de autonomia. Reflexão A reflexão, por sua vez, refere-se à capacidade dos seres humanos pensarem sobre o próprio pensamento. Neste livro didático de Filosofia, queremos que você desenvolva a reflexão sobre a realidade. Os conteúdos deste livro não significam nada se você constantemente não procurar estabelecer uma reflexão sobre eles. Assim, reflita sobre como esses conteúdos podem ajudá-lo a ampliar sua visão de mundo e como, a partir dessa visão, você deve agir. Veja um exemplo. Você é um ser humano. e, como tal, pode pensar em um modelo ideal de ser humano, um modelo de como todos devem pensar e agir. Ao pensar neste modelo ideal de ser humano, você está refletindo sobre a humanidade, assim como está refletindo sobre si mesmo. A reflexão é como um reflexo em um espelho. Imagine-se em frente a um espelho. O que você vê? Vê a si mesmo. De modo análogo, a reflexão é o pensamento que vê a si mesmo; é o pensamento que vê, observa o próprio pensamento. 25 Filosofia Unidade 1 Crítica Já a crítica está ligada a nossa capacidade de questionar e julgar. Você também precisa desenvolver essa capacidade. Mas o que significa criticar? Significa questionar e julgar, não se conformar com as explicações já fornecidas sobre o nosso mundo. Observe, assim, que a crítica sempre está condicionada a um modo como o nosso mundo já foi explicado. Enquanto crianças, nosso espírito inquiridor, questionador, é intenso. Ao crescermos, por inúmeras motivações, conscientes ou inconscientes, afastamo-nos desse questionar. O filósofo, por outro lado, não para de questionar. Criticar abrange duas características básicas: questionar os fundamentos, as ideias, as causas e os efeitos de um fenômeno; julgar estes fundamentos ou ideias como aceitáveis ou não. Acompanhe um exemplo de crítica que se refere ao fenômeno da chuva. Ora, como ocorre a chuva, qual a sua causa e os seus efeitos? Na antiguidade, esse fenômeno era explicado como um ato divino. Porém, em determinado momento, alguns pensadores discordaram desse modo de explicar a realidade. Começou-se, então, a ‘questionar’ e a ‘julgar’ as explicações anteriores, referentes à chuva. Ao se questionar e julgar as explicações sobre nosso mundo, desenvolvemos uma crítica. Nossa sociedade não está preparada para críticas. Aliás, quem gosta de ser criticado? Para receber críticas, é preciso ser maduro, mas nem todos o são. Crítica, no sentido filosófico, não deve ser confundida com pura e simples crítica destrutiva ou depreciativa. ela é um passo necessário para desenvolvermos a criatividade, nosso próximo tópico de estudo. 26 Universidade do Sul de Santa Catarina Criatividade A criatividade está relacionada a nossa capacidade de gerar, de criar o novo. A criatividade representa um passo posterior em relação à crítica. Se, ao criticar, questionamos e julgamos as explicações sobre o nosso mundo, então, agora estamos preparados para desenvolver a criatividade, ao propor uma ‘nova’ explicação sobre o mundo. O verdadeiro filósofo não se contenta em evidenciar os ‘equívocos’, ele propõe evidenciar ‘acertos’, uma solução. Acompanhe o exemplo. Todo mundo reclama da violência, da fome e da injustiça no Brasil - e com razão. Assim, fica evidente que as pessoas estão desenvolvendo uma crítica sobre nosso país, ao questionar nossos problemas e julgá-los. Mas, a crítica pela crítica desfaz-se na falta de resultados. A partir do questionamento e do julgamento - da crítica - precisamos então criar uma solução, uma alternativa. O que fazer neste caso brasileiro? A verdade é que nós, brasileiros, também não fomos criados para sermos criativos e sim para reproduzirmosum modelo de pensar e de agir. Assim, tornamo-nos autômatos, simplórios, sem capacidade de fazer algo diferente daquilo para o qual fomos ‘programados’. Como nunca fomos educados para sermos criativos, aguardamos ‘pacientemente’ por soluções importadas. Contudo, podemos pensar em soluções criativas, em soluções inovadoras, para os problemas que vivenciamos na sociedade brasileira, no trabalho e na família, enfim, no nosso mundo. Para tanto, devemos exercitar a criatividade. Pense! Permita-se, por meio da criatividade, criar o inédito. 27 Filosofia Unidade 1 Não queremos atribuir a você a necessidade de ser um filósofo profissional, mas queremos que se sinta seguro - em função de algum apoio conceitual, de categorias e teorias - para exercitar a compreensão da realidade e, assim, iniciar o estudo da Filosofia. A princípio, as capacidades de autonomia, reflexão, crítica e criatividade estão intimamente associadas. Nessa perspectiva, à medida que o ser humano utiliza uma dessas capacidades, as outras também o são. Observe, contudo, que a utilização das capacidades varia conforme o problema que o ser humano se defronta, que quer resolver. Em alguns momentos, diante de alguns problemas que vivenciamos, talvez ora utilizemos mais a capacidade de reflexão, ora a autonomia, ora a criticidade ou a criatividade. Ou seja, podemos vivenciar situações, casos, em que a utilização de uma dessas capacidades é muito mais intensa do que as outras. Acompanhe um exemplo. Quando uma criança desenha uma borboleta, ela provavelmente utiliza muito mais a criatividade do que a reflexão, do que a criticidade, do que a autonomia. Veja, não significa que a criança já não utiliza certa autonomia, certa criticidade, certa reflexão, mas que, na hora de tal desenho, a criatividade é a capacidade que mais vige. 28 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 3 – Alguns temas específicos de estudo da Filosofia A Filosofia é composta por inúmeras áreas específicas de estudo, por inúmeros temas que são investigados. Algumas dessas áreas são as seguintes: Teoria do Conhecimento, Ética, Lógica, Filosofia Política, Ontologia, Antropologia Filosófica, Estética etc. Cada uma destas áreas da Filosofia auxilia-nos na compreensão de nosso mundo. Dessas áreas, duas são fundamentais para o nosso estudo: Teoria do Conhecimento e Ética, temas principais que você estuda neste livro didático. Teoria do Conhecimento A Teoria do Conhecimento é uma área da Filosofia que investiga o conhecimento, quais as suas características, como ele ocorre, qual a sua origem, quais os limites do ser humano para conhecer etc. Uma das perguntas formuladas é: - Como conhecemos? Ética A Ética, outra área da Filosofia, estuda a moral, como o ser humano deve agir considerando valores e critérios etc. Uma das questões fundamentais, para a Ética, é: - Como devemos agir moralmente? O que significa agir errado ou corretamente? Como praticar o bem e evitar o mal? Você também estudará neste livro didático uma introdução à Lógica, uma vez que ela pode auxiliá-lo no trabalho de compreensão da Teoria do Conhecimento e da Ética. Lógica A Lógica estuda o raciocínio, como correto ou incorreto. Todos os filósofos apresentam suas ideias por meio de raciocínios. Se conseguirmos identificar os elementos que compõem o raciocínio, mais facilmente entenderemos os raciocínios dos diferentes 29 Filosofia Unidade 1 filósofos. Uma das perguntas fundamentais, formulada pela Lógica, é: - Como raciocinamos corretamente? As seguintes áreas da Filosofia não serão aprofundadas em nosso livro didático, mas registramos um breve comentário sobre as suas atividades. Filosofia Política A Filosofia Política estuda como o Estado deve ser, quais leis devem ser propostas, para os cidadãos, pelos cidadãos etc. Entre os inúmeros modos de organizar-se politicamente, destacam-se, por exemplo, a proposta liberal e a social. Ontologia Ontologia significa o estudo do ser. ‘Ser’ refere-se, aqui, a todas as coisas que existem, quais as suas características, propriedades, diferenças, fundamentos etc. Afinal: - O que existe? E, como existe? O que existe está sujeito à mudança? Ou, o que existe sempre permanece como já é? Se as coisas mudam, mudam sempre do mesmo modo? Antropologia Filosófica A antropologia filosófica tem o homem como principal objeto de estudo e propõe estudar questões como: - O que é o homem? Existe um modelo de homem que deve orientar a todos? Ou, tal modelo é uma ilusão uma vez que o homem se faz, realiza-se na sua própria existência, no existir, nas suas vivências? Estética A Estética é uma área da Filosofia que pesquisa as sensações, as impressões, que temos do mundo, ligadas à arte e ao belo. São investigadas questões como: - O que é belo? O que é ‘o’ belo? O que é a arte? Existem valores que determinam o que é belo? 30 Universidade do Sul de Santa Catarina E, então, como é vasto o campo da Filosofia, não é mesmo? Figura 1.3 – Guernica de Picasso Fonte: Tagliavini (2004). Síntese Nesta unidade, você estudou muito brevemente o sentido primordial da Filosofia ao conhecer o significado etimológico da Filosofia; e ao conhecer uma definição do que é Filosofia, contextualizada em função da atividade do primeiro filósofo, Tales. Você também estudou algumas características básicas da Filosofia, categorias fundamentais para o filosofar e o amadurecimento, como capacidades, habilidades e atitudes que queremos que você desenvolva: a autonomia, a reflexão, a criticidade e a criatividade. Ainda viu que a Filosofia é composta por várias áreas de estudo, as quais você poderá se aprofundar nas bibliografias sugeridas. 31 Filosofia Unidade 1 Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Identifique, com um ‘X’, os trechos abaixo que apresentam um sentido próximo à etimologia da Filosofia ou à definição de Filosofia contextualizada em função das atividades do primeiro filósofo. essa atividade visa a exercitar sua capacidade de compreensão do que é Filosofia. a) ( ) A Filosofia, nos seus primórdios, era entendida como amor ao saber. b) ( ) O filósofo é aquele que detém o saber sobre todas as coisas, que se posiciona diante da realidade como alguém que já sabe de tudo. Por isso, sábio, não precisa investigar nada, não precisa questionar nada. c) ( ) O filósofo, conforme a origem da Filosofia, é aquele que investiga racionalmente e que questiona o fundamento de todas as coisas, consideradas enquanto uma totalidade. d) ( ) Qualquer um, de qualquer modo, pode filosofar. e) ( ) A tentativa de explicar a realidade considerando o princípio da causalidade, de que para todo efeito existe uma causa, é um procedimento racional que está associado à origem da Filosofia. f) ( ) O estudo da realidade independe de uma explicação racional, pois o princípio da causalidade não é válido para todos os seres. 2) Todas as passagens abaixo apresentam uma concepção de Filosofia, de filósofo ou de filosofar. Como já observamos, é enorme a diversidade de concepções sobre o que é Filosofia. Mesmo assim, identifique se alguma das passagens abaixo coincide exatamente com o sentido etimológico da Filosofia. essa atividade visa a exercitar sua capacidade de compreensão do que é Filosofia. a) ( ) “essa palavra designa o estudo da sabedoria, e por sabedoria não se entende somente a prudência nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode conhecer, tanto para a conduta de sua vidaquanto para a conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes.”. (DeSCARTeS apud ABBAGNANO, 2000, p. 442). 32 Universidade do Sul de Santa Catarina b) ( ) “Todos os homens são filósofos, enquanto pensam [...] enquanto refletem sobre a cultura, a linguagem e o mundo que recebem ao nascer [...] assumindo-o não de maneira pronta e passiva, mas de maneira crítica e responsável.”. (GRAMSCI apud NUNeS, 1986, p. 14). c) ( ) “A filosofia, mais do que qualquer outra disciplina, necessita ser vivida. Necessitamos ter dela uma “vivência” [...] Vivência significa que temos realmente em nosso ser psíquico; o que real e verdadeiramente estamos sentindo, tendo, na plenitude da palavra ‘ter’ [...] Pelo contrário, uma definição de filosofia, que se dê antes de tê-la vivido, não pode ter sentido, resultará ininteligível. Parecerá talvez inteligível nos seus termos; será composta de palavras que oferecem sentido; mas esse sentido não estará cheio da vivência real.”. (MOReNTe, 1970, p. 23-24). d) ( ) “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”. (MeRLeAU- PONTY, 1996, p. 19) 3) Descreva em, no máximo, cinco linhas um exemplo de autonomia, reflexão, crítica e criatividade - que você tenha presenciado ou exercido. a) Autonomia b) Reflexão 33 Filosofia Unidade 1 c) Crítica d) Criatividade Saiba mais Se você quiser aprofundar seus conhecimentos referentes ao sentido primordial da Filosofia; às atividades do primeiro filósofo; às categorias de autonomia, reflexão, crítica e criatividade; assim como seus conhecimentos referentes aos temas de estudo específicos da Filosofia, consulte as seguintes referências: CHÂTELET, F. História da filosofia: ideias, doutrinas. (8 vol.). Rio de Janeiro: Zahar, 1974. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 8. ed. São Paulo: Ática, 1997. MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. 4. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1970. 34 Universidade do Sul de Santa Catarina NUNES, César Aparecido. Aprendendo filosofia. Campinas: Papirus, 1986. 2UNIDADe 2Lógica? Para que te quero? Leandro Kingeski Pacheco Objetivos de aprendizagem Conhecer a Lógica, tipos de proposição e funções da proposição no raciocínio. Distinguir indicadores de premissa de indicadores de conclusão. Distinguir raciocínios válidos de raciocínios inválidos. Construir raciocínios válidos e evitar raciocínios inválidos. Seções de estudo Seção 1 Qual é a origem e o que é a Lógica? Seção 2 A proposição Seção 3 Premissas, conclusão e relação de consequência Seção 4 Raciocínios válidos Seção 5 Raciocínios inválidos 36 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, você estudará a Lógica. Podemos viver uma vida inteira sem conhecê-la. A maior parte das pessoas nunca a estudou e, eventualmente, usam o termo “lógica” apenas como sinônimo de clareza ou certeza. Isso não desmerece essas pessoas, mas subtrai da Lógica seu caráter científico, rigoroso e educativo. A Lógica dedica-se ao estudo rigoroso, sistemático, do raciocínio e, ao fazer isto, estabelece um instrumental útil a essa análise. Você pode perguntar: onde está o raciocínio? Eu não o vejo? O estudo da Lógica, tal qual o uso de óculos adequados a uma vista cansada, pode nos ajudar a enxergar os raciocínios que inundam nosso mundo, pessoal, social e profissional, seja em livros, conversas, filmes, revistas e, mesmo, em nossos próprios pensamentos. Quem não é capaz de raciocinar logicamente por si só, corre o risco de que outras pessoas o façam. Raciocinar por si só envolve a capacidade de sistematizar nossos pensamentos, que, por sua vez, referem-se ao nosso mundo. Você pode questionar: - E se eu raciocinar de forma errada? Ora, quem nunca errou que atire a primeira pedra! Viver de forma autônoma é constantemente expor-se à vida, é ser no sentido mais amplo possível. Nossos erros e acertos são inerentes à vida e acontecem em seu início, meio e fim. Agora, como vamos escolher percorrer todo este percurso? 37 Filosofia Unidade 2 Seção 1 – Qual é a origem e o que é a Lógica? Já falamos um pouco de Lógica, mas você sabe qual a origem e o que é, de fato, a Lógica? A origem da Lógica está ligada à palavra grega logos e, nessa acepção, refere-se à palavra, à proposição, ao discurso, ao pensamento, à razão e à linguagem. Tal sentido fundamental refere-se a um modo específico de pensarmos, conforme regras específicas. Os primeiros estudos ‘rigorosos’ sobre a Lógica ocorreram na Grécia Antiga, com Aristóteles (384-322 a.C.). Diferentemente dos pré-socráticos, sofistas, Sócrates e Platão (filósofos anteriores a Aristóteles) - Aristóteles estabelece um tratamento consciente e independente da Lógica como uma disciplina, um tema que merece uma investigação sistemática. Por esses motivos, Aristóteles é considerado o fundador da Lógica. No conjunto de obras intitulado Organon, Aristóteles defende que a Lógica apresenta uma função especial: servir de instrumento para a Filosofia. Com tal instrumento, podemos, basicamente, estabelecer a distinção entre os raciocínios, como válidos (que seguem um padrão correto de pensamento) e inválidos (que não seguem um padrão correto de pensamento). Observe que a Lógica foi concebida como um instrumento, como um meio para a análise e a compreensão dos raciocínios. Aristóteles considerava que o domínio da Lógica era essencial para o filósofo e para a Filosofia. Como poderíamos filosofar se não fôssemos capazes de pensar racionalmente com rigor, clareza e coerência? Os filósofos que estudam a Lógica costumam defini-la de vários modos. A seguinte definição de Lógica decorre da procura por um elo comum e básico dessas definições: Conforme Blanché e Dubucs (1996, p. 27) “Aristóteles via na Lógica mais do que uma parte da Filosofia, uma disciplina intelectual preparatória.”. Palavra grega que significa instrumento. Figura 2.1 - Aristóteles Fonte: Aristoteles, der griechische Philosoph ([200-]). 38 Universidade do Sul de Santa Catarina A Lógica, de modo bem genérico, é parte da Filosofia, a ciência que investiga os tipos de raciocínios como válidos ou inválidos. Para tal investigação, a Lógica considera uma série de elementos que abrangem o entendimento do que é raciocínio. Investiga, por exemplo, o que é proposição, o que é premissa, o que é conclusão, o que é uma relação de consequência e, mesmo, o que é raciocínio. Observe que todas as pessoas podem raciocinar corretamente, mesmo sem conhecer a Lógica. Mas, ao conhecer a Lógica, você acessa, conscientemente, um conjunto de orientações que possibilitam raciocinar de modo preciso e coerente. essa definição de Lógica é suficiente e pertinente aos nossos estudos introdutórios e, certamente, não atende a todos os filósofos e teóricos – pois existem vários tipos de Lógica, como, por exemplo, a Lógica Tradicional, Clássica, Não clássica, Difusa etc, com particularidades e focos de estudo específicos. Por outro lado, se você quiser aprofundar seu entendimento sobre essa discussão - sobre a definição de Lógica, e mesmo sobre os vários tipos de Lógica - então, estude as seguintes referências: BLANCHÉ, R.; DUBUCS, J. História da lógica. Tradução António P. Ribeiro, Pedro e. Duarte. Lisboa: edições 70, 1996. KNeALe, W.; KNeALe, M. O desenvolvimento da lógica. Tradução de M. S. Lourenço. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1962. Veja que o propósito da Lógica é o de estudar um padrão básico de como se deve pensar, de como devem ser apresentados os raciocínios. Logo, esperamos que o estudo desta unidade auxilie você a melhor identificar o raciocínio; a construir raciocínios encadeados e coerentes; assim como lhe possibilite identificare evitar os raciocínios dúbios e enganosos. 39 Filosofia Unidade 2 Observe, porém, que a distinção entre raciocínios encadeados, coerentes, dúbios, enganosos é apenas uma das tantas preocupações da Lógica. Seção 2 – A proposição Nesta seção, você estudará o que é a proposição e qual a relação dela com o raciocínio. Mas o que é raciocínio? O que compõe um raciocínio? Antes de entendermos amplamente o raciocínio, precisamos galgar alguns degraus. Para tanto, precisamos entender o que é uma sentença, o que é uma sentença declarativa e o que é uma proposição. Veja a resposta para essas questões. A sentença é uma expressão linguística enunciadora de um pensamento completo. Existem vários tipos de sentenças. As sentenças podem ser declarativas, interrogativas, imperativas etc. Confira os exemplos de sentenças: Sentenças declarativas Esta cadeira é macia. O dia está ensolarado. Este livro de Filosofia é gostoso. Sentenças interrogativas Todo amor é verdadeiro? Meu cachorro vai morrer? Você tem praticado esportes? Sentenças imperativas Viva. Faça. Ajude-me. Sentenças exclamativas Amor! Justiça! Paz! Quadro 2.1 - exemplos de sentenças Fonte: elaboração dos autores (2008). 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Observe as sentenças anteriores e perceba que as sentenças declarativas expressam um fato, um evento, uma situação ou episódio acerca do mundo e que nós podemos julgar. Veja que, se você afirmar “Esta cadeira é macia.”, também pode julgar tal fato, como verdadeiro ou como falso. Por outro lado, veja que não tem sentido avaliar, como verdadeiro ou falso, as outras sentenças, interrogativas, imperativas ou exclamativas. Ninguém atribui um juízo sobre uma sentença quando se diz “Não!”. Ninguém avalia uma sentença interrogativa “Que horas são?” como verdadeira ou falsa. Os raciocínios são formados por várias sentenças, mas as chamadas sentenças declarativas têm uma importância fundamental na Lógica, pois os raciocínios são formados essencialmente com sentenças declarativas. Afinal, o que é proposição? A proposição é um componente básico do raciocínio. ela é uma sentença declarativa que compõe o raciocínio e que podemos julgar como verdadeira (V) ou como falsa (F). Temos, então, dois valores básicos e específicos para julgar a proposição, para julgarmos se o que foi dito na proposição corresponde ao que ocorre, ao que existe na realidade, no nosso mundo. Observe que a avaliação da proposição, como verdadeira ou falsa, sempre depende do contexto em função do qual a avaliamos. A compreensão do que é uma proposição é fundamental para a compreensão do raciocínio. Alguns raciocínios apresentam apenas proposições. Outros raciocínios apresentam, além de proposições, outras sentenças meramente ilustrativas, que nos confundem e não são significativas para a conclusão do raciocínio. Ou seja, ao analisar um raciocínio, procure sempre identificar se as sentenças são pertinentes ao raciocínio (só as sentenças declarativas, é claro!). 41 Filosofia Unidade 2 Classificação da proposição em função da quantidade, da qualidade e da modalidade Existem vários tipos de proposição que, por sua vez, podem ser classificadas em função da quantidade, da qualidade e da modalidade. Observe a seguinte proposição: ‘Os homens são mortais’. Essa, assim como toda proposição, é formada por termos. Os termos da proposição são, basicamente: sujeito, verbo de ligação e predicado. Ness a proposição, tem-se ‘Os homens’ como sujeito, ‘são’ como verbo de ligação e ‘mortais’ como predicado. Os termos (sujeito, verbo e predicado) da proposição podem exprimir relações diferentes, em função da relação de quantidade, de qualidade e de modalidade. Compreenda essa classificação da proposição, conforme as explicações e os exemplos a seguir. Em função da qualidade, as proposições são: Qualidade Relação dos termos da proposição Exemplo Afirmativas O sujeito da proposição recebe, claramente, uma atribuição. Sócrates é filósofo. Negativas O sujeito da proposição não recebe uma atribuição, ou seja, nega-se uma atribuição ao sujeito. Sócrates não é maluco. Quadro 2.2 - exemplos em função da qualidade Fonte: elaboração dos autores (2008). 42 Universidade do Sul de Santa Catarina Em função da quantidade, as proposições são: Quantidade Relação dos termos da proposição Exemplo Totais, gerais ou universais O sujeito da proposição é tomado em sua totalidade. Observe que as proposições universais podem ser negativas. Todos os catarinenses são brasileiros. Nenhum homem é imortal. Particulares O sujeito da proposição é tomado de forma indeterminada. As proposições particulares também podem ser negativas. Alguns homens são carecas. Alguns homens não são brasileiros. Singulares O sujeito da proposição refere-se a um único indivíduo. Sócrates é mortal. Quadro 2.3 - exemplos em função da quantidade Fonte: elaboração dos autores (2008). Em função da modalidade, as proposições são: Modalidade Relação dos termos da proposição Exemplo Necessárias O predicado é expresso como uma condição necessária do sujeito. Sócrates é necessariamente mortal. Impossíveis O predicado é expresso como uma condição impossível do sujeito. É impossível que Sócrates seja imortal. Possíveis ou contingentes O predicado é expresso como uma condição possível do sujeito. É possível que a cadeira esteja vazia. Quadro 2.4 - exemplos em função da modalidade Fonte: elaboração dos autores (2008). Por que esta classificação das proposições é importante? Porque a identificação desses diferentes tipos de proposições nos permitirá compreender que relações um determinado raciocínio quer atingir. Assim, fique atento! Conforme Kneale e Kneale (1962, p. 83-84) “Uma frase declarativa modal é uma frase que contém a palavra ‘necessário’ ou a palavra ‘possível’ ou algum equivalente [...] Frases declarativas da forma ‘É necessário que [...]’ foram chamadas mais tarde apodíticas e as da forma ‘É possível que [...]’ foram chamadas problemáticas e aquelas frases declarativas que não têm nenhuma dessas qualificações, assertóricas.” 43 Filosofia Unidade 2 Seção 3 – Premissas, conclusão e relação de consequência Você estudará, nesta seção, que o raciocínio é formado por premissas e pelo menos uma conclusão; que existem indicadores que nos permitem identificar as premissas e as conclusões; e que todo raciocínio apresenta pelo menos uma relação de consequência lógica. O raciocínio é uma construção do ser humano, é uma atividade que requer esforço de nossa mente. Contudo, nem todo raciocínio é exposto de modo rigoroso, correto e claro. Por outro lado, todo sujeito, estudante, cidadão ou cientista, pode raciocinar melhor se conhecer alguns elementos da Lógica. Por exemplo, a Lógica estuda as funções fundamentais que a proposição exerce em um raciocínio, como premissa ou conclusão. Ora, o raciocínio é uma coleção de proposições que se relacionam mutuamente, de tal modo que algumas proposições têm a função de premissa e pelo menos uma proposição tem a função de conclusão. Mas o que é premissa ou conclusão? Você estudará, a seguir, essas duas funções da proposição no raciocínio. Premissas Você sabe o que é uma premissa? Uma premissa é a proposição que tem a função, no raciocínio, de fornecer dados, provas, informações, razões, sobre algo ou alguém, e serve de subsídio, contribui para a conclusão de um raciocínio. Veja o exemplo de premissas em um raciocínio: Conforme Hegenberg (1995, p. 175) “[...] raciocinar corresponde a pensar discursivamente, pensar de maneira coerente, com um propósito em vista. Mais estritamente, corresponde a inferir, ou seja, ao processode passar de certas proposições sabidamente ou presumidamente verdadeiras, para outra proposição que delas deflua.”. Mortari (2001, p. 16) explica que “[...] o raciocínio é um processo de construir argumentos para aceitar ou rejeitar uma certa proposição.” 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Todos os catarinenses são brasileiros. (proposição - premissa) Todos os brasileiros são americanos. (proposição - premissa) Logo, todos os catarinenses são americanos. (proposição - conclusão) As premissas do exemplo anterior estão explícitas. As premissas explícitas estão sempre reveladas, ou seja, são claramente mostradas. Os raciocínios, além das premissas explícitas, podem conter implícitas. Essas estão escondidas, subtendidas no raciocínio. Observe o exemplo de raciocínio com premissa implícita: Todos os atletas são trabalhadores. (proposição - premissa) Todos os trabalhadores são esforçados. (proposição - premissa) Logo, Pelé é trabalhador e esforçado. (proposição - conclusão) (premissa implícita: Pelé é um atleta) Conclusão Você sabe o que é uma conclusão em um raciocínio? A conclusão, no raciocínio, é uma proposição que fornece uma informação a partir dos subsídios, da contribuição, das premissas. Veja que a conclusão é uma consequência lógica das premissas. Acompanhe o exemplo de conclusão no raciocínio: 45 Filosofia Unidade 2 Todos os catarinenses são brasileiros. (proposição - premissa) Todos os brasileiros são americanos. (proposição - premissa) Logo, todos os catarinenses são americanos. (proposição - conclusão) Existe ainda um outro elemento fundamental do raciocínio que deve ser estudado para compreendermos o que é um raciocínio: a relação de consequência. Relação de consequência A relação de consequência é considerada o principal objeto de estudo dos lógicos. Tal estudo investiga como fazemos a passagem, no raciocínio, das premissas para a conclusão. Veja a seguinte definição. A relação de consequência é o estabelecimento de uma coesão, de um elo entre as premissas e a conclusão. Nos raciocínios, a relação de consequência é geralmente representada por um indicador de conclusão, tal como “Logo”. Acompanhe, no exemplo, o elo que explicita a relação de consequência no raciocínio: Todos os catarinenses são brasileiros. (proposição - premissa) Todos os brasileiros são americanos. (proposição - premissa) Logo, todos os catarinenses são americanos. (proposição - conclusão) 46 Universidade do Sul de Santa Catarina em nossa linguagem cotidiana, filosófica ou científica, podemos encontrar raciocínios de todos os tipos e tamanhos, com, por exemplo, uma premissa e uma conclusão; muitas premissas e dez conclusões; infinitas premissas e uma conclusão; a conclusão antes das premissas etc. Observe que não existe um número pré-definido de quantas premissas e quantas conclusões deve ter o raciocínio, e nem em que ordem devem aparecer. Para compreender os raciocínios você precisa identificar que sentenças são proposições (ou seja, que sentenças podem ser avaliadas como verdadeiras ou falsas); que proposições exercem a função de premissas no raciocínio; e que proposição(ões) exerce(m) a função de conclusão em um raciocínio. Lembre-se de que, nesse sentido, você já estudou a distinção das sentenças e a identificação das sentenças declarativas como proposições, quando presentes no raciocínio. embora você também já tenha estudado a identificação das premissas e das conclusões, fique atento aos indicadores lógicos, nosso próximo assunto. Indicadores lógicos Os indicadores lógicos podem facilitar a identificação das premissas e da conclusão de um raciocínio. Os indicadores lógicos são termos que geralmente revelam a função da proposição no raciocínio, seja como premissa ou como conclusão. Veja um exemplo: Supondo que alunos estudiosos são vencedores. Dado que nós somos estudiosos. Então, nós somos vencedores. O modo como este raciocínio é apresentado pode nos causar estranheza, mas, no dia a dia, é comum encontrarmos raciocínios assim. O ideal seria que todas as pessoas pensassem e se expressassem de forma sistemática: primeiro apresentando as premissas para depois propor a conclusão. Mas, nem sempre é o caso. Veja um exemplo de raciocínio com conclusão antes das premissas: ‘Eu existo. Eu penso. Todo aquele que pensa, existe.’. Observe que a conclusão ‘Eu existo.’ foi disposta antes das premissas ‘Todo aquele que pensa, existe.’ e ‘Eu penso.’. 47 Filosofia Unidade 2 O indicador de premissa geralmente a antecede e é indicado por expressões como as seguintes: desde que, uma vez que, se, dado que, pois, porque, vamos supor que, admitindo a hipótese, supondo que etc. O indicador de conclusão geralmente a antecede e é indicado por expressões como: logo, portanto, concluo, assim, deduzimos, deve, tem que, necessariamente, em consequência, daí decorre que, implica, então etc. Observe que os indicadores de conclusão geralmente representam a relação de consequência. Veja, agora, esta outra definição de raciocínio, que é um pouco mais refinada que a anterior. Pode haver raciocínios em que não existam indicadores de premissas nem um indicador de conclusão. Nesses casos, devemos procurar entender o sentido do raciocínio, para distinguirmos as premissas da conclusão. Veja este exemplo de raciocínio sem indicadores lógicos. Joaquim é português. Todo português é bigodudo. Joaquina, esposa de Joaquim, também é bigoduda. Não há, nesse raciocínio, indicadores de premissa ou de conclusão. Contudo, é “lícito” concluir que as premissas são ‘Joaquim é português.’ e ‘Todo português é bigodudo.’ e a conclusão é ‘Joaquina, esposa de Joaquim, também é bigoduda.’ Quando não houver indicadores de premissa ou de conclusão num raciocínio, você necessitará, certamente, de mais esforço para compreendê-lo. O raciocínio é uma coleção de proposições que se relacionam mutuamente, das quais pelo menos uma é a conclusão, que, por sua vez, é derivada das premissas por uma relação de consequência. A finalidade de um raciocínio é possibilitar, a partir de proposições já conhecidas, inferir, concluir, analisar, mediar um conhecimento novo. Acompanhe alguns outros exemplos de raciocínios: 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Joaquim é português. (proposição - premissa) Logo, Joaquim nasceu em Portugal. (proposição - conclusão) Todos os homens são mortais. (proposição - premissa) Sócrates é homem. (proposição - premissa) Logo, Sócrates é mortal. (proposição - conclusão) Nenhum herói é covarde. (proposição - premissa) Alguns soldados são covardes. (proposição - premissa) Logo, alguns soldados não são heróis. (proposição - conclusão) Todo estudante é aplicado. (proposição - premissa) Algum relaxado não é aplicado. (proposição - premissa) Logo, algum relaxado não é estudante. (proposição - conclusão) Observe que alguns raciocínios são facilmente compreendidos, enquanto outros requerem de nós um pouco mais de esforço.. Conheça o silogismo aristotélico, um raciocínio apresentado de forma específica! O silogismo aristotélico é um raciocínio sempre formado por três proposições, sendo as duas primeiras chamadas premissas e a última chamada conclusão. No silogismo, a primeira premissa é precedida de “se”, a segunda é precedida de “e”, e a conclusão é precedida de “então”. A conclusão é uma consequência lógica das premissas, e as duas proposições premissas estão ligadas à proposição conclusão por uma relação de consequência. Veja que, neste tipo de raciocínio, o sujeito e o predicado das três proposições estão sempre inter-relacionados. O silogismo aristotélico é apresentado da seguinte forma: Se todos os homens são mortais. (proposição -premissa) E, todos os gregos são homens. (proposição - premissa) Então, todos os gregos são mortais. (proposição - conclusão) 49 Filosofia Unidade 2 Seção 4 – Raciocínios válidos Nem todos os raciocínios têm a mesma natureza. Há os raciocínios válidos (estudados nesta seção) e os raciocínios inválidos (estudados na seção seguinte). Mas o que é um raciocínio válido? O raciocínio válido, correto, legítimo, é todo aquele em que a conclusão decorre, é consequência de suas premissas. Há dois tipos principais de raciocínios válidos: o raciocínio dedutivo e o raciocínio indutivo. Observe que os raciocínios válidos representam a forma correta de pensarmos. O que significa pensar de maneira correta? Significa argumentar sem cometer erros ou equívocos. Significa que essa forma de pensar deve ser coerente não apenas para mim, mas para todos aqueles que tiverem a oportunidade de ouvir ou ler este raciocínio. Significa que essa maneira de expor o conhecimento também deve ser válida em todas as épocas e em todos os locais. Significa que essa forma de pensar implica, necessariamente, uma relação de consequência rigorosa e sistemática. A validade de um raciocínio depende da estrutura estabelecida entre as premissas, a relação de consequência e a conclusão. Você estudará agora o raciocínio dedutivo e o raciocínio indutivo. Raciocínio dedutivo válido No raciocínio dedutivo, na dedução, toda a informação contida na conclusão já estava contida nas premissas, de maneira explícita ou implícita. 50 Universidade do Sul de Santa Catarina O raciocínio dedutivo válido, a dedução, é o raciocínio em que as premissas fornecem provas convincentes, determinantes, necessárias para a conclusão. Veja que, no raciocínio dedutivo válido, em função da relação de consequência, a conclusão deve necessariamente decorrer das premissas. Na conclusão de uma dedução, expressamos algo que já estava dito nas premissas, ou seja, tornamos explícito o conteúdo das premissas. Ao confeccionar trabalhos universitários, você pode usar e abusar desse tipo de raciocínio. Veja alguns exemplos simples de raciocínios dedutivos válidos: Todos os mamíferos têm coração. Todos os cachorros são mamíferos. Logo, todos os cachorros têm coração. Todos os estudantes são inteligentes. Alguns homens são estudantes. Logo, alguns homens são inteligentes. Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. Raciocínio indutivo válido Em um raciocínio indutivo válido, indução, a conclusão decorre ‘suficientemente’ das premissas. Necessário indica algo que é assim e não pode ser de outra maneira. É impossível que não seja dessa maneira e é impossível que possa ser de outra maneira. 51 Filosofia Unidade 2 O raciocínio indutivo válido, a indução, é o raciocínio que não tem a pretensão de que suas premissas proporcionem provas convincentes, necessárias, de certeza absoluta, da verdade da conclusão, mas de que tenham ‘indícios’ suficientes, que tenham algumas ‘provas’ relevantes para a conclusão. Veja que, por intermédio das premissas de uma indução, também obtemos dados para a conclusão. Na conclusão de uma indução, também concluímos algo que foi dito a partir das premissas. Porém, na conclusão da indução, afirmamos algo que está além do que foi dito nas premissas. Em função dessa condição da indução, a partir desses indícios ‘suficientes’ fornecidos pelas premissas e expressos na conclusão, os raciocínios indutivos podem ser avaliados como melhores ou mais fortes, piores ou mais fracos, conforme o grau de verossimilhança ou de probabilidade. Embora a conclusão do raciocínio indutivo forneça uma informação que está além do que foi dito nas premissas, o raciocínio indutivo tem a função de ampliar o alcance de nossos conhecimentos. Ao confeccionar trabalhos universitários, utilize esse tipo de raciocínio com muito cuidado. Veja alguns exemplos de raciocínios indutivos: Todos os sapos até hoje observados e dissecados tinham coração. Logo, todos os sapos têm coração. Aves, peixes e plantas são seres vivos. As aves, os peixes e as plantas morrem. Logo, todos os seres vivos morrem. Dado uma saca de grãos de café de 60 Kg. Retiramos uma amostra de grãos de café com 1Kg. Todos os grãos de café da amostra são do tipo ‘X’. Logo, todos os grãos da saca de café são do tipo ‘X’. Suficiente, no sentido lógico do termo, é aquilo que satisfaz, que basta, que habilita, que capacita. 52 Universidade do Sul de Santa Catarina O raciocínio indutivo é considerado válido em função de certa verossimilhança, de certa probabilidade, em relação à realidade. Se novos indícios, elementos, amostras, forem encontrados, e indicarem que uma premissa precisa ser revista, então, corremos o risco de que nosso raciocínio seja inválido. Você deve ficar atento a esses indícios ao interpretar uma indução. A identificação dos raciocínios válidos, dedução ou indução, pode ser feita por meio de uma análise intuitiva ou mais exaustiva. Neste livro didático, permanecemos no nível intuitivo. Existem vários métodos exaustivos de cálculo, de prova e de justificação dos raciocínios válidos, mas não os abordaremos neste livro, pois, para tanto, precisaríamos prolongar-nos muito neste conteúdo. Seção 5 – Raciocínios inválidos Nesta seção, você estudará o que é um raciocínio inválido. Dessa forma, você estudará as falácias e os sofismas, que nada mais são do que deduções ou induções inválidas. Você sabe o que é um raciocínio inválido? Um raciocínio inválido, incorreto, ilegítimo, é todo raciocínio tal que a conclusão não decorre das premissas. No caso de raciocínio inválido, as premissas não sustentam necessariamente a conclusão de um raciocínio dedutivo; nem sustentam suficientemente a conclusão de um raciocínio indutivo. Saiba, também, que há um modo de pensar, lógico, diferente do dedutivo e do indutivo, e que é denominado abdutivo. Neste método, primeiro se parte da conclusão do ‘raciocínio’ para depois se dedicar as premissas. Ele é usado, por exemplo, por detetives, tais como Sherlock Holmes, que parte da conclusão de um fato ocorrido, de um roubo ou da morte de alguém, para tentar descobrir, na sequência, quais as premissas que sustentaram aquela situação. A investigação de tais premissas, supostamente levariam o detetive a encontrar o ladrão ou assassino. 53 Filosofia Unidade 2 A Lógica também estuda os raciocínios ditos inválidos, que mesmo aparentemente válidos, não o são. Os raciocínios inválidos geralmente fogem do tema proposto ou embaraçam os debatedores. É usual chamar os raciocínios inválidos de falácias ou de sofismas. Tanto as falácias quanto os sofismas são raciocínios inválidos, porque suas premissas não são suficientes ou nem são necessárias para se chegar à conclusão dada. O sentido de falácias e sofismas está muito próximo. Veja: A falácia é um raciocínio inválido que ocorre como uma falha de quem argumenta. O sujeito que usa uma falácia simplesmente se enganou. O sofisma é um raciocínio inválido que ocorre com o objetivo de enganar. O sujeito que usa o sofisma está consciente, pois sabe que usa um raciocínio inválido. O sujeito que usa o sofisma tem a intenção de enganar. Observe que a diferença entre os sofismas e as falácias reside no fato de que as falácias representam o uso inocente, ignorante, de raciocínios inválidos, enquanto os sofismas representam o uso intencional de raciocínios inválidos. Veja agora alguns tipos de raciocínios inválidos (sofismas ou falácias) que devem ser identificados e evitados. Falácia da generalização apressada A falácia da generalização apressada é um raciocínio inválido, em que propomos uma conclusão geral
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