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Artigo Planejamento e Programação Motora Vocal-

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1- PLANEJAMENTO E PROGRAMAÇÃO MOTORA VOCAL
1.1 - PROCESSOS DA FALA.
De acordo com Kent o controle motor da fala é o conjunto de sistemas e estratégias que dominam a produção da mesma e que desenvolvimento da linguagem inicial, não está totalmente estabelecido (KENT, 2000). 
Caruso e Strand (1999) apresentam exemplos de produção de fala que envolve aspectos motores, cognitivos, linguísticos essenciais para os sistemas implicados nos processos sensoriomotores de construção e desenvolvimento de fala.
A primeira fase do modelo demonstrado é a etapa cognitiva. Ela refere-se à organização da comunicação que deseja ser enviada ou transmitida através de um sistema simbólico que será difundido por meio da fala. Assim sendo, cognição exerce interação com aspectos linguisticos e é iniciado o estagio de formulação linguistica. Nessa fase dá-se a recuperação de vocábulos, o mapeamento fonológico e a organização sintática. As elaborações são mentais e antecedem movimentos obrigatorios para a construção da fala. São iniciados a partir deste ponto os processos especificos ao sistema motor de fala. Esses processos estão divididos em três etapas: (1) planejamento motor; (2) programação motora e (3) execução motora (CARUSO; STRAND, 1999).
1.2 - PLANEJAMENTO MOTOR VOCAL
O planejamento motor é o procedimento subjacente precedente à fala e, portanto, representa um significativo papel na transmutação de processos cognitivos/linguisticos em movimentos de fala. Nesse nível do modelo, os movimentos articulatórios necessários para produzir as características acústicas da mensagem pretendida são planejados. O indivíduo planeja, então, a configuração espacial (postura articulatória) alinhada ao objetivo acústico pretendido e a dinâmica do movimento articulatório necessário para atingir essa meta e metas subsequentes no enuciado a ser produzido. (SHRIBERG; ARAM; KWITKOWSKI, 1997; CARUSO; STRAND, 1999).
O dominio fonológico classificado como padrão intercorre, dessa maneira, quando, dentro de uma faixa etária (por volta de quatro ou cinco anos), ocorre à aquisição do sistema fonologico e é alcançada naturalmente uma sequência habitual à grande parte das crianças. (LAMPRECHT, 2004).
Qualquer alteração de palavras presume o desempenho de vários órgãos – motores, sensoriais e cerebrais – de maneira concomitante. Assim, a integridade desses sistemas representa a prontidão biológica do indivíduo para a linguagem falada e, a partir do amadurecimento físico e cognitivo ocorre a evolução na comunicação (BOONE E PLANTE, 1994). Essa habilidade humana em comunicar-se de maneira eficiente se deve, especialmente, a um sistema nervoso complexo. de acordo com a função que exercem Este igualmente responsável pelo processo articulatório pode ser dividido em duas partes, sendo: uma via aferente que conduz sinais de neurônios sensoriais ao Sistema Nervoso Central – SNC e outra eferente, os que vão dos centros nervosos para a periferia do Sistema Nervoso Periférico – SNP (SPINELLI, MASSARI E TRENCHE, 1989; BOONE E PLANTE, 1994).
Segundo Spinelli, Massari e Trenche (1989) e Boone e Plante (1994), o Sistema Nervoso Central é composto por todas as referências que servem de correção aos atos articulatórios ou modelo, ou seja, o retorno interno e externo. Para isto, apóiam-se nas seguintes funcionalidades: nervo auditivo (recepção, discriminação e retenção do modelo acústico); sensação tátil (responsável pelos pontos de contato durante a articulação); sensibilidade proprioceptiva (análise e sensação do movimento articulatório e tonicidade da musculatura envolvida) e percepção visual (formação de modelos visuais das produções articulatórias).
Já o Sistema Nervoso Periférico é o principal responsável pela realização dos movimentos articulatórios. Para que a produção da fala aconteça adequadamente é necessário que os movimentos realizados tenham muita precisão, ou seja, que a movimentação dos órgãos fonoarticulatórios (OFA) ocorra de maneira apropriada. (SPINELLI, MASSARI E TRENCHE, 1989; BOONE E PLANTE, 1994).
Dessa maneira para que ocorra constituição da fala, é necessário que haja integração estrutural e controle muscular do corpo, além da associação das regiões do cérebro mais interligadas ao funcionamento da linguagem que são as do hemisfério esquerdo. Dessa forma envolvendo a fissura de Sílvio (uma fenda profunda que se inicia na base do cérebro).e as áreas nas regiões posteriores da fissura de Sílvio, próximas às áreas auditivas principais do cérebro, estão associadas à compreensão da linguagem. Ás areas associadas ao funcionamento da linguagem expressiva rdtão localizadas na região anterior à fissura, próximas às áreas motoras principais, (BOONE E PLANTE, 1994; MAGISTRIS, RIBEIRO E DOUGLAS, 1999/2000).
1.3- PROCESSOS DE PROGRAMAÇÃO MOTORA E EXECUÇÃO DA FALA
O processo de programação motora da fala é responsável pelo controle de tempo e posicionamento, envolvendo ainda variáveis de força a fim de regular o movimento articulatório e alcançar o objetivo final. O resultado do planejamento e da programação dos movimentos da fala corresponde a execução motora. Nesse ponto do modelo é importante ressaltar que mesmo depois do início da produção de fala, o sistema é flexível o suficiente para fazer mudanças, existindo, então, uma interação entre a programação e a execução motora (SHRIBERG; ARAM; KWITKOWSKI, 1997; CARUSO; STRAND, 1999).
Em seus aspectos motores, a produção de palavras depende, por um lado, da região frontal ascendente, zona de representação da face, próximo à região da mão. O conjunto dessas regiões corticais é que intervém quando falamos, fazendo funcionar os diferentes órgãos periféricos que permitem a nossa fala: músculos respiratórios, pregas vocais, cavidades nasal e oral, onde a posição e os movimentos da língua e dos lábios irão modelar os sons produzidos (AIMARD, 1998).
Verifica-se, assim, que a execução da fala exige o papel de outras estruturas cerebrais, dentre elas as áreas de Broca, Wernicke e Penfield (MAGISTRIS, RIBEIRO E DOUGLAS, 1999/2000).
Kimura et al. (1989) referem que a execução de movimentos orais isolados é controlada por um sistema diferente daquele que controla a execução de movimentos sequencializados. Além disso, a complexidade do movimento não faz parte de diferentes níveis de um mesmo sistema, porém uma falha no sistema responsável pela realização dos movimentos individuais limita a capacidade de realização de movimentos sequencializados e que o sistema necessário para organizar diferentes movimentos em uma determinada sequência é dispensável na performance de movimentos isolados.
AIMARD, P. O surgimento da linguagem na criança. Porto Alegre: Artmed, 1998.
CARUSO, A.; STRAND , E. Motor speech disorders in children: Definitions, background and a theoretical framework. In Caruso A, Strand EA (eds.): Clinical management of motor speech disorders in children. New Yourk, NY: Thieme, pp 1.27, 1999.
BOONE, D.R.; PLANTE, E. Comunicação humana e seus distúrbios. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
KENT, R. D. Research on speech motor control and its disorders: a review and prospective. Journal of Communication Disorder, 2000, v. 33, 391-428.
KIMURA, D. et al. The relation between oral movements control and speech. Brain and Language, 1989, v. 37, 565-590.
LAMPRECHT, R. R. Antes de mais nada. In: Lamprecht, R.R. (org). Aquisição Fonológica do Português. Porto Alegre: Artmed, 2004
SHRIBERG, L.D.; ARAM, D.M.; KWIATKOWSKI, J. Developmental apraxia of speech: descriptive and theoretical perspectives. Journal of Speech, Hearing and Language Research, 1997, 40, 273-285.
SHRIBERG, L. D. & KWIATKOWSKI, J. Phonological disorders I: A diagnostic classification system. Journal of Speech and Hearing Disorders, 1982, v.47, 226-241.
SPINELLI, V.P.; MASSARI, I.C.; TRENCHE, M.C.B. Distúrbios articulatórios. In: FERREIRA, L.P. et al. Temas de Fonoaudiologia. São Paulo: Edições Loyola, 1989.
MAGISTRIS, A.; RIBEIRO, M.S.; DOUGLAS, C.R. Fisiologia da fala e da fono- articulação. In: DOUGLAS, C. R. Tratado de FisiologiaAplicada às Ciências da Saúde. 4. ed.São Paulo: Robe editorial, 1999/ 2000.

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