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Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 1 MANEJO DAS VIAS AÉ- REAS E VENTILAÇÃO A entrega inadequada de sangue oxigenado para o cére- bro e outras estruturas vitais é a forma mais rápida de morte de pacientes feridos. Uma via aérea protegida e desobstruída e ventilação adequada são cruciais para prevenir hipoxemia. Proteção de via aérea comprome- tida, fornecimento oxigênio e ventilação de apoio têm prioridade sobre o manejo de todas as outras condições. Mortes evitáveis precoces por problemas das vias aéreas após o trauma muitas vezes resultam de: ▪ Falha em avaliar adequadamente as vias aéreas; ▪ Falha em reconhecer a necessidade de intervenção; ▪ Inabilidade de estabelecer via aérea; ▪ Inabilidade de reconhecer a necessidade de um plano alternativo de vias aéreas em caso de tentativas repetidas de intubação malsucedidas; ▪ Falha em reconhecer via aérea colocada incorretamente ou em usar técnicas adequadas para garantir a colocação correta do tubo; ▪ Deslocamento de via aérea previamente estabelecida; ▪ Falha em reconhecer a necessidade de ventilação. Há muitas estratégias e opções de equipamentos para o manejo da via aérea no trauma. É de fundamental importância levar em consideração o ambiente em que o tratamento do paciente está ocorrendo. VIA AÉREA Primeiro passo para identificar e manejar o comprome- timento com potencial de risco de vida é reconhecer si- nais objetivos de obstrução e identificar qualquer trau- ma ou queimadura envolvendo face, pescoço e laringe. RECONHECIMENTO DO PROBLEMA O comprometimento das vias aéreas pode ser súbito e completo, insidioso e parcial e/ou progressivo e recorrente. Apesar de frequentemente relacionada com dor e/ou anisedade, taquipneia pode ser sútil, mas é sinal precoce. Avaliação inicial e frequente são críticas. AVALIAÇÃO INICIAL paciente falando fornece garantia momentânea de que a via aérea está pérvia e não comprometida. Resposta verbal positiva e apropriada com voz clara indica via aérea patente, ventilação intacta e perfusão cerebral suficiente. Falha em responder ou resposta inapropriada sugere nível de consciência alterado que pode resultar de comprometimento de via aérea/ventilação. Pacientes com nível alterado de consciência estão em risco comprometimento e frequentemente requerem via aérea definitiva. VIA AÉREA DEFINITIVA tubo colocado na traqueia, com a balonete insuflado abaixo das cordas vocais e, conectado a uma forma de ventilação assistida enriquecida com oxigênio, e via aérea fixada no lugar com um método de estabilização apropriado. Pacientes inconscientes com ferimento na cabeça, menos responsivos devido ao uso de álcool e/ou outras drogas, e os com lesão torácica podem ter o esforço ventilatório comprometido. Nesses a intubação endotraqueal fornece uma via aérea, oxigênio suplementar, suporte ventilatório e prevene aspiração. Manter oxigenação e prevenir hipercarbia são críticos no manejo de paciente com trauma, especialmente nos que sofreram ferimentos na cabeça. Pacientes com queimadura facial e os com potencial lesão por inalação estão em risco de comprometimento respiratório insidioso, considerar intubação preventiva. É importante antecipar o vômito em todos os pacientes com lesão e estar preparado para manejar a situação. A presença de conteúdos gástricos na orofaringe apresenta um risco significante de aspiração. Deve ser feita sucção imediata e rotação para posição lateral enquanto restringe o movimento da coluna cervical. TRAUMA MAXILOFACIAL demanda manejo agressivo, mas cauteloso. Pode produzir fraturas e deslocamentos que comprometem a naso- e orofaringe. FRATURAS FACIAIS associadas a hemorragia, edema, aumento de secreções e deslocamento de dentes, podendo causar dificuldades adicionais em manter via aérea pérvia. FRATURAS DA MANDÍBULA especialmente corporais bi- laterais, podem causar perda de suporte estrutural da via aérea, e obstrução das vias aéreas pode ocorrer se o paciente estiver em uma posição supina. Pacientes que se recusam a deitar podem estar experienciando dificul- dade em manter a via aérea ou manipular secreções. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 2 TRAUMA DO PESCOÇO lesão penetrante pode causar lesão vascular com hematoma significante, resultando em deslocamento ou obstrução de via aérea. Pode ser necessário estabelecer emergencialmente via aérea cirúrgica se impedir intubação endotraqueal bem- sucedida. Hemorragia de lesão vascular adjacente pode ser massiva e controle operatório pode ser necessário. Lesões contusa e penetrante podem causar ruptura da laringe ou traqueia, resultando em obstrução da via aérea e/ou sangramento severo na árvore bronquial, necessitando urgentemente de via aérea definitiva. Lesões que envolvem ruptura da laringe ou traqueia, ou compressão da via aérea por hemorragia em tecidos moles podem causar obstrução parcial de via aérea. Para prevenir exacerbamento da lesão existente, insira um tubo endotraqueal com cautela e de preferência sob visualização. TRAUMA LARÍNGEO raro, pode apresentar obstrução a- guda de vias aéreas. Indicada pela tríade de sinais clíni- cos: rouquidão, enfisema subcutâneo e fratura palpável. Obstrução completa da via aérea ou estresse respirató- rio severo por obstrução parcial justifica tentativa de in- tubação. Intubação por endoscópio flexível pode ser útil se realizada prontamente. Se mal-sucedida, traqueosto- mia de emergência é indicada, seguida de reparo cirúrgico. TRAQUEOSTOMIA é difícil de realizar em condições de emergência, pode estar associada a sangramento abundante e pode ser demorada. CRICOTIREOIDOTOMIA CIRÚRGICA não é preferida na situação, mas pode ser opção de salvamento. Lesão penetrante da laringe ou traqueia pode ser aberta e requerer manejo imediato. Completa transecção ou oclusão de via aérea com sangue ou tecido mole pode causar comprometimento agudo de via aérea, exigindo correção imediata. Essas lesões são frequentemente associadas a trauma no esôfago, a. carótida ou v. jugu- lar, como também destruição de tecido mole ou edema. Respiração ruidosa indica obstrução parcial que pode de repente tornar-se completa. Ausência de sons de respiração sugere obstrução completa. Quando o nível de consciência do paciente está deprimido, a detecção é mais sútil, respiração difícil pode ser a única pista de obstrução de via aérea ou lesão traqueobronquial. Se há suspeita de fratura, baseada no mecanismo de lesão e achados físicos sutis, uma TC pode auxiliar o diagnóstico. SINAIS OBJETIVOS DE OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA Pacientes com sinais objetivos de obstrução de via aérea ou reserva fisiológica limitada devem ser tratados com extremo cuidado Passos para identificação: 1. Observar: agitação (sugere hipóxia) ou embotamento (sugere hipercarbia); cianose – achado tardio e difícil em pele pigmentada; retrações e uso da musculatura acessória. Oximetria de pulso usada precocemente pode detectar oxigenação adequada antes da cianose. 2. Ouvir sons anormais, respiração ruidosa – obstrução. Oclusão parcial da faringe ou laringe sons de ronco, gorgolejo e canto. Obstrução funcional da laringe rouquidão (disfonia). 3. Avaliar o comportamento do paciente. Pacientes abusivos e beligerantes podem estar em hipóxia, não assumir intoxicação. VENTILAÇÃO Uma via aérea pérvia apenas beneficia o paciente quando a ventilação também é adequada. RECONHECIMENTO DO PROBLEMA A ventilação pode estar comprometida por obstrução de via aérea, mecanismos ventilatórios alterados e/ou depressão do SNC. TRAUMA TORÁCICO DIREITO particularmente com fratura de costelas, causa dor ao respirar e leva a respiração rápida, ventilação rasa e hipoxemia. Pacientes idosos e indivíduos com disfunção pulmonar preexistente estão em risco significativo de falha ventilatória. Pacientespediátricos podem sofrer lesão torácica significante sem fratura de costelas. LESÃO INTRACRANIANA pode causar padrão anormal de respiração e comprometer a ventilação adequada. LESÃO DA COLUNA CERVICAL pode resultar em paresia (motilidade menor que a normal) ou paralisia dos músculos respiratórios. Quanto mais proximal a lesão mais provável será a deficiência respiratória. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 3 LESÕES ABAIXO DO NÍVEL DE C3 resultam em manutenção da função diafragmática e perda da contribuição dos músculos intercostais e abdominais. RESPIRAÇÃO EM GANGORRA abdome é empurrado para fora com a inspiração, enquanto a parte inferior da caixa torácica é puxada para dentro. Padrão ineficiente que resulta em incursões rápidas e rasas, levando à atelectasia, incompatibilidade de ventilação e perfusão e insuficiência respiratória SINAIS OBJETIVOS DE VENTILAÇÃO INADEQUADA 1. Procurar por ascensão e descida simétricas do tórax e excursão adequada da parede torácica. Assimetria sugere imobilização da caixa torácica, pneumotórax ou tórax instável. Respiração difícil pode indicar ameaça iminente à ventilação. 2. Ouvir o movimento do ar em ambos os lados do tórax. Sons respiratórios diminuídos ou ausentes em um ou ambos hemitórax devem alertar para a presença de lesão torácica. FC rápida como taquipneia, pode indicar angústia respiratória. 3. Usar o oxímetro de pulso para medir a saturação de oxigênio e avaliar a perfusão periférica. 4. Usar capinografia em respiração espontânea e em pacientes intubados (confirmar a posição do tubo na via aérea) para avaliar se a ventilação é adequada. MANEJO DE VIA AÉREA Avaliar rápida e adequadamente a perviedade da via aérea e adequação da ventilação, mediada da oximetria e pulso e níveis de CO2 expirado são essenciais. Se problemas forem identificados ou suspeitados deve- se tomar medidas imediatas para melhorar a oxigenação e reduzir risco de comprometimento ventilatório adicional, incluindo: técnicas de manutenção de via aéreas, medidas definitivas das vias aéreas e métodos de fornecer ventilação suplementar. Todas essas ações requerem potencialmente movimento do pescoço, portanto restrição do movimento da coluna cervical é necessário em todos os pacientes de trauma com risco de lesão vertebral até seja excluído por adjuntos radiográficos apropriados e avaliação clínica. Alto fluxo de oxigênio é necessário antes e imediata- mente depois de instituir medidas de manejo das vias aéreas. Um aparelho rígido de sucção é essencial e deve estar prontamente disponível. Pacientes com lesões faciais podem apresentar fratura cribiforme associada e a inserção de qualquer tubo pelo nariz pode resultar em passagem pela abóbada craniana. Paciente usando capacete e que requer manejo de via aérea deve ter sua cabeça e pescoço mantidos em posição neutra enquanto o capacete é removido. Uma pessoa restringe o movimento da coluna cervical por baixo enquanto uma segunda expande os lados do capacete e o remove por cima. Clínicos reestabelecem a restrição de movimento da coluna cervical por cima e protegem a cabeça e o pescoço do paciente durante o manejo das vias aéreas. Usar um cortador de gesso para remover o capacete enquanto estabiliza cabeça e pescoço pode minimizar o movimento da coluna cervical em paciente com lesão conhecida. PREVENDO O MANEJO DIFÍC IL DAS VIAS AÉREAS Antes de tentar intubar, avaliar a via aérea do paciente para prever a dificuldade da manobra. FATORES QUE INDICAM POTENCIAL DIFICULDADE ▪ Lesão da coluna cervical; ▪ Artrite severa na coluna cervical; ▪ Trauma maxilofacial ou mandibular significativo; ▪ Abertura de boca limitada; ▪ Obesidade; ▪ Variações anatômicas (queixo recuado, sobremor- dida e musculatura cervical curta); ▪ Pacientes pediátricos. Quando tais dificuldades são encontradas, médicos qualificados devem ajudar. LEMOM útil para avaliação pré-anestésica e muitos dos seus componentes são relevantes no trauma. LOCALIZE EXTERNAMENTE procurar por característi- cas conhecidas por dificultar a intubação ou ventilação. EXAMINE AS DISTÂNCIAS: REGRA 3-3-2 para permi- tir o alinhamento dos eixos faríngeo, laríngeo e oral e, portanto, a intubação simples. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 4 ▪ Distância entre os dentes incisores deve ser de no mínimo 3 dedos. ▪ Distância entre o osso hiode e o queixo deve ser de no mínimo 3 dedos. ▪ Distância entre incisura tireóidea e assoalho da boca deve ser de no mínimo 2 dedos. MALLAMPATI assegura que a hipofaringe é visualizada adequadamente. Em pacientes em decúbito dorsal é possível estimar o score pedindo ao paciente que abra completamente a boca e projete a língua, a luz laringoscópica é direcionada de cima à hipofaringe para avaliar a extensão a que é visível. OBSTRUÇÃO qualquer condição que a provoque. MOBILIDADE DO PESCOÇO requisito vital. Em pacientes sem lesão traumática pode ser avaliada pedindo ao paciente que coloque o queixo sobre o tórax e então o estenda até olhar para o teto. Pacientes que requerem restrição de movimento da coluna cervical são mais difíceis de intubar. ESQUEMA DE DECISÃO DA VIA AÉREA Determina a rota apropriada para manejo de via aérea. O algoritmo é aplicado apenas para pacientes que estão em estresse respiratório agudo ou em apneia, precisam de uma via aérea imediata e, potencialmente, têm uma lesão na coluna cervical com base no mecanismo da lesão ou nos achados do exame físico. A primeira prioridade de manejo da via aérea é garantir oxigênio contínuo durante a restrição de movimento da coluna cervical. Esta tarefa é realizada inicialmente pelo posicionamento e uso de técnicas preliminares de vias aéreas. Uma equipe então passa um tubo endotraqueal enquanto uma segunda pessoa restringe manualmente o movimento da coluna cervical. Se um tubo endotraqu- eal não pode ser inserido e o estado respiratório do paciente está em risco, deve-se tentar ventilação por máscara laríngea ou outro dispositivo extraglótico como uma ponte para uma via aérea definitiva. Se a medida falhar, uma cricotireoidostomia deve ser realizada. TÉCNICAS DE MANUTENÇÃO DAS VIAS AÉREAS Em pacientes com nível de consciência diminuído, a lín- gua pode cair para trás e obstruir a hipofaringe. Para corrigir prontamente, deve-se usar manobras de ele- vação do mento ou tração da mandíbula. A via aérea pode ser mantida com via aérea nasofaríngea ou orofaríngea. As manobras podem produzir ou agravar lesões, por isso a restrição do movimento da coluna cervical é obrigatória durante o procedimento. MANOBRA DE ELEVAÇÃO DO MENTO colocar os dedos de uma mão abaixo da mandíbula e então gentilmen- te levantando-a para cima para trazer o queixo ante- rior. Com o dedão da mesma mão, levemente depri- mir o lábio inferior para abrir a boca. O dedão também pode ser colocado atrás dos incisores inferiores simulta- neamente levantando o queixo suavemente. Não hiperestenda o pescoço. MANOBRA DE TRAÇÃO DA MANDÍBULA segure os ân- gulos das mandíbulas com uma mão de cada lado e então desloque-a para fren- te. Quando usada com uma máscara facial ou dispositivo de máscara-bolsa, resulta em boa vedação e ventilação adequada. Não hiperestenda o pescoço. VIA AÉREA NASOFARÍNGEA inserida em uma narina e passada gentilmente na orofaringe posterior. Deve ser bem lubrificada e inserida na narina que aparenta estar desobstruída, se obstrução for encontrada du- rante introdução, parar e tentar a outra. Não tentar esse procedimento em pacientes com suspeita, ou potencial, fratura de placa cribiforme. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 5 VIA AÉREA OROFARÍNGEA inserida na boca atrás da língua. TÉCNICA inserir com a parte curvada direcionada para cima até que toque o palato mole, rodar 180° para que acurva fique voltada para baixo e coloque- a no lugar sobre a língua. Não usar esse método em crianças, pois a rotação pode danificar boca e faringe, use um depressor de língua e insira o dispositivo com o lado curvado para baixo, tomando cuidado para não empurrar a língua para baixo, bloqueando a via aérea. Ambas as técnicas podem induzir engasgo, vômito, e aspiração, portanto use as com cautela em pacientes conscientes. Os que toleram uma via aérea orofarín- gea são altamente propensos a requerer intubação. DISPOSITIVOS EXTRA- E SUPRAGLÓTICOS utilizados no manejo de pacientes que requerem adjunto avançado de vias aéreas e intubação falhou ou é improvável de ter sucesso. VIA AÉREA DE MÁSCARA LARÍNGEA (LMA) E INTUBAÇÃO LMA (ILMA) efetiva no tratamento de pacientes com vias aéreas difíceis, particularmente quando tentativas de intubação endotraqueal ou ventilação com máscara-bolsa falhou. LMA não fornece via aérea definitiva, colocação adequada é difícil sem treinamento apropriado. ILMA aprimoramento do dispositivo permitindo intubação pelo LMA. Quando um paciente tem um LMA ou ILMA na chegada ao departamento de emergência, os médicos devem planejar uma via aérea definitiva. Outros dispositivos que não requerem insuflação do manguito, como o dispositivo supraglótico i-gel® para vias aéreas, podem ser usados em uma LMA, se disponível. VIA AÉREA DO TUBO LARÍNGEO (LMA) E ILTA LTA dispositivo de via aérea extraglótica com capacidades semelhantes às do LMA em fornecer ventilação bem-sucedida. Não é dispositivo de via aérea definitiva. É colocado sem visualização direta da glote e não necessita de manipulação significativa da cabeça e pescoço. ILTA evolução do dispositivo, permitindo intubação. VIA AÉREA ESOFÁGICA MULTILÚMEN usada por equipe pré-hospitalar para fornecer oxigenação e ventilação quando via aérea definitiva não é viável. Um dos orifícios se comunica com o esôfago (ocluído com um balão) e outro com a via aérea (ventilado). O uso de detector de CO2 fornece evidência de ventilação da via aérea. Deve ser removido e/ou fornecida via aérea definitiva após avaliação adequada. Nível de CO2 expirado deve ser monitorado, pois fornece informação útil em relação a ventilação e perfusão. VIAS AÉREAS DEFINITIVAS VIA AÉREA tubo colocado na traqueia com a balonete insuflado abaixo das cordas vocais, tubo conectado a uma forma de ventilação assistida enriquecida com oxigênio, e a via aérea fixada no lugar com um método de estabilização apropriado. TIPOS tubo orotraqueal, tubo nasotraqueal e via aérea cirúrgica. CRITÉRIOS PARA ESTABELECER VIA AÉREA DEFINITIVA BASEADOS EM SINAIS CLÍNICOS ▪ Inabilidade de manter via aérea pérvia por outros métodos, com iminente ou potencial comprometimento. ▪ Inabilidade de manter oxigenação adequada com suplementação de oxigênio por máscara facial, ou a presença de apneia. ▪ Obnubilação ou combatividade resultado de hipoperfusão cerebral. ▪ Obnubilação indicando a presença de lesão cerebral e requerendo ventilação assistida (ECG < 8), atividade convulsiva sustentada, e necessidade de proteger via aéreas inferiores de aspiração de sangue ou vômitos. A urgência da condição do paciente e indicação para in- tervenção nas vias aéreas ditam a rota apropriada e o método de manejo a ser utilizado. Ventilação assistida contínua pode ser auxiliada por sedação suplementar, analgésicos ou relaxantes musculares, conforme indica- do. Avaliação do estado clínico do paciente e o uso de oximetria de pulso são úteis na determinação da neces- sidade de via aérea definitiva, urgência da necessidade, e, por inferência, efetividade de colocação da via aérea. Apesar de importante estabelecer a presença ou não de fratura da coluna cervical, não obtenha estudos radiológicos até depois de estabelecer uma via aérea definitiva, quando um paciente claramente precisa dela. Pacientes com GSC < 8 requerem intubação imediata. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 6 INTUBAÇÃO ENDOTRAQUEAL ambas as técnicas são seguras e efetivas. OROTRAQUEAL rota preferida e resulta em menos com- plicações na UTI. Indicada para pacientes com apneia. NASOTRAQUEAL alternativa para pacientes respirando espontaneamente. Não indicada em casos de fratura facial, do seio frontal, crânio basilar e placa cribiforme, evidenciadas por olhos de guaxinim com fratura nasal, sinal de Battle e possíveis vazamentos de fluido do LCR. Para realizar intubação orotraqueal é indicada a técnica de três pessoas com restrição de movimento da coluna cervical. Pressão cricoide durante pode reduzir o risco de aspiração, entretanto pode reduzir a visibilidade da laringe. Manipulação da laringe por pressão para trás, para cima e para a direita (BURP) na cartilagem tireóidea pode auxiliar na visualização das cordas vocais. Quando a adição de pressão cricoidea dificulta a visualização da laringe, essa manobra deve ser descontinuada ou reajustada. Mãos adicionais são necessárias para administrar drogas e realizar a manobra de BURP. A avaliação cuidadosa da situação, equipamento e pessoal disponível é obrigatória, e planos de resgate devem estar disponíveis. Bougie de tubo endotraqueal (ITET/GEB) pode ser usado quando a equipe encontra uma via aérea problemática e quando as cordas vocais não podem ser visualizadas na laringoscopia direta. Com o laringoscópio no lugar, passar o GEB cegamente além da epiglote, com a ponta angulada posicionada anteriormente. Confirmar a posição sentindo cliques quando a ponta distal passa ao longo dos anéis traqueais cartilaginosos. Um Bougie inserido no esôfago vai passar todo o seu comprimento sem resistência. Após confirmar a posição, passar o tubo endotraqueal lubrificado sobre o Bougie além das cordas vocais. Se o tubo estiver suspenso nas pregas aritenóide e ariepiglótica, retire-o ligeiramente e gire-o 90° no sentido anti-horário para facilitar o avanço além da obstrução. Remover o Bougie e confirmar a posição do tubo com ausculta de sons de respiração e capnografia. Insuflar o balonete e instituir ventilação assistida. Colo- cação adequada do tubo é sugerida, mas não confirma- da, ouvindo sons respiratórios iguais bilateralmente e não detectando nenhum borborigmo no epigástrio. A presença de borborigmo com a inspiração sugere intubação esofágica e justifica a remoção do tubo. Um detector de CO2 é indicado para auxiliar na confirmação de intubação adequada de via aérea. A presença de CO2 no ar exalado indica que a via aérea foi intubada com sucesso, mas não garante a posição correta do na traqueia. Se CO2 não for detectado, houve intubação esofágica. Posição adequada do tubo na traqueia pode ser confirmada por raio-x de tórax. Após determinar a posição adequada, prenda o tubo no lugar. Se o paciente for movido, reavalie a colocação do tubo com ausculta de ambos os campos pulmonares laterais para igualdade de sons de respiração e reavaliação de CO2 exalado. INTUBAÇÃO ASSISTIDA POR DROGAS (RSI) em alguns casos a intubação é possível e segura sem o uso de drogas. O uso de drogas anestésicas, sedativas e bloqueadoras neuromusculares para intubação endotraqueal em pacientes de trauma é potencialmente perigoso. Indicada em pacientes que necessitam de controle de via aérea, mas têm reflexo nauseoso intacto, especialmente os que sofreram ferimentos na cabeça. TÉCNICA 1. Tenha um plano para o caso de falha que inclua a possibilidade de obter via aérea cirúrgica. Saiba onde o equipamento de resgate de vias aéreas está localizado. 2. Garanta que a sucção e a habilidade de fornecer capacidade de fornecer ventilação com pressão positiva estejam preparadas. 3. Pré-oxigene o paciente com oxigênio a 100%. 4. Aplique pressão sobre a cartilagem cricóidea. 5. Administre droga indutora (etomidato, 0.3 mg/kg) ou sedativa,de acordo com protocolo. 6. Administre 1-2 mg/kg de succinilcolina IV. Após o paciente relaxar: 7. Intube o paciente orotraquealmente. 8. Insufle o balonete e confirme a localização do tubo auscultando o tórax do paciente e determinando a presença de CO2 no ar exalado. 9. Libere a pressão cricóidea. 10. Ventile o paciente. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 7 Etomidato não afeta a pressão sanguínea ou intracranial negativamente, mas pode deprimir a função adrenal e não está disponível universalmente. Fornece sedação adequada. O uso de sedativos deve ser feito com bastante cuidado para evitar a perda de via aérea quando o paciente fica sedado. Succinilcolina é uma droga de ação curta, tem um rápido início de paralisia (< 1 minuto) e duração de ≤ 5 min. Se a intubação for malsucedida, o paciente deve ser ventilado com dispositivo máscara-bolsa até que a paralisia se resolva, por essa razão não são utilizadas drogas de ação longa rotineiramente na sequência rápida de intubação (intubação assistida por drogas). Devido ao potencial de hipocalemia severa, succilcolina deve ser usada com cautela em pacientes com lesões graves por esmagamento, grandes queimaduras e lesões elétricas. Extrema cautela é necessária em pacientes com insuficiência renal crônica preexistente, paralisia crônica e doença neuromuscular crônica. Agentes indutores, como tiopental e sedativos, são potencialmente perigosos no trauma com hipovolemia. VIA AÉREA CIRÚRGICA inabilidade de intubar a traqueia é indicação clara de um plano alternativo de via aérea, incluindo via aérea de: máscara laríngea, tubo laríngeo ou cirúrgica. Indicada na presença de edema da glote, fratura da la- ringe, hemorragia orofaringeal severa que obstrui a via aérea ou inabilidade de colocar um tubo endotraqueal através das cordas vocais. A cricotireoidotomia é prefe- rível à traqueostomia devido à facilidade de realizar, as- sociada a menos sangramento e requer menos tempo. CRICOTIREOIDOTOMIA COM AGULHA em uma emergência fornece oxigênio em curto prazo até que uma via aérea definitiva possa ser colocada. Fornece oxigenação suplementar temporária para que a intubação possa ser realizada de forma urgente, em vez de emergencial. TÉCNICA DE VENTILAÇÃO TRANSTRAQUEAL PERCUTÂNEA (PTO) coloca-se uma cânula plástica de grande calibre (adultos: 12- a 14-; e crianças: 16- a 18-) através da membrana cricotireóidea na traqueia abaixo do nível da obstrução. A cânula é conectada a oxigênio 15 L/min com um conector em Y ou um buraco lateral na tubulação entre a fonte de oxigênio e a cânula de plástico. Insuflação intermitente, 1 segundo sim e 4 não, pode ser atingida colocando o dedão sobre a extremidade aberta do conector Y ou o buraco aberto. O paciente deve ser oxigenado adequadamente por 30- 45 minutos usando essa técnica. Durante os 4 segundos em que o oxigênio não está sendo entregue sob pressão, ocorre alguma expiração. Devido à exalação inadequada, CO2 acumula lentamente, limitando o uso da técnica, especialmente em pacientes com ferimentos na cabeça. Usar PTO com cautela quando há suspeita obstrução completa de corpo estranho da área glótica. Pode ocorrer barotrauma significante, incluindo ruptura pulmonar com pneumotórax hipertensivo. CRICOTIREOIDOTOMIA CIRÚRGICA realizada fazendo uma incisão na pele que se estende através da membrana cricotireoidiana. É inserido uma pinça hemostática curva ou cabo de bisturi para dilatar a abertura, e então é inserido um pequeno tubo endotraqueal ou de traqueostomia (5-7 ID) ou tubo de traqueostomia (5-7 mm OD). Deve-se tomar cuidado, especialmente com crianças, para evitar danos à cartilagem cricóide, que é o único suporte circunferencial para a traqueia superior. Cricotireoidotomia cirúrgica não é recomendada para crianças abaixo de 12 anos. Quando o tubo endotraqueal é usado, deve ser seguro adequadamente para evitar o mau posicionamento, como escorregar para os brônquios ou deslocar completamente. O procedimento não é recomendado em situação de trauma agudo, pois a o pescoço do paciente deve estar em hiperextensão para posicionar adequadamente a cabeça para realizar o procedimento com segurança. MANEJO DA OXIGENAÇÃO O ar inspirado oxigenado é melhor fornecido por meio de uma máscara facial de reservatório de oxigênio bem ajustada com uma taxa de fluxo de pelo menos 10 L/min. Outros métodos (cateter ou cânula nasal e máscara não reinalante) podem melhorar a concentração de oxigênio inspirado. Devido à rapidez de mudanças na oxigenação e a impossibilidade de detectá-las clinicamente, oximetria de pulso deve ser usada em todos os momentos. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 8 OXIMETRIA DE PULSO método não invasivo para medir a saturação de oxigênio do sangue arterial. Não mede a pressão parcial de oxigênio e, dependendo da posição da oxihemoglobina na curva de dissociação, a PaO2 pode variar amplamente. Entretanto saturação O2 ≥ 95% é uma forte evidência corroborante de oxigenação arteri- al periférica adequada PaO2 > 70 mm Hg). Requer perfusão periférica intacta e não distingue oxi- hemoglobina de carboxihemoglobina ou metahemoglo- bina, limitando o uso em pacientes com vasoconstrição severa ou envenenamento por monóxido de carbono. Anemia profunda (hemoglobina < 5 g/dL) e hipotermia (< 30°C) diminui a confiabilidade da técnica. MANEJO DA VENTILAÇÃO Assistência ventilatória pode ser necessária antes da intubação em muitos pacientes de trauma. Ventilação efetiva pode ser atingida por técnicas de máscara-bolsa. Entretanto técnicas de ventilação de uma pessoa, usando uma máscara-bolsa podem ser menos eficazes do que as técnicas de duas pessoas, nas quais os dois pares de mãos pode ser usados para garantir uma boa vedação. Intubação em pacientes com hipoventilação e/ou apneia pode não ser bem-sucedida inicialmente e pode requerir muitas tentativas. O paciente deve ser ventilado periodicamente durante esforços prolongados para intubação. Após intubação da traqueia, usar técnicas de respiração com pressão positiva para fornecer ventilação assisitida. Um respirador regulado por volume ou pressão pode ser usado. Médicos devem estar atentos às complicações de mudança de pressão intratorácica, que pode conver- ter um simples pneumotórax a um pneumotórax hipertensivo ou criar um pneumotórax secundário a barotrauma. Manter oxigenação e ventilação antes, durante e imediatamente depois da completa inserção da via aérea definitiva. Evitar períodos prolongados de ventilação e oxigenação inadequada e ausente. TRABALHO E EQUIPE A maioria das vítimas de trauma requer atenção individual de um gerenciador de vias aéreas. Se a informação pré-hospitalar sugere que o paciente vai necessitar de uma via aérea definitiva, pode ser sensato preparar medicamentos adequados para sedação e intubação assistida por drogas antes da chegada do paciente. Equipamentos para manejo de vias aéreas difíceis devem estar locados de fácil acesso. O momento do gerenciamento definitivo das vias aéreas requer discussão com os consultores da equipe de trauma. Pacientes podem requerer tranferência para a TC, sala de operação ou UTI. O líder deve esclarecer quem será responsável pelo gerenciamento das vias aéreas e da ventilação do paciente após a intubação. OBJETIVOS DO CAPÍTULO 1. Identificar as situações clínicas em que pode haver comprometimento da via aérea. 2. Reconhecer os sinais e sintomas de obstrução aguda da via aérea. 3. Reconhecer o comprometimento ventilatório e os sinais de ventilação inadequada. 4. Descrever as técnicas de obtenção e de manutenção da permeabilidade da via aérea. 5. Descrever as técnicas para confirmar se a ventilação e a oxigenação estão adequadas, incluindo a oximetria de pulso e a monitorização do CO2 expirado(capnografia). 6. Definir o significado da expressão “via aérea definitiva”. 7. Listar as indicações para intubação em sequência rápida. Procedimentos e cirurgias, Impossibilidade de manter VA pérvia, IRAG e refratária, Hipoxia e/ou hipercapnia, ECG (GCS) ≤ 8, Instabilidade hemodinâmica grave ou parada cardiorrespiratória, Antecipação de piora em pacientes queimados ou em pacientes com visível desconforto respiratório que poderão entrar em fadiga da musculatura respiratória. 8. Destacar as etapas necessárias para manutenção da oxigenação antes, durante e após a obenção de uma via áerea definitiva. Medicina UFAL Cecilia Antonieta 82 A 9 REFERÊNCIAS ATLS 10ª edição. Resumo do capítulo 1. Situações clínicas em que comprometimento de via aérea é provável que occora incluem: trauma na cabeça, maxilofacial, no pescoço e laringeal. 2. Obstrução real ou iminente das vias aéreas deve ser suspeitada em pacientes lesados. Sinais objetivos: agitação, cianose, sons respiratórios anormais, rouquidão, deslocamento estridor traqueal e responsividade diminuída. 3. Reconhecer comprometimento respiratório e garantir ventilação efetiva são de importância primária. 4. Técnicas de estabelecimento ou manutenção de via aérea patente incluem: manobras de elevação do queixo e impulso da mandíbula, vias aéreas orofaríngeas e nasofaríngeas, dispositivos extra- e supraglóticos e intubação endotraqueal. Via aérea cirúrgica é indicada quando via aérea é necessária e intubação é mal-sucedida. 5. Em todas as manobras, o movimento da coluna cervical deve ser restringido quando há lesão ou suspeição. 6. A avaliação da perviedade da via aérea e adequação da ventilação deve ser executada rapidamente e com precisão. Oximetria de pulso e medição de CO2 expirado é essencial. 7. Vias aéreas definitivas: intubação endotraqueal e vias aéreas cirúrgicas. Via aérea definitiva deve ser estabelecida se houver qualquer dúvida sobre a integridade da via aérea do paciente e deve ser colocada logo após ventilação do paciente com ar enriquecido com oxigênio, para evitar períodos prolongados de apnéia. 8. Intubação assistida por drogas pode ser necessária em pacientes com reflexo de vômito ativo. 9. Para manter a oxigenação do paciente, ar oxigenado inspirado é melhor fornecido por máscara facial justa com reservatório de oxigênio e taxa de fluxo > 10 L/min. Outros métodos podem melhorar a concentração de oxigênio inspirado.
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