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Vamos conversar sobre Inclusão Escolar? Para que possamos começar nossa conversa sobre Inclusão Escolar, é necessário falarmos da história da Inclusão Escolar que é marcada por preconceito, luta, persistência, incompreensão e exclusão. Ao longo da História da Humanidade, as pessoas deficientes eram vistas como ameaça à ordem da sociedade e foram taxadas como incapazes de aprender e de conviver em sociedade. Dentro de cada época, houve influência de muitas áreas como: Religião, Psicologia, Educação e Sociologia, cada uma com sua teoria influenciou em épocas diferentes no modo de pensar da sociedade em relação a pessoas com necessidades especiais. Existe uma idealização de um tipo de cidadão e quando esta pessoa não se encaixa neste padrão idealizado, ela é vista como “anormal” e é excluída do convívio com a sociedade, sendo privada das atividades sociais e de seus direitos como cidadão. Durante séculos, a sociedade passou por transformações quanto os pensamentos e atitudes voltadas para pessoas deficientes. Nos tempos antigos, estas pessoas não nem o direito a vida, no passado da história da Grécia antiga estas pessoas eram eliminadas, sendo jogadas do alto das montanhas e em Esparta e Atenas, elas eram abandonadas nas florestas como animais. Quando chegamos na Idade Média, era comuns que estas pessoas fossem apedrejadas ou mortas na fogueira da Inquisição, pois eram julgadas seres demoníacos enviados para enfrentarem o poder de Deus. No século XIX e princípios do século XX, a esterilização foi usada para que os “seres imperfeitos” não reproduzissem. O nazismo promoveu, como nos tempos antigos, a aniquilação das pessoas deficientes, pois estas, não correspondiam à “pureza” da raça ariana. Na Inglaterra, paralelamente acontecia um outro tipo de atitude, que não deixa de ser cruel, as pessoas deficientes eram internadas em asilos, onde passariam toda sua vida excluída do convívio familiar e social. Porém no século XIX, mesmo em meio a todos os problemas de exclusão, existia um médico que se chamava Jean Itard, este médico realizou experiências importantíssimas com o pequeno Victor, que foi encontrado em um bosque na região de D’Aveyron, na França, apresentando características animais e deficiência auditiva. O médico realizou sua pesquisa durante três anos e mesmo não conseguindo os resultados que esperava (o de educar completamente a pessoa), ele provou que era possível ensinar pessoas deficientes. “Itard levantou comportamentos e reações de Victor, tudo relacionou e fez descobertas importantes, como as relações fisiológicas entre garganta, nariz, olhos e ouvidos. Assim, criou a otorrinolaringologia. De quebra foi o fundador da psicologia moderna e forneceu importantíssimos elementos para o estudo do significado das aquisições culturais ao funcionamento da inteligência humana. Em outras palavras para a dicotomia natureza x cultura .“ 1 No século XX, a sociedade inicia sua caminhada para aceitação de pessoas portadoras de deficiências em seu meio. O movimento inicia -se na Dinamarca em 1959, onde foram discutidas práticas e atividades sociais para que pessoas deficientes pudessem conviver em sociedade e criaram o Ato Legal que tinha como objetivo a criação de condições de vida para estas pessoas dentro da sociedade e a aquisição dos direitos de cidadão. Ao longo do século XX e com tantas mudanças ocorrendo na sociedade, leis importantíssimas foram criadas para garantir os direitos e deveres das pessoas deficientes como cidadãos. As idéias sobre o assunto expandiram-se e novas pesquisas foram realizadas, novos conceitos surgiram e estas pessoas passaram a ser vistas como pessoas com necessidades especiais e não como doentes irrecuperáveis, conquistando o acesso à educação, cultura e condições de vida. A discussão sobre o assunto da Inclusão toma força e em 1981, foi redigida a Declaração de Cuenca, no Equador que afirma em seu artigo 1º que as pessoas “deficientes-impedidas” devem exercer seu direito fundamental pelo acesso a 1 Revista Virtual Partes – www.partes.com.br/calunistas/gilbertosilva/meninoselvagem.asp Acesso em :28/4/2021 7:49 http://www.partes.com.br/calunistas/gilberto educação, formação, cultura e informação e em seu artigo 2º, afirma a responsabilidade dos governos e organizações nacionais e internacionais em assegurar a participação dessas pessoas “deficientes-impedidas”, através de apoio econômico e colocando em prática as medidas que possam satisfazer as necessidades educacionais e sanitárias desses cidadãos2. Em 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, que teve como objetivo a discussão para garantia da democratização do ensino, independente das diferenças particulares dos alunos. A partir desta Conferência, o movimento da Educação Inclusiva começa tomar força e novas discussões serão realizadas sobre este assunto. Em Junho de 1994 na cidade de Salamanca, na Espanha acontece mais uma importante Conferência, foi a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade.3 Esta Conferência reuniu mais de 300 representantes de 88 governos e 25 organizações internacionais, com o objetivo de analisar as mudanças necessárias para que a Educação Inclusiva acontecesse de fato. Nesta Conferência, aprovou-se um documento muito valioso para a luta da Inclusão Escolar que foi a Declaração de Salamanca, que aborda as ações que podem transformar em realidade a educação inclusiva, promovendo uma aprendizagem que é humanizadora, respeitando a individualidade, os direitos e os deveres de cada criança. Mesmo com estas conquistas, é necessário frisarmos que a mudança na convivência e modo de pensar em relação às pessoas com necessidades especiais deve vir de dentro para fora, a conscientização é muito importante dentro de cada sociedade, o respeito deve ser trabalhado na educação de todos os cidadãos para que a Inclusão realmente aconteça na escola e na sociedade. 2 http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/67/51/ - acesso em 22/04/07 Legislação referente à Educação Inclusiva – Conteúdo Escola. 3 www.cedipod.org.br/salamanc.htm - Declaração de Salamanca – acesso em 08/04/07 http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/67/51/ http://www.cedipod.org.br/salamanc.htm O que é Inclusão Escolar? – Renovação da Escola Para continuarmos nossa conversa, é muito importante conhecer a essência da palavra Inclusão e seus conceitos. Ao consultar o dicionário, veremos que Inclusão significa compreender, abranger, fazer parte, pertencer. Muito mais importante do que isso é a palavra respeito ser ligada à palavra Inclusão. Segundo Maria Teresa Égler Mantoan Inclusão é: “É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro”.4 Este trecho deixa claro que a Inclusão é o saber conviver, respeitar e aprender junto com o outro. Todo o cidadão tem o direito de conviver em sociedade e de terem acesso à educação, saúde e cultura. Segundo a Professora Arlete Scotto: “Educação Inclusiva exige o atendimento de Necessidades Especiais, não apenas dos portadores de deficiências, mas de todas as crianças. Implica trabalhar com a diversidade, de forma interativa - escola e setores sensíveis. Deve estar orientada para o acolhimento, aceitação, esforço coletivo e equiparação de oportunidades de desenvolvimento. Requerque as crianças portadoras de necessidades especiais saiam da exclusão e 4 http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0182/aberto/mt_67180.shtml - acesso em 22/04/2007 Entrevista com Maria Teresa Égler Mantoan – Fala, Mestre!! Revista Nova Escola On Line http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0182/aberto/mt_67180.shtml participem de classes comuns. Para isso, é necessário um diagnóstico cuidadoso que levante as necessidades específicas de cada criança”.5 Ou seja, a Inclusão é o direito que todos os cidadãos tem de acesso contínuo a escola, orientado por acolhimento à diversidade humana, aceitação das diferenças individuais, atendimento dos alunos com necessidades especiais preferencialmente em classes regulares e esforço coletivo para que todos tenham igualdade nas oportunidades de desenvolvimento com qualidade em todas as dimensões da vida. Para falar de Inclusão Escolar, é muito importante refletir sobre o sentido que se está atribuindo à educação, precisamos atualizar todas as concepções e processos de construção de todo o indivíduo, compreendendo a complexidade e amplitude desse tema. Na última década os conceitos de inclusão foram amplamente discutidos e claramente colocados em leis resoluções e pareceres. No que diz respeito à educação inclusiva o Ministério da Educação implementou o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade que visa disseminar a política de inclusão e apoiar o processo de construção e implementação de sistemas educacionais inclusivos nos municípios brasileiros. Para a renovação da educação e para que haja de fato a Inclusão Escolar é necessária uma grande mudança no paradigma dos sistemas educacionais onde se centra mais no aprendiz, levando em conta suas potencialidades e não apenas as disciplinas e resultados quantitativos, que favorece apenas uma pequena parcela dos alunos envolvidos na escola. A escola deve ter seus projetos renovados para receber estes alunos, não apenas mudanças físicas (rampas e banheiros adaptados), mas também mudanças pedagógicas. Os projetos pedagógicos devem abordar este tema, pois a Inclusão é muito mais do que apenas ter o aluno com necessidade especial dentro dela, o aprendizado 5 http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ent_a.php?t=004 - acesso em 22/04/07 – Entrevistas / Palestras – Profa. Arlete Scotto http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ent_a.php?t=004 deve acontecer de forma qualitativa, respeitando o aprendizado que cada aluno já possui, pois faz parte de sua história de vida. O ideal é que seja planejada em paralelo, à reformulação curricular a formação continuada de professores no sentido de implementarem práticas pedagógicas que reflitam a diversidade de necessidades apresentadas pelos alunos em sala de aula. Segundo Maria Teresa Égler Mantoan: “O aluno é quem deve se adaptar ao currículo já transformado, já inclusivo. A adaptação deve ocorrer no sujeito envolvido no processo educacional e não no currículo”.6 Ou seja, o ensino deve ser transformado no modo em que é aplicado, o aluno especial não deve ter disciplinas especiais e sim aprender o que todos os outros alunos aprendem de forma adaptada, o trabalho em grupo, o incentivo na realização das atividades e a relação humana, fazem com que o aluno com necessidades especiais tenha coragem de enfrentar os obstáculos sociais e aprenda os conteúdos de forma permanente. Como falamos anteriormente, Inclusão Escolar é a valorização e respeito à diversidade de cada indivíduo, partindo deste princípio e nos baseando nas leis e constituições existentes, a educação deve garantir a formação de cidadãos conscientes de seus deveres e direitos de forma igual, independente de suas diferenças culturais, sociais, físicas e mentais. Para a Inclusão acontecer, é necessário comprometimento de todos os lados, família, amigos, professores, diretores e principalmente do governo, este, deve proporcionar condições dignas para os professores terem oportunidade de ensinar com qualidade para estes alunos portadores de necessidades especiais. 6 http://agenda.saci.org.br/index2.php?modulo=akemi¶metro=14164&s=noticias acesso em 22/04/07 Site: Agenda Deficiência – Rede Saci. Notícias: Carta de Princípios do Fórum foi lançada e comentada em evento. http://agenda.saci.org.br/index2.php?modulo=akemi¶metro=14164&s=noticias Pryscilla Laprovitera de Oliveira INCLUSÃO ESCOLAR: UM ASSUNTO PARA TODOS Faculdade Maria Montessori São Paulo 2007 BIBLIOGRAFIA “A integração de pessoas com deficiência – Contribuições para uma reflexão sobre o tema” Ed. Memmon, São Paulo, 1997. Mantoan, Maria Teresa Égler Cedipod – www.cedipod.org.br/salamanc.htm - Acessado em 08/04/07 Conteúdo Escola – www.conteudoescola.com.br/site/content/view/67/51 - Acessado em 22/04/2007. E.Educacional - www.educacional.com.br/glossariopedagogico - Acessado em 08/04/2007. “Inclusão – Um guia para educadores” – Ed. Artmed – Porto Alegre, 1999. Stainback, Susan. Stainback, William. Revista Virtual Partes- www.partes.com.br/colunistas/gilbertosilva/meninoselvagem.asp - acessado em 08/04/2007. http://www.cedipod.org.br/salamanc.htm%20-%20Acessado%20em%2008/04/07 http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/67/51%20-%20Acessado%20em%2022/04/2007 http://www.educacional.com.br/glossariopedagogico%20-%20Acessado%20em%2008/04/2007 http://www.partes.com.br/colunistas/gilbertosilva/meninoselvagem.asp
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