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1 Sumário 1. Caso clínico elaborado por Luiza Alves da Silva.................................02 2. Fisiologia da Glândula Adrenal.............................................................03 3. Fisiopatologia da Síndrome de Cushing Iatrogênica...........................07 4. Farmacologia...........................................................................................09 2 CASO CLÍNICO – AVALIAÇÃO TEÓRICA I P.O.H, 24 anos, sexo feminino, solteira, estudante, natural e residente de Três Lagoas/MS. Em consultório ginecológico, paciente relata “menstruação irregular, insônia, fraqueza, polidipsia, poliúria, muitos pelos no rosto e grande estresse”. Além disso, refere ganho de peso, facilidade de contusões e má cicatrização de feridas. Ao exame físico foi possível observar fácies em “lua cheia”, IMC = 31, glicemia em jejum 115 mg/dL, PA 130 x 90 mmHg, braços e pernas finos, abdome em pêndulo, hipertensão arterial, equimoses em MMII e estrias abdominais. Ao ser questionada sobre o uso de medicamentos, referiu o uso de “Predsim 20 mg” a 2 meses por recomendação do médico dermatologista como parte do tratamento para a dermatite atópica. Hipótese diagnóstica: hipercortisolismo – Síndrome de Cushing iatrogênica. 3 FISIOLOGIA DA GLÂNDULA ADRENAL Glândulas adrenais - bilateralmente, sua morfologia é caracterizada por ser dividida em duas zonas distintas: o córtex e a medula. São localizadas crânio-medialmente aos rins. Além disso, sua secreção hormonal obedece a um sistema de retroalimentação negativa. Córtex adrenal: de origem mesodérmica, apresenta-se subdividido em três zonas, sendo a zona glomerulosa (mais externa, secreta um hormônio mineralocorticoide, a aldosterona), a zona fasciculada (produz o glicocorticóide cortisol) e a zona reticular (produz os hormônios sexuais ou esteróides androgênicos). O colesterol é precursor dos hormônios do córtex. Já a medula adrenal é a região central da glândula e secreta os hormônios chamados de catecolaminas. Zona glomerulosa: seu principal hormônio, a aldosterona, age na regulação da homeostase eletrolítica do meio extracelular, principalmente em relação as concetrações de sódio (Na) e potássio (K). A aldosterona tem como principal local de ação os túbulos distais e ducto coletor do néfron. Sabe-se também que a produção da aldosterona encontra-se sob influência dos níveis séricos de renina, angiotensina e potássio. SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA O aumento da concentração de Na + , assim como um estado de hipotensão, estimula a liberação de renina. A renina irá então hidrolisar o angiotensinogênio à angiotensina I, que nos pulmões e nas células endoteliais, por ação da enzima conversora de angiotensina (ECA), será convertido em angiotensina II. Assim, angiotensina II induz a ação e liberação da aldosterona pela glândula adrenal. A aldosterona atua no rim por meio da maior reabsorção de sódio, menor absorção de potássio e consequente maior excreção dele. Junto com o sódio teremos reabsorção de água e consequente aumento de volume sanguíneo e do débito cardíaco, ocasionando um aumento de pressão arterial. A angiotensina II também age por retroalimentação negativa na síntese de renina, participando em dois diferentes pontos da biossíntese de aldosterona: na conversão de colesterol em pregnenolona e na oxidação de corticosterona para a produção de aldosterona. A síntese de cortisol se inicia pela produção de CRH pelo hipotálamo. O CRH atua na adenohipófise, sobre as células corticotropos. Os corticotropos vão produzir por meio das 4 POMC (Pró-ópio-melanocortina) o ACTH, MSH, lipotropina, BETA-endorfina. A liberação de ACTH, por meio das células hipofisárias, vai atuar na adrenal estimulando a liberação cortisol. O cortisol se ligará a uma proteína plasmática denominada e CBG (globulina ligadora de corticotropina), estabelecendo um equilíbrio entre a forma livre e ligada a proteína. Apenas o cortisol livre apresenta efeito fisiológico. Ocorre também aumento da gliconeogênese, ou seja aumenta a síntese de glicose pelo fígado. Ao mesmo tempo, diminui a captação de glicose pelos tecidos periféricos. Ocorre então aumento da glicemia. Esse efeito gera estímulos ao pâncreas para liberação de insulina. Contudo a resistência insulínica periférica favorece a incidência de Diabetes mellitus em pacientes que utilizam glicocorticoides. Esse fato se justifica fisiologicamente devido o aumento da síntese da glicose que visa a nutrição de órgãos vitais em situações de estresse. Zona fasciculada: responsável pela produção dos glicocorticóides. O principal glicocorticóide é o cortisol. O ACTH hipofisário (hormônio adrenocorticotrópico) é responsável pelo estimulo à síntese dos glicocorticoides, sendo regular pelo CRH hipotalâmico. Ademais, uma grande importância fisiológica consiste na ação sobre o ritmo circadiano pela a liberação do CRH. Do ponto de vista da biossíntese, a produção de glicocorticóides é de maior intensidade pela manhã e de menor intensidade à tarde e à noite, podendo elevar-se novamente durante o sono. Os glicocorticóides são capazes de unir-se a proteínas receptoras no citosol de células alvo, provocando uma translocação para o núcleo, onde influencia a transcrição genética codificado de enzimas especificas indutas de da gliconeogênese. Os glicocorticoides podem também agir em receptores de membranas dos tecidos linfóides, justificando seus efeitos imunossupressores. Portanto, verifica-se que o cortisol apresenta efeitos metabólicos significativos sobre os glicídios, lipídios e proteínas. Assim, efeito do cortisol sobre glicídios observado é a causa da gliconeogênese e da síntese de glicogênio. Dessa forma, o cortisol impede a utilização da glicose pelas células e provoca o armazenamento de glicogênio, por meio do estímulo à enzima glicogênio sintetase. 5 Em relação ao metabolismo dos lipídeos, o cortisol estimula a lipólise, agindo sobre os hormônios responsáveis pela lipase, como o glucagon, a adrenalina e o GH. Sob o olhar da bioquímica, teremos a oxidação de ácidos-graxos, logo o aumento de acetil- CoA, que é uma ativadora da enzima piruvato carboxilase levando a gliconeogênese. Os efeitos antiinflamatórios e antialérgicos do cortisol respondem a redução da hiperemia, da resposta celular, da migração de neutrófilos e macrófagos ao lugar da inflamação, da exudação, da formação de fibroblastos e da liberação de histamina. Os glicocorticóides estabilizam a membrana dos lisossomos, impedindo a saída das enzimas hidrolíticas, que ocorre na inflamação. Sobre a ação hematológica, os glicocorticóides provocam a neutrofilia madura. Assim como a diminuição da migração de neutrófilos do sangue para os tecidos. Complementando esses efeitos, os corticosteróides inibem a síntese de algumas citoquinas (IL-1 e IL-2) impedindo a resposta imune adequada, levando ao efeito imunossupressor já citado. Do que diz respeito ao trato gastrointestinal, o cortisol causa aumento de secreção de ácido clorídrico, pepsina e tripsina pancreática; e diminui a secreção de muco, favorecendo o desenvolvimento de úlceras gastroduodenais. O uso de corticoesteroides revelam efeitos nocivos sobre a matriz óssea quando usados de forma crônica. Serão responsáveis pela redução da matriz óssea e a diminuição de absorção de Ca 2+ à nível intestinal e o aumento da excreção renal de cálcio e potássio, favorecendo casos de osteoporose e fraturas. Zona reticular: Produz os esteróides sexuais - andrógenos, como dehidro- epiandrosterona (DHEA) e a androstenediona, os estrógenos e a progesterona. Medula adrenal: responsável pela produção das seguintes catecolaminas - dopamina, adrenalina e noradrenalina (epinefrina e norepinefrina). 6 Figura 1. Biossíntese do cortisol a partir do colesterol 7 FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME DE CUSHING IATROGÊNICA A administração de formas sintéticas de cortisol, principalmente de forma crônica, é responsável por uma das principais formas para se desenvolver da Síndrome de Cushing por causa exógena. Os principais representantes desses fármacos capazes de provocar os sinais e sintomas são prednisona e a dexametasona. A SC exógena ou iatrogênica se encontra dentre as causas ACTH-independentes. A síndrome de Cushing caracteriza-se por uma condição rara, na qual os níveis de cortisol estão elevados nos pacientes por um longo período de tempo (hipercortisolismo). Em geral, afeta pessoas entre 20 e 50 anos e raramente a doença ocorre em razão de uma condição herdada, como fatores que levam ao crescimento de adenomas nas glândulas endócrinas, como as suprarrenais, paratireoide, pâncreas ou hipófise. Tumores benignos da hipófise ou das glândulas suprarrenais são conhecidos por levar a uma liberação excessiva de ACTH ou cortisol no sangue, reproduzindo os sintomas da síndrome de Cushing. Os níveis elevados de cortisol endógeno (formas não sintéticas de cortisol) podem causar hipertensão, possivelmente devido a sua insuficiente capacidade de se ligar a receptores de mineralocorticoides (ou seja, receptores de aldosterona). Principais causas de Hipercortisolismo: (1) adenoma da hipófise, que secreta ACTH em excesso, causando assim a liberação de cortisol pelas suprarrenais; https://pt.slideshare.net/dariompm/hipercortisolismo 8 (2) adenoma das suprarrenais, que secreta cortisol em excesso; (3) tumor de pulmão, que secreta ACTH em excesso; (4) administração de formas sintéticas de cortisol (por exemplo, dexametasona, prednisona) em função de uma doença diagnosticada anteriormente, como a artrite reumatoide. No caso de adenoma da hipófise, ocorre a insensibilidade da hipófise a retroalimentação negativa, devido ao excesso de cortisol no sangue. Essa causa corresponde a cerca de 60% dos casos de síndrome de Cushing. Quando o hipercortisolismo é causado pela administração de esteroide se denomina de Síndrome de Cushing Iatrogênica. Ademais, uma vez que o cortisol é um hormônio de estresse, pessoas que sofrem de níveis altos de estresse, como atletas, pessoas que abusam do álcool e mulheres grávidas podem ter altos níveis sanguíneos de cortisol e apresentarem sintomas da síndrome de Cushing (também conhecida como síndrome de pseudo-Cushing). O tratamento da síndrome de Cushing visa fazer os níveis de cortisol voltarem ao normal. Insta ressaltar que situações que elevam as globulinas transportadoras dos esteróides, tais como gravidez e uso de estrógenos, apresentam maior aumento dos valores do esteróide total do que do esteróide livre. Similarmente, em condições de baixos níveis de CBG, como ocorre na síndrome nefrótica, insuficiência hepática e hipotireoidismo, as concentrações de cortisol livre são mantidas normais apesar da redução dos níveis do cortisol plasmático. A maioria dos métodos de imunoensaios, utilizados na determinação do cortisol no plasma, detectam o cortisol total (ligado e livre) ao passo que a dosagem do cortisol na urina e na saliva quantificam o cortisol livre. Os níveis de cortisol urinário e salivar aumentam rapidamente quando as concentrações séricas do cortisol total atingem 25µg/dl excedendo a capacidade de ligação da CBG. O UFC tem sido considerado o mais sensível indicador de hipercortisolismo, entretanto apresenta o inconveniente da coleta de urina de 24h e a necessidade da avaliação simultânea da taxa de filtração glomerular do paciente. 9 FARMACOLOGIA Qual a finalidade da administração de glicocorticoides? Terapia de reposição: insuficiência suprarrenal (doses fisiológicas) Terapias anti-inflamatórias: supressão da resposta imunológica (doses farmacológicas). Corticoesteroides: fármacos glicocorticoides, derivados do cortisol. As principais funções são as ações anti-inflamatória e imunossupressora O cortisol sérico circula ligado à CBG (cortisol binding globulin) e à albumina, e grande parte do cortisol ativo circula ligada aos eritrócitos. Os GC sintéticos possuem uma afinidade muito baixa à CBG e aos eritrócitos; sendo assim, 2/3 ligam-se fracamente à albumina e 1/3 circula sob a forma livre. Esta característica possibilita que os GC sintéticos apresentem uma meia- vida mais longa que o cortisol. A meia-vida dos GC sintéticos varia para cada indivíduo de acordo com a idade, genética e a influência de outras drogas. Nos idosos, a meia-vida dos GC é mais prolongada. Em contraste com a fraca afinidade pela CBG, os GC sintéticos apresentam elevada afinidade pelos seus receptores (tipo II). A afinidade da prednisolona e triamcinolona é 2 vezes maior que a do cortisol, enquanto que a metil-prednisolona chega a ser 11 vezes maior. O cortisol ligado a CBG apresenta ação sobre a transcrição gênica. A tendência da síntese de corticoides é produzir aqueles com a menor ação sobre os receptores de mineralocortcoides (MR). Por meio de suas ações em transcrição gênica teremos o aumento da gliconeogênese, ou seja aumenta a síntese de glicose pelo fígado. Ao mesmo tempo, diminui a captação de glicose pelos tecidos periféricos. Ocorre então aumento da glicemia. Esse efeito gera estímulos ao pâncreas para liberação de insulina. O aumento da síntese da glicose visa a nutrição de órgãos vitais em situações de estresse. Além disso, reduzem o recrutamento de células do sistema imunológico e diminui os fatores inflamatórios, caracterizando o efeito imunossupressor que aumenta o risco às infecções. Já os efeitos metabólicos do cortisol são principalmente antagonizar a insulina, aumento da gliconeogênese, proteólise, lipólise. Temos como efeitos antiinflamatórios do cortisol a inibição do NFkB.
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