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QUESTÃO DISCURSIVA 1 - Episódios de gozo e condutas perversas relatados pelo paciente, fazendo com que se torne difícil a especificação da estrutura através da interrogação, já que não se pode diagnosticar a perversão através de poucos casos relatados. Porém, quando o paciente foi para o andar errado e se masturbou no elevador, querendo colocar o analista como cúmplice do ato, foi um diferencial para a hipótese de qual seria o diagnóstico. O tipo clínico do paciente é perverso, pois para Calligaris (1986) na perversão, segundo o autor, o perverso pensa ter o saber, goza na busca da retenção desse saber, por isso ele se faz instrumento do gozo do Outro. “Já que tenho o saber que domina este gozo e também sei como utilizar o objeto para fazer o outro gozar. Por isso esse objeto se torna um interessante instrumento: meu ser objetável se torna tolerável porque eu tenho o domínio de seu uso. Por isso o perverso torna-se, ao mesmo tempo, o objeto que virou instrumento, e o sujeito do saber sobre o bom uso desse instrumento” (CALLIGARIS, 1986, p. 12). Ronaldo, de uma forma até arrogante, diz que se exibe e sabe que as mulheres gostam de ver o seu pênis e como perverso, ele tem uma posição firme em relação ao saber sobre o gozo do Outro. A analista do caso, para fundamentar teoricamente sua hipótese utiliza do exibicionismo e da transferência, considerando a posição do sujeito frente à castração como a questão principal para o diagnóstico em psicanálise. A analista diz que de acordo com Martinho (2011), quando é em relação à castração, o sujeito perverso faz do outro uma vítima sua para substituir o que falta nele (o objeto), negando que o Outro seja castrado, e ao mesmo tempo fazendo dele sua vítima para exibir a sua própria castração. QUESTÃO DISCURSIVA 2 - O que Lebovici chama de “perversão transitória”, Lacan conceitua como “reação perversa desencadeada”, resultado da interpretação da analista, que influenciou no comportamento de Yves. Lacan diz que “A contribuição do deciframento é realmente mínima, a ponto de nos perguntarmos se sua maior parte não permanece intacta no enquistamento do enigma que, sob o rótulo de perversão transitória, é objeto dessa intrusiva comunicação” (Lacan, 1958/1998, p. 617). A interpretação de Lebovici deveria ter se referido sobre a causa do desejo, e ao rotular e interpretar os sonhos de Yves, a analista usou seus próprios significantes, potencializando os sintomas do paciente e concretizando suas fantasias. Sobre o homem de armadura que foi interpretado pela analista como a mãe fálica, Lacan diz que na verdade se tratava de uma imagem paterna, reproduzindo-se ali o sentimento da falta do pai, o sonho da mulher com três pênis, para Ruth, confirmava sobre a mãe fálica, mas era totalmente para o caminho contrário dessa interpretação. Após as interpretações da analista, Yves começou a demonstrar que se aproximava do objeto real, como por exemplo olhando para as pernas da analista e sugerindo que eles dormissem juntos. O ponto mais importante, demonstrado ao decorrer do quadro clínico, está relacionado a uma fantasia “interpretada em termos de realidade, como uma experiência real da mãe fálica” (Lacan, 1958-1959/2016, p. 444). É incontestável que a analista Ruth Lebovici “cometeu o erro de se permitir brincar com o desejo do sujeito, como se se tratasse do que, nele, devesse ser posto no devido lugar” (Lacan, 1958-1959/2016, p. 444). A analista ilustra o que Freud conceituou como “psicanálise selvagem”, por conta de sua interpretação de “perversão transitória”, o que na verdade foi algo conduzido por ela mesma ao decorrer da análise.
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