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Administração_escolar_introdução_crítica

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ADMINISTRAÇÃO 
ESCOLAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIRCULAÇÃO INTERNA 
 
 
 
● ● ● 
“Liberdade é Conhecer 
os Cordéis que nos 
manipulam” 
Baruchi Spinoza 
● ● ● 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
1 
 
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● ● ● 
“Não pode haver 
seguro contra erros. Só 
os que escolhem nada 
fazer pela 
transformação do 
mundo não cometem 
erros, cometem um 
crime. Mas o que nos 
devia preocupar não é 
imunidade contra 
erros, mas encontrar a 
direção que o 
movimento deve 
tomar. Se esta é a 
correta, os erros 
podem ser corrigidos; 
se não, os erros 
tornam-se 
desesperançadamente 
ampliados.” 
 
Gilbert Green, 
Anarquismo ou 
marxismo, p. 18. 
 
● ● ● 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
2 
 
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SUMÁRIO 
 
Introdução..................................................................................................................................... 1 
 
CAPÍTULO I 
O conceito de administração em geral........................................................................................... 3 
Atividades de Síntese..................................................................................................................... 13 
Para relembrar................................................................................................................................ 14 
 
CAPÍTULO II 
A administração capitalista............................................................................................................ 15 
Para relembrar................................................................................................................................ 43 
 
CAPÍTULO III 
Transformação social e educação escolar...................................................................................... 45 
Para relembrar................................................................................................................................ 71 
 
CAPÍTULO IV 
Administração escolar e transformação social............................................................................... 73 
Para relembrar................................................................................................................................ 111 
 
Bibliografia................................................................................................................................... 112 
 
Atividades Avaliativas................................................................................................................... 116 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
3 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Caro aluno, 
 
De maneira geral, pode-se considerar que as colocações acerca do problema da Administração 
Escolar, no Brasil, tendem a se movimentar entre duas posições antagônicas: de um lado, a defesa dos 
procedimentos administrativos na escola sob a forma de adesão ao emprego, aí, dos princípios e métodos 
desenvolvidos e adotados na empresa capitalista; de outro, a negação da necessidade e conveniência da 
própria administração na situação escolar. 
A primeira concepção é mais largamente difundida, achando-se presente quer na literatura sobre 
Administração Escolar, em que ela predomina quase exclusivamente; quer na realidade de nossas escolas, 
em que a direção escolar procura adotá-la com maior ou menor rigor; quer ainda na formação dos futuros 
administradores escolares, perpassando de modo marcante os currículos e programas da Habilitação de 
Administração Escolar, no interior do Curso de Pedagogia. Ela se fundamenta na pretensa universalidade 
dos princípios da Administração adotados na empresa capitalista, os quais são tidos como princípios 
administrativos das organizações de modo geral. Embora adaptados a cada situação específica, os 
métodos e técnicas administrativos utilizados nas mais diversas organizações são todos semelhantes entre 
si, uma vez que se baseiam nos mesmos princípios gerais da Administração. Assim, diante da necessidade 
de se promoverem a eficiência e a produtividade da escola, não há razão para que esta, entendida também 
como organização, não possa pautar-se, na consecução de seus objetivos, por procedimentos 
administrativos análogos àqueles que tanto êxito alcançam na situação empresarial. 
A segunda posição opõe-se de forma radical a essa concepção empresarial, colocando-se contra 
todo tipo de administração ou tentativa de organização burocrática da escola. Ela procura constituir, mais 
precisamente, uma reação ao caráter autoritário das relações que dominam no interior da escola, como de 
resto em qualquer tipo de organização em nossa sociedade. A escola, assim, só será uma organização 
humana e democrática se a fonte desse autoritarismo, que ela identifica como sendo a administração (ou a 
burocracia, que é o termo que os adeptos dessa visão preferem utilizar), for substituída pelo 
espontaneísmo e pela ausência de todo tipo de autoridade ou hierarquia nas relações vigentes na escola. 
Embora defendendo soluções opostas para o mesmo problema, ambas essas concepções incorrem 
no mesmo erro: o de não considerarem os determinantes sociais e econômicos da Administração 
Escolar. A primeira visão assim procede, elevando à categoria de universalidade um particular tipo de 
administração, historicamente determinado, produto dos condicionantes sociais e econômicos de um dado 
modo de produção. A segunda procede de modo semelhante ao imputar a essa administração, e não às 
forças sociais que a engendram, as causas do autoritarismo e da dominação vigentes na sociedade. Ambas 
revelam, assim, seu caráter acrítico com relação à realidade concreta, tendo em vista que permanecem no 
nível da aparência imediata, sem se aprofundarem na captação das múltiplas determinações do real. Por 
outro lado, nenhuma delas se identifica com uma Administração Escolar voltada para a transformação 
social: a primeira porque, ao advogar a aplicação na escola da administração capitalista, está contribuindo 
para a legitimação de um tipo de administração elaborado para atender às necessidades e aos interesses do 
grupo social que mantém o domínio e a hegemonia na sociedade e que tem, nesse tipo de administração, 
um de seus mais efetivos instrumentos na perpetuação do status quo; a segunda porque, não conseguindo 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
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dar conta das verdadeiras causas da dominação na sociedade, mostra-se impotente para agir contratais 
causas, ou seja, para transformar as condições concretas em que se dá tal dominação, em direção a uma 
organização social mais avançada. 
Este módulo possui um caráter crítico implica que a investigação, embora partindo da observação 
imediata, aí não se detenha, mas busque captar, pela mediação da atividade reflexiva, as múltiplas 
determinações dos fenômenos que procura estudar. Assim, nem a administração será vista apenas como 
conjunto de princípios, métodos e técnicas, dos quais se examinarão a conveniência de serem aplicados na 
situação escolar, nem a escola será tomada como entidade autônoma para a qual apenas se buscarão os 
procedimentos administrativos mais adequados a seu satisfatório desempenho. A atividade administrativa 
não se dá no vazio, mas em condições históricas determinadas para atender a necessidades e interesses de 
pessoas e grupos. Da mesma forma, a educação escolar não se faz separada dos interessese forças sociais 
presentes em determinada situação histórica. A administração escolar está, assim, organicamente ligada à 
totalidade social, onde ela se realiza e exerce sua ação e onde, ao mesmo tempo, encontra as fontes de 
seus condicionantes. Para um tratamento objetivo da atividade administrativa escolar é preciso, portanto, 
que a análise dos elementos mais especificamente relacionados à administração e à escola seja feita em 
íntima relação com o exame da maneira como está a sociedade organizada e das forças econômicas, 
políticas e sociais aí presentes. 
O conteúdo deste módulo está organizado em quatro capítulos. No primeiro, examinaremos o 
conceito de administração em seus elementos mais simples, fazendo abstração dos condicionantes 
específicos desta ou daquela estrutura social determinada. No segundo, estudaremos a administração 
como ela se dá na sociedade capitalista, procurando identificar seus principais determinantes sociais e 
econômicos. No terceiro capítulo, procuraremos conceituar a transformação social bem como caracterizar 
o papel que pode a educação escolar desempenhar em tal processo. Finalmente, no quarto capítulo, 
analisaremos o caráter conservador da teoria e da prática da Administração Escolar no Brasil e 
procuraremos estabelecer alguns pressupostos básicos para uma prática administrativa escolar 
comprometida com a transformação social. 
 
A todos, bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
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Capítulo 1: 
 
 O conceito de administração em 
geral 
 
 
 
Parece razoável, portanto, que nossa introdução ao estudo crítico da Administração Escolar 
comece por explicitar a natureza da própria atividade administrativa. 
A administração como é entendida e realizada hoje é produto de longa evolução histórica e traz a 
marca das contradições sociais e dos interesses políticos em jogo na sociedade. Por isso, para melhor 
compreender sua natureza, é preciso examiná-la, de início, independentemente de qualquer estrutura 
social determinada. Isso implica examinar o conceito de administração em geral, ou seja, a administração 
abstraída de seus determinantes sociais que, sob o capitalismo, por exemplo, configuram a chamada 
administração capitalista. Mas, aí, não se trata, já, de administração em seu sentido apenas geral, e sim 
administração historicamente determinada pelas relações econômicas, políticas, sociais, que se verificam 
sob o modo de produção capitalista. Não que a administração possa existir concretamente a não ser 
determinada historicamente; apenas que, sob outras relações de produção, outros serão os determinantes e 
outra será a forma como se apresenta concretamente a administração. Daí a importância de examiná-la em 
sua concepção mais simples, ou seja, abstraindo as determinações historicamente situadas. Só assim se 
pode captá-la em sua “essência”, no que ela tem de específico, independentemente das múltiplas 
determinações sociais que sobre ela agem concretamente. Captada a sua especificidade (ou seja, sua 
forma geral, aquela que é comum a todo tipo de estrutura social), é possível identificar quais os elementos 
Para os modernos teóricos da Administração, a sociedade se apresenta como um enorme conjunto de 
instituições que realizam tarefas sociais determinadas.1 Em virtude da complexidade das tarefas, da 
escassez dos recursos disponíveis, da multiplicidade de objetivos a serem perseguidos e do grande 
número de trabalhadores envolvidos, assume-se a absoluta necessidade de que esses trabalhadores 
tenham suas ações coordenadas e controladas por pessoas ou órgãos com funções chamadas 
administrativas. Essa visão dos teóricos da Administração tem correspondência na realidade concreta 
da sociedade capitalista, onde a Administração encontra, na organização, seu próprio objeto de estudo. 
Nesse contexto, acha-se obviamente a escola que, como qualquer outra instituição, precisa ser 
administrada, e tem na figura de seu diretor o responsável último pelas ações aí desenvolvidas. 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
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que, em sua existência concreta, se devem às determinações históricas próprias de um dado modo de 
produção. Em uma perspectiva de transformação social, é possível, além disso, raciocinar em termos dos 
elementos dos quais esta forma, historicamente determinada numa sociedade de classes, precisa ser 
depurada para que, numa sociedade mais avançada, se possa pô-la a serviço de propósitos não 
autoritários. 
Iniciando, pois, por considerá-la em seu sentido geral, podemos afirmar que a administração é a 
utilização racional de recursos para a realização de fins determinados. Assim pensada, ela se configura, 
inicialmente, como uma atividade exclusivamente humana, já que somente o homem é capaz de 
estabelecer livremente objetivos a serem cumpridos. O animal também realiza atividade, mas sua ação é 
qualitativamente diversa da ação humana, já que ele não consegue transcender seu estado natural, agindo 
apenas no âmbito da necessidade. 
Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais 
de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que 
distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em 
sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um 
resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto 
idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; 
realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, 
como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. 
(Marx, 1983, p. 149-150, v. 1,1.1) 
 
Porque se propõe objetivos, o homem precisa utilizar racionalmente os meios de que dispõe para 
realizá-los. A atividade administrativa é, então, não apenas exclusiva mas também necessária à vida do 
homem. O animal, como ser indiferenciado da natureza1, não realiza trabalho humano, já que não busca 
objetivos livremente, colocando-se, portanto, no âmbito da pura necessidade. Não se coloca para ele, 
portanto, o problema da utilização racional de seus recursos, já que suas ações são previamente 
determinadas pela natureza, de modo necessário e imutável para cada espécie. O homem também faz 
parte da natureza, mas consegue diferenciar-se dela por sua ação livre. Ele só é homem porque transcende 
sua situação natural (cf. Saviani, 1978, P- 30-65). Essa transcendência se dá à medida que ele busca 
realizar, por meio da ação racional, os objetivos a que se propõe. 
É conveniente, entretanto, explicitar melhor, ainda que de forma provisória,2 o que devemos 
entender por “utilização racional de recursos”. A palavra racional vem do latim ratio, que quer dizer 
razão. Assim, se se tem um fim em mente, utilizar racionalmente os recursos (utilizá-los de acordo com a 
razão) significa, por um lado, que tais recursos sejam adequados ao fim a que se visa; por outro, que seu 
emprego se dê de forma econômica.3 Essas duas dimensões estão intimamente relacionadas. Adequação 
aos fins significa, primeiramente, que, dentre os meios disponíveis, há que selecionar aqueles que mais se 
prestam à atividade ou atividades a serem desenvolvidas com vistas à realização de tais fins. Além disso, 
como são múltiplos os usos a que eles geralmente se prestam, a combinação e o emprego dos recursos 
precisam estar permanentemente impregnados do objetivo a ser alcançado, ou seja, tal objetivo deve estar 
sempre norteando as ações para que não ocorram desvios em sua realização. A consideração desses 
desvios aponta, já, para a segunda dimensão da utilização racional dos recursos, ou seja, a dimensão 
econômica. Estase faz presente à medida que o alcance dos objetivos se concretiza no menor tempo 
possível e com o dispêndio mínimo de recursos. 
Os recursos de que estou falando envolvem, por um lado, os elementos materiais e conceptuais 
1 Com o termo natureza “entendemos tudo aquilo que existe independentemente da ação do homem” (SAVIANI, 1980, p. 39). 
2 Voltaremos a esse assunto no Capítulo II. 
3 É importante notar, desde já, que esses dois aspectos tomam o fim como um dado, não podendo, por isso, dar conta de todo o 
sentido da racionalidade das ações humanas. No próximo capítulo, item 2, seção 2.2, será demonstrada a necessidade de ampliação 
desse conceito. 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
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Para refletir: 
 
 Importante aqui evitar a confusão, 
muito comum, entre meios de 
trabalho= e meios de produção. Os 
primeiros identificam-se com ins-
trumentos de produção (ou 
instrumentos de trabalho), 
enquanto os segundos incluem 
instrumento de produção mais 
objeto de trabalho. 
É bom acrescentar, desde já, que, 
como veremos no próximo 
capítulo, objeto de trabalho que já 
possui trabalho humano incorpo-
rado denomina-se matéria-prima. 
que o homem coloca entre si e a natureza para dominá-la em seu proveito; por outro, os esforços despen-
didos pelos homens e que precisam ser coordenados com vistas a um propósito comum. Têm a ver, por 
um lado, com as relações do homem com a natureza, por outro, com as relações dos homens entre si. 
Essas duas ordens de relações não são de modo nenhum desvinculadas uma da outra, existindo, pelo 
contrário, em mútua interdependência. Por motivos didáticos, porém, vou tratá-las, tanto quanto seja 
possível, em separado, tentando estabelecer, ao mesmo tempo, as implicações que tem cada uma delas, e 
ambas conjuntamente, com o conceito de administração. 
 
 
O homem relaciona-se com a natureza pelo trabalho. O trabalho, 
como “atividade orientada a um fim” (MARX, 1983, p.150, v. 1* 1.1), é 
um processo pelo qual o homem se apropria da natureza, submete-a a sua 
vontade, domina-a em seu proveito, para produzir sua existência material. 
Ao dar forma útil aos recursos naturais, o homem coloca frente à natureza 
suas próprias forças naturais. Nesse processo não transforma apenas a 
natureza externa mas também sua própria natureza (MARX, 1983, p. 149, 
v. 1, t. I; Gramsci, 1978a, p. 39-40). Essa relação do homem com a 
natureza não se dá, entretanto, de forma imediata. Mediando a relação, 
entre o homem e a matéria a que ele aplica seu trabalho, ou seja, o objeto 
de trabalho, existem os meios de trabalho. No dizer de Karl Marx, 
O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de 
coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o 
objeto de trabalho e que lhe serve como condutor de 
sua atividade sobre esse objeto. Ele utiliza as 
propriedades mecânicas, físicas, químicas das coisas 
para fazê-las atuar como meios de poder sobre outras 
coisas, conforme o seu objetivo. (Marx, 1983, p. 
150, v. 1,1.1) 
 
Num sentido lato, porém, Marx considera meios de trabalho todas as condições objetivas 
necessárias à realização do processo de trabalho. 
 
Incluem-se, aí, já, não apenas os elementos materiais, 
como ferramentas, instrumentos, máquinas, de que o homem 
se utiliza diretamente para modificar o objeto de trabalho de 
acordo com seus objetivos, mas também aqueles meios, 
como estradas, edifícios das fábricas, etc., que participam só 
indiretamente do processo de trabalho mas sem os quais esse 
processo fica total ou parcialmente comprometido. Além 
disso, tanto meio quanto objeto de trabalho, quando 
considerado “o processo inteiro do ponto de vista de seu 
resultado, do produto”, se apresentam como meios de 
produção (Marx, 1983, p. 151, v. 1, t. I). São meios de 
produção, portanto, todos os elementos materiais que, direta 
ou indiretamente, participam do processo de produção. 
 
 
Ao lado desses elementos materiais, o homem faz uso também daquilo que estou denominando 
Para refletir: 
 
O conceito apresentado 
aqui. é o de trabalho “em 
geral”, ou seja, segundo 
Karl; Marx; o processo de 
trabalho 
‘‘independentemente de 
qualquer; forma social 
determinada” (Marx, 1983, 
P- 151. v. 1, t. I). Observe-
se que, ao iniciar com a 
discussão da 
administração; ‘em;geral”, 
estou procedendo 
metodologicamente da 
mesma forma que fez 
Marx com o conceito de 
trabalho, antes de 
considerá-lo no contexto 
do modo; de produção es-
pecificamente capitalista, 
como veremos mais 
adiante. 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
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“recursos conceptuais”, que consistem nos conhecimentos e técnicas que ele acumula historicamente. No 
início da civilização, os conhecimentos que o homem tem a respeito da natureza são bastante incipientes, 
o mesmo acontecendo com as técnicas com as quais ele conta para modificar essa natureza de acordo com 
seus fins. Com o passar do tempo, porém, e como resultado de sua ação constante sobre a natureza e de 
suas relações recíprocas, os homens vão podendo acumular conhecimentos em quantidade cada vez mais 
significativa, o mesmo acontecendo com as técnicas que vão aos poucos se sofisticando e possibilitando o 
domínio cada vez mais efetivo sobre a natureza. Também seu instrumental de trabalho, que, no início, era 
bastante simples e rudimentar, vai ganhando complexidade crescente e possibilitando maior eficiência no 
processo de trabalho. 
No que se refere à relação do homem com a natureza, e de acordo com o conceito de 
administração que estamos examinando, esses recursos materiais e conceptuais precisam ser utilizados de 
maneira racional com vistas à realização de objetivos. O que quer dizer que o homem age tanto mais 
administrativamente quanto mais ele conjuga seus conhecimentos e técnicas, os faz avançar e os 
aperfeiçoa, na utilização de seus meios de produção. 
Nessa relação do homem com a natureza, em que ele, na busca de objetivos, precisa utilizar 
racionalmente seus recursos materiais e conceptuais, revela-se todo um campo de interesse teórico-prático 
da administração que, na falta de nome mais apropriado, chamo de “racionalização do trabalho”. É 
importante observar, de imediato, que essa expressão não tem aqui o mesmo sentido de seu uso corrente 
na sociedade capitalista. Quando o senso comum e a teoria burguesa de administração falam em 
racionalização do trabalho, estão se referindo a sua forma historicamente situada, mesmo quando 
(conscientemente ou não) pretendem elevar tal forma à categoria de universalidade. Entretanto, ao tratar 
do conceito de administração em geral, estou preocupado, aqui, com a “racionalização do trabalho” em 
sua forma também geral. Por isso, procuro dar-lhe o sentido preciso que a identifica com as ações, 
processos e relações que, no âmbito da administração, dizem respeito à utilização racional dos recursos 
materiais e conceptuais. A “racionalização do trabalho” engloba, pois, as relações homem/natureza no 
interior do processo de administração. Voltaremos oportunamente a este tema. 
Tratemos agora do segundo tipo de relações que têm lugar no processo de produção material da 
existência humana, ou seja, das relações que os homens estabelecem entre si. Ao relacionar-se com a 
natureza, o homem não o faz como indivíduo isolado, mas em contato permanente com os outros homens. 
O relacionar-se dos homens entre si é condição essencial da existência humana. Marx e Engels assim se 
expressaram a respeito da inevitabilidade dessas relações: 
Os indivíduos “partiram”, sempre e em quaisquer circunstâncias, “deles próprios”, mas 
eles não eram únicos no sentido de que não podiam deixar de ter relações entre si; pelo 
contrário, as suas necessidades, portanto a sua natureza, e a maneira de as satisfazer, 
tornava-os dependentesuns dos outros (relação entre os sexos, trocas, divisão do 
trabalho): era portanto inevitável que se estabelecessem relações entre eles. [...] 
Verifica-se, de fato, que o desenvolvimento de um indivíduo está condicionado pelo de 
todos os outros, com quem se encontra em relações diretas ou indiretas. [...]. (Marx; 
Engels, 1975b,‘p. 300-301, v. 2, grifos no original) 
Essas relações se manifestam de modo particular no processo de trabalho, por força quer da 
própria natureza do processo de produção no qual estão normalmente envolvidas mais de uma pessoa, 
quer na destinação dos produtos desse processo, na sociedade. Por um lado, no interior do processo de 
produção, a atividade humana não se dá, via de regra, de maneira isolada, existindo, em vez disso, uma 
conjugação das atividades de todos os indivíduos envolvidos. Não que seja impossível imaginar um 
produtor isolado realizando todas as etapas de seu empreendimento. Desde as épocas mais primitivas, 
entretanto, os homens perceberam, por força da inevitabilidade de suas relações recíprocas, que os 
objetivos a que se propunham podiam ser atingidos mais efetivamente e com economia de recursos 
quando, em lugar de agirem isoladamente, suas ações fossem conjugadas na busca de objetivos comuns. 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Administração Escolar: Vitor Henrique Paro 
 
 
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Para refletir: 
— Aqui se trata, na verdade, de uma força de 
expressão para enfatizar a importância do 
esforço humano coletivo e o fato de que a 
administração “não se basta” na ação de 
pessoas isoladamente. Nada impede, porém, 
que, em termos gerais, se apliquem ; a:uma 
ação isolada os princípios da utilização 
racional de recursos próprios da ação 
administrativa. 
Por outro lado, a divisão social do trabalho, existente nas sociedades onde vigora a troca entre produtores 
privados, já pressupõe as relações entre esses produtores. Se alguém se dedica a produzir determinado 
artigo para trocá-lo por outros produtos necessários a sua subsistência, é evidente que isso só se torna 
possível a partir de seu relacionamento com outros produtores. O que é importante salientar, entretanto, é 
que esse caráter social do trabalho já está presente no momento mesmo em que 0 processo de trabalho se 
dá. Nesse momento, o produtor privado já antevê a troca, e por isso procura produzir um artigo que não 
apenas tenha uma forma útil, de modo a satisfazer necessidades de outras pessoas, mas também seja 
permutável por outros artigos, de modo a atender a suas necessidades particulares (Marx, 1983, p. 71-72, 
v. 1,1.1). 
Seja no interior do processo de produção, seja no contexto da divisão social do trabalho, as 
relações dos homens entre si para produzirem sua existência material envolvem a utilização de esforço 
humano. Apenas se lhes for associado esse recurso, os ele-
mentos materiais e conceptuais interpostos entre o homem e a 
natureza podem concorrer para a realização de fins determina-
dos. Assim sendo, a utilização racional de recursos deve 
incluir, além dos elementos materiais e conceptuais, o emprego 
econômico e a devida adequação aos fins de todo esforço 
humano despendido no processo. 
A administração, entretanto, não se ocupa do esforço 
despendido por pessoas isoladamente, mas com o esforço 
humano coletivo. 
 
 
A atividade administrativa é uma atividade grupal. As situações simples, nas quais um 
homem executa e planeja o seu próprio trabalho, lhe são familiares; porém, à medida 
que essa tarefa se expande até o ponto em que se faz necessário o esforço de numerosas 
pessoas para levá-la a cabo, a simplicidade desaparece, tornando necessário desenvolver 
processos especiais para a aplicação do esforço organizado em proveito da tarefa do 
grupo. (Chiavenato, 1979, p. 179, v. 2, grifos no original) 
À utilização racional desse esforço humano coletivo, chamo de coordenação do esforço humano 
coletivo ou simplesmente “coordenação”. Também aqui o termo tem significado especial, diverso daquele 
encontrado na literatura sobre administração. Utilizo a palavra “coordenação” muito precisamente para 
indicar o campo de interesse teórico-prático da administração que diz respeito ao emprego racional do 
esforço humano coletivo. Enquanto a “racionalização do trabalho” se refere às relações homem/natureza, 
no processo administrativo, a “coordenação” tem a ver, no interior desse processo, com as relações dos 
homens entre si. 
A administração pode ser vista, assim, tanto na teoria quanto na prática, como dois amplos 
campos que se interpenetram: a “racionalização do trabalho” e a “coordenação”. Isto não significa, 
entretanto, que a atual Teoria da Administração assim os considere. Até porque, em uma sociedade de 
classes, o próprio objeto de estudo de determinada disciplina ou ciência tende a se amoldar aos interesses 
dominantes. No caso da Administração, teremos oportunidade de constatar, mais adiante, que houve uma 
delimitação restritiva de seu campo, que atendeu a conveniências dos grupos detentores do poder na 
sociedade. Todavia, no sentido amplo em que está sendo aqui examinada, e para os propósitos de tal 
análise, considero satisfatório organizar os problemas de administração sob as rubricas de “racionalização 
do trabalho” e de “coordenação”, levando em conta, respectivamente, os elementos materiais e 
conceptuais, de um lado, e o esforço humano coletivo, de outro. 
Na busca de determinado objetivo ou conjunto de objetivos, esses dois tipos de recursos 
 
 
 
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encontram-se em mútua dependência, não podendo, na prática, ser separados: os elementos materiais e 
conceptuais não cumprem sua função no processo se não estiverem associados ao esforço humano 
coletivo; da mesma forma, o esforço humano coletivo necessita dos elementos materiais e conceptuais 
para ser aplicado racionalmente. Cada um desses dois grupos de recursos, entretanto, possui sua 
especificidade, que permite, em termos teóricos, identificá-los separadamente. Enquanto os elementos 
materiais e conceptuais a administração é basicamente a coordenação de atividades grupais.” 
(CHIAVENATO, 1979, p. 208, v. 1) dizem respeito à relação do homem com a natureza, servindo como 
mediação nessa relação, o esforço humano coletivo refere-se às relações que os homens são levados a 
estabelecer entre si para que o processo se realize. 
Observe-se que esse agrupamento dos recursos, com base nas relações do homem com a natureza 
e com os outros homens, não coincide com a abordagem que reúne, de um lado, os recursos naturais e, de 
outro, os recursos humanos. Quanto aos recursos naturais, não há nenhuma distinção a fazer, já que 
podem ser considerados como sinônimo de recursos materiais. A grande diferença surge quando se trata 
dos chamados recursos humanos. Se por esta expressão entendermos aqueles recursos que são inerentes 
ao homem — recursos humanos, portanto, como sinônimo de recursos do homem —, então temos, por um 
lado, que os elementos conceptuais, que na classificação que estou considerando encontram-se ao lado 
dos recursos materiais (ou naturais), são eles nitidamente recursos humanos, ou recursos do homem, no 
sentido de que só este é capaz de criar novas técnicas, produzir novos conhecimentos e acumulá-los 
historicamente. Por outro lado, também o esforço humano, por força da especificação imposta pelo 
próprio qualificativo, constitui, obviamente, um recurso humano. Se, entretanto, a expressão pretender 
referir-se às próprias pessoas envolvidas no processo, então ela não terá lugar na classificação apresenta-
da, já que, aí, não parto do homem como recurso, como meio, mas essencialmente como fim. 
Considerar o homem como fim implica tê-lo como sujeito e não como objeto no processo em que 
se busca a realização de objetivos. Como ficou dito anteriormente,ao relacionar-se com a natureza, o 
homem o faz como ser diferenciado dela, que a domina, modificando-a em seu benefício. Somente a 
partir desse domínio sobre o natural pode o homem produzir sua existência sobre a Terra, perpetuando-se 
como realidade que se destaca dela, ou seja, como realidade humana. Não haveria necessidade da palavra 
“humano” se o homem permanecesse indiferenciado da natureza, dominado pela necessidade própria a 
ela. É, pois, a partir de seu domínio sobre a natureza que o homem se faz, se torna humano. Reconhecer 
essa evidência, implica, consequentemente, reconhecer que as relações entre os homens não podem ser de 
dominação, sob pena de se perder sua característica humana, quer dizer, característica de seres 
diferenciados do mundo meramente natural. Se eu, diante da natureza, me reconheço homem pelo 
domínio que tenho sobre ela, ao deparar-me com meu semelhante, devo obrigatoriamente reconhecer-lhe 
essa mesma condição. Se o domino, reduzo-o, nessa perspectiva, à condição meramente-natural, ou seja, 
a um ser dominado como a natureza o é por mim. Toda vez, portanto, que se verifica uma dominação 
sobre o homem, degrada-se-lhe sua condição de humano para a condição de coisa, identificando-se-lhe, 
portanto, ao natural, ao não humano. Esta é, portanto, uma propriedade fundamental da relação dos 
homens entre si que, para ser verdadeiramente humana, verdadeiramente destacada da necessidade na-
tural, precisa ser de cooperação e não de dominação (cf. Saviani, 1980a, p. 40-41). 
 
Assim sendo, para efeito do sentido amplo que estamos dando à noção de administração, a expressão 
“recursos humanos” — que, embora na linguagem do senso comum e da chamada Teoria Geral da 
Administração, seja, no mais das vezes, empregada, explícita ou implicitamente, para se referir às 
próprias pessoas como recursos utilizados para atingir objetivos de outros — esta expressão “recursos 
humanos” precisa ser entendida no sentido específico de recurso do homem e não do homem como 
recurso. Quando se utiliza o próprio homem como recurso, não se está no âmbito da administração em 
geral, mas no da administração como é realizada em uma estrutura social determinada, na qual o ser 
humano acaba sendo tratado não como homem, mas como simples parte indiferenciada da natureza. 
 
 
 
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Até aqui, ocupamo-nos da natureza dos recursos envolvidos na atividade administrativa. 
Examinemos, agora, o grau de consciência que têm dessa atividade os sujeitos nela envolvidos. Segundo 
Adolfo Sánchez Vázquez, em toda atividade humana encontra-se presente a consciência. Em toda práxis 
— entendida esta como “uma atividade material, transformadora e ajustada a objetivos” (SÁNCHEZ 
VÁZQUEZ, 1977) P- 208) — intervém, em maior ou menor grau, a consciência do homem. Esta se 
manifesta de modo mais acentuado na chamada práxis criadora, mas não deixa de estar presente também 
na práxis reiterativa ou imitativa. Ambos esses tipos, ou níveis, da práxis são de importância decisiva para 
o homem. 
Do ponto de vista da práxis humana, total, que se traduz na produção ou autocriação do 
próprio homem, a práxis criadora é determinante, já que é exatamente ela que lhe 
permite enfrentar novas necessidades, novas situações. O homem é 0 ser que tem de 
estar inventando ou criando constantemente novas soluções. Uma vez encontrada uma 
solução, não lhe basta repetir ou imitar o que ficou resolvido; em primeiro lugar, porque 
ele mesmo cria novas necessidades que invalidam as soluções encontradas e, em 
segundo lugar, porque a própria vida, com suas novas exigências, se encarrega de 
invalidá-las. Mas as soluções alcançadas têm sempre, no tempo, certa esfera de 
validade, daí a possibilidade e a necessidade de generalizá-las e estendê-las, isto é, de 
repeti-las enquanto essa validade se mantenha. A repetição se justifica enquanto a 
própria vida não reclama uma nova criação. O homem não vive num constante estado 
criador. Ele só cria por necessidade; cria para adaptar-se a novas situações ou para 
satisfazer novas necessidades. Repete, portanto, enquanto não se vê obrigado a criar. 
Contudo, criar é para ele a primeira e mais vital necessidade humana, porque só criando, 
transformando o mundo, o homem — como salientaram Hegel e Marx através de 
diferentes prismas filosóficos — faz um mundo humano e se faz a si mesmo. Assim, a 
atividade prática fundamental do homem tem um caráter criador; junto a ela, porém, 
temos também — como atividade relativa, transitória, sempre aberta à possibilidade e 
necessidade de ser substituída — a repetição. (Sánchez Vâzquez, 1977, p. 247-248) 
Na práxis criadora há a unidade indissolúvel da atividade da consciência (o subjetivo, o interior) e 
da realização do projeto (o objetivo, o exterior), o que quer dizer que “a produção do objeto ideal é 
inseparável da produção do objeto real, material” (SÁNCHEZ VÂZQUEZ, 1977, p. 249). Criar implica 
idealização e objetivação de algo novo. Esse caráter de novidade que acompanha toda criação implica que 
tanto a lei que rege o processo de realização quanto a forma última que tomará o objeto material só sejam 
conhecidas aposteriovi. Por isso, o subjetivo e o objetivo não são separados, de tal sorte que haja, em um 
primeiro momento, um plano idealizado pela consciência que será, num momento seguinte, meramente 
duplicado no processo de sua realização. Em vez disso, ambos — projeto e realização — sofrem 
modificações no processo advindas da relação entre eles. O projeto inicial defronta-se com resistências 
em sua concretização. Ao tentar vencê-las, há a necessidade de sua constante modificação, não só no 
modo de realizá-lo- modificando, com isso, o processo — mas também na forma do objeto ideal, 
resultando, no final, um produto que não será mais idêntico ao inicialmente projetado. Na práxis criadora 
verifica-se, portanto, uma indeterminação e imprevisibilidade tanto do processo quanto do produto dele 
resultante (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977, p. 247-251). Em vista disso, 
a consciência se vê obrigada a estar constantemente ativa, peregrinando do interior ao 
exterior, do ideal ao material, com o que ao longo do processo prático se vai 
aprofundando cada vez mais a distância entre o modelo ideal (ou resultado prefigurado) 
e o produto (resultado definitivo e real) (Sánchez Vázquez, 1977, p. 250). 
Em oposição a essa práxis criadora de caráter único e irrepetível, a práxis reiterativa, como 0 
próprio termo indica, caracteriza-se exatamente por sua repetibilidade. Alei que rege o processo de 
realização já é conhecida apriori, constituindo o objeto real simples duplicação ou cópia do objeto ideal. 
 
 
 
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Opera-se, portanto, uma separação entre o subjetivo e o objetivo, consistindo a práxis reiterativa ou 
imitativa em repetição de um processo e de um resultado alcançado por uma práxis criadora anterior, sem, 
contudo, a imprevisibilidade e a unicidade desta. O lado positivo da práxis reiterativa reside em seu poder 
de ampliar e multiplicar a práxis criadora. Seus aspectos negativos aparecem, todavia, quando sua 
ocorrência se dá de maneira a barrar as possibilidades de novas criações. Ainda que em menor grau, 
também na práxis reiterativa a consciência se manifesta.4 Por mais mecânica e rotinizada que seja 
determinada atividade, o homem não pode prescindir da intervenção de sua consciência, 
entre outras razões, porque só conscientemente ele pode se abrir para uma atitude diante 
das coisas na qual ele põe entre parênteses sua própria consciência. Mesmo para 
assegurar o caráter mecânico da operação e poder excluir as intervenções da consciência 
— supérfluas do ponto de vista da produção —, é indispensável um mínimo de sua 
atividade. (SánchezVâzquez, 1977, p. 282) 
Compreendidos esses dois níveis da práxis humana, fica fácil raciocinar em termos da atividade 
administrativa e admitir que aqui também se encontra um tipo ou nível de administração que é invenção/ 
descoberta de novos procedimentos e caminhos para se alcançarem objetivos e um outro que é 
repetição/imitação desses caminhos e procedimentos: uma administração criadora e uma administração 
reiterativa. Na prática, ambos esses níveis coexistem em íntimo relacionamento, já que um pressupõe o 
outro e vice-versa: por um lado, a administração criadora vale-se de conquistas anteriores, assimilando 
procedimentos que foram bem-sucedidos em outras situações para criar novas formas de atingir objetivos 
de modo mais efetivo; por outro lado, a administração reiterativa multiplica a aplicação dos 
procedimentos criados, ampliando o seu alcance. Ambos esses níveis da administração são de extrema 
importância para a atividade humana. Porque o homem se defronta permanentemente com novos 
problemas e se coloca sempre novas metas a serem atingidas, a administração criadora precisa ser 
pensada em termos de relevância, propondo soluções e descobrindo novas alternativas que respondam às 
reais necessidades humanas. Por sua vez, a administração reiterativa encontra sua aplicação na repetição 
de procedimentos que, uma vez criados, não têm por que não serem repetidos e aplicados em situações 
análogas. Essa reiteração, entretanto, não pode erigir-se em fim em si mesma, sob pena de degenerar-se 
numa práxis burocratizada,5 que impede o desenvolvimento da própria administração criadora. 
Como toda práxis, tanto a administração criadora quanto a reiterativa estão impregnadas pela 
consciência humana. A essa consciência que participa do processo prático, desde o início e ao longo dele, 
na transformação de um objeto ideal em real, Sánchez Vázquez chama de consciência prática (Sánchez 
Vázquez, 1977, p. 283). A consciência prática está, pois, sempre presente na atividade administrativa. Ela 
é fundamental, e, portanto, exigida em alta escala, na administração criadora; mas atua também, embora 
em menor proporção, na administração reiterativa ou imitativa. 
Entretanto, para compreender toda a extensão da atividade administrativa enquanto práxis, não 
basta ter presente a inserção da consciência no processo prático, como visto até aqui. É preciso levar em 
conta também o grau de consciência dessa inserção que tem o sujeito, ou seja, sua consciência da práxis. 
Como afirma Sánchez Vázquez, 
a consciência não só se projeta e se plasma, como se sabe a si mesma como consciência 
projetada, plasmada, ou, o que dá no mesmo, sabe que a atividade que rege as 
modalidades do processo prático é sua e que, além disso, é uma atividade procurada ou 
desejada por ela. A essa consciência que se volta sobre si mesma, e sobre a atividade 
material em que se plasma, podemos chamar de consciência da práxis. (Sánchez 
Vázquez, 1977, p. 283-284, grifos no original) 
De acordo com o grau de consciência da práxis, pode-se falar em dois novos níveis da práxis: 
4 “Não existe atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode separar o homofaber do homo 
sapiens." (GRAMSCI, 1978b, p. 7) 
5 Voltaremos a esse tema no Capítulo II. 
 
 
 
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práxis reflexiva e práxis espontânea. No primeiro caso, ocorre uma alta consciência da atividade prática 
que, no segundo, encontra-se bastante reduzida ou quase não existe. É preciso ressaltar que, embora 
intimamente ligados aos dois níveis anteriores (da práxis criadora e da práxis reiterativa), esses dois 
novos níveis com eles não se identificam nem precisam necessariamente coincidir. Pode ocorrer uma 
práxis criadora, com a conseqüente participação em alta escala da consciência do sujeito no processo 
prático, sem que isso implique — embora não impeça — que o sujeito tenha um elevado grau de 
consciência da práxis. Da mesma forma, o fato de um operário, por exemplo, executar uma atividade 
altamente repetitiva e mecânica, que exige quase nenhuma consciência prática, não impede que ele tenha 
uma consciência bastante elevada da atividade prática que desenvolve (Sánchez Vâzquez, 1977, p. 283-
286). 
Isso significa que tanto pode existir uma prática administrativa espontânea, na qual a utilização 
dos recursos, embora realizada de maneira racional, seja feita mais de modo a atender às necessidades 
imediatas que vão surgindo no processo prático, sem que se tenha uma visão clara e consciente de como 
isso se dá, quanto uma administração reflexiva, na qual, além da consciência prática, representada pela 
utilização racional dos recursos, o sujeito (individual ou coletivo) se ache consciente da racionalidade do 
processo e da participação nele de sua consciência. 
Em termos históricos, essa autoconsciência prática6 da administração não aparece imediatamente 
acabada na vida dos homens, surgindo somente como decorrência de um longo desenvolvimento histórico 
da práxis humana. Embora, desde o início, os homens se relacionassem entre si e com a natureza, 
empregando racionalmente os recursos disponíveis — fazendo intervir, portanto, em maior ou menor 
grau, sua consciência ao longo de todo o processo prático —, não possuíam, entretanto, uma consciência 
clara desse fato. Existia, na verdade, uma visão ainda muito fragmentária, ou apenas uma consciência da 
práxis em estado ainda demasiadamente incipiente para lhes permitir a realização de uma administração 
reflexiva. Esta, entretanto, não pode dar-se de um momento para outro. É no decorrer de milhares de anos 
de desenvolvimento histórico que, em decorrência da própria atividade humana, vão se produzindo as 
condições culturais, econômicas, políticas e sociais que possibilitam ao homem captar conscientemente a 
maneira racional com que ele vem empregando os elementos materiais e conceptuais e o esforço humano 
coletivo na realização de objetivos. Com o desenvolvimento continuado dessa consciência da práxis, e 
com sua associação, no processo prático, aos conhecimentos, técnicas e procedimentos administrativos 
que se vão acumulando historicamente, o homem vai conseguindo cada vez mais passar do nível de uma 
administração espontânea para o de uma administração reflexiva, abrindo possibilidade para o 
surgimento, no final do século passado e início deste, de uma “teoria geral de administração”. 
A criação de uma disciplina encarregada de estudar os problemas administrativos já denota por si 
que, em seu desenvolvimento histórico, o homem atingiu um estágio em que ele não apenas utiliza 
racionalmente seus recursos para atingir fins, mas possui também consciência desse fato. Por isso pode 
refletir sobre ele e sistematizar os conhecimentos, técnicas e procedimentos já alcançados e buscar 
intencionalmente fazê-los avançar de modo mais acelerado. É preciso, entretanto, distinguir entre essa 
conquista de um estágio reflexivo na administração e sua generalização na sociedade. O fato de a 
administração ter-se erigido em disciplina teórica não implica, obviamente, que toda atividade 
administrativa passa a ser reflexiva desde então. Significa, porém, que já foram colocadas as condições de 
possibilidade para que a atividade administrativa seja realizada reflexivamente. Essa realização envolve 
um aspecto objetivo e um aspecto subjetivo. O primeiro diz respeito, por um lado, à própria necessidade 
de que determinada atividade ou conjunto de atividades sejam realizadas reflexivamente e, por outro, às 
disponibilidades em termos de esforço humano coletivo e recursos materiais e conceptuais que tornam 
possível a satisfação dessa necessidade. Refere-se, portanto, a todas as condições objetivas (culturais, 
econômicas, sociais, políticas, etc.) que precisam ser levadas em conta na concepção e realização da 
atividade. Por sua vez,o aspecto subjetivo se faz presente à medida que essa necessidade da atividade 
6 “Podemos dizer [...] que a consciência da práxis vem a ser a autoconsciência prática.” (SÁNCHEZ VÂZQUEZ, 1977, p. 284) 
 
 
 
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administrativa reflexiva, bem como as possibilidades e limitações que a realidade prática oferece, se 
apresentam de modo consciente ao sujeito, o qual passa a realizar de maneira intencional a atividade 
administrativa correspondente. 
A atividade administrativa, enquanto utilização racional de recursos para atingir fins, é, como já 
vimos, condição necessária da vida humana. Sempre existiu, portanto, permeando as mais diversas formas 
de organização social. Esse fato, por si só, já empresta à administração um caráter progressista, porque, 
agindo administrativamente (no sentido visto até aqui), é que o homem foi conseguindo superar seu 
primitivo estado de necessidade natural, produzir sua existência material de forma cada vez mais eficaz, 
bem como produzir a si próprio como realidade diferenciada da natureza. Reconhecer, entretanto, que o 
homem sempre precisou — e sempre precisará — utilizar racionalmente os recursos com vistas à 
concretização de fins, não implica dizer que a atividade administrativa é imutável em todos os tipos de 
sociedade ao longo da história. O que venho procurando fazer é abordar a administração em seus 
elementos mais simples e abstratos, os quais têm validade para toda forma de organização social. 
Entretanto, como não podia deixar de ser, a atividade administrativa participa também das contradições e 
forças (sociais, econômicas, políticas, culturais, etc.) em conflito em cada período histórico e em cada 
formação social determinada. Por isso, sua realização concreta determina, ao mesmo tempo em que é 
determinada por essas forças. 
Essa relação de mútua determinação com as contradições vigentes na sociedade revela mais uma 
vez o caráter progressista da atividade administrativa, porquanto são essas contradições que acabam 
determinando a superação do modo de produção até então dominante e sua passagem para outro 
historicamente mais avançado. É necessário, entretanto, ainda que de maneira sucinta, explicitar um 
pouco as condições em que se dá essa passagem. 
De acordo com a contribuição legada por Karl Marx, os homens, ao produzirem sua existência 
social, “estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de 
produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais” 
(Marx, 1977a, p. 24). São essas relações de produção que determinam, em última instância, a maneira 
como os homens se organizam em sociedade. “O conjunto destas relações de produção constitui a 
estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e 
política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social.” (Marx, 1977a, p. 24) O que 
chamamos, pois, de modo de produção não é senão a maneira pela qual a sociedade se organiza com base 
nas relações de produção, ou seja, nas relações que os homens, na produção de sua existência material, 
estabelecem com a natureza (mediados pelas forças produtivas) e entre si, determinadas pela propriedade 
dos meios de produção. 
Essas relações, entretanto, não se mantêm perenemente. Pelo contrário, 
em certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade 
entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é a sua 
expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham movido 
até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações 
transformam-se no seu entrave. Surge então uma época de revolução social. A 
transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente, toda a imensa su-
perestrutura. (Marx, 1977a, p. 245) 
Tendo em vista que a atividade administrativa participa das contradições 110 nível das relações 
de produção e das forças produtivas, e uma vez que estas, evoluindo, reclamam sucessivamente novos 
modos de produção, essa evolução e essa passagem trazem em seu bojo novas maneiras de administrar, 
que são negadas (e superadas) num momento subsequente. 
Esse texto de Marx não pode, entretanto, animar interpretações economicistas e deterministas, 
que procuram fazer crer, por um lado, que a estrutura econômica determina mecânica e autonomamente a 
transformação social e, por outro, que essa transformação se dá fatalmente, não dependendo, portanto, de 
 
 
 
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qualquer ação revolucionária intencional. Não fosse o testemunho de toda a obra de Marx, que de-
sautoriza interpretações desse tipo, bastaria, para constatar a improcedência desse modo de ver, atentar 
para a seqüência do trecho citado acima, onde se lê: 
Ao considerar tais alterações é necessário sempre distinguir entre a alteração material — 
que se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa — das condições 
econômicas de produção, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou 
filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência 
deste conflito, levando-o às suas últimas conseqüências. (Marx, 1977a, p. 25) 
Na mesma linha de raciocínio, ao se identificar esse caráter progressista da atividade 
administrativa, não se pode pretender que esta se constitua, por si, numa força revolucionária autônoma. 
Esse seu caráter contraditório, e em certo sentido progressista, que estou procurando caracterizar, e que a 
coloca como coparticipante da evolução histórica das forças produtivas e das relações de produção, se dá 
de maneira espontânea, necessária, ou, parafraseando Marx, independente da vontade dos homens. Por 
isso, é compatível tanto com um projeto revolucionário, de superação da estrutura social vigente, quanto 
com as forças conservadoras interessadas em manter tal estrutura. Nas sociedades de classes, em que o 
poder está confinado nas mãos de uma minoria, a administração tem servido historicamente como ins-
trumento nas mãos da classe dominante para manter o status quo e perpetuar ou prolongar ao máximo seu 
domínio. O que não significa que ela não possa vir a concorrer para a transformação social em favor dos 
interesses das classes subalternas, desde que suas potencialidades sejam aproveitadas na articulação com 
esses interesses. Para isso, entretanto, é necessário que a atividade administrativa seja elevada de seu 
caráter espontaneamente progressista para uma práxis reflexivamente revolucionária. Um dos requisitos 
mais importantes, nesse processo, é o conhecimento das condições concretas em que se realiza a 
administração na sociedade. No próximo capítulo, abordarei este tema, procurando investigar como se dá 
a administração em nossa sociedade capitalista. 
 
Atividades de Síntese 
 
Neste capítulo, vimos a síntese do que é a prática administrativa em geral. Agora, faça um pequeno texto 
falando sobre o que é Administração. 
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PARA RELEMBRAR: 
TEMAS RELAVANTES 
 
 Administração em geral. 
 Diferença homem/natureza. 
 O que se entende por “utilização racional de recursos”? 
 Em que consiste a adequação dos recursos aos fins, no conceito de administração em geral? 
 O que se pretende dizer com “utilização econômica de recursos”? 
 Trabalho humano. 
 Meios de trabalho. 
 Objeto de trabalho. 
 Meios de produção, dos Recursos conceptuais. 
 “Racionalização do trabalho”. 
 Em que consiste o caráter social do trabalho humano? 
 “Coordenação”. 
 O que está escrito acerca da expressão “recursos humanos”? 
 Práxis. 
 Práxis criadora. 
 Práxis reiterativa. 
 Administração criadora. 
 Administração reiterativa. 
 Consciência prática e consciência da práxis (ou autoconsciência prática). 
 Práxis reflexiva. 
 Práxis espontânea. 
 Condições de possibilidade de uma práxis administrativa reflexiva. 
 A administração como “condição necessária da vida humana”. 
 Relações sociais de produção. 
 Modo de produção. 
 Desenvolvimento das forças produtivas e contradição com as relações sociais de produção. 
 Estrutura econômica da sociedade. 
 Superestrutura política, jurídica e ideológica. 
 Crítica ao mecanicismo na interpretação das relações entre estrutura e superestrutura. 
 A importância social da administração. 
 
 
 
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Capítulo 2: 
 
 A administração capitalista 
 
 
 
1 Processo de produção e processo de exploração capitalista 
 
Comecemos por examinar as relações de produção vigentes no modo de produção capitalista, as 
quais acabam por determinar, embora em última instância, a forma como essa sociedade se organiza. 
Essas relações constituem relações de exploração de uma parte da população sobre outra, sob a forma da 
apropriação do produto do trabalho alheio. Essa exploração só é possível porque o trabalho, nessa 
sociedade, produz um excedente. Sem a produção de excedente por uns, não é possível sua apropriação 
por outros. Essa impossibilidade existia, por exemplo, nas sociedades mais primitivas, onde o homem, 
devido ao caráter rudimentar dos recursos de que dispunha e de sua precária utilização, conseguia 
produzir, com seu trabalho, apenas o suficiente para sua subsistência. Sob tais condições, era impraticável 
submetê-lo à exploração do trabalho, sob pena de vir ele a sucumbir por lhe ser tirado o mínimo 
necessário à manutenção de sua vida de trabalhador. Entretanto, com o constante desenvolvimento de 
novos instrumentos de trabalho e a utilização racional dos recursos disponíveis foi sendo possível 
produzir cada vez mais de acordo com suas necessidades, de tal forma que, desde épocas muito remotas, 
o homem conseguiu atingir um estágio na produção de sua existência material que lhe permite produzir 
para além de seu consumo imediato, ou seja, ele produz um excedente. A produção de excedente não é, 
No capítulo anterior, examinamos o conceito de administração em seus elementos mais simples, 
independentemente dos condicionantes específicos desta ou daquela estrutura social determinada. No 
presente capítulo, estudaremos a administração como ela se dá na sociedade capitalista. Para tal, é 
necessário examinar, inicialmente, a forma como se organiza essa sociedade. Assim, embora de 
maneira sucinta — dado o propósito e os limites do presente trabalho —, procuraremos identificar, a 
seguir, os principais determinantes sociais e econômicos que configuram a administração tipicamente 
capitalista. 
 
 
 
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pois, exclusiva do capitalismo, embora tenha atingido, nessa sociedade, dimensões sequer imagináveis 
anteriormente. 
É importante notar, de passagem, que essa constatação, aparentemente muito simples, de que o 
homem, há muito tempo, e em especial na sociedade capitalista, é capaz de produzir para além de suas 
necessidades imediatas é de particular importância para a explicitação das verdadeiras relações de 
produção que têm lugar em nossa sociedade. E não deve ser por acaso que ela seja insistentemente 
omitida toda vez que se pretende camuflar a exploração capitalista do trabalho. Voltaremos a esse ponto 
mais adiante. 
Se a capacidade de produzir excedente não é exclusiva da sociedade capitalista, a exploração do 
trabalho, que é a apropriação desse excedente, também antecede o surgimento desse modo de produção. 
Podemos dizer, com Paul Marlor Sweezy, que “o que é específico ao capitalismo é, portanto, não o fato 
da exploração de uma parte da população pela outra” — já que em sociedades não capitalistas, como, por 
exemplo, a escravista e a feudal, isso também ocorre —, “mas a forma que essa exploração assume, ou 
seja, a produção da mais-valia” (SWEEZY, 1983, p. 61, grifo 110 original). 
A produção da mais-valia, por sua vez, se dá no processo de produção de mercadorias. Esse 
processo, entretanto, não se apresenta à observação imediata em suas reais dimensões. Ao contrário, 
a forma de produção das mercadorias constitui o véu mais eficiente do verdadeiro 
caráter de classe da sociedade capitalista. Em primeiro lugar, todo mundo aparece como 
apenas um dono de mercadorias com alguma coisa a vender — tanto os proprietários de 
terra e capitalistas como os trabalhadores. Como proprietários de mercadorias, estão 
todos em pé de igualdade; suas relações não são as que se observam entre senhores e 
servos num regime de domínio pessoal, mas as relações contratuais de seres humanos 
livres e iguais. Não parece ao trabalhadorque a falta de acesso aos meios de produção o 
força a trabalhar de acordo com as condições impostas pelos que monopolizam tais 
meios, e que por isso está sendo explorado em benefício de outros, tal qual o servo que 
era obrigado a trabalhar durante certo número de dias na terra do senhor, em pagamento 
do privilégio de poder cultivar uma faixa de terra para si. Pelo contrário, o mundo das 
mercadorias parece um mundo de seres iguais. A força de trabalho do operário é 
alienada dele e a ele contraposta como qualquer mercadoria é contraposta a seu dono. 
Ele a vende, e enquanto for pago o verdadeiro valor, todas as condições de uma troca 
justa e igual estão satisfeitas. (Sweezy, 1983, p. 42) 
Se quisermos descobrir, por trás dessa aparência, o verdadeiro caráter das relações sociais que se 
dão no âmbito da produção capitalista, precisamos começar por examinar a natureza da própria merca-
doria, que é a forma elementar da riqueza das sociedades em que rege esse modo de produção.7 
Como afirma Marx, “qualquer mercadoria se apresenta sob o duplo aspecto de valor de uso e de 
valor de troca” (Marx, 1977a, p. 31, grifos no original). O valor de uso é a própria utilidade da 
mercadoria.8 
Refere-se ele, portanto, a uma relação entre o consumidor e o objeto consumido.9 Nesse sentido, a 
mercadoria constitui 
um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades 
humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do 
estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a 
coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto 
é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção. (Marx, 1983, p. 45, 
v. 1,1.1) 
7 “A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma ‘imensa coleção de mercadorias’, e a 
mercadoria individual como sua forma elementar.” (Marx, 1983. P- 45, v. 1,1.1) 
8 “A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso.” (Marx, 1983, p. 45, v. 1,1.1) 
9 “O valor de uso é a expressão de uma certa relação entre o consumidor e o objeto consumido.” (SWEEZY, 1983, p. 33) 
São, pois, as qualidades úteis da mercadoria que fazem dela um valor de uso. Além disso, a 
consideração desse valor de uso não depende de quanto foi gasto de trabalho humano para incorporar 
na mercadoria tais propriedades (Marx, 1983, p. 46, v. 1,1.1). 
 
 
 
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Diferentemente do valor de uso, que é a manifestação de uma relação entre homem e coisa, entre 
consumidor e objeto de consumo, o valor de troca advém da relação entre pessoas, revelando-se na troca 
entre bens de diferentes utilidades. O valor de troca só se revela, portanto, quando, na relação de troca, 
contrapõem-se mercadorias de valores de uso diversos. Não tem sentido trocarem-se mercadorias que 
possuam as mesmas propriedades úteis. Se abro mão de determinada quantidade da mercadoria A, 
portadora de certo valor de uso, em favor de determinada quantidade da mercadoria B, é porque estou 
interessado no valor de uso desta última, que tem de ser diferente do da primeira, ou seja, que atende a 
necessidades que a primeira, da qual já disponho, não atende. 
Além disso, o valor de troca de uma mercadoria qualquer parece possuir um caráter relativo, 
variando de acordo com as outras mercadorias com as quais aquela se contrapõe, na troca. Assim é que 
podemos trocar uma quantidade x da mercadoria A (1 casaco) por y da mercadoria B (20 quilos de feijão), 
ou por z da mercadoria C (15 caixas de sabão em pó), ou etc. A mercadoria A (casaco) tem, portanto, 
diversos valores de troca. Mas, cada uma das demais mercadorias nas quantidades definidas — y de B (20 
quilos de feijão), ou z de C (15 caixas de sabão em pó), ou etc. — é 0 valor de troca da quantidade x da 
mercadoria A (1 casaco). São, pois, como valores de troca, todas iguais, do que se deduz que os muitos 
valores de troca de uma dada mercadoria expressam sempre uma mesma igualdade. Ora, se variam assim 
esses valores de troca e se expressam todos um significado igual, só podemos concluir, com Marx, que o 
valor de troca não é algo inerente à mercadoria, ao objeto, só aparecendo, na relação de troca, como 
expressão, como ‘“forma de manifestação’ de um conteúdo 
dele distinguível” (MARX, 1983, p. 46, v. 1, t. I). O que 
será, entretanto, esse conteúdo comum que permite que 
mercadorias com valores de uso diversos — diferentes, 
portanto, em sua materialidade — sejam comparáveis entre 
si e igualáveis na troca? Marx responde: “o que há de 
comum, que se revela na relação de troca ou valor de troca 
da mercadoria, é [...] seu valor” (MARX, 1983, p. 47, v. 
1,1.1). O valor de troca é, portanto, apenas “a maneira 
necessária de expressão ou forma de manifestação do 
valor” (MARX, 1983, p. 47, v. 1,1.1). 
 
Cabe perguntar, em seguida: o que é o valor? Do 
que é constituído? O que o determina? Vimos que sua 
expressão é o valor de troca, mas, qual sua substância? 
Para responder a essas questões, é preciso buscar nas 
mercadorias algo de comum que possa dar origem ao 
valor. Não certamente suas propriedades úteis, sua 
materialidade, porque, como já vimos valores de uso são 
diversos na troca de mercadorias. Mas, deixando de lado 
então o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a 
elas apenas uma propriedade, que é a de serem produtos do 
trabalho” (Marx, 1983, p. 47, v. 1,1.1). A substância do 
valor é, pois, o trabalho. 
 
Mas, para a formação do valor, não importa já o trabalho em sua forma concreta, particular, 
criadora de valores de uso, mas o trabalho abstrato, indiferenciado, o trabalho geral. Se abstraímos do 
produto do trabalho seu valor de uso, 
abstraímos também os componentes e formas corpóreas que fazem dele valor de uso. 
Comentário —Essa exigência 
sintetiza o raciocínio dedutivo feito até 
aqui: a) a mercadoria tem infinitos 
valores de troca; b) esses valores de 
troca expressam, portanto, uma 
mesma igualdade: c) essa igualdade 
deve decorrer de algo que as 
mercadorias têm em comum; d) 
chamemos de valor o que elas têm em 
comum; e) se descobrirmos o que é 
esse algo em comum que “iguala” as 
mercadorias, descobriremos a origem 
do valor.: r Para tornar mais simples a 
compreensão da argumentação que 
aqui se desenrola, talvez seja oportuno, 
também, chamar a atenção para um 
importantíssimo detalhe que às vezes 
escapa à percepção até mesmo de 
pessoas consideradas: conhecedoras 
da teoria marxista do valor, e que 
deverá ficar mais explícito no decorrer 
do: texto: valor de troca e valor não são 
a mesma coisa; Gomo estamos vendo, 
o valor de troca é a: forma que o valor 
assume para manifestar-se como tal. 
Ou seja, uma mercadoria precisa de 
outra mercadoria para expressar a 
presença e a quantidade de seu valor. 
 
 
 
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Deixa já de ser mesa ou casa ou fio ou qualquer outra coisa útil. Todas as suas 
qualidades sensoriais se apagaram. Também já não é o produto do trabalho do 
marceneiro ou do pedreiro ou do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo 
determinado. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o 
caráter útil dos trabalhos neles representados, e desaparecem também, portanto, as 
diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro 
para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato. 
(Marx, 1983, p. 47, v. 1,1.1) 
 
Assim, o trabalho abstrato, o trabalho formador de valor, 
é trabalho indiferenciado, socialmente necessário, geral, 
trabalho inteiramente indiferente acerca de todo 
conteúdo particular, pelo que alcança, também, em sua 
expressão autônoma— no dinheiro, na mercadoria como 
preço — uma expressão comum a todas as mercadorias, 
diferençável apenas pela quantidade (Marx, 1978, p. 23, 
grifos no original). 
Mas, como se mede esse valor que, como se acaba de ver, é a ma-
terialização de trabalho humano abstrato? Só pode ser pela magnitude de sua 
substância, ou seja, pelo tempo de trabalho. Não, entretanto, o tempo de 
trabalho gasto individualmente na produção de cada valor de uso, mas o 
tempo de trabalho socialmente necessário para essa produção, ou seja, 
“aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer, nas condições dadas de produção socialmente 
normais, e com o grau social médio de habilidade e de intensidade de trabalho” (MARX, 1983, p. 48, v. 
1,1.1). 
Para que se realize a produção de mercadorias é necessária a existência de uma desenvolvida 
divisão social do trabalho, com produtores privados produzindo uns para os outros, ou seja, produzindo 
para a troca. É claro que essa produção para a troca empresta um caráter eminentemente social ao 
trabalho humano que se incorpora nas mercadorias. Estas, por sua vez, só existem sob a forma de 
mercadorias porque são a materialização de trabalho humano abstrato, que constitui a substância de seu 
valor. A mercadoria é, pois, a objetivação de uma relação social. E suas propriedades, como mercadoria, 
como portadora de valor (o qual, como vimos, se manifesta por meio do valor de troca), advêm dessa 
relação social. Não é assim, entretanto, que ela se apresenta. Aos olhos do senso comum ela “se manifesta 
como uma coisa, dotada de uma autonomia e de um poder próprios [...] como algo enigmático, 
misterioso, dotado de um ser sensível e suprassensível” 
(SÁNCHEZ VAZQUEZ, 1977, p. 445). Nesta sua forma 
“mística”, as características sociais do trabalho humano 
são refletidas como se fossem características suas, 
inerentes ao produto desse trabalho. Assim, “determinada 
relação social entre os próprios homens [...] assume a 
forma fantasmagórica de uma relação entre coisas” 
(Marx, 1983, p. 71, v. 1,1.1). Isso se dá porque os 
produtores privados não entram em contato pessoal 
diretamente uns com os outros, mas somente mediante a 
troca de seus produtos. Por isso, 
os trabalhos privados só atuam, de fato, como 
membros do trabalho social total por meio das 
relações que a troca estabelece entre os produtos 
Para refletir 
— Observe-se que o 
trabalho em geral, 
“independentemente de 
qualquer forma social 
determinada” (Marx, 
1983,: p. 151, v. i, t. I), 
visto no Capítulo I, 
apresenta-se aqui, na 
produção do valor na 
sociedade: capitalista, 
como trabalho geral, ou 
seja, como simples 
dispêndio de força de 
trabalho (Cf. Comentário 
3, p. 27). 
Comentário --- O conceito de fetichismo das 
mercadorias é uma das categorias: mais ricas: 
da obra teórica de Marx. Uma visão superficial 
tende a compreendê-lo apenas como uma; 
aparência: causada pela forma mercadoria: 
dos: produtos do trabalho, forma essa que 
precisa ser tornada consciente como requisito 
da transformação social. Observe-se, todavia, 
que não se trata de mera aparência, visto: que, 
como : afirma Marx no trecho assinalado; “as 
relações sociais” aparecem aos produtores 
“como o que de fato] são”, isto é, “como 
relações reificadas entre as pessoas e relações: 
sociais entro as coisas”. As relações entre as 
pessoas são “reificadas” porque se realizam por 
meio de coisas. São as coisas (as mercadorias) 
que movem: as relações sociais. Não basta, 
portanto, que se tome consciência do: fato para 
que ele deixe de causar: seus efeitos. A 
superação da sociedade capitalista exige a 
superação do real não apenas a representação 
deste no pensamento. Para uma compreensão 
mais profunda do verdadeiro significado do 
conceito de fetichismo das mercadorias: em 
Marx veja-se o importantíssimo livro Teoria 
marxista do valor, de Isaak Illich Rubin 
(1980). 
 
 
 
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Comentário 14— 
Por razões didáticas, a 
explicação tem-se 
circunscrito, neste 
capítulo e. no anterior, ao 
contexto: da produção 
material, isto é, daquela 
que resulta como produto 
um objeto tangível. E é 
nesse âmbito que 
considero conveniente 
que o leitor, por ora, se 
mantenha. De posse dos 
conceitos teóricos aqui 
desenvolvidos, será mais 
fácil compreender, no 
quarto capítulo, a 
discussão a respeito dos 
elementos do processo de 
produção pedagógico. 
Teremos,: então, que 
tornar:mais preciso o que 
vai dito aqui a respeito ■ 
da: materialidade dos 
elementos que compõem 
os meios de produção. 
Veremos* então* que os 
meios de produção não 
necessariamente: são= 
compostos apenas por 
elementos materiais, 
como pode dar: a 
entender este parágrafo. 
do trabalho e, por meio dos mesmos, entre os produtores. Por isso, aos últimos aparecem as relações 
sociais entre seus trabalhos privados como o que são, isto é, não como relações diretamente sociais 
entre pessoas em seus próprios trabalhos, senão como relações reificadas entre as pessoas e relações 
sociais entre as coisas. (Marx, 1983, p. 71, v. 1, t. I) 
Ao encobrir o verdadeiro caráter social do trabalho que lhe dá origem, a forma mercadoria dos 
produtos do trabalho acaba também por dissimular as relações sociais que têm lugar entre os participantes 
do processo de produção capitalista, apresentando-as, conforme vimos anteriormente, como relações 
justas entre proprietários de mercadorias, impedindo que se perceba a exploração do trabalho presente 
nessas relações. 
 
Vejamos agora os elementos que compõem esse processo de produção. 
São eles: os meios de produção e a força de trabalho. Os meios de produção, 
como vimos no capítulo anterior, são todos os elementos materiais que, direta ou 
indiretamente, participam do processo de produção. Compõem os meios de 
produção: a matéria-prima e os instrumentos de produção. A matéria-prima é a 
própria matéria sobre a qual se aplica o trabalho no processo de produção e que, 
nesse processo, se transforma no novo produto. Ao chegar a esse processo, 
entretanto, ela já tem incorporado trabalho humano. É, pois, o objeto de trabalho 
“filtrado por meio de trabalho anterior” (Marx, 1983, p. 150, v. 1,1.1). Os 
instrumentos de produção são os elementos, como ferramentas, máquinas, etc. 
utilizados para transformar a matéria-prima num objeto útil. Diversamente da 
matéria-prima, que sofre transformação e se incorpora materialmente, no todo ou 
em parte, no produto final, os instrumentos de produção apenas se desgastam no 
processo, nada de si sendo transferido materialmente para o novo produto. Como 
tanto matéria-prima quanto instrumentos de produção já possuem incorporado 
trabalho humano, sendo, pois, portadores de valor, têm ambos esse valor 
transferido para o produto final. Essa transferência se dá na exata medida do 
valor que cada um possuía ao entrar no processo, já que, como vimos, só o 
trabalho cria valor, não podendo esses meios de produção, por si, adicionar ao 
novo produto mais valor do que já possuem. Por esse motivo, os meios de 
produção são também chamados de capital constante. 
Força de trabalho ou capacidade de trabalho é toda energia humana gasta 
no processo de produção, ou seja, “o conjunto das faculdades físicas e espirituais 
que existem na corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe 
em movimento toda vez que produz valores de uso” (Marx, 1983, p. 139, v. 
1,1.1). Como veremos mais adiante, diferentemente dos meios de produção, a 
força de trabalho acrescenta ao produto final mais valor do que o que ela mesma possui. Por isso ela é 
também chamada de capital variável. 
No processo de produção capitalista, não apenas os meios de produção mas também a força de 
trabalho se apresentam como mercadorias. O fato, aliás, de que a força de trabalho seja objeto de troca 
pode ser considerado como a especificidade do modo capitalista de produção.10

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