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Direito Processual Penal Constitucional DOCENTE: THALITA BASSAN 2 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL Normas: Regras e Princípios. Simétrica paridade entre as partes, juízo natural, livre convencimento motivado. Devido processo constitucional Princípios: contraditório, ampla defesa, Estado de inocência, jurisdicionalidade, celeridade, entre outros. 3NORMAS JURÍDICAS: regras e princípios As normas jurídicas podem ser definidas como um conjunto de normas que integram o ordenamento jurídico brasileiro, cuja função é regulamentar a conduta das pessoas, ou seja, é uma imposição normativa incorporada em uma fórmula jurídica. As REGRAS e PRINCÍPIOS, no campo do direito, são espécies do mesmo gênero, ambos são normas jurídicas, portanto, representam a força coercitiva do ordenamento jurídico, os modelos de conduta proibidos ou impostos pelo direito para a consecução de seus fins: a pacificação social e a coexistência pacífica entre as pessoas. 4 REGRAS: • situações específicas • baixo grau de abstração • São aplicadas pelo modelo lógico subjuntivo: o operador deve fazer um silogismo entre a premissa maior (regra abstrata), menor (fato) e conclusão (consequência jurídica). Conflito: critérios para a solução - especialidade (a regra especial afasta a geral), - cronológico (a regra mais nova prevalece sobre a antiga quando regulam a mesma situação), - hierárquico (todas as normas devem estar em sintonia com a Constituição Federal, que é a norma maior, fundamentadora de todo o sistema). 5 Enquanto as regras são pouco abstratas e regem situações específicas, os princípios possuem alto grau de abstração, exercendo função interpretativa, para guiar a aplicação das regras, mas também força coercitiva própria, aplicáveis, independentemente da vontade do operador do direito, para solucionar problemas concretos ou declarar a nulidade de atos jurídicos. 6 Os Princípios, por sua vez, são os alicerces da norma, são o seu fundamento em essência, são o refúgio em que a norma encontra sustentação para racionalizar a sua legitimação, são a base de onde se extrai o norte a ser seguido por um ordenamento. PRINCÍPIOS: • Não regulam situação específica • Força coercitiva • Alto grau de abstração • Função interpretativa • Valores 7 Então, conclui-se que, os princípios são altamente abstratos, verdadeiros valores que emanam dos ordenamentos jurídicos. Não regulam situações específicas, mas, ao contrário, ajudam o aplicador do direito a interpretar as regras jurídicas. Todavia, também possuem força coercitiva, podendo fundamentar a nulidade de atos jurídicos praticados em discordância deles (NUCCI, 2018). 8 Colisão: não há um contexto de tudo ou nada (como nas regras), mas sim uma ponderação de valores para se deduzir com qual intensidade cada princípio será aplicado para guiar o operador do direito na resolução do caso concreto. Colisão: critérios para a solução - ponderação de valores 9 10 Questão A respeito da distinção entre princípios e regras, é correto afirmar: a) Diante da colisão entre princípios, tem-se o afastamento de um dos princípios pelo princípio da especialidade ou ainda pela declaração de invalidade. b) As regras e os princípios são espécies de normas jurídicas, ressalvando-se a maior hierarquia normativa atribuída aos princípios. c) Os princípios possuem um grau de abstração maior em relação às regras, aplicando-se pela lógica do “tudo ou nada". d) Os princípios por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador, do juiz), enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta. e) Na hipótese de conflito entre regras, tem-se a ponderação das regras colidentes. 11 Resposta: D Princípios: 1. Devem ser poderados de acordo com o caso concreto; 2. Dimensão de peso e valor; 3. Instrumentos de otimização; 4. Havendo conflito apratente entre princípios, a solução deverá se dará pelo prevalencimento de um sobre o outro no caso concreto. REGRAS 1. Hierárquia (regra de maior hierarquia se sobrepõe a de menor); 2. de Especialidade (regra mais específica se sobrepõe a menos); 3. Cronológico (regra mais recente se sobrepõe a mais antiga); ou ainda pelo afastamento de uma delas ou pela derrota (superação) de uma delas ou pela declaração de invalidade (total ou parcial) de uma delas; 12 PRINCÍPIOS (“mandamentos nucleares” ou “disposições fundamentais” de um sistema). Princípio da presunção de inocência, estado de inocência ou presunção de não culpabilidade “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. Esta é a redação do inciso LVII, do art. 5º, Constituição Federal (BRASIL, 1988). 13 O art. 8º, item 2, do Pacto de São José da Costa Rica (1969), cuida do princípio intitulado como presunção de inocência, prevendo, em sua redação: “Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.” - ônus da prova, via de regra, cabe à acusação; - prisões provisórias devem ser decretadas de forma excepcional 14 Art. 312, § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o ). § 2o A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. 15 Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada. 16 Vale lembrar que a presunção de inocência integra-se ao princípio da prevalência do interesse do réu ( in dubio pro reo), garantindo que em caso de dúvida deve sempre prevalecer o estado de inocência, absolvendo-se o acusado. O princípio reforça também o princípio penal da intervenção mínima do Estado na vida do cidadão, uma vez que a reprovação penal somente alcançará aquele que for efetivamente culpado. 17 Alguns autores afirmam que “estado ou situação jurídica de inocência” é uma designação mais adequada a este princípio, pois a inocência não é presumida, ela existe até a superveniência de uma sentença penal condenatória, como diz a Constituição (OLIVEIRA, 2015). 18 Sobre este princípio, é ainda necessário mencionar a execução provisória de sentença condenatória após a confirmação da condenação em segundo grau de jurisdição. Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena. Desse modo, se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou recurso extraordinário, teria que iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o julgamento. 19 No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a entender que não era possível a execução provisória da pena. Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP). Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como execução provisória da pena. 20 No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira posição e voltou a dizer que era possível a execução provisória da pena. No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. 21 Assim, no atual momento, é proibida a execução provisória da pena após a confirmação da condenaçãoem segundo grau de jurisdição. Lembrando que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Referência: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/stf- decide-que-o-cumprimento-da-pena.html 22 Princípio da igualdade processual ou da paridade das armas Este postulado é um desdobramento do próprio princípio da isonomia, presente no art. 5º da CF (BRASIL, 1988), pois “todos são iguais perante a lei”. A acusação e defesa devem ter equivalente possibilidade de se manifestar no processo. 23 Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal . 24 O sistema processual penal brasileiro vigente é o acusatório, o magistrado deve ser inerte e imparcial, visando à igualdade das partes, devendo aplicar os princípios do contraditório e da ampla defesa para que assim, haja igualdade processual (paridade de armas). 25 Princípio do Devido Processo Legal é um princípio que garante o respeito às fases processuais para todos os indivíduos, bem como, que sejam respeitados todos os preceitos contidos na CF/1988. De acordo com tal princípio, deve-se seguir o procedimento previsto na lei, desde que garantidos os princípios inerentes à matéria. “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. (art. 5º, LIV, da CF) 26 E este princípio pode ser dividido em duas perspectivas: DEVIDO PROCESSO LEGAL processual/procedimental - corresponde ao amplo direito do réu de apresentar alegações em prol de sua inocência, havendo contenção dos excessos da violência estatal por meio do devido procedimento. DEVIDO PROCESSO LEGAL material/substancial - associa-se à garantia de razoabilidade e respeito aos princípios de direito penal, como o da legalidade - ninguém pode ser processado ou punido, senão por crime previamente previsto em lei (TÁVORA; ALENCAR, 2015). 27 Princípio da ampla defesa A Constituição afirma, em seu art. 5º, LV, que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. O princípio da ampla defesa se desdobra em duas grandes garantias: a defesa técnica e a autodefesa. 28 A defesa técnica deve necessariamente ser feita por membro da OAB ou defensor público, por força do art. 263 do CPP (BRASIL, 1941) A autodefesa apresenta-se como o direito do acusado de colaborar pessoalmente com seus meios defensivos. Divide- se no direito de audiência, ou seja, de ser ouvido no processo, normalmente na fase de interrogatório, e no direito de presença aos atos processuais, seja de forma direta, seja por meio de videoconferência. 29 O direito à ampla defesa tem outra consequência direta: apenas o réu tem direito à revisão criminal (art. 623 do CPP) que é uma ação autônoma de impugnação que visa desconstituir uma sentença penal transitada em julgado. Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. 30 Princípio do contraditório Com fundamento no mesmo inciso constitucional que o princípio da ampla defesa, a garantia do contraditório dispõe que, quando uma das partes faz qualquer alegação de fato ou apresentação de prova, a parte adversaria deve ter o direito de se manifestar. 31 O princípio do contraditório, também é conhecido pela expressão audiatur et altera pars, que significa: ouça-se também a outra parte. Assim, o magistrado deve ser imparcial e ouvir as duas versões no caso sub judice antes de proferir a sentença. E o principal momento de exercer o contraditório no processo penal é durante a colheita de provas. 32 Podemos dizer que o contraditório, enquanto garantia, desdobra-se em três direitos: direito de ser intimado sobre fatos e provas, de se manifestar sobre fatos e provas e de, por meio dessa manifestação, ter chance real de interferir na decisão do juiz acerca daquelas provas ou fatos (NUCCI, 2018). 33 Princípio da verdade real é o princípio pelo qual o magistrado deve buscar as melhores provas em matéria criminal, não podendo se contentar apenas com aquelas fornecidas pelas partes. Inclusive, o art. 156 do Código de Processo Penal possibilita ao juiz a determinação de diligências complementares, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, quando necessárias para sanar dúvidas sobre pontos relevantes entre as partes. 34 Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. 35 Ele também é chamado de verdade substancial ou verdade material, pois, este princípio apregoa que o juiz, no processo penal, não deve se contentar com a verdade formal, mas sim, deve se preocupar em decidir, com base nos fatos reais, de maneira que o acusador precisa buscar desvendar como os fatos verdadeiramente se deram. Como consequência, no processo penal, não serão automaticamente consideradas verdadeiras as alegações não contestadas apresentadas pela parte. 36 Este princípio recebe algumas críticas doutrinárias, tendo em vista que no sistema acusatório, o magistrado deve ser inerte e imparcial, no entanto, tal princípio é aceitável, pois a verdade deve prevalecer e o magistrado necessita de subsídios concretos e esclarecedores sobre o fato, para que possa proferir uma sentença justa. Nesse contexto, vigora no processo penal brasileiro, a liberdade dos meios de prova, que é uma característica do sistema acusatório. No entanto, a liberdade probatória possui exceções: são vedadas as provas ilícitas (que violam direito material) e as provas ilegítimas (que violam direito processual). 37 Exceções à verdade real no direito pátrio: Impossibilidade de revisão contra o acusado; Transação criminal (Lei 9.099/95); impossibilidade de exibir prova no plenário do júri, que não foi comunicada á parte contrária com antecedência mínima de 03 dias (art.479); Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI CF); 38 INTERVALO 20 MINUTOS 39 Juízo natural ou juiz natural É a garantia extraída da Constituição Federal, art. 5º, LIII, ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Tal princípio apregoa que todas as pessoas possuem o direito de serem julgadas por um juiz previamente competente para o julgamento do crime que cometeu. Impede a criação dos chamados tribunais de exceção, ou seja, aqueles criados para julgar fatos específicos. O exemplo mais icônico da história é o tribunal de Nurembeg. Assim, o princípio do juízo natural existe para proteger todos os cidadãos de juízos enviesados, garantindo que o julgamento seja o mais imparcial possível. 40 O princípio do juiz natural foi mencionado expressamente, pela primeira vez, na França, através da Lei 24/08/1790, que determinou no seu artigo 17 do título II que: “A ordem constitucional das jurisdições não pode ser perturbada, nem os jurisdicionados subtraídos de seus juízes naturais,por meio de qualquer comissão, nem mediante outras atribuições ou evocações, salvo nos casos determinados pela lei”. 41 Previsto em nossas Constituições desde 1824 (artigo 179, inciso XII), ainda que nem sempre com as mesmas palavras, ele está explícito na Carta Magna de 1988, que proíbe “juízo ou tribunal de exceção” (artigo 5º, inciso XXXVII). Por Juiz natural entende-se ser aquele com competência fixada em lei para processar e julgar a controvérsia levada ao Poder Judiciário. 42 Luis Roberto Barroso, invocando precedente do Supremo Tribunal Federal assim falou sobre esse princípio: “O postulado do juiz natural, por encerrar uma expressiva garantia da ordem constitucional, limita, de modo subordinante, os poderes do Estado — que fica, assim, impossibilitado de instituir juízos ad hoc ou de criar tribunais de exceção —, ao mesmo tempo em que assegura ao acusado o direito ao processo perante autoridade competente abstratamente designada na forma da lei anterior, vedados em consequência, os juízos ex post facto”. 43 Princípio do livre convencimento motivado ou da persuasão racional O juiz pode formar o seu convencimento de forma livre, embora deva fundamentar todas as suas decisões, conforme disposto no art. 93, IX, da CF. Ademais, o art. 155 do CPP. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. 44 IX. todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (CF, 1988). 45 Caracteriza-se o sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional como "aquele em que o juiz, observados os limites do sistema jurídico, pode dar a sua própria valoração à prova, sendo dever seu o de fundamentar, isto é, justificar a formação de sua convicção“. 46 Esse instituto possui exceções, a saber: a imputabilidade do acusado, que deve ser provado por exame médico; os crimes que deixam vestígios, que necessitam de exame de corpo de delito, conforme art. 158 do CPP (BRASIL, 1941), e a prova da morte do agente que necessita de demonstração da certidão de óbito (NUCCI, 2018). 47 Princípio da celeridade processual, economia processual ou duração razoável do processo Esta garantia foi positivada no art. 5º, da CF pela emenda constitucional nº 45/2004, mas já se encontrava presente no ordenamento brasileiro, pois constava no Pacto de São José da Costa Rica. LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 48 Segundo alguns autores, este princípio, juntamente com a presunção de inocência, se desdobra no princípio da duração razoável da prisão cautelar. Isso porque a prisão provisória não pode durar por tempo maior do que o necessário para assegurar as razões de cautela a justificam (NUCCI, 2018). 49 Princípio da Oralidade e princípios consequenciais da concentração, da imediatidade e da identidade física do juiz A palavra oral deve prevalecer, em algumas fases do processo, sobre a palavra escrita, buscando enaltecer os princípios da concentração, da imediatidade e da identidade física do juiz. Seria a forma de se prestar com maior equidade e justeza a tutela jurisdicional. 50 Concentração: toda a colheita da prova e o julgamento devem dar-se em uma única audiência; Imediatidade: o magistrado deve ter contato direito com a prova produzida, formando mais facilmente a sua convicção. Identidade física do juiz: o magistrado que preside a instrução, colhendo provas, deve ser o julgador do feito, vinculando-se a causa. Exceção: carta precatória, rogatória. 51 Princípio da Publicidade (ART. 5º, LX, XXXIII, e 93, IX, CF) Os atos processuais devem ser realizado publicamente, à vista de quem queira acompanha-los, sem sigilo. É justamente o que permite o controle social dos atos e decisões do Poder Judiciário. EXCEÇÕES: a própria Constituição ressalva a possibilidade de se restringir a publicidade. - Interesse social; - intimidade o exigir; 52 Princípio da inexigência de autoincriminação Ninguém pode ser obrigado a produzir prova CONTRA SI MESMO, como diz o clássico brocardo latino: “nemo tenetur se detegere”. Este princípio é um desdobramento de três garantias constitucionais: o princípio da ampla defesa o princípio do estado de inocência e o direito ao silêncio O direito ao silêncio – positivado no inciso LXIII, do art. 5º da CF, que diz: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. 53 Dessa forma, há de se declarar a nulidade da prova formada de maneira forçosa, pois obrigar qualquer pessoa a acusar a si próprio atenta contra a própria dignidade da pessoa humana (OLIVEIRA, 2015). 54 Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 55 Princípio da jurisdicionalidade A jurisdição, poder-dever de dizer o direito no caso concreto, aplicando a norma jurídica para resolução do conflito social, substituindo a vontade das partes – é atividade exclusiva do juiz e estritamente necessária para aplicação da pena ao praticante de crime. 56 Então, o julgador irá se substituir aos titulares dos interesses em conflito para aplicar o Direito em cada caso concreto. Esse direito só pode ser exercido perante o órgão jurisdicional competente através de um processo que assegure ao acusado todas as garantias constitucionais, é disso que e trata esse princípio da juriscicionalidade. 57 Princípio da vedação das provas ilícitas A Constituição Federal, em seu artigo 5º, LVI (BRASIL, 1988), afirma expressamente que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. O Código de Processo Penal reitera, afirmando, em seu art. 157 do CPP, que as prova ilícitas são aquelas que violam normas constitucionais ou legais, devendo ser desentranhadas dos autos, após ter sua nulidade declarada pelo juiz. 58 Capez (2011) esclarece que a ilicitude da prova decorre da violação à norma de direito material, mediante a prática de crime ou contravenção ou, então, por afrontar qualquer princípio constitucional que garanta a licitude e admissibilidade para prova no processo. 59 Portanto, o processo penal brasileiro admite o uso de todos os meios de prova desde que lícitos. Ou seja, ainda que a prova não esteja prevista no ordenamento penal (inominada), ou que não tenha discriminada sua forma de colheita e produção (prova atípica), ainda assim será admitida no processo penal, desde que não seja ilícita. 60 Questões No que se refere aos direitos individuais e à aplicação dos princípios do contraditório e da ampla defesa, julgue o item a seguir. É nula a sentença condenatória fundamentada exclusivamente em elementos colhidos em inquérito policial. Certo ou errado? 61 GABARITO: CERTO Art. 155, CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Complementando: Se fosse a absolvição, poderia! 62 Acerca do princípio da identidade físicado juiz, é correto afirmar que: a) a doutrina relaciona esse princípio com os subprincípios da oralidade, da concentração dos atos e da imediatidade. b) o Código de Processo Penal dispõe expressamente hipóteses de limitação de aplicação desse princípio. c) o STF restringiu a eficácia desse princípio ao estabelecer o encerramento da instrução processual penal como marco para a prorrogação da competência quanto aos limites do foro por prerrogativa de função. d) oposição de embargos declaratórios contra sentença condenatória proferida por juiz substituto é hipótese na qual se prorroga a competência desse magistrado, em obediência ao referido princípio. 63 GABARITO: A A doutrina relaciona esse princípio com os subprincípios da oralidade, da concentração dos atos e da imediatidade. Princípio da Identidade Física do Juiz: o juiz que presidiu a instrução DEVERÁ proferir a sentença, cuja regra está ligada à garantia do juiz natural. A doutrina relaciona esse princípio com os subprincípios da oralidade, da concentração dos atos e da imediatidade. Entendimento jurisprudencial no sentido de que as provas colhidas à distância por carta precatória ou carta rogatória constituem uma exceção a esse princípio. 64 “Um homem acusado de assalto foi morto por linchamento pela população em São Luís do Maranhão. Segundo a Polícia Militar (PM), J.F.B agiu com um comparsa na abordagem de um eletricista em uma parada de ônibus, na Avenida Marechal Castelo Branco" (Portal G1 MA, 10/04/2018). A notícia acima demonstra a NÃO observância do seguinte princípio do processo penal democrático: a) contraditório b) jurisdicionalidade ou necessidade c) imparcialidade d) juiz natural e) paridade de armas 65 GABARITO: B Esta situação configura inobservância e violação do princípio da jurisdicionalidade/reserva de jurisdição, que nas palavras do ministro Celso de Mello é definido como: "o postulado de reserva constitucional de jurisdição importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita determinação constante do próprio texto da , somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a quem haja eventualmente atribuído o exercício de poderes de investigação próprios das autoridades judiciais" Ao promover o linchamento a população privou o indivíduo do direito de ser julgado e sentenciado por um órgão investido de jurisdição, bem como privou-o do direito ao devido processo legal e do julgamento proporcional e justo. 66 O princípio do Direito Processual Penal que impede a criação de tribunais de exceção refere-se ao princípio: a) do contraditório b) da verdade real c) da oficiosidade d) juiz natural e) da indisponibilidade 67 GABARITO: D Princípio do juiz natural: é dado ao cidadão o direito de saber antecipadamente qual a autoridade jurisdicional que irá julgá-lo caso venha a cometer algum delito. Está ligado à imparcialidade do juiz. Com base nesse princípio, veda-se o juízo ou tribunal de exceção – órgão criado após o fato delituoso especificamente para seu julgamento. 68 Em relação aos princípios que regem o processo penal, afirma-se corretamente: A) a Constituição Federal garante expressamente os princípios da independência e da imparcialidade do juiz. B) o recurso extraordinário e o recurso especial têm por função assegurar o duplo grau de jurisdição. C) o direito ao julgamento em prazo razoável está previsto na Constituição Federal e pode ter como termo inicial ato realizado na fase de inquérito policial. D) sobre o princípio da motivação das decisões judiciais, há previsão no CPP quanto à denominada motivação per relationem. E) o art. 20, do CPP, que garante o sigilo das investigações no inquérito policial, não foi recepcionado pela Constituição Federal, que previu expressamente o princípio da publicidade. 69 GABARITO: C Art. 5° (...) LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Basta lembrar que a razoável duração do processo engloba o âmbito judicial e o âmbito administrativo (inquérito policial, portanto). 70 A lei não poderá restringir a divulgação de nenhum ato processual penal, sob pena de ferir o princípio da publicidade. CERTO OU ERRADO? 71 GABARITO: ERRADO A disposição presente no inciso LX do art. 5º (c/c art. 93, IX da CF) : “A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem” 72 A despeito do princípio constitucional da vedação às provas ilícitas, o juiz poderá considerar uma prova ilícita em qualquer situação, desde que se convença de sua importância para a condenação do réu. CERTO OU ERRADO? 73 GABARITO: ERRADO Por força do princípio da proporcionalidade a prova ilícita poderá ser admitida em favor do réu. Pois, se de um lado há a proibição da prova ilícita, do outro há a presunção de inocência, e entre os dois deve preponderar a presunção de inocência. Assim, a prova ilícita não serve para condenar ninguém, mas para absolver o inocente. 74 A garantia, aos acusados em geral, de contraditar atos e documentos com os meios e recursos previstos atende aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. CERTO OU ERRADO? 75 GABARITO: CERTO CF, 5º, LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. 76 (FCC – 2015 – DPE-MA – DEFENSOR PÚBLICO) A necessidade de assegurar que as partes gozem das mesmas oportunidades e faculdades processuais consiste o conteúdo do princípio processual: a) da paridade de armas. b) b) do contraditório. c) c) da ampla defesa. d) d) da identidade física do juiz. e) e) do estado de inocência. 77 RESPOSTA: LETRA A – PARIDADE DE ARMAS. 78 (FCC – 2014 – DPE-RS – DEFENSOR PÚBLICO) No Brasil, segundo a maioria dos doutrinadores, vige o sistema processual penal do tipo acusatório. São características deste sistema processual penal: a) a imparcialidade do julgador, a flexibilização do contraditório na medida da necessidade para reconstrução da verdade real e a relativização do duplo grau de jurisdição. b) o sigilo das audiências, a imparcialidade do julgador e a vedação ao duplo grau de jurisdição. c) a igualdade das partes, o contraditório e a publicidade dos atos processuais. d) a absoluta separação das funções de acusar e julgar, a publicidade dos atos processuais e a inexistência da coisa julgada. e) o sigilo absoluto do inquérito policial, a publicidade dos atos processuais e o duplo grau de jurisdição. 79 São características do sistema acusatório, dentre outras, a igualdade das partes (não há privilégios para a acusação), o contraditório (o acusado é sujeito de direitos no processo) e a publicidade dos atos processuais (o processo deve estar sujeito à fiscalização das partes e da sociedade). ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. 80 (FCC – 2009 – TJ-AP – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA) A Constituição Federal NÃO prevê expressamente o princípio da publicidade. CERTO OU ERRADO? 81 GABARITO: ERRADO Prevê sim. Fundamentação: Artigo 5º, XXXIII, XXXIV, LXXII, da Constituição Federal Artigos 2º, parágrafo único, V, e 3º, II, da Lei nº 9.784/99 82 (FCC – 2007 – MPU – ANALISTA PROCESSUAL) Dispõe o art. 5º, inciso XXXVII da Constituição da República Federativa do Brasil que "Não haverá juízo ou Tribunal de exceção; inciso LIII: “Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente". Tais disposições consagram o princípio: A) da presunção de inocência. B) da ampla defesa. C) do devido processo legal. D) do juiz natural. 83 GABARITO: LETRA D 84 Pelo princípio do estado de inocência, adotado no Brasil: a) a pessoa só pode ser considerada culpada apósa sentença condenatória. b) não se admite a prisão provisória. c) a restrição à liberdade do acusado antes da sentença definitiva só deve ser admitida a título de medida cautelar, de necessidade ou conveniência, segundo estabelece a lei processual. d) cabe ao réu o dever de provar a sua inocência. 85 A resposta certa é a letra c. "Pelo princípio do estado de inocência, o acusado é inocente até que seja declarado culpado por uma sentença transitada em julgado (art. 5º, LVII, da CF); A prisão provisória é admitida pela CF quando prevê os institutos processuais da prisão em flagrante e por mandado judicial (art. 5º, LXI, da CF), da liberdade provisória com ou sem fiança (art. 5º, LXVI); O réu não tem o dever de provar sua inocência, cabe ao acusador comprovar a sua culpa" (Julio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, página 23, 18ª edição, Editora Atlas S.A. - 2007). 86 No processo penal: a) vigora o princípio da verdade formal. b) vigora o princípio da verdade real. c) vigora o princípio da verdade real, de forma absoluta. d) vigora o princípio da verdade formal, de forma absoluta. 87 A resposta certa é a letra b. "Com o princípio da verdade real se procura estabelecer que o "jus puniendi" somente seja exercido contra aquele que praticou a infração penal e nos exatos limites de sua culpa numa investigação que não encontra limites na forma ou na iniciativa das partes. No processo penal brasileiro, o princípio da verdade real não vige em toda sua inteireza. Não se permite que, após uma absolvição transitada em julgado seja ela rescindida, mesmo quando surjam provas concludentes contra o agente. 88 Do princípio do contraditório decorrem: a) a igualdade processual e a liberdade processual. b) a desigualdade processual e a liberdade processual. c) a igualdade processual e a rigorosidade processual. d) Nenhuma das alternativas está correta. 89 A resposta certa é a letra a. "Do princípio do contraditório decorre a igualdade processual entre o acusador e o acusado, que se encontram num mesmo plano, e a liberdade processual, que consiste na faculdade que tem o acusado de nomear o advogado que bem entender, de apresentar as provas que lhe convenham etc" (Julio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, página 24, 18ª edição, Editora Atlas S.A. - 2007).
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