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Vitória Barbosa Turma XIII – 2020.1 TIREOIDITES ➢ Conceito: corresponde a qualquer inflamação clínica da tireoide podendo apresentar um quadro de tireotoxicose ou não (geralmente ocorre tireotoxicose sem hipertireoidismo) ➢ Fisiopatologia: a tireoide pode inflamar a partir de um processo autoimune, infeccioso, drogas ou traumas (a tireoide irá reduz a sua função, mas, mesmo assim expõe T4/T3) ➢ Classificação: agudas, subagudas e crônicas • Com tireotoxicose: subaguda (granulomatosa e linfocítica) e factícia (paciente realiza ingestão de hormônio tireoidiano) • Sem tireotoxicose: aguda e crônicas (riedel e Hashimoto) TIREOIDITE AGUDA ➢ Também conhecida como tireoidite supurativa aguda ou infecciosa, está comumente associada a pacientes imuno- deprimidos, com malformações cervicais ou doença tireoidiana ➢ Possui origem infecciosa: bacteriana (70% dos casos) e viral (15% dos casos) ➢ Apresenta baixa frequência devido a resistência da tireoide a infecções em função da sua encapsulação, seu alto teor de iodo, seu rico suprimento sanguíneo e sua extensa drenagem linfática ➢ É mais frequente e, indivíduos com doenças tireoidianas prévias (câncer, tireoide de Hashimoto e bócio multinodular) ou com anomalia congênita ➢ É mais prevalente em crianças ➢ Manifestações clínicas: a tireoidite aguda apresenta início súbito e assimétrico, mas pode desenvolver-se gradual- mente. Os sintomas mais usuais são: dor cervical (geralmente unilobular), febre, sudorese, astenia, linfonodomegalia, disfonia e disfagia podendo ainda apresentar em uma massa indolor na face anterior do pescoço, simulando um carcinoma (adultos) • Sintomas de hipertireoidismo geralmente estão ausentes • O quadro pode ocasionalmente se agravar, com desenvolvimento de sepse ➢ Exame físico: sinais flogísticos (calor, rubor, edema, dor e limitação funcional) no lado acometido da tireoide, com pele eritematosa, intensa dor à palpação, linfonodomegalia cervical • O lobo esquerdo tireoidiano é comumente mais atingido ➢ Achados laboratoriais: função tireoidiana normal, presença de leucocitose com desvio à esquerda, elevação de VHS, ausência de anti-TPO e anti-TG ➢ Exames complementares: cintilografia apresenta hipocaptação na região envolvida, a US possibilita a localização do abcesso ou do processo supurativo ➢ Diagnóstico: confirmado a partir da PAAF, o material retirado é submetido a bacterioscopia e cultura ➢ Tratamento: antibioticoterapia orientada por bacterioscopia e cultura do material obtido pela PAAF, em casos mais graves o paciente deve ser internado para receber antibioticoterapia ou terapia entifúngica parenteral. Qualquer abcesso deve ser drenado • Pacientes pediátricos que apresentam fistulas, devem ser removidas para prevenir recorrências de TA ➢ Diagnóstico diferencial: tireoidite granulomatosa subaguda • Na TA, a dor é mais intensa e muitas vezes apresenta linfadenomegalia cervical, eritema ou formação de abcesso • Sinais de hipertireoidismo são mais frequentes em TGSA TIREOIDITE SUBAGUDA TIREOIDITE GRANULOMATOSA SUBAGUDA ➢ Sinônimos: tireoidite de De Quervain, tireoidite subaguda dolorosa e tireoidite de células gigantes ➢ Corresponde a um processo inflamatório, causado direta ou indiretamente por infecção viral da glândula tireoidiana podendo estar associada ou não à tireotoxicose transitória (possui quatro fases: hipertireoidismo - eutireoidismo - hipotireoidismo - recuperação da função tireoidiana) • O quadro se instala cerca de 1-3 semanas após quadro gripal ➢ É considerada a causa mais comum de dor na tireoide, e por tanto, é caracteristicamente dolorosa (quadro álgico) ➢ Acomete principalmente indivíduos entre a terceira e a quinta década de vida ➢ Possui maior incidência no sexo feminino (5x maior) ➢ Manifestações clínicas: tende a começar com uma fase prodrômica, caracterizada por astenia, mal-estar, mialgia, faringite e febre baixa. Posteriormente, intensifica-se a febre e surge dor na região da tireoide (porção anterior da cervical, geralmente dói a tireoide toda) a qual se agrava com a tosse, a deglutição e a movimentação do pescoço. Pode irradias para a região occipital, parte superior do pescoço, mandíbula, garganta ou ouvidos • Podem apresentar sinais de hipertireoidismo (resultado do processo de destruição dos folículos, com consequente liberação de tireoglobulina, hormônios tireoidianos e outras aminas iodadas) • Aspectos dominantes: hipersensibilidade local e dor ➢ Exame físico: bócio nodular, dor e hipersensibilidade local, em processos inflamatórios pode apresentar eritema e calor na pele sobrejacente ➢ Achados laboratoriais: intensa elevação da VHS e da proteína C reativa, leve anemia normocítica e normocrômica, contagem leucocitária normal ou discretamente elevada, RAIU/24h é muito baixa (processo inflamatório agudo) e a concentração sérica dos anticorpos antitireoidianos está geralmente normal. Na fase de hipertireoidismo observa-se elevação moderada dos níveis séricos de tireoglobulina, T3 e T4, TSH está suprimido. Na fase de hipotireoidismo observa-se valores baixos de T4 livre e elevação do TSH ➢ Exames complementares: na US observa-se áreas hipoecoicas irregulares e mal delimitadas (avalia a evolução da doença) ➢ Diagnóstico: normalmente é clínico ➢ Tratamento: visa, sobretudo, o alívio do quadro doloroso, para isso faz-se uso de anti-inflamatório não hormonais (AAS) em caso de não haver melhora, realiza-se a administração de glicocorticoides (prednisona). Em casos de tireoidite dolorosa não responsiva aos glicocorticoides é indicado realizar cirurgia • O controle do hipertireoidismo se dá a partir de betabloqueadores (propranolol) ou antitireoidianos de síntese (metimazol, propilitiouracil) • O controle do hipotireoidismo se dá a partir da administração de L-tiroxina • Atenção: não realizar administração de tioamida TIREOIDITE LINFOCÍTICA INDOLOR ➢ Também conhecida como tireoidite esporádica silenciosa ➢ Corresponde à forma espontânea da TLSA podendo cursar com quatro fases: hipertireoidismo, eutireoidismo, hipotireoidismo e recuperação funcional (ela irá se manifestar apenas com um período transitório de tireotoxicose, seguido de hipotireoidismo autolimitado) • Pode ser autoimune, pós-parto, por medicação (amiodarona, lítio), radiação e idiopática ➢ É mais frequente nas mulheres e pode ocorrer em qualquer faixa etária, sendo mais comum entre os 30 e 60 anos de idade ➢ Manifestações clínicas: a TLI é geralmente diagnosticada na fase de hipertireoidismo onde os pacientes queixam-se de intolerância ao calor, nervosismo, palpitações, emagrecimentos. Na fase de hipotireoidismo o paciente irá apresentar bócio indolor, difuso, com consistência firme e dimensão pequena ➢ Achados laboratoriais: na fase inicial do hipertireoidismo há elevação dos níveis séricos de T3 e T4 livre e da tireoglobulina, com supressão de TSH, além de apresentar RAIU/24h baixo e elevação dos anticorpos antitireoidianos (anti-TPO e anti-Tg), VHS e hemograma normais ➢ Tratamento: visa, sobretudo, controlar os sintomas de hiper e hipotireoidismo. O controle da tireotoxicose se dá pela administração de betabloqueadores (propranolol), já o hipotiroidismo é tratado pela reposição de L-T4 • Nos casos de tireoidite recidivante, excepcionalmente radioiodo ou tireoidectomia subtotal podem ser necessários • O paciente deve ser acompanhado após a recuperação, devido ao risco de evoluir para tireoidite crônica e hipotireoidismo permanente ➢ Diagnóstico diferencial: doença de Graves TIREOIDITE PÓS-PARTO ➢ Corresponde a um subtipo da tireoidite linfocítica indolor ➢ É mais comum em mulheres com altos títulos de anti-TPO no primeiro trimestre ou imediatamente após o parto ➢ Pode se apresentar de três maneiras: (1) apenas hipertireoidismo transitório, (2) apenas hipotireoidismo transitório, (3) hipertireoidismo transitório seguido de hipotireoidismotransitório e, depois, recuperação com eutireoidismo ➢ Manifestações clínicas: os sintomas de hipertireoidismo são leves, cursando geralmente com ansiedade, fraqueza, irritabilidade, palpitações, taquicardia e tremor. Já os sintomas de hipotireoidismo costumam ser discretos cursando com astenia, falta de energia e pele seca. A maioria das pacientes apresentam bócio difuso, pequeno e indolor • O hipotireoidismo pode associar-se à depressão pós-parto ➢ Achados laboratoriais: na fase hipertireóidea observa-se níveis altos ou no limite superior da normalidade de T3 e T4 com supressão do TSH além da baixa RAIU/24h. Na fase de hipotireoidismo encontra-se TSH elevado com T4 baixo ou normal, além da elevação do anti-TPO e anti-Tg; algumas pacientes podem apresentar ainda VHS levemente aumentada ➢ Exames complementares: US pode mostrar aumento da tireoide, com hipoecogenieidade multifocal oudifusa, bem como calcificações e áreas císticas ➢ Tratamento: tratamento sintomático com administração de betabloqueador no hiper e L-T4 no hipo ➢ Rastreamento: deve-se realizar a dosagem dos anti-TPO no primeiro trimestre, se positivo deve-se realizar a dosagem do TSG e T4L além de avaliações seguidas e periódicas do status tireoidiano; o rastreamento é indicado quando há história pessoal de hipotireoidismo, hipertireoidismo, bócio, positividade para anticorpos anti-TPO, TPP prévia, tireoidectomia parcial, história familiar de doença tireoidiana, sintomas ou sinais de hipo ou hipertireoidismo, hipercolesterolemia e hiponatremia, DM1 ou outras doenças autoimunes, história de irradiação de cabeça e pescoço e história de aborto espontâneo ➢ Diagnóstico diferencial: doença de Graves TIREOIDITE CRÔNICA TIREOIDITE DE HASHIMOTO ➢ Também conhecida como tireoidite autoimune, era resulta do ataque do sistema imune as células tireoides, causando uma inflamação dessa glândula o que geralmente resulta em um hipertireoidismo passageiro que depois é seguido por um hipotireoidismo ➢ É a forma mais comum de tireoidite, e a causa mais comum de hipotireoidismo ➢ Maior frequência nas mulheres (3m maior) e pode se manifestar após infecções, gravidez e radiação ➢ Fatores de risco: genéticos (mutação no gene CTLA-4) e ambientais (idade, sexo, iodo, selênio, vitamina D, citocinas, radiação, infecção) ➢ Patogênese: as células T CD4+ excessivamente estimuladas desempenham papel principal nesse processo. As células T executam duas funções na patogênese da TH: as células T helper do tipo 2 levam a excessivas estimulação e produção de células B e plasmócitos que produzem anticorpos contra antígenos tireoidianos, causando tireoidite. Ademais, as células Th1 ativam linfócitos e macrófagos citotóxicos, os quais diretamente afetam o tecido tireoidiano, destruindo suas células foliculares. O processo de morte celular programada também desempenha um papel igualmente importante na patogênese e desenvolvimento de hipotireoidismo ➢ Etiopatogenia: existe acentuada infiltração linfocítica da tireoide com formação de centros germinativos, atrofia dos folículos tireoidianos acompanhada por metaplasia oxifilica, ausência de coloide e fibrose leve e moderada (linfocítica crônica) ➢ Manifestações clínicas: a maioria dos pacientes são assintomáticos sendo os sintomas de hipotireoidismo a queixa inicial do paciente (cansaço e sonolência, pele seca, queda de cabelo, unhas fracas, alterações menstruais, constipação, intolerância ao frio, ganho de peso e mixedema). O paciente pode apresentar bócio difuso, indolor, de consistência firme, superfície irregular ou lobulado e de tamanho variável (2 a 4 vezes o normal) podendo haver queixa de dor de intensidade leve, ou apenas desconforto local • Em casos de crescimento rápido do bócio, pode haver sintomas de disfagia, dispneia e rouquidão por pressão sobre estruturas cervicais ➢ Achados laboratoriais: elevados níveis de anti-TPO e anti-Tg, os níveis de T4L e TSH podem estar compatíveis com hipotireoidismo, sendo comum o achado de hipotireoidismo subclínico (TSH elevado com T4 livre normal) ➢ Exames complementares: US apresenta tireoide difusamente aumentada, heterogênea e hipervascular, com micronódulos, septações ecogênicas e diminuição de ecogenieidade. Na fase final, a glândula se apresenta de tamanho reduzido com contornos irregulares e mal definidos, com textura heterogênea em razão da intensa fibrose • É comum o achado de pseudonódulos e calcificações ➢ Diagnóstico: é feito a partir da investigação de anormalidades em exames de rotina (T4L baixo, TSH elevado e anti- TPO e anti-Tg elevados) ou pela detecção de um bócio discreto ao exame físico ➢ Patologias associadas: doenças autoimunes (principalmente a doença de Addison), neoplasias tireoidianas, SD ou ST, encefalopatia de Hashimoto ➢ Tratamento: reposição de L-tiroxina (pode reduzir o tamanho do bócio e geralmente leva à redução dos níveis de anti- TPO), administração de glicocorticoides nos casos acompanhados de dor tireoidiana ou nos casos com bócio de crescimento rápido • A cirurgia é indicada no caso de sintomas compreensivos ou de dor refratária ao tratamento medicamentoso, motivações cosméticas ou malignidade ➢ Diagnóstico diferencial: doença de Graves TIREOIDITE ATRÓFICA ➢ Corresponde a uma evolução tardia da TH, com anticorpos também positivos, porém sem bócio e geralmente cursando com hipotireoidismo TIREOIDITE DE RINDEL ➢ Considerada uma tireoidite fibrosa invasiva ocasionada pela flebite oliberativa, assemelha-se a linfoma ou carcinoma anaplásico tireoidiano ➢ Corresponde a tireoidite mais rara, e possui etiopatogênese desconhecida (estudos relacionam ao IgG4, fatores autoimunes e distúrbios fibróticos primários) a qual pode levar a um hipotireoidismo • Quando não tratada pode ocorrer destruição da glândula ➢ Acomete em geral indivíduos entre a quarta e sexta década de vida sendo mais comum no sexo feminino ➢ Manifestações clínicas: os pacientes apresentam bócio de consistência endurecida com história de crescimento indo- lor, com progressão e evolução variáveis. Os sintomas mais frequentes são os compressivos: disfagia, sensação de peso ou pressão em região cervical, rouquidão e estridor, além de sintomas respiratórios (dispneia, tosse, sensação de sufocamento e até asfixia) sendo a queixa de dor algo incomum. • Pode ocorrer hipotireoidismo ➢ Achados laboratoriais: títulos elevados de anticorpos antitireoidianos, hemograma geralmente normal ou revela leucocitose, VHS mostra-se um pouco elevada, além disso a RAIU/24h em regra encontra-se normal ➢ Exames complementares: cintilografia evidencia áreas frias, que correspondem à extensão da lesão e a US revela fibrose ➢ Exame físico: massa cervical de consistência endurecida, descrita como lenhosa, em geral indolor de dimensões que podem variar de pequenas a muito grandes, em geral de comprometimento difuso. É aderente e invade estruturas circunjacente • A sua consciência tende a ser mais endurecida do que a dos carcinomas ➢ Diagnóstico: biopsia a céu aberto, sendo o exame histológico essencial ➢ Doenças associadas: fibrose de glândulas salivares, lacrimais, mediastinal, retroperitoneal, colangite esclerosante e pseudotumor de órbita ➢ Tratamento: quando há sintomas compressivos ou suspeita de malignidade está indicado o tratamento cirúrgico. Para alívio dos sintomas realizasse administração de glicocorticoides (prednisona), tamoxifeno, metotrexato, rituximab (casos refratários) e cirurgias TIREOIDITE INDUZIDA POR MEDICAMENTOS AMIODARONA ➢ A amiodarona é um antiarrítmico rico em iodo e seu uso prolongado pode causar tanto hipertireoidismo como hipotireoidismo ➢ Pode se manifestar até 16 meses ou mais após a retirada da amiodarona devido a longa meia-vida do fármaco e seus metabólitos que se acumulam em diversos tecidos, sobretudo nos adipócitos ➢ Se apresentam em dois tipos: • AIT-1: consequência do aumento da biossíntesedos hormônios tireoidianos, devido ao excesso de iodo em pacientes com um distúrbio tireoidiano preexistente (gera o efeito Jod Basedow) • AIT-2: caracteriza-se por um processo destrutivo da tireoide, similar a tireoide subaguda ➢ Diagnóstico: presença de tireotoxicose em um paciente atualmente ou previamente tratado com amiodarona, presença de um bócio difuso ou nodular com presença de anticorpos antititreoidianos é sugestivo de AIT-1, já uma razão T3/T4>4 é mais compatível com a AIT-2 (destruição da glândula com consequente liberação excessiva desses hormônios na circulação) a inflamação ocasionada pela AIT-2 elevará os níveis de interleucina-6 e PCR (não pode ser utilizado isolado para diagnóstico). Além disso, o fluxo vascular intratireoidiano encontra-se aumentado na AIT-1 e reduzido ou ausente na AIT-2 ➢ Tratamento AIT-1: é realizado a partir da administração de tioamidas em doses elevadas podendo estar associado ao perclorato de potássio afim de aumentar a sensibilidade da glândula às tioamidas por bloqueio da captação de iodo na tireoide, quando os hormônios tireoidianos normalizarem, o tratamento definitivo do hipertireoidismo deve ser considerado ➢ Tratamento AIT-2: é realizado a partir da administração de glicocorticoides (prednisona), caso ocorra agravamento da tireotoxicose durante a redução da medicação ou sua suspensão, a dose deve ser aumentada novamente. Para pacientes com hipertireoidismo persistente, a tireoidectomia total é a escolha ideal LÍTIO ➢ Pacientes com doença tireoidiana autoimunes, a terapia crônica com lítio pode resultar em hipotireoidismo franco ou subclínico, bem como elevação dos títulos de anticorpos antititeoidianos INTERFERON-α ➢ Pode ter origem autoimune ou inflamatória, sendo o hipotireoidismo resultante da tireoide de Hashimoto ➢ Geralmente eleva os níveis de T4L e T3
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