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APS - PROCESSO PENAL

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Nome: Leticia Araujo Ferreira
RA: 8307068
Professora: Greice Patricia Fuller
AUTOS DE APELAÇÃO PENAL
ÓRGÃO JULGADOR: 2ª TURMA DE DIREITO PENAL
PROCESSO N.º 0000161-44.2016.8.14.0079
COMARCA DE BAGRE (Vara Única)
APELANTE: CATARINO LIMA BARBOSA – Adv. Helyton Feitosa Pinto 
APELADA: A JUSTIÇA PÚBLICA
PROCURADOR DE JUSTIÇA: RICARDO ALBUQUERQUE DA SILVA
RELATOR: DES. RONALDO MARQUES VALLE
EMENTA
APELAÇÃO PENAL. ROUBO MAJORADO. PRELIMINAR DE NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA ANTE A VIOLAÇÃO AO PROCEDIMENTO DE RECONHECIMENTO PESSOAL. NÃO ACOLHIMENTO. CONDENAÇÃO BASEADA APENAS NAS PROVAS COLHIDAS NO INQUÉRITO POLICIAL. INADMISSIBILIDADE. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. IN DUBIO PRO REO. APLICABILIDADE. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.
1. Há que se rejeitar a preliminar de nulidade pela violação ao procedimento de reconhecimento pessoal, vez que é pacifico na jurisprudência pátria que as considerações do art. 226 do CPP são meras recomendações. Precedentes do STF, STJ e TJPA.
2. Mérito: Não tendo o órgão acusador conseguido comprovar na esfera judicial os fatos descritos na denúncia, não há como sustentar a condenação, com fulcro unicamente em provas indiciárias. Inteligência do art. 155, do CPP. Nesse viés, estando à sentença condenatória embasada unicamente nas provas indiciárias desconstituídas em juízo sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, de rigor a absolvição por força do in dubio pro reo.
3. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.
ACÓRDÃO
Vistos etc.
Acordam, os Excelentíssimos Senhores Desembargadores, componentes da Egrégia 2ª Turma de Direito Penal, por unanimidade de votos, em CONHECER DO RECURSO E DAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto do Desembargador Relator.
Sala das Sessões do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, aos dezessete dias do mês de abril de 2018.
Julgamento presidido pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Milton Augusto de Brito Nobre.
Belém, 17 de abril de 2018.
R E L A T Ó R I O
Trata-se de Apelação Penal interposta pelo advogado Helyton Pinto, em favor de CATARINO LIMA BARBOSA, contra a sentença prolatada pelo Juízo de direito da Vara Única da Comarca de Bagre/PA, que o condenou pelo delito de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo em continuidade delitiva (art. 157, §2º, II, c/ c art. 71), ambos do Código Penal, a pena de 06 (seis) anos, 02 (dois) meses e 20 (vinte) dias de reclusão em regime semiaberto, e 46 (quarenta e seis) dias - multa.
Narra a exordial, que no dia 10/02/2016, por volta das 20:00 horas, na TV. Bom Jesus, na cidade de Bagre, o acusado Catarino, juntamente com o adolescente Lucas, subtraiu, mediante violência, da vítima Ardérison Leal de Sousa, 01 (um) aparelho célula marca Samsung, modelo SM – G110B/DS, de cor cinza.
Consta que, no referido dia, a vítima estava sentada na frente de sua residência, na companhia de uma colega, jogando no celular, quando foi surpreendida pelo réu, que lhe aplicou um “mata leão” e, após dominá-lo, subtraiu o seu aparelho celular e saiu correndo.
Consta ainda, que o adolescente Lucas esperava e dava cobertura para o acusado, numa esquina próxima ao local do crime.
Não satisfeito em roubar o celular da vítima, ao deixar o local, o ora apelante Catarino ainda ameaçou a vítima, dizendo que lhe daria “porrada”, caso contasse sobre o ocorrido a alguém. 
Consta também, que no segundo episódio, na noite do dia 11/02/2016, em frente a escola Aracy Corrêa, o mesmo acusado Catarino, mais uma vez na companhia do adolescente Lucas, abordaram a vítima Vendela Vieira Pompeu e sua prima de nome Jamile, que trafegavam em uma moto, e delas subtraíram, mediante violência e grave ameaça, 01 (um) celular da marca LG, modelo L – Prime, de cor branca.
A denúncia foi recebida em 11/03/2016 (fl. 45).
Após regular instrução, em sentença datada de 29/06/2016, o magistrado julgou procedente a acusação, condenando o réu nas penas supra citadas (fls. 83/90).
Inconformada, a defesa interpôs o presente recurso de apelação (fls. 95/103), onde questiona, em preliminar, a nulidade ante o cerceamento de defesa por alegada fragilidade no reconhecimento do acusado feito pelas vítimas, em desacordo com o preceituado no art. 226 do CPP. Argumenta, também, a ocorrência da violação ao preceituado no artigo 155 do CPP, sob a afirmação de que a sentença fora proferida com base em provas exclusivamente produzidas durante o inquérito policial.
No mérito, requer a absolvição do réu por alegada fragilidade probatória, ou ainda, subsidiariamente pleiteia a desclassificação do crime de roubo para receptação culposa.
Em contrarrazões (fls. 104/111), o dominus litis se manifesta pelo improvimento do recurso.
O recurso veio à minha relatoria distribuído, onde às fls. 120, determinei que o feito fosse encaminhado ao custos legis para emissão de parecer.
Em parecer, o Procurador de Justiça Ricardo Albuquerque da Silva se manifestou pelo conhecimento e improvimento do presente recurso (fls. 122/128).
É o relatório. À revisão. Belém, 15 de março de 2018.
V O T O
As condições recursais e os pressupostos de admissibilidade foram observados, razão pela qual conheço do apelo.
Inconformada, a defesa interpôs o presente recurso de apelação (fls. 95/103), onde questiona, em preliminar, o cerceamento do direito de defesa, ante a fragilidade do reconhecimento do acusado feito pelas vítimas, em desacordo com o preceituado no art. 226 do CPP, bem como a violação ao preceituado no artigo 155 do CPP, sob a afirmação de que a sentença fora proferida com base em provas exclusivamente produzidas durante o inquérito policial.
No mérito, requer a absolvição do réu por alegada fragilidade probatória, ou ainda, subsidiariamente pleiteia a desclassificação do crime de roubo para receptação culposa.
I – PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA POR OFENSA AO ART. 226 DO CPP. VIOLAÇÃO AO PROCEDIMENTO DE RECONHECIMENTO PESSOAL.
De plano, o apelante insurge-se contra o procedimento de reconhecimento pessoal a que teria sido submetido em sede policial, alegando em síntese que: “tal prova deveria ser realizada estritamente na forma estipulada na legislação adjetiva penal”.
Nesse viés, desde logo consigno que é pacifico na jurisprudência pátria que as considerações do art. 226 do CPP são meras recomendações - TJPA Apelação 001106-86.2016.814.0048, relator Des. Milton Augusto de Brito Nobre, STJ RESP n° 1.675.178-RS, Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, motivo por que a alegada nulidade não prevaleceria integra em uma análise mais detida de sua ocorrência.
Contudo, conforme demonstrarei no mérito, as vítimas em sede judicial afirmaram, de forma segura, não ter condições de reconhecer o réu, ora apelante, como sendo o autor dos delitos, seja por que a vítima Ardérison Leal de Sousa estava de costa para seu agressor, seja por que a vítima Vendela Vieira Pompeu foi atacada em um local escuro, o que impossibilitou que visse o seu agressor.
Tais fatos, ditos em audiência e, portanto, sobre o crivo do contraditório e da ampla defesa, preponderam sobre os termos policiais que afirmam que as vítimas reconheceram o apelante em sede policial, razão por que entendo como prejudicada a análise quanto ao procedimento de reconhecimento feito em sede policial. Preliminar rejeitada.
II – AUSÊNCIA DE PROVAS PARA CONDENAÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA O TIPO PENAL DO ART. 180 DO CÓDIGO PENAL. RECONHECIMENTO DA MINORANTE DO ART. 180, §3° DO CP.
No mérito, as razões recursais gravitam na pretensão de absolvição por ausência de provas ou, subsidiariamente, na desclassificação para o delito de receptação, pretendendo ainda que seja reconhecida a minorante do §3° do art. 180 do CP, devendo ser consignado desde logo que o apelante detém parcial razão neste ponto. 
Isso porque o recorrente sustenta o argumento de que as provas que fundamentaram sua condenação pelo delito de roubo circunstanciado foram colhidas unicamente na fase de inquérito policial, tendo o magistrado sentenciante desconsiderado aquelas produzidassobre o crivo do contraditório e ampla defesa, o que entendo como verdadeiro e, para a compreensão da questão, colaciono trecho da sentença na parte que interessa:
(...)
No tocante à autoria, embora a tese pessoal do réu em juízo e a tese da defesa, estou convencido da autoria pelo réu.
A vítima Ardérison aponta o réu como autor do roubo e referiu, inclusive, que procedera a reconhecimento na delegacia, quando lá esteve com seu pai.
O adolescente Lucas, embora não ouvido em juízo, quando ouvido em sede policial, confirma a autoria dos dois delitos pelo réu, em sua própria companhia. A vítima Vendela também afirma a autoria do delito. 
O réu, em sede policial, confirmou a autoria dos dois delitos.
Em juízo, erigiu tese que, data vênia, não é crível. Vai de encontro ao conjunto probatório dos autos. As vítimas, repito, desde a sede policial afirmam a participação do réu. O parceiro, Lucas, adolescente ainda, efetivamente já corrompido, confirmou as condutas.
Assim sendo, todo o conjunto probatório aponta o réu como autor dos assaltos. No primeiro, valendo-se de sua força física para render a vítima com um golpe conhecido popularmente como “mata leão”. No segundo, valendo-se da surpresa ao postar-se em frente à motocicleta, fazendo parar as vítimas e a vítima Vendela sair da motocicleta.
Contudo, a fundamentação esposada pelo magistrado não se coaduna, em nada, com todo o acervo probatório produzido ao longo da instrução processual, senão vejamos.
A Vítima Vendela Vieira Pompeu em audiência (mídia às fls. 73) declarou:
“(...) Que estava passeando de moto com sua prima quando foi atacada; que quando foi abordada levaram seu celular, que foi atacada por dois rapazes que não conhecia, uma vez que estava muito escuro no local do crime; que foi fazer reconhecimento na delegacia, mas não conseguiu reconhecer, uma vez que estava escuro no local do crime; que os policiais foram os responsáveis por apresentar Catarino como autor do crime e devolver o seu celular; que não chegou a ver arma; (...)” 
A vítima Ardérison Leal dos Santos, em audiência (mídia às fls. 73) declarou:
“(...) que só um homem o abordou por ocasião do delito; que o agressor chegou por trás o enforcou; que após subtrair o celular da vítima o mesmo correu; que não viu o agressor; que o agressor estava sem camisa e sem sandália; que não deu para ver o agressor; que não fez nenhum procedimento de reconhecimento em sede policial; (...)”
A testemunha Socorro Barbosa Amaral, em audiência (mídia às fls. 73) declarou:
“(...) que viu, a menos de 100m, o menor Lucas correndo após roubar a vítima Vendela Vieira; que o comparsa junto a Lucas era mais alto, no entanto este não era o nacional conhecido como Catarino Lima Barbosa (...) 
Desse modo, o cotejo de todo o acervo probatório permite concluir a existência de algumas verdades processuais: a um: que as vítimas não reconhecem o apelante como autor do delito; a dois: a existência de uma testemunha ocular que, compromissada, afirmou que o comparsa do menor Lucas era nacional diverso do apelante.
Nesse prisma, a condenação do apelante pelo delito de roubo circunstanciado não pode permanecer, falecendo de prova a acusação de tal prática por parte do recorrente, motivo pelo qual entendo ser a absolvição a única medida cabível.
Nesse viés, o que temos na verdade é tão somente as declarações de testemunhas prestadas na esfera policial, apontado o apelante como autor do crime, cujas declarações não foram confirmadas em juízo, ou melhor, foram desconstituídas pelas mesmas vítimas, quando ouvida na fase judicial. Portanto, as provas indiciárias não foram desconstituídas em juízo.
Ora, em processo penal é cediço que não há sentença condenatória que se sustente unicamente com provas indiciárias. Ainda que o magistrado se utilize da prova colhida no inquérito policial, sobretudo as não repetíveis, deve corrobora-la com elementos de convicção colhidos em juízo, na presença das partes e de seus advogados. É o que se espera que ocorra em um processo criminal, instaurado sob a égide de um Estado Democrático de Direito.
Nesse viés, não agiu com acerto o magistrado sentenciante ao embasar a condenação nas declarações das vítimas e de uma única testemunha colhidas no inquérito policial, considerando que referidas provas, permanecem isoladas, carentes de confirmação ou de qualquer outro elemento probatório que as corrobore.
Portanto, não tendo o órgão acusador conseguido comprovar, na esfera judicial os fatos descritos na denúncia, não há como sustentar a condenação, com fulcro unicamente em provas indiciárias, caso contrário, haverá clara desobediência a regra esculpida no art. 155, do CPP.
De outra banda, é consabido que a presunção de inocência é a regra e que ao titular da ação penal compete trazer elementos suficientes para provar, estreme de dúvidas, a materialidade e autoria do crime, fato que, à evidência, não ocorreu no presente caso e que força o reconhecimento do in dubio pro reo.
Nesse sentido, é o posicionamento jurisprudencial:
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO CIRCUNSTANCAIDO (ART. 157, §2º, II, DO CÓDIGO PENAL). CONDENAÇÃO EM PRIMEIRO GRAU. RECURSO DA DEFESA. MATERALIDADE DEVIDAMENTE COMROVADA. AUTORIA, POR SUA VEZ, DUVIDOSA E BASEADA EM PROVAS PRODUZIDAS NO INQUÉRITO POLICIAL. PROVA INIDICÁRIA NÃO CORROBORADA PELA PROVA PRODUZIDA SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. ART. 155 DO CPP. AUTORIA QUE, EMBORA PROVÁVEL, NÃO SE VISLUMBRA CERTA E DETERMINADA PELA PROVA JUDICIALIZADA. DÚVIDA QUE SE RESOLVE EM FAVOR DO RÉU. APLICAÇÃO NECESSÁRIA DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE.
"No processo penal, a dúvida não pode militar em desfavor do réu, haja vista que a condenação, como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente assegurada (CF/88, art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI), requer a demonstração cabal da autoria e materialidade, pressupostos autorizadores da condenação, e na hipótese de constarem nos autos elementos de prova que conduzam à dúvida acerca da autoria delitiva, a absolvição é medida que se impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo" (TJRS; APR 00037973620168240080; JULGADO EM 28/09/2017)
Por último, pacífico o entendimento de que é nula a condenação fulcrada exclusivamente em inquérito policial, por violação ao princípio constitucional do contraditório.
Por todo o exposto, conheço do presente recurso e lhe dou provimento para absolver o apelante CATARINO LIMA BARBOSA do crime pelo qual foi condenado pelo juízo de primeiro grau com fulcro no artigo 386, VII, do Código de Processo Penal.
É o meu voto.
Belém, 17 de abril de 2018.
Des. RONALDO MARQUES VALLE
Este acórdão de baseia no princípio “in dubio pro réu” que consiste da presunção de inocência do réu, visto que as vitimas não o reconheceram, falecendo a prova de autoria do réu. Houve tão somente as declarações de testemunhas prestadas na esfera policial, cujas não foram confirmadas em juízo, ou seja, foram desconstruídas pelas mesmas vitimas, quando ouvidas na fase judicial. 
Por tanto, não tendo o órgão acusador conseguido comprovar, na esfera judicial os fatos descritos na denuncia, não houve como sustentar a condenação com base nas declarações das vítimas. 
Há necessidade de elementos suficientes para provar a materialidade e autoria do crime fato que não ocorreu no presente caso, o que forca o reconhecimento do “in dubio pro reo”. 
Restou-se então a absolvição do réu, visto que é nula a condenação baseada tão somente em inquérito policial, o que viola também o princípio constitucional do contraditório.

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