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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAMETRO- UNIFAMETRO ODONTOLOGIA FRANCISCO WILLAME DA SILVA O CIRURGIÃO-DENTISTA NO CONTEXTO DA ODONTOLOGIA HOSPITALAR: REVISÃO DE LITERATURA. FORTALEZA 2021 FRANCISCO WILLAME DA SILVA O CIRURGIÃO-DENTISTA NO CONTEXTO DA ODONTOLOGIA HOSPITALAR: REVISÃO DE LITERATURA. FORTALEZA 2021 1 INTRODUÇÃO A Odontologia Hospitalar pode ser definida como uma prática que objetiva os cuidados relacionados às alterações bucais com procedimentos de baixa, média ou alta complexidade, realizados no âmbito hospitalar, capaz de melhorar a saúde geral e a qualidade de vida dos pacientes hospitalizados. (GAETTI-JARDIM et al., 2013). No Brasil, a legitimação da Odontologia Hospitalar ocorreu em 2004 com a criação da Associação Brasileira de Odontologia Hospitalar (ABRAOH). No ano de 2008, foi decretada a Lei nº 2776/2008 e apresentada a câmara dos deputados do Rio de Janeiro, que torna obrigatória a presença do cirurgião-dentista nas equipes multiprofissionais hospitalares e nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). (MEIRA; OLIVEIRA; RAMOS, 2010). É necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar para a realização dos procedimentos no ambiente hospitalar, fato este que fez com que a odontologia fosse incluída nesse ambiente de trabalho. Os procedimentos têm responsabilidade compartilhada entre médicos, enfermeiros, cirurgiões-dentistas e toda a equipe assistente. Normalmente, os pacientes atendidos em hospitais são aqueles que portam condições de saúde que impedem ou tenham contraindicação à intervenção em consultórios odontológicos normais, devido à ausência de uma equipe especializada e treinada ou até mesmo à falta de infraestrutura. (ARANEGA et al., 2012). Várias são as enfermidades sistêmicas, de origem infecciosa, imunológica ou terapêutica que podem manifestar alterações orais, além de serem resultantes de condições inadequadas de saúde bucal, a exemplo de acúmulo de biofilme, má higiene e doença periodontal. Assim, a prestação de serviços especializados por parte dos profissionais de saúde bucal busca a integralidade em relação à terapêutica e qualidade de vida desses pacientes, em particular na UTI, como na diminuição nas taxas de pneumonia nosocomial e pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM). (SILVA et al., 2017). O objetivo deste trabalho é abordar através de uma revisão na literatura a importância e atuação do cirurgião-dentista no ambiente hospitalar, em especial na Unidade de Terapia Intensiva. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Odontologia Hospitalar A Odontologia Hospitalar começou a se desenvolver a partir da metade do século XIX, com os empenhos dos Drs. Simon Hullihen e James Garretson. Ao decorrer do seu estabelecimento, esforços foram destinados à obtenção de reconhecimento da Odontologia no âmbito hospitalar. Posteriormente, teve o apoio da Associação Dental Americana e respeito da comunidade médica. (GODOI et al., 2013). Segundo o artigo 18 do Código de Ética Odontológico (capítulo IX), que trata da Odontologia hospitalar, compete ao cirurgião-dentista internar e assistir pacientes em hospitais públicos e privados, com e sem caráter filantrópico, respeitadas as normas técnico-administrativas das instituições. No artigo 19, dispõe-se que as atividades odontológicas exercidas em hospitais obedecerão às normas do Conselho Federal e o artigo 20 estabelece constituir infração ética, mesmo em ambiente hospitalar, executar intervenção cirúrgica fora do âmbito da Odontologia. (GODOI et al., 2013). De acordo com Godoi et al. (2013), diante aos inúmeros casos em que o cirurgião-dentista precisa atuar em ambiente hospitalar, este realiza procedimentos com as seguintes vantagens: • atendimento com maior segurança de pacientes com risco cirúrgico; • solicitação de exames específicos e mais detalhados; • facilidade para o paciente com impossibilidade de frequentar o consultório odontológico; • oferecimento de acompanhamento clínico e tratamento específico; e • relacionamento integral entre equipe, paciente e instituição. Ainda segundo Godoi et al. (2013), no Brasil, a maioria dos pacientes com emergências odontológicas e, principalmente, aquelas relacionadas a traumatismos bucomaxilofaciais, estão sendo atendidos nos hospitais públicos e conveniados com o Sistema Único de Saúde SUS, tendo em vista que eles são compelidos a recorrer este tipo de atendimento devido a situação emergencial da ocorrência ou pela falta de recursos financeiros. 2.2 Atuação do Cirurgião-Dentista na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A literatura tem mostrado, de forma clara, a influência da condição bucal na evolução do quadro dos pacientes internados. Estudos indicam que pacientes em UTI apresentam a higiene bucal deficiente, principalmente na quantidade do biofilme bucal e doença periodontal que aumenta ao decorrer do tempo de internação e pode ser fonte de infecção nosocomial, uma vez que as bactérias presentes na boca podem ser aspiradas e desencadear pneumonias de aspiração. Nos hospitais, a pneumonia nosocomial requer atenção, por ser uma infecção debilitante, especialmente no paciente idoso e imunocomprometido, sendo a segunda causa de infecção hospitalar e responsável por altas taxas de morbidade e mortalidade em pacientes de todas as idades. Faz parte de 10% a 15% das infecções hospitalares, com porcentagem de 20% a 50% de mortalidade. (GOMES e ESTEVES, 2012). De acordo com Saldanha et al. (2015), o atendimento odontológico na UTI tem objetivo de prevenir as infecções bucais, que influenciam na evolução dos pacientes críticos, bem como diminuir a disseminação de microrganismos patogênicos que possam colonizar desde a cavidade bucal ao trato aéreo inferior. O cirurgião-dentista tem o objetivo de realizar um exame clínico adequado nos pacientes para avaliação da presença de alguma alteração bucal, remover focos de infecção através de raspagens, restaurações, curativos, cirurgias e medicações, além de prevenir sangramentos, tratar lesões orais e ainda realizar tratamentos paliativos. Com isso, permite que o tratamento médico não seja interrompido e haja recuperação médica rapidamente. (DOS SANTOS SOUZA; PEREIRA; SILVA, 2014). O profissional de odontologia atuante na UTI deve estar preparado para o atendimento odontológico em condições específicas, além de orientar e supervisionar a equipe técnica assistencial quanto à relevância da higiene oral. A avaliação diária da orofaringe e a manutenção da higiene oral em nível satisfatório são tarefas difíceis de serem executadas no paciente crítico, principalmente em casos de intubação. (SALDANHA et al., 2015). A adequação do meio bucal, após avaliação inicial e o alívio da dor são prioridades do dentista. A partir disso, as etapas sequenciais de cuidado assistencial são: aspiração das secreções bucais e orofaríngeas, remoção de biofilme e debris, saburra e coágulos utilizando solução de clorexidina 0,12%, aplicada sobre as mucosas e dorso de língua, esta que apresenta os melhores resultados no controle de placa e colonização bacteriana ao longo do trato respiratório, devendo ser utilizada todos os dias na limpeza da cavidade bucal do paciente intubado. Assim que possível, a escovação dentária e a descontaminação do tubo orotraqueal também devem ser realizadas. (SALDANHA et al., 2015). Gaetti-Jardim et al. (2013), sugerem um protocolo a ser realizado no mínimo de 12 em 12 horas para pacientes hospitalizados que abrange: • Manter a cabeceira elevada 30° (confirmar antes se não há restrições para mudança de decúbito do paciente no leito);• Lavar as mãos, calçar luvas de procedimento e utilizar os equipamentos de proteção individual; • Utilizar uma escova dental extramacia e de cabeça pequena que pode ser infantil, molhando em solução aquosa de clorexidina 0,12%, aplicando em todas as superfícies dentárias, mucosas e língua, sempre no sentido póstero-anterior; • Injetar 10ml da solução de clorexidina 0,12% na cavidade bucal e aspirar o conteúdo oral supra-cuff após 30 segundos; • Aplicar lubrificante labial; e • Acondicionamento da escova dental, adequadamente, após sua utilização. Já para pacientes edêntulos, Gomes e Esteves (2012), sugerem o seguinte protocolo: • Escovação da língua, seguida de lavagem com água filtrada; • Aspiração do excesso de líquidos; • Aplicação de espátula com gaze, embebidos em solução de digluconato de clorexidina a 0,12%, sobre toda a mucosa oral, rebordos desdentados, língua e palato; aspiração do excesso, sem enxaguar; • Finalizar com umidificação da cavidade bucal, com espátulas molhadas nas gengivas, língua e palato; aspirar secreções e excesso de água; e; • Hidratar os lábios com loção de ácidos graxos. Por fim, Saldanha et al. (2015), abordam que a avaliação diária com intuito de inspecionar a cavidade bucal é essencial durante tratamento do paciente internado. Faz-se a inspeção com avaliação da higiene bucal, assim como a observação de possíveis alterações bucais, sua extensão e severidade, bem como a diagnóstico e hipóteses causais para que seja estabelecidas medidas de prevenção, controle e tratamento. Durante essa avaliação diária, devem ser observadas: alterações do padrão de normalidade, alterações salivares, mobilidade dental, lesões traumáticas de mucosas, sangramentos, edemas de lábio ou peribucais, detecção de focos infecciosos, presença de corpos estranhos, dor em região orofacial ou dificuldade de movimentação mandibular. Esta avaliação permite avaliar a qualidade assistencial e o promover o cuidado na prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dessa forma, torna-se claro que a avaliação da condição de saúde bucal e a necessidade de tratamento odontológico em pacientes hospitalizados exigem acompanhamento por parte de um cirurgião-dentista com habilitação em odontologia hospitalar. A atuação desse profissional no âmbito hospitalar evita um aumento da proliferação de patógenos, e, consequentemente, infecções e doenças sistêmicas decorrentes destes, principalmente a infecção nosocomial, sendo assim, é promovida uma melhor qualidade e bem estar da saúde bucal e geral do paciente. Além disso, é essencial a interação de uma equipe multidisciplinar objetivando o tratamento geral e integral do paciente, promovendo uma recuperação mais rápida e contribuindo de forma resolutiva para seu bem estar e dignidade. Diante disso, o cirurgião-dentista deve estar presente nos hospitais e apto para atendimento odontológico a condições específicas e diferentes das comumente vivenciadas no consultório. REFERÊNCIAS ARANEGA, Alessandra Marcondes et al. Qual a importância da Odontologia Hospitalar?. Revista Brasileira de Odontologia, v. 69, n. 1, p. 90, 2012. DOS SANTOS SOUSA, Larissa Vaz; PEREIRA, Adriana de Fátima Vasconcelos; SILVA, Nôlma Barradas Silva. A atuação do cirurgião-dentista no atendimento hospitalar. Revista de Ciências da Saúde, v. 16, n. 1, 2014. GAETTI-JARDIM, Ellen et al. Atenção odontológica a pacientes hospitalizados: revisão da literatura e proposta de protocolo de higiene oral. Revista de Atenção à Saúde, v. 11, n. 35, 2013. GODOI, Ana Paula Terossi et al. Odontologia hospitalar no Brasil. Uma visão geral. Revista de Odontologia da UNESP, v. 38, n. 2, p. 105-109, 2013. GOMES, Sabrina Fernandes; ESTEVES, Márcia Cristina Lourenço. Atuação do cirurgião-dentista na UTI: um novo paradigma. Revista brasileira de odontologia, v. 69, n. 1, p. 67, 2012. MEIRA, S. C. R.; OLIVEIRA, C. A. S.; RAMOS, I. J. M. A importância da participação do cirurgião-dentista na equipe multiprofissional hospitalar. Trabalho vencedor na 9º edição do prêmio SINOG de Odontologia, 2010. SALDANHA, Karla Ferreira Dias et al. A odontologia hospitalar: revisão. Archives of Health Investigation, v. 4, n. 1, 2015. SILVA, Isabelle Oliveira et al. A importância do cirurgião-dentista em ambiente hospitalar. Rev Méd Minas Gerais, v. 27, p. e-1888, 2017.
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