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DOENÇA DE CHAGAS: Doença de Chagas é a infecção pelo Trypanosoma cruzi transmitida por picadas de inseto ou, menos comumente: pela ingestão de bebidas ou alimentos contaminados com triatomíneos infectados ou suas fezes, por via transplacentária da mãe infectada para o feto, por transfusão de sangue ou por transplante de órgão de um doador infectado. Os sintomas depois de uma picada de Triatominae costumam começar com lesão cutânea ou edema periorbitário unilateral, evoluindo então para febre, mal-estar, linfadenopatia generalizada e hepatoesplenomegalia; anos mais tarde, alguns pacientes apresentam miocardiopatia crônica, megaesôfago ou megacólon. Muitas pessoas infectadas nunca desenvolvem a doença. Nos pacientes com aids, a pele ou o cérebro podem ser comprometidos e o desenvolvimento da doença pode acontecer mais rapidamente. A doença de Chagas é transmitida quando o barbeiro pica uma pessoa ou animal infectado, que então pica outra pessoa. Enquanto picam (durante o repasto sanguíneo), os insetos infectados depositam na pele as fezes contendo tripomastigotas metacíclicas. Essas formas infecciosas penetram pela lesão da picada ou na conjuntiva ou nas mucosas. Os parasitas invadem células (geralmente macrófagos) e transformam-se em amastigotas que se multiplicam por divisão binária e são liberados como tripomastigotas no sangue e em espaços teciduais, de onde infectam outras células. Células do sistema reticuloendotelial, do miocárdio, dos músculos e do sistema nervoso podem estar envolvidas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A doença de Chagas ocorre em 3 fases: aguda, latente (indeterminada) e crônica. A infecção aguda é seguida por um período de latência que pode permanecer assintomático ou progredir para doença crônica. A infecção aguda em áreas endêmicas normalmente ocorre na infância e pode ser assintomática. Quando apresenta sintomas, estes se iniciam 1 a 2 semanas após a exposição. Uma lesão de pele endurecida e eritematosa (um chagoma) aparece no local de entrada do parasita. Quando o local de inoculação é a conjuntiva, ocorre edema periocular unilateral, com conjuntivite e linfadenopatia pré-auricular (sinal de Romaña). A doença de Chagas aguda é fatal em uma porcentagem pequena de pacientes, em decorrência de miocardite aguda com insuficiência cardíaca ou meningoencefalite aguda. Nos demais, os sintomas cedem sem tratamento. A doença de Chagas aguda primária em imunocomprometidos, como na aids, pode ser grave e atípica, com lesões de pele e abscessos cerebrais, embora estes últimos sejam raros. Pacientes com infecção indeterminada têm evidências parasitológicas e/ou sorológicas de infecção por T. cruzi, mas não têm sintomas, achados físicos anormais, nem evidências de envolvimento cardíaco ou GI. A identificação de muitos pacientes infectados é por ELISA e ensaio de radioimunoprecipitação (RIPA) confirmatór io ao doarem sangue. A doença crônica se desenvolve em 20 a 40%, após uma fase de latência que pode durar anos ou décadas. Os principais efeitos são cardíacos e GI. A miocardiopatia crônica provoca dilatação flácida de todas as câmaras, aneurisma apical e lesões degenerativas localizadas no sistema de condução. Pacientes podem ter insuficiência cardíaca, síncope, morte súbita resultante de bloqueio cardíaco ou arritmia ventricular e tromboembolismo. Doença GI pode produzir o megaesôfago, que se apresenta com disfagia e pode conduzir a infecções pulmonares por aspiração, ou gerar desnutrição grave. Megacólon também pode acontecer e pode resultar em períodos prolongados de obstipação e vólvo intestinal. DIAGNÓSTICO: Microscopia óptica de esfregaços de sangue (finos ou espessa) ou de tecido (doença de Chagas aguda) ; sorologia confirmada por um segundo teste; PCR. O número de tripanossomas no sangue periférico é alto durante a fase aguda da doença de Chagas podendo ser prontamente detectado pelo exame das lâminas com amostras de sangue finas ou espessas. Em contraste, poucos parasitas estão presentes no sangue durante infecção latente ou doença crônica. O diganóstico definitivo da doença de Chagas também pode ser feito no estágio agudo pelo exame de tecidos afetados. Nenhum ou muito poucos parasitas são encontrados nos órgãos afetados durante a fase crônica, em contraste com parasitas em abundância encontrados nos tecidos em casos agudos. Nos pacientes imunocompetentes com doença de Chagas crônica, a sorologia, como coloração de anticorpos por fluorescência indireta (IFA), os imunoensaios enzimáticos (EIA) ou os ensaios de imunoadsorção enzimática (ELISA), costumam ser feitos para detectar os anticorpos contra o T. cruzi. As sorologias são sensíveis, mas podem gerar resultados falso-positivos nos pacientes com leishmaniose ou outras doenças. Assim, um teste positivo inicial é seguido por um ou mais testes diferentes [tipicamente, ensaio de radioimunoprecipitação (RIPA) nos EUA] ou, às vezes, microscopia óptica das amostras de sangue ou de tecido para confirmar o diagnóstico. As sorologias também são usadas para a triagem de T. cruzi nos doadores de sangue nas regiões endêmicas e nos EUA. https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/cardiomiopatias/miocardiopatia-dilatada https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arritmias-e-doen%C3%A7as-de-condu%C3%A7%C3%A3o/bloqueio-atrioventricular Utilizar PCR quando a parasitemia for provavelmente alta, como ocorre na doença de Chagas aguda, na doença de Chagas transplacentária ou após a transmissão via transfusão de sangue, transplante ou exposição laboratorial. • Exames adicionais para os pacientes com doença de Chagas crônica: ✓ Ausência de sintomas, porém infecção por T. cruzi confirmada: ECG de triagem com traçado do ritmo e radiografia de tórax. ✓ Potenciais alterações cardíacas nos exames de triagem ou sinais e/ou sintomas sugestivos de doença cardíaca: ecocardiografia ✓ Disfagia ou outros sintomas ou achados GI: exames com contraste e/ou endoscopia. TRATAMENTO: • Benznidazol ou nifurtimox + cuidados de suporte. OBS: Contraindicações para o tratamento são a doença hepática ou renal grave. O tratamento da doença de Chagas em estágio agudo com antiparasitários promove: redução rápida da parasitemia, encurtamento da doença clínica, redução do risco de mortalidade e da probabilidade de doença crônica. Quanto mais jovem for o paciente e mais precoce o início do tratamento, maior a probabilidade de cura parasitológica. Nos casos de infecções indeterminadas, a recomendação é tratar os adultos com até 50 anos de idade. Para os pacientes > 50 anos, o tratamento é individualizado de acordo com os potenciais riscos e benefícios. Depois da manifestação crônica da doença de Chagas, acredita-se que antiparasitários não tenham utilidade. O tratamento de pacientes com a doença cardíaca crônica estabelecida é de suporte. Pacientes com batimentos ventriculares prematuros frequentes podem ser beneficiados com o uso de drogas antiarrítmicas. Marcapassos cardíacos prolongarão a sobrevida dos pacientes com bloqueio cardíaco completo. A falência congestiva da cardiomiopatia chagásica é refrataria (resistente) às drogas cardiotrópicas usuais. Nos estagios iniciais do megaesôfago, a dilatação pneumática (com balão intraluminal) do esfíncter esofágico provavelmente fará efeito. Para casos mais avançados, são necessários vários procedimentos cirúrgicos envolvendo miotomia do esfíncter ou ressecção parcial. Estágios iniciais de megacólon podem ser manejados pela manipulação da dieta e utilização de laxantes e lavagens ocasionais. Uma seção aperistáltica do cólon pode ser resseccionada em casos mais severos.
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