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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 1 MÓDULO DE: GESTÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS AUTORIA: ANA MARIA FURTADO Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: GESTÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS Autoria: Ana Maria Furtado Primeira edição: 2008 Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 Apresentação Uma mudança fundamental está ocorrendo no meio ambiente e no âmbito interno das organizações empresariais e educacionais. Esta mudança está provocando a renovação do modelo de gestão dessas organizações em face da necessidade de sua sobrevivência no ambiente em que atuam. Novos acontecimentos nos surpreendem a cada momento no contexto social e educacional. Os modelos que direcionam a administração do ensino das escolas públicas e particulares dos ensinos fundamental e médio parecem caminhar para a sua inviabilização. Este módulo apresenta de forma clara as especificidades da gestão educacional eficaz. Nós, como educadores e gestores deste processo, devemos ainda em tempo, rever a nossa postura que, de agora em diante não pode ser a mesma. A nossa visão deve ser executiva, técnica e muito mais humana uma vez que estamos dentro da formação da área das Ciências Humanas. Nossos ideais devem ser de uma missão não só individual, mas direcionar o nosso olhar para as práticas e necessidades coletivas. As questões sociais e ambientais estão muito além do acadêmico que temos ensinado dentro do coração da escola – a sala de aula. A ética e a cidadania não podem ser simplesmente um projeto interdisciplinar que permeia parte do tempo de uma escola. Muito menos uma utopia. São vivências que devem ser ensinadas com exemplo, em todos os momentos. A eficiência de nossos movimentos como gestores é simplesmente parte de nosso compromisso. Buscar a eficácia é nosso maior objetivo, em todos os momentos de nosso trabalho mesmo que não seja imediato, mas que aconteça e jamais se perca. Ana Maria Furtado Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 Objetivo Possibilitar aos profissionais a aquisição de conhecimentos que possam ser aplicados na gestão escolar e disponibilizar informações para que o gestor escolar, da educação básica – infantil, fundamental e médio, possa desenvolver uma gestão democrática tornando eficaz no seu dia a dia, além de fornecer elementos que os levem a compreender e analisar a gestão da educação; propiciar uma formação relacional mais humana entre gestores e corpo docente e pessoal administrativo Ementa A gestão administrativa na educação; autonomia; enturmação; classes especiais; evasão, abandono e trabalho infantil; liderança; seleção de professores; supervisão; PDE; calendário escolar; regimento interno; plano anual de trabalho e proposta pedagógica. Sobre o Autor Mestre em Teologia com especialização em divindade pela Shalom Bíble College and Semínary e FAETESP- Toronto Canadá Licenciada em Pedagogia pelas Faculdades Integradas de São José dos Campos e Faculdade de Ciências Humanas Experiência em supervisão pedagógica e docência de ensino superior Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................ 8 Administração Da Educação Escolar ............................................................... 8 UNIDADE 2 ...................................................................................................... 14 A Distinção Que Faz A Escola Eficaz ............................................................ 14 UNIDADE 3 ...................................................................................................... 22 A Questão Da Autonomia .............................................................................. 22 UNIDADE 4 ...................................................................................................... 27 O Desempenho Dos Alunos .......................................................................... 27 UNIDADE 5 ...................................................................................................... 35 As Formas De Enturmação ............................................................................ 35 UNIDADE 6 ...................................................................................................... 40 Limitações E Desvantagens Do Sistema Seriado .......................................... 40 UNIDADE 7 ...................................................................................................... 45 Classes Especiais Para Circunstâncias Especiais ......................................... 45 UNIDADE 8 ...................................................................................................... 51 Recuperação Paralela ................................................................................... 51 UNIDADE 9 ...................................................................................................... 56 Medidas Corretivas Na Gestão Educacional .................................................. 56 UNIDADE 10 .................................................................................................... 60 Contra Turno ................................................................................................. 60 UNIDADE 11 .................................................................................................... 66 Evasão, Abandono Escolar E Trabalho Infantil .............................................. 66 UNIDADE 12 .................................................................................................... 71 Delegação De Autoridade .............................................................................. 71 UNIDADE 13 .................................................................................................... 76 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 Liderança: Poder, Autoridade, Comando Ou Apoio? ..................................... 76 UNIDADE 14 .................................................................................................... 80 Liderança Exige Gentileza ............................................................................. 80 UNIDADE 15 .................................................................................................... 84 O Exercício Da Liderança .............................................................................. 84 UNIDADE 16 .................................................................................................... 87 Promovendo O Protagonismo Dos Alunos ..................................................... 87 UNIDADE 17 .................................................................................................... 92 Seleção De Professores ................................................................................ 92 UNIDADE 18 .................................................................................................... 96 Supervisão .................................................................................................... 96 UNIDADE 19 .................................................................................................. 101 Supervisão Educacional No Brasil ............................................................... 101 UNIDADE 20.................................................................................................. 105 Elaboração De PDE ..................................................................................... 105 UNIDADE 21 .................................................................................................. 110 Calendário Escolar ...................................................................................... 110 UNIDADE 22 .................................................................................................. 113 Falando Ainda De Ações Semestrais .......................................................... 113 UNIDADE 23 .................................................................................................. 117 Regimento Interno ....................................................................................... 117 UNIDADE 24 .................................................................................................. 120 Os Capítulos Do Regimento Escolar ........................................................... 120 UNIDADE 25 .................................................................................................. 125 Plano Anual De Trabalho ............................................................................. 125 UNIDADE 26 .................................................................................................. 129 Avaliação Dos Profissionais ......................................................................... 129 UNIDADE 27 .................................................................................................. 132 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 Proposta Pedagógica – Base Para A Qualidade Do Ensino ........................ 132 UNIDADE 28 .................................................................................................. 135 As Etapas Para Elaboração De Uma Primeira Proposta Pedagógica. ......... 135 UNIDADE 29 .................................................................................................. 139 Ainda Sobre As Etapas Da Proposta Pedagógica ....................................... 139 UNIDADE 30 .................................................................................................. 143 Reuniões Eficazes ....................................................................................... 143 GLOSSÁRIO ......................................... ......................................................... 147 BIBLIOGRAFIA ...................................... ........................................................ 148 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 UNIDADE 1 Objetivo: Conhecer a função social da Escola como uma instituição que se preocupa com as questões cognitivas, mas também que se envolve amplamente na construção e na instituição da cidadania de um país. Administração da Educação Escolar Gestão Escolar: Função Social e Política A escola eficaz é aquela onde os alunos aprendem. Quando os alunos não aprendem, a escola não é boa. Quando refletimos sobre a função social da escola, seria possível começar pela pergunta: que articulações existem entre escola e cidadania? Se toda comunidade política se caracteriza pela coexistência de várias tradições, a escolaridade tem significado particular. A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixem de pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra. Há uma estreita articulação entre as relações de convivência social instituída pela escola e a cidadania. Ou seja, é no exercício da vivência entre os seres diferentes que se aprendem normas, sem as quais não sobrevive a sociedade. Mas, por certo, não é apenas para a convivência social e para a socialização que existe a escola. Ela surge da necessidade que se tem de transmitir de forma sistematizada o saber acumulado pela humanidade. Na chamada sociedade do conhecimento este papel tende a assumir uma importância sem precedentes. Outro aspecto a assinalar é que a escola é uma instituição datada historicamente. Ou seja, cada sociedade, cada tempo forja um modelo escolar que lhe é próprio. Este, por sua vez é atravessado por marcas e interesses diferenciados. Sobre o assunto é oportuno observar que: A prática escolar consiste na concretização das condições que asseguram a realização Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 do trabalho docente. Tais condições não se reduzem ao estritamente “pedagógico”, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta-se como constituída por classes sociais com interesses antagônicos. A prática escolar, assim, tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno, técnicas pedagógicas, etc. (Libâneo, 1986:19). As funções políticas e sociais da escola são também atravessadas pelos interesses das classes sociais. Nessa perspectiva é interessante situar a contribuição de tendências, que resultaram em diferentes concepções do papel da escola e, consequentemente, de sua função política e social na construção da cidadania. Este foi um tema predominante do debate sobre a educação no Brasil, nos anos oitenta que permitiu, através de diferentes tipificações, compreenderem o papel da escola, segundo demandas que surgem em distintos contextos. Através da análise dos principais documentos de política educacional produzido entre 1985 e 1995 é possível perceber que, contrariamente ao que uma interpretação superficial permitiria supor, não é o governo Fernando Henrique Cardoso o autor da “descoberta” da escola pela política educacional (Vieira, 1998). É aos poucos, e já no início da década de 90, que a escola começa a aparecer. Momento chave na emergência de uma atenção sobre o tema no debate da política educacional é o Seminário sobre Qualidade, Eficiência e Equidade na Educação Básica, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, realizado em novembro de 1991, em Pirenópolis, ainda durante o governo Collor. Torna-se cada vez mais importante que cada uma dessas instâncias e segmentos assuma compromissos públicos com a melhoria do ensino, fazendo da escola um centro de qualidade e cidadania, com professores e dirigentes devidamente valorizados, ajudando o País a edificar um eficiente sistema público de educação básica. (Brasil. MEC. 1993). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 Antes, porém de prosseguirmos devemos nos perguntar com simplicidade: O que é uma escola? A escola é o primeiro lugar de atuação pública da criança. É o lugar onde a criança deixa de manejar coisas particulares para manejar elementos coletivos; deixa de manejar linguagens privadas para manejar linguagens coletivas; de manejar símbolos familiares para manejar símbolos coletivos, símbolos que pertenceram e pertencem a outras gerações. (Toro, 1999) Durante algum tempo, no Brasil e em outros países, alegava-se que a escola não era boa porque os alunos eram pobres, subnutridos, doentes porque faltava merenda ou porque os pais eram desinteressados. Falava-se também, que não havia nada que a escola pudesse fazer para ensinar melhor, tudo estava pré-determinado pelas condições econômicas dos alunos. Consequência: afirmava-se que o aluno não aprendia por culpa dele ou da família. O problema era do aluno, da família ou da economia. Nunca era um problema da escola.Muita gente ainda acredita nisso, inclusive dentro de escolas públicas. As pesquisas sobre escolas eficazes desmentiram essas idéias. Qualquer escola, mesmo nos ambientes mais pobres e difíceis, pode se tornar uma escola eficaz. Essas pesquisas indicam que para criar uma escola eficaz é preciso: • Ter clareza sobre o que é e para que sirva a escola; • Reconhecer a responsabilidade da escola pela aprendizagem dos alunos; • Reconhecer e admitir que a eficácia da escola depende do que acontece dentro dela, e não do que acontece ou deixa de acontecer nas secretarias de Educação. O problema e a solução para aprendizagem dos alunos estão na escola. A forma como a escola se organiza e funciona influencia na forma como os alunos aprendem. As Características De Uma Escola Eficaz Às vezes nos perguntamos: Como saber se uma escola é eficaz? Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 Na prática, as pessoas sabem. Nas cidades maiores, é comum observarem-se filas na porta de algumas escolas públicas e particulares quando é época de matrícula. Isso se explica porque um número considerável de pais procura de uma vaga “na melhor escola”. É nessas escolas que as filas são grandes. Como os Pais Sabem que uma Escola é Melhor que Outr a? A verdade é que eles sabem, basta perguntar. Frequentemente, o que eles dizem coincide com os estudos sobre escolas eficazes, que apontam as seguintes características: 1. Bons Professores Esta é a primeira resposta que vem a cabeça de qualquer pessoa – e que é confirmada pelas pesquisas. A escola boa é aquela que atrai, mantém e desenvolve bons professores. 2. Senso de Missão A escola tem que ter senso de missão. Precisa definir com clareza sua proposta de ensino. Todos sabem os valores que são ensinados e praticados nessa escola. 3. Ênfase na aprendizagem A ênfase deve ser na aprendizagem e do desempenho acadêmico dos alunos. Outras atividades podem até ser importantes, mas o principal é a aprendizagem, o domínio dos elementos, linguagens e símbolos coletivos de que fala Bernardo Toro. 4. Expectativa elevadas Todos na escola – professores, diretores, funcionários – acreditam nos alunos e esperam muito deles. A equipe educacional incluindo todos os funcionários não se conformam com a ideia de que “alguns alunos não têm jeito”, não desprezando os alunos que demonstram maior dificuldade. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 5. Consistência A escola faz o que promete fazer no seu PDE e na sua proposta pedagógica. Os planos e metas são para valer. 6. Avaliação A avaliação é usada com frequência e serve, sobretudo, para melhorar o ensino – não para reprovar ou punir os alunos. 7. Ambiente agradável A escola é limpa, organizada, tem um clima físico agradável, sempre mantém uma boa aparência, mesmo quando é pobre. 8. Ambiente ordeiro A escola tem regras e todos cumprem. O que é combinado é para valer. Professores comparecem todos os dias, ministram suas aulas. Os alunos também comparecem de maneira prazerosa, os pais cumprem os compromissos que assumiram. As regras valem para todos, não há favoritos ou privilegiados. 9. Abertura para a Comunidade A escola eficaz é aberta para a comunidade. Voluntários e parceiros colaboram com a escola para que a sociedade como um todo receba os benefícios da educação. 10. Tempo, presença e exemplo O diretor dedica tempo, tem presença e dá exemplo dentro da escola. Dá notícia do que se passa na escola com alunos, professores e com os demais funcionários. As notícias do programa de ensino também são partilhadas. Os professores também dedicam seu tempo e demonstram bons exemplos. Ética cidadania e compromisso são palavras comuns em seu vivenciar diário. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 • EFICIÊNCIA é: fazer certo; o meio para se atingir um resultado; é a atividade, ou, aquilo que se faz. • EFICÁCIA é: a coisa certa; o resultado; o objetivo: aquilo para que se faz, isto é, a sua Missão! Estes são dois conceitos muito antigos, mas implacavelmente atuais. Principalmente nos dias de hoje não compreendê-los ou, o que é muito pior, confundi-los provoca, sem dúvida, grandes danos à performance e aos resultados. As diferenças entre esses dois conceitos podem até parecer sutis, mas realmente são extremamente importantes. Peter Drucker, que dispensa apresentações, é enfático em afirmar: eficiência é fazer certas as coisas, eficácia são as coisas certas. E complementa: o resultado depende de “fazer certo as coisas certas”. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 UNIDADE 2 Objetivo: Conhecer e se aprimorar no funcionamento de uma escola eficaz abstraindo o novo foco gestor que exige adequação e seleção de novas estratégias. A Distinção que Faz a Escola Eficaz A escola eficaz convive em um mesmo ambiente de outras escolas que não alcançam os mesmos resultados, ou seja, a escola eficaz funciona face aos problemas, dificuldades e adversidades iguais às de outras escolas que não são eficazes. O que faz a diferença em uma escola eficaz é: • As coisas funcionam na escola eficaz. Não é só uma campanha passageira, uma sala bonita com computadores, uma caixa escolar ativa ou um método de ensino diferenciado. Tudo nela esta sempre melhorando e tende a dar certo. • A escola eficaz ou recebe os mesmos recursos que as demais, ou se particular, se diferencia pela sua gestão financeira – mesmo dentro de uma sociedade onde a inadimplência ainda é considerável. • A escola eficaz acompanha, vai atrás e se orgulha de seus ex-alunos. Eles são os cartões de visita da escola. Ela os utiliza como exemplos, como modelos para incentivar e inspirar os seus alunos atuais. Como Tornar Uma Escola Eficaz? Apresentaremos alguns ingredientes que, de acordo com as pesquisas sobre o assunto, caracterizam a vida de uma escola eficaz. 1. Liderança Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 As pesquisas são unânimes em apontar o diretor como a peça-chave no sucesso de qualquer escola. Muitos dizem até que a escola tem a cara do seu diretor. A influência da pessoa do diretor é decisiva. É ele (ela) quem traça o rumo e assume a liderança. Ao entrar em uma escola onde o diretor é bom, percebe-se, no primeiro instante que, há uma diferença no ar. Igualmente, o diretor fraco puxa toda a escola para baixo. Portanto, de tudo que se pode fazer para tornar uma escola eficaz, o mais decisivo, de impacto mais imediato e mais determinante é escolher bem seu diretor. 2. Expectativas As escolas eficazes mantêm altas expectativas a respeito de seus alunos. Expectativas elevadas, mas realistas. E a escola trabalha para alcançar e superar essas expectativas. Elas são definidas na visão que a escola tem de si mesma e detalhadas nos objetivos e metas prioritários de ação. A escola eficaz é aquela que aposta no sucesso do aluno. É a escola que se compromete a fazer todo aluno dar certo. Nisso, elas são muito diferentes daquelas escolas que adotam uma atitude fatalista, que acreditam que o aluno não aprende porque são pobres, ou porque têm QI abaixo da média, ou porque seus pais não se interessam por eles. A escola ineficaz adota a pedagogia do fracasso. A escola ineficaz acha que reprovar alunos é normal, é a escola que adota a pedagogia da repetência. A escola eficaz abraça a pedagogia do sucesso. 3. Atmosfera As escolas eficazes têm e mantêm um clima de trabalho, o ritmo do trabalho escolar. O ambiente é propício à aprendizagem. As regras e seu funcionamento, os calendários e horários, os programas de ensino e atividades curriculares e extracurriculares, até mesmo as festas e solenidades giram em torno do objetivo central da escola: fazer o aluno aprender. Há pressão para ensinar, para aprendere para que todo aluno logre sucesso acadêmico. A escola eficaz não faz concessões para o fracasso, nem perde tempo buscando desculpas. Ela se organiza para propiciar Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 e promover a aprendizagem e não apenas para manter a sala do diretor limpa ou os registros em ordem. Isso também acontece, mas não é o objetivo central da escola. 4. Autonomia pedagógica Na escola eficaz, os professores e dirigentes se sentem responsáveis e se responsabilizam pelas decisões pedagógicas: o que ensinar, quando ensinar, como ensinar. Existe um senso comum de missão – não é apenas cada professor ministrando a sua matéria. A escola possui uma proposta, um programa que é compartilhado por todos e implementado através das atividades que acontecem dentro e fora da sala de aula. Tudo na escola eficaz é educativo, tudo contribui para os objetivos educacionais. A autonomia pedagógica da escola eficaz também caracteriza uma elevada ambição: a escola não se contenta com objetivos genéricos, medíocres. Ela estabelece altos padrões de desempenho e se compromete a obtê-los. 5. Uso do tempo O tempo é o recurso mais precioso da escola. O tempo dos professores é o insumo mais caro – representa mais de 60% dos custos totais da escola. O tempo dos alunos também é valiosíssimo: passa depressa e se o aluno não aprende na hora devida terá muito mais dificuldades depois. Além disso, custa dinheiro: um ano de reprovação custa o mesmo valor de um ano de aprovação – só que tem de ser repetido e desestimula o aluno. O tempo da escola eficaz se reflete no calendário, no ritmo das atividades, no rigoroso cumprimento do ano letivo e das horas-aula. O tempo da aula é dedicado principalmente as atividades acadêmicas. Na escola eficaz não se perde tempo. As tarefas de casa, atividades de contra turno e atividades extracurriculares são consideradas uma extensão necessária do tempo escolar. 6. Acompanhamento de progresso do aluno Na escola eficaz professores e dirigentes sempre sabem “em que ponto” está o aluno: se está aprendendo, o que está aprendendo, que progresso está fazendo. O acompanhamento é permanente, há sessões regulares para avaliar cada aluno. Na Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 escola eficaz, a avaliação serve, principalmente, para que professores e dirigentes acionem as medidas preventivas e corretivas de forma que todos os alunos tenham condições de avançar acompanhando o programa de ensino. 7. Profissionalismo Na escola eficaz, dirigentes e professores são escolhidos por critérios de competência e trabalham de maneira profissional. Todos assumem compromissos em seus planos de trabalho. Os planos individuais de trabalho são integrados ao PDE – Plano de Desenvolvimento da Escola – e incluem as atividades a serem realizados pelos professores e dirigentes, os resultados a serem alcançados e também as estratégias de capacitação e desenvolvimento pessoal e profissional. Essas estratégias são focalizadas no programa de ensino dos alunos. Na escola eficaz, essas estratégias de capacitação não são decididas na Secretaria de Educação: Elas fazem parte das tarefas da escola – e são responsabilidade dos profissionais e do diretor. 8. Apoio e Participação dos pais Na escola eficaz, os pais compartilham a visão e as expectativas da escola a respeito do sucesso dos filhos. Os pais acreditam nos filhos e na capacidade da escola em assegurar-lhes o sucesso; participam ativamente da vida escolar dos filhos em casa e também da vida da escola – seja como voluntários ou membros das organizações escolares. Através dos pais, a escola também envolve a comunidade, atraindo voluntários e parceiros para colaborar na obtenção de seus resultados. Na concepção de Paulo Freire, não há mais o chefe “que manda”, porque tudo sabe, e este “saber“ lhe dá poder, mas o “colega” de equipe, que coopera, que apóia que coordena. E cada um da “equipe”, tem, a partir de metas construídas em função de um objetivo comum, um conjunto possível e variado de tarefas e funções a desempenhar. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 Atividade Dissertativa A escola eficaz convive em um mesmo ambiente de outras escolas que não alcançam os mesmos resultados, ou seja, a escola eficaz funciona face aos problemas, dificuldades e adversidades iguais às de outras escolas que não são eficazes. Apresente, em (01) uma página, os pontos que tornam uma escola eficaz e se quiser ousar exemplifique. Profissionalismo e Educação É no amplo contexto educacional que se constroi a cidadania. Algumas questões ainda persistem em emperrar a educação e uma delas é a burocracia estatal onde as muitas exigências tornam morosas as ações e os serviços prestados tanto na educação pública quanto na particular. As regras do mercado ainda seguem o pai da economia moderna, que é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico, Adam Smith. Uma de suas obras mais conhecidas, ainda é referência para as gerações de economistas. Smith procurou demonstrar que as nações enriqueceriam se a atuação dos indivíduos movesse por seus próprios interesses. Esta atuação promoveria o crescimento econômico e inovações tecnológicas. “Não é a benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto-interesse.” Adam Smith. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 Este pensamento – autointeresse - gerou durante anos e ainda persiste em um olhar individualista onde as questões sociais acabaram esquecidas em nome do sucesso pessoal. Um exemplo é sobre o discurso da qualidade na educação onde se confunde formação do cidadão com satisfação do cliente. E ao estudarmos planejamento educacional tememos reduzi-lo a um mero projeto empresarial onde o objeto principal é o lucro expressivo. O lucro que se busca na educação não pode ser somente individual, ou todo o processo educacional fica descaracterizado. Onde se estabeleceria o processo social se não no âmbito educacional? A construção da sociedade prevê muito mais do que sucesso individual e pessoal, então deve caminhar na construção de pessoas competentes que sejam conscientes de sua influência social. A aprendizagem de hábitos que constroem o caráter tanto pessoal como social não se encontra na realização de grandes leituras, quando ainda se é jovem. Ela é retirada da observação do comportamento daqueles que vivem no mesmo entorno sejam estes presenciais ou virtuais. Influenciar pessoas com valores positivos é o principio de todos os profissionais da educação, sem desconsiderar os demais. Sabe-se que profissão é uma atividade especializada dentro da sociedade e exercida por um profissional que desenvolveu certas habilidades específicas adquirindo experiência em uma determinada área. Além das habilidades específicas, a profissão deve ser exercida na sociedade com autonomia relativa sob as bases dos padrões de auto-regulação da comunidade praticante. Apresenta sempre um compromisso público e um comprometimento pessoal de cada praticante nas atividades sociais onde a atuação gera o bem comum. O profissional deve estar ciente e se contrapor tanto a prática mercenária quanto a amadora. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 O sentido etimológico da palavra “professor” – vem de professar, aquele que declara a sua competência e, com base nela proclama a sua relativa independência que até em suas ações mais corriqueiras lhe são exigidas um profundo senso de profissionalismo. O comprometimento e o sentimento em contribuir para as questões do bem comum devem estar inseridas no reconhecimento social, na auto-regulação de suas atividades que lhe favoreçam tantoa dignidade quanto o orgulho em exercer atividades que influenciam diretamente a sociedade na qual se inserem. Se os profissionais da educação professam a sua competência, o mesmo deve ocorrer com a saúde e com a justiça. Estas profissões estão na base da formação de uma sociedade equilibrada e que procura justiça em suas ações e os profissionais se comprometem com seus atos públicos renunciando muitas vezes os interesses pessoais, utilizando amplamente a capacidade de doação que nem sempre se apresentam em outras profissões. O profissional da educação age diretamente nas ações da cidadania e desempenha um papel decisivo no que se refere à articulação entre o individual e o coletivo e não se conforma com a mera inserção social. Não basta inserir o excluído no sistema social sem que lhe dê as devidas condições de prosseguir e construir o que lhe é devido. O que se pretende com estas ações é a inserção de pessoas em uma comunidade economicamente ativa e melhor provida de condições ambientais, culturais e sociais, nas causas comunitárias mais emergentes. As ações da inserção social têm seu inicio na família, mas são amplamente experimentadas nos anos de vida escolar. É aqui que os profissionais da educação entram e preparam cada pessoa para viver os atos de cidadania mostrando-lhes os limites de suas ações e estimulando-os a agir dentro das regras de ética e princípios que equilibram uma sociedade saudável e comprometida com o seu próprio crescimento. Não há hábitos de educação, saúde ou justiça social que não precise ser demonstrada ou ensinada nos limites escolares. E somente aquele que professa realmente o seu Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 compromisso como educador pode fazer florescer novas atitudes comprometendo-se com a sociedade na qual está estabelecido. Diagrama - Princípios da profissão Arquitetura de Princípios Equilíbrio Integridade Tolerância Cidadania Profissionalismo Personalidade Elaboração: Professora Ana Maria Furtado/ESAB Cidadania – formação de pessoas capazes de partilhar a sociedade, suprindo suas necessidades vitais, culturais, sociais e políticas e, assim construindo uma nova ordem social. A conquista da qualidade de vida, a preservação da dignidade humana bem como da natureza e do meio ambiente são ações de cidadania. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 UNIDADE 3 Objetivo: Desenvolver habilidades para romper com antigos paradigmas, construindo estratégias de resolução que favoreçam a autonomia administrativa. A Questão da Autonomia A escola eficaz tem autonomia financeira, administrativa e pedagógica. A extensão e os limites dessa autonomia são em grande parte, decididos pelas secretárias de Educação, mas podem ser conquistados e ampliados pelo trabalho da própria escola. Autonomia Percebida e Desejada Em qualquer situação e qualquer que seja o grau de autonomia e eficácia da escola requer o apoio das autoridades de ensino. No Brasil, as escolas privadas são as que têm mais autonomia. Controlados todos os outros fatores, inclusive a origem social de seus alunos, seu desempenho médio é consistentemente superior à média das escolas públicas: os alunos alcançam resultados de 20% a 25% superiores no Sistema de Avaliação de ensino Básico e concluem o ensino fundamental com 8,4 anos de escolaridade contra 12 anos da escola pública. Essas evidências não sugerem que o ensino deva ser privatizado, nem tão pouco que todas as escolas privadas são melhores que as escolas públicas. Mas confirmam os dados da literatura a respeito da importância da autonomia para a eficácia escolar. Diferentes países atribuem diferentes graus de autonomia às escolas públicas. Os resultados também variam – mas não são comparáveis, pois as condições de funcionamento também não o são. Um país pequeno, com muitos recursos e excelentes professores, pode lograr excelentes resultados mesmo de forma centralizada. Países diferentes centralizam aspectos diferentes: currículo, material didático, decisões sobre enturmação, critérios de promoção, avaliação de alunos, entre outros. Portanto, não há Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 uma regra básica e universal que comprove que total descentralização é melhor que total centralização. A experiência das escolas eficazes demonstra que os melhores resultados ocorrem quando as Secretarias da Educação atuam como instâncias normativas, facilitadoras e estimuladoras da autonomia da escola, e não quando tomam o lugar da escola na definição de suas propostas ou na solução direta de seus problemas. Cabe também, a estas instâncias assegurar às escolas os insumos mínimos necessários para seu funcionamento: pessoal, professores qualificados, recursos financeiros e outros recursos básicos para o funcionamento de qualquer escola. O Ensino Eficaz Até aqui tratamos da escola eficaz. Mas muito do sucesso da escola eficaz depende do ensino eficaz, ou seja, do que acontece na sala de aula. Como o diretor pode assegurar que o ensino está sendo eficaz? Em escolas eficazes, há pelo menos, seis instrumentos que são elaborados, escolhidos e utilizados de forma consistente no dia a dia da escola: 1. O Plano de Desenvolvimento da Escola Em que estão explicitados a missão educacional, compromissos e principais metas da escola. 2. A Proposta Pedagógica Na qual está explicita, de maneira clara e objetiva, as pretensões de ensino, os conteúdos e as orientações gerais da escola a respeito de como vai atingir os seus objetivos. 3. O Plano de Curso De cada professor, em que se detalha o que será feito ao longo do ano letivo; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 4. O Plano de Aula Em que cada professor especifica o que vai realizar em cada aula, unidade ou projeto. 5. Os Materiais de Ensino Particularmente livros didáticos, livros de referência, biblioteca e demais materiais necessários para programar os planos de cursos e a proposta pedagógica. 6. Os Instrumentos de Avaliação Através dos quais professores, especialistas e dirigentes da escola acompanham, avaliam e tomam decisões preventivas e corretivas sobre cada aluno. Podemos então resumir: Ensino Eficaz Plano de Desenvolvimento da Escola Proposta Pedagógica Plano de Aula Materiais de Ensino Instrumento de Avaliação A Sala De Aula Eficaz A sala de aula é o coração da escola. É lá que acontece, ou deixa de acontecer; tudo o que a escola se propõe a fazer. É dentro dela que o aluno aprende ou deixa de aprender; que adquire hábitos adequados e saudáveis de estudo. É na sala de aula que ou ele aprende a aprender ou aprende a ficar eternamente dependente dos professores e das instruções. Caracteriza uma sala de aula eficaz: • O professor planeja e executa de maneira pontual e dirigente o seu plano de trabalho; • Os alunos passam a maior parte do tempo, envolvidos em atividades importantes, que conduzem a aprendizagens relevantes; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 • O professor de cada disciplina estabelece relações entre os conteúdos e objetivos aprendidos e os conteúdos e objetivos de outras disciplinas e atividades extraclasse, consistentes com a proposta pedagógica da escola; • Há uma variedade de métodos e técnicas de estudo; • Os objetivos, conteúdos e métodos de ensino são adequados ao nível de competência do professor e as características dos alunos. A Controvérsia Sobre as Teorias e os Métodos Didáti cos Há muita controvérsia, quase sempre fruto de mal entendido ou de posições precipitadas – a respeito do que sejam teorias, métodos técnicas de ensino. Em algumas escolas, e em certos ambientes educacionais, discussões a respeito desses assuntos por vezes adquirem o aspecto de uma verdadeirabatalha campal. As evidências científicas nessa área são bastante precárias. Algumas delas, no entanto, tendem a corroborar o senso comum. As mais importantes, do ponto de vista prático são: As teorias não são verdadeiras nem falsas. Elas são férteis ou estéreis. Ou seja: se a teoria é fértil, dá frutos, se não é descartada. Por definição, as teorias passam, são suplantadas por novas teorias que explicam melhor os fenômenos – no caso, os fenômenos da aprendizagem; Existem, basicamente, três grandes métodos de ensino. O método didático, método tutorial e o método socrático. No método didático, o ensino é estruturado, em maior ou menor grau. No método tutorial, típico das situações de mestre e aprendiz, o mestre vai guiando o aprendiz através de situações concretas, através da imitação. Do exemplo, da correção e, muitas vezes, a partir da própria situação de trabalho. No método socrático, o mestre (Sócrates, ou alguém com este tipo de preparo) induz o conhecimento, retirando o conhecimento do aluno, através de perguntas bem arquitetadas. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 Na prática escolar, o que existem são variações do método didático, com várias ocorrências dos outros métodos. Os demais métodos, embora sejam excepcionalmente robustos, requerem professores com nível e grau de preparação extremamente sofisticada. A grande variação dentro do método didático está no grau da estruturação dos conteúdos, da atividade do professor e das atividades do aluno. Há métodos didáticos mais ou menos dirigidos, mais ou menos interativos, mais ou menos reflexos. Cada método didático é mais adequado para certos objetivos. Alguns enfatizam mais raciocínio, outros, a criatividade, a aquisição de conceitos, e assim por diante. As evidências indicam que a maioria dos alunos aprende com algum método, e que a maioria dos métodos, se usados adequadamente, promove a aprendizagem. As evidências também indicam que métodos mais estruturados são eficazes que métodos menos estruturados, sobretudo nas situações em que os professores possuem menos preparo e menor domínio do conteúdo. A prática indica que os professores mais experientes são os que usam uma variedade maior de métodos, de acordo com a necessidade dos seus alunos. O importante na escola eficaz, não é a virtude de escolher o “melhor” método. O que importa são os resultados. As teorias, processos pedagógicos, métodos e técnicas são variados e variáveis, dependendo dos objetivos a serem atingidos. O importante é que o aluno aprenda de forma consistente com a proposta da escola – método e a forma de ensinar devem variar para tornarem-se adequados ao aluno. SUGESTÃO DE LEITURA: Gestão educacional no contexto da Territorialização - Isabel Bravo Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 UNIDADE 4 Objetivo: Aprimorar-se nas questões específicas do desempenho cognitivo dos alunos de forma abrangente, de modo que o progresso dos mesmos reflita em uma sociedade mais capacitada e preparada para se autosuperar. O Desempenho dos Alunos A escola eficaz estabelece expectativas elevadas, refletidas na visão, nos objetivos, nas metas e, mais do que tudo, no desempenho dos alunos. Normalmente, a escola eficaz espera que todos os alunos de uma determinada turma obtenham um nível mínimo de desempenho pré-estabelecido e este nível vai sendo progressivamente elevado, a cada ano. Algumas escolas vão além; estabelecem que a maioria dos alunos – 80%, 90% ou mais deverá atingir níveis progressivamente mais altos. Ou seja, nestas escolas, não a maioria apenas a média dos alunos, interessa conseguir que a maioria dos alunos atinja resultados elevados pré-estabelecidos e, que a meta seja sempre de autosuperação. O problema prático: a limitação do tempo. As pesquisas mostram que quando o tempo de aprendizagem é fixo (200 dias, 4 horas de aula por dia) o desempenho dos alunos é variável, ou seja, uns aprendem mais, outro menos. Por outro lado, estudos sobre aprendizagem para o domínio mostram que quando o tempo é variável e o ensino é adequado todos os alunos podem atingir um objetivo pré-determinado. Todos os alunos podem atingir níveis aproximadamente equivalentes de desempenho, mas para isto é necessário respeitar o ritmo individual. Há várias formas de assegurar elevados níveis de desempenho. Uma delas é formar turmas de acordo com suas capacidades. A outra é estabelecer conteúdos, currículos ou mesmo níveis diferentes de desempenho para alunos de uma mesma turma. Desta forma, cada aluno atinge o nível considerado adequado para a sua situação. Uma terceira é estabelecer mecanismos e tempos adicionais ou compensatórios: aula extra, contraurno, tempo extra, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 recuperação, entre outros, como forma a assegurar os objetivos propostos de forma mais eficaz. Como Criar uma Escola Eficaz? Como já lhes disse não há milagres, segredos ou fórmulas mágicas. Vou indicar agora os ingredientes que tornam uma escola eficaz. Vou lhes apresentar os conceitos e os instrumentos essenciais para tornar uma escola eficaz. No Brasil, existem centenas de escolas que podem ser chamadas de escolas eficazes. Cada uma delas tem uma origem diferente, uma história diferente, uma diferente trajetória de mudança. Cada uma começou num ponto, enfatizando diferentes aspectos da gestão escolar. O que as escolas eficazes têm em comum: uma liderança forte, capaz de mobilizar a comunidade escolar em torno de objetivos comuns, estabelecerem objetivos claros, manter o foco nas prioridades e assegurar os meios e o clima para atingir seus objetivos. Existem algumas sugestões para que possamos começar: • Identifique um problema acadêmico importante: repetência, evasão, alunos não alfabetizados, baixo nível de leitura ou matemática. • Identifique as pessoas que estão dispostas a colaborar na solução (professores, pais, alunos, voluntários); • Identifique, com o grupo de pessoas, uma solução que já deu certo em outra escola e que tem condições de dar certo na sua. Aja com criatividade, mas com segurança; • Estabeleça metas para resolver o problema. Programe a solução. Acompanhe os resultados, corrija os rumos, se necessário. Envolva outros membros da comunidade escolar; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 • Utilize o sucesso para traçar novos planos. Incorpore estas idéias no PDE. Estabeleça o colegiado. Transforme esta primeira iniciativa num processo permanente de melhoria. O Que os Especialistas Recomendam: Dez especialistas renomados foram convidados para analisar as pesquisas existentes e dizer quais seriam as intervenções mais eficazes: • Designar os melhores professores para a 1ª Série; • Cumprir o ano letivo de 200 dias e a carga horária mínima; • Assegurar que o mesmo professor fique com os alunos durante todo o ano; • Usar avaliação externa e discutir os resultados com os professores; • Estimular os pais a estimularem os filhos desde pequeninos, sobretudo no manuseio e uso de livros. Graus de Autonomia Escolar Como a autonomia é sempre relativa, foram criados 3 níveis para refletir os diferentes estágios em que se encontra uma escola ou rede de ensino: Autonomia Plena Parcial Mínima Cada dirigente saberá identificar a real situação de sua escola hoje – e qual o nível de autonomia desejável. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 Administrativa Item Autonomia Plena Autonomia Parcial Autonomia Mínima Tamanho Da Escola Escola decide Número de alunos, turmas, turnos. Estado define tamanho da Escola e esta decide o tamanho das turmas. Estado decide tamanho e número de turmas e turnos. Enquadramento de novos alunos Escoladecide série para novos alunos. Estado estabelece parâmetros e a escola os aplica. Estado decide, por regra, para onde o aluno irá. Critérios para admissão de alunos. Escola estabelece critérios para aceitar/ou não alunos Estado estabelece regras gerais e a escola faz as suas próprias regras. Estado estabelece regras aplicáveis à escola. Seriação Escola decide sobre séries e ciclos Escola possui alguma flexibilidade para enturmação dentro de regras do Estado. Estado determina séries e/ou ciclos. Admissão/seleç ão de professores Escola estabelece e aplica critérios de seleção de professores. Estado estabelece critérios gerais; escola escolhe seus professores dentro dos critérios. Estado estabelece e aplica critérios para indicar que professores lecionem e, em que escolas. Demissão /Aposentadoria de professores Escola demite funcionários de acordo com seus critérios. Estado estabelece critérios e a escola os aplica. Estado estabelece e aplica critérios de remoção de professores. Carreira/incentiv Escola estabelece Estado estabelece critérios Estado estabelece e aplica Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 o (professores) políticas próprias. gerais e a escola os aplica. políticas de carreiras e incentivos. Capacitação de professores Escola define e implanta planos de capacitação. Estado define política de capacitação e a escola a aplica. Estado opera atividades de capacitação diretamente. Autoridade do dirigente (gestão) Direção com ampla margem de autoridade. Direção com Margem de autoridade relativamente limitada pelo Estado e a determinados assuntos. Margem de autoridade e gama de assuntos fortemente limitada. Autoridade interna (gestão) Função básica dos colegiados é apoiar o dirigente. Função básica dos colegiados é controlar, “observar” o dirigente. Escola não possui colegiado ou quando o possui não tem papel relevante. Escolha de dirigentes (gestão) Responsáveis pela escola escolhem seus próprios dirigentes. Estado estabelece regras para escolha de dirigentes com alguma sanção de instâncias intermediárias. Estado escolhe dirigentes mediante concurso, nomeação ou outra forma, sem consulta à comunidade escolar. Processo decisório/colegi ado (gestão) Diretor tem ampla margem de autonomia, dentro de parâmetros estabelecidos por conselhos e colegiados. Diretor tem margem de autonomia limitada por decisões dos conselhos ou colegiados. Autonomia do diretor é mínima perante o Estado e/ou perante colegiado. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 Pedagógica Item Autonomia Plena Autonomia Parcial Autonomia Mínima Filosofia Educacional Escola determina sua filosofia de atuação e concepção educativa. Estado determina limites gerais e escola escolhe dentro deles. Estado impõe orientação ou proíbe de definir ou determina orientação. O que ensinar Escolas definem conteúdos Estado define diretrizes curriculares e parâmetros para avaliação do ensino. Estado prescreve o que deve ser ensinado e delimita o que será avaliado. Como ensinar Escola escolhe método. Estado define ou condiciona opções e preferências de métodos. Estado prescreve métodos. Avaliação Escola escolhe e aplica critérios próprios para avaliar seus alunos. Estado define regras para avaliação; escola e professores aplicam. Estado define regras e as aplica a cada escola/aluno. Promoção Escola decide sobre promoção de alunos. Estado determina critérios gerais para admissão e promoção; escola os aplica. Estado determina critérios de promoção (automática dependência de alunos etc.). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 Financeira Item Autonomia Plena Autonomia Parcial Autonomia Mínima Captação de recursos Escola capta seus próprios recursos através dos alunos ou repasse de recursos (bolsas, per capita, etc.). Estado aloca recursos à escola, mas a escola possui certa autonomia para buscar recursos adicionais. Estado praticamente não possui autonomia nem condições para captar recursos. Alocação de recursos Escola capta recursos dos alunos ou recebe seus recursos pontualmente do financiador. Estado aloca recursos de critérios objetivos e de forma pontual. Recursos não são alocados à escola ou o são de forma intempestiva. Uso de recursos Escola mobiliza e usa recursos. Estado transfere recursos por critério “per capta”. Direção tem ampla margem para alocá-los. Escola possui ou recebe pouco ou nenhum recurso e quando recebe não tem flexibilidade para seu uso. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 SUGESTÃO DE LEITURA: O Líder do Futuro – John Naisbitt, Editora Sextante (Capítulo 9 – Modelo Mental) Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 UNIDADE 5 Objetivo: Conhecer as alternativas de enturmação para que possa fazer opção frente à gestão de uma escola, ajustando a teoria e a prática para um desempenho eficaz. As Formas de Enturmação Muito dos desafios dos gestores escolares encontra-se na busca da forma de enturmação de alunos, onde haja coerência. Então como agrupar alunos? Por idade? Sexo? Conhecimento? Maturidade? Séries? Ciclos? Ou quem sabe interesses? Grande parte dos problemas de aprendizagem, da necessidade de recuperação e da reprovação de alunos, decorre de desajustes entre a forma de enturmação dos alunos usada pela escola e forma de enturmação que seria mais adequada para cada aluno. Na prática, a escola dificilmente pode fazer aquilo que seria ideal, embora seja muito difícil definir uma forma ideal de enturmação. Portanto, é necessário conhecer as alternativas de enturmação, as vantagens e as desvantagens de cada uma delas e as formas de compensar as suas limitações e deficiências. Teoricamente, as escolas e as redes de ensino possuem flexibilidade para enturmar seus alunos de acordo com seus próprios critérios. Na prática, algumas alternativas são mais viáveis do que outras, embora não sejam as melhores ou as ideais, de acordo com algumas teorias ou hipóteses a respeito de como as escolas deveriam funcionar. E as que seriam consideradas melhores nem sempre são viáveis. Os critérios para avaliar os efeitos da enturmação relacionam-se fundamentalmente com a aprendizagem dos alunos e o seu fluxo, ou seja, com as políticas de retenção, aprovação e reprovação dos alunos: o quanto os alunos aprendem em um determinado tempo; qual a variação do nível de aprendizagem entre os alunos de uma mesma turma; como e em quanto tempo os alunos progridem ao longo dos anos de sua escolaridade. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 Vamos examinar agora os quatro meios mais usuais de formarem-se as turmas dos alunos: 1. Enturmação por série É a forma mais utilizada na maioria dos países do mundo e na maioria das escolas do Brasil. A escolarização se divide em níveis ou graus de ensino (fundamental, médio etc.) e os níveis e graus se dividem em séries. Normalmente, uma série corresponde a um ano letivo, Além disso, existe uma expectativa de correspondência entre idade e série, ou seja; entrando aos 6 anos na escola espera-se que os alunos de uma determinada idade estejam na série correspondente – por exemplo; alunos de 10 anos na quarta série e alunos de 14 anos na oitava série. 2. Enturmação por ciclos O conceito de ciclos, como entendido no Brasil, refere-se a uma unidade que é menor que o nível de ensino e maior que uma série. Em algumas redes de ensino, por exemplo, o ensino fundamentalé subdividido em ciclos que duram de 2 a 4 anos. O conceito de ciclos é empregado no lugar do conceito de “séries escolares”, tanto para efeitos de planejamento de atividades didáticas (o currículo), quanto para efeitos de avaliar os alunos para fins de promoção. É o que se denomina de “regime de progressão continuada”. Enquanto estão dentro de um “ciclo”, os alunos não são aprovados nem reprovados. Decisões quanto à mudança de ciclos só ocorrem ao final de cada ciclo. No entanto, mesmo em redes e escolas onde se utiliza este conceito de “ciclos”, é muito usual a prática de continuar seriando os alunos dentro de um ciclo, mesmo porque os alunos progridem como uma turma, ao longo do ciclo. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 3. Classes multisseriadas Classes multisseriadas existem em todo o mundo, inclusive em países desenvolvidos e ricos. Geralmente, são utilizadas em zonas rurais, de baixa densidade populacional. Nestas classes, geralmente com 20 pessoas ou menos, os alunos são agrupados de acordo com a série e fazem atividades diferentes, embora sejam ensinados por um mesmo professor. 4. Classes especiais Há vários tipos de classes especiais. Por exemplo, classes para alunos mais atrasados ou mais adiantados, de uma mesma série; ou classes especiais de aceleração, entre outras. Tanto a teoria pedagógica quanto a legislação brasileira são muitos férteis em propor e prever diversas possibilidades de enturmação, além destes quatro tipos mais usuais descritos acima. Outras formas possíveis de formar turmas de alunos • Estudos interdisciplinares. • Estudos por Projetos. • Agrupamentos por áreas de interesse. • Agrupamento por nível de desenvolvimento cognitivo. • Agrupamento pelo tipo de inteligência. • Oferta semestral de cursos. • Matrícula por disciplina. • Matrícula por dependência. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 Existe sempre a possibilidade, raramente utilizada, do ensino individual, tutorial ou por módulos entre outras que podem ser introduzidas por responsabilidade neste rol. Embora existam inúmeras formas de enturmação, a forma mais usual é a de enturmação por série. Isto não significa que seja melhor que as outras, mas o fato de ser mais usual significa que enturmar por série oferece inúmeras vantagens práticas. Ao mesmo tempo, significa que as outras formas de enturmação, inclusive enturmação por ciclos, oferecem, além de vantagens, desafios não triviais – que nem sempre as escolas estão capacitadas para superar. As Questões Teóricas e as Questões Práticas Em tempos remotos, os alunos eram ensinados, individualmente, pela família ou por preceptores. Só mais tarde surgiram escolas comunitárias, religiosas e depois públicas. O surgimento das escolas exigiu critérios para agrupamento dos alunos. Esses critérios, milenares, surgiram numa época em que o volume de conhecimento existente – o conhecimento sobre o que aprendemos e as próprias tecnologias de ensino – eram muito diferentes dos de hoje. No entanto, apesar de todos os avanços no conhecimento, nas tecnologias e nas formas de organização, perduram e predominam nas escolas as formas tradicionais de enturmação. A seriação constitui-se no critério mais usual do mundo e, se dá em função de um conjunto de conhecimentos e objetivos que se pretende ministrar num determinado período de tempo – o ano letivo. O critério de enturmar o aluno por série em função de sua idade se baseia no pressuposto de que os alunos de idade semelhante possuem níveis de maturidade semelhantes – o que significaria interesses mais ou menos próximos e, consequentemente, facilitaria os processos de socialização. Ao adotar este critério, as escolas buscam um mínimo de homogeneidade, sejam homogeneidade de conteúdos – os conteúdos de Geografia da 5ª série, por exemplo – seja homogeneidade dos alunos – conhecimento – pré-requisitos, maturidade, etc. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 Na prática, qualquer turma é sempre heterogênea. E isto não é necessariamente mau. Por mais que os conteúdos a serem ensinados sejam os mesmos e as idades próximas, os alunos sempre terão desempenho diferenciado em relação ao seu domínio. Uns vão terminar o ano sabendo mais, outros menos. O mesmo se dá em relação ao nível de maturidade, que não corresponde a uma idade cronológica precisa. Os pressupostos de que alunos de idade semelhante têm níveis de maturidade parecidos, ou que níveis de maturidade parecidos implicam interesses comuns, não se verifica. Na prática, verificam-se efeitos benéficos no contato entre pessoas de idades diferentes, inclusive dentro de escolas e salas de aula. Mas isso não tem levado as escolas, em todo o mundo, a praticar formas diferenciadas de enturmação. O problema teórico de definir a forma ideal de agrupamento é insolúvel. Testa ao diretor saber como enfrentar os problemas práticos de enturmação e compensar as desvantagens do modelo escolhido. SUGESTÃO DE LEITURA: Gestão Educacional: Planejamento Estratégico e Marketing – Marcos Amâncio P. Martins Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 UNIDADE 6 Objetivos: Conhecer e conceituar com precisão as vantagens e as desvantagens do sistema seriado, bem como conhecer o uso do ciclo para que se possa na prática buscar alternativas coerentes na gestão educacional. Limitações e Desvantagens do Sistema Seriado Apesar das vantagens, sobretudo de natureza prática, a seriação apresenta fortes limitações e desvantagens, que precisam ser conhecidas para serem compensadas de outras formas. Ritmo Diferenciado Uma das maiores diferenças de aprendizagem entre as pessoas refere-se ao ritmo: embora alunos possam chegar a aprender aproximadamente as mesmas coisas, o ritmo com que fazem é bastante diferenciado. Há alunos mais rápidos e há outros mais lentos. Há alunos que progridem mais rapidamente em algumas disciplinas ou atividades do que em outras. Quando todos os alunos são colocados em uma turma, que deve seguir o mesmo ritmo, em função de qualquer critério, os resultados tenderão a ser muito variados. Isto vale para enturmação por idade, série ou ciclo. A falta de estratégias para lidar com o ritmo diferenciado dos alunos nos sistemas seriados é uma das causas mais importantes da baixa aprendizagem dos alunos e dos elevados níveis de reprovação. Alunos Defasados Aprendem Menos Que Alunos Com Idad e-Série Ajustada No sistema de séries, os dados do ESAEB indicam que quanto maior a distorção idade-série pior o desempenho. Ou seja; nos sistemas de séries os alunos mais velhos sistematicamente obtêm notas piores que os alunos que estão na série ajustada à sua idade. Isto pode significar várias coisas. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 Uma hipótese: os alunos mais velhos são menos inteligentes, possuem mais dificuldades de aprendizagem ou são mais lentos para aprender. Pesquisas realizadas pela Fundação Carlos Chagas sobre alunos do programa “Acelera, Brasil” invalidam esta hipótese. A hipótese mais plausível é que o sistema seriado e as práticas usadas pelo professores favorecem os alunos com idade adequada e punem os alunos “defasados”. Essas práticas, inclusive, deixam de se beneficiar da presumida maturidade associada à idade mais avançada. Conclusão: o simples fato de colocar alunos de idade e níveis de conhecimento diferentes numa mesma turma não assegura melhores resultados para todos. A falta de estratégias diferenciadas para lidar com a heterogeneidade prejudica certos grupos de alunos. A aprendizagem colaborativa descrita abaixo se constitui numa dessas estratégias. “Estratégia de aprendizagem colaborativa desenvolvidas por Robert Slavin nos USA, e aplicadas em diversos países comprovam as vantagensde agrupar alunos com idades e níveis de conhecimentos diferentes”. Essas estratégias, no entanto, só funcionam adequadamente quando outros componentes do processo de ensino estão presentes. De dentro da sala de aula, a metodologia é usada, sobretudo, para colocar junto alunos de níveis de conhecimento diferentes – e que são submetidos a tarefas fortemente estruturadas para maximizar a colaboração e os ganhos mútuos. Freqüentemente, essas estratégias são usadas complementarmente ao sistema de enturmação seriada - por exemplo, através de atividades de contra turno em que os alunos mais velhos ajudam os alunos mais novos. “ (Slavin, 1983) Os alunos de uma mesma turma têm níveis de conhecimento e desempenho muitos diferentes, e qualquer professor sabe disto. Em qualquer grupo de 30 alunos, numa mesma Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 escola, as diferenças de conhecimento entre os alunos costumam ser bastante grandes. Comparando-se os alunos de diferentes escolas, as diferenças podem ser ainda maiores. Em certas regiões brasileiras, um aluno que cursa a 8ª série numa escola possui conhecimentos equivalentes ao aluno de 4ª série de outra escola. Isso demonstra, entre outras coisas, que estar numa série não significa que o aluno irá receber conhecimentos de determinado nível e, muito menos, de que ele será capaz de aprendê-los. Demonstra também que a transferência de alunos entre escolas sempre evidencia que o fato do aluno ter concluído uma determinada série não garante que ele tenha um determinado nível de conhecimento. Ciclos Muitas redes de ensino e escolas públicas tentam superar os problemas apresentados pela seriação criando ciclos de estudos. Em princípio, os ciclos superariam alguns problemas mencionados acima, porque os alunos teriam mais tempo para aprender. Na prática, a experiência de muitos estados, municípios e escolas que adotam os sistemas de ciclos revelam que: • Muitas escolas continuam com sistemas de seriação interna, de forma ostensiva ou velada. Os ciclos são apenas uma ficção burocrática; • Dentro do ciclo, os alunos são tratados de maneira uniforme, como no sistema regular de seriação. Os programas são os mesmos para todos os alunos – de forma mais acelerada ou lenta; • Algumas poucas pesquisas realizadas sobre o tema indicam que o resultado da aprovação dos alunos, no final do ciclo, é tão desastroso quanto nos sistemas de seriação anual. Isto sugere que houve apenas um adiamento do problema e não da aprendizagem – e que durante o ciclo aluno não recebeu um atendimento mais adequado ao seu ritmo ou nível de compreensão. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 43 Estas distorções não significam que o sistema de ciclos seja indesejável ou inviável. É possível que o sistema de ciclos tenha sido implementado com sucesso em diversos casos. Possivelmente, seus efeitos globais não serão piores que o da seriação. A falta de avaliação não permite dizer quais são os seus benefícios. Sabe-se muito pouco a respeito do que ocorre com o ensino e com os alunos durante um ciclo. São tratados da mesma forma que no regime de seriação? Há subgrupos? Como os professores lidam com os alunos mais lentos? E com os mais rápidos? Apenas sabemos que o assunto é complexo e que soluções aparentemente interessantes, como os ciclos, são mais difíceis de programar com eficácia do que parece à primeira vista. O Conceito de Ciclos em Países Desenvolvidos Alguns países desenvolvidos adotam um conceito de ciclos semelhantes ao que existe em certas redes de ensino no Brasil. A grande maioria dos países adota o sistema de séries. Nos dois casos o conceito de “ciclos” é bem mais restrito do que no Brasil. Na verdade, o ano letivo é subdividido em unidades ou ciclos e, ao final de cada unidade, há mecanismos de recuperação para permitir aos alunos manterem-se no ritmo da turma. Independentemente da promoção estar vinculada ao final de uma série ou de um ciclo, ao alunos recebem atendimento imediato, de maneira a evitar que acumulem um atraso significativo em relação aos seus colegas. O objetivo, na maioria dos países, exceto nos USA, é obter um desempenho mais uniforme dos alunos, através de estratégias de atendimento diferenciado. Nos Estados Unidos, a situação é um pouco diferente e muito mais diversificada. Existe o conceito de série – e de conhecimentos e habilidades referentes a cada série. Mas dentro de cada uma, os alunos podem ser agrupados em salas de nível diferente. E mesmo dentro de cada sala, os alunos podem ser agrupados em subgrupos diferentes. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 44 SUGESTÃO DE LEITURA: Slavin, R.F. Cooperative Learning. New York – Longman, 1983 Demo, Pedro – Promoção automática e capitulação da escola (ensaio, avaliação de políticas públicas em educação) - RJ. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 45 UNIDADE 7 Objetivo: Conhecer outras formas de enturmação e suas estratégias para que se possam gerenciar melhor os programas educacionais, adequando-se a teoria à prática. Classes Especiais para Circunstâncias Especiais Classes multisseriadas – Programas como o “Escuela Nueva”, da Colômbia, inspirados no método de Lancaster. Provam-se adequados para lidar com classes rurais multisseriadas. Esses programas incluem materiais pedagógicos especiais, estratégias para lidar simultaneamente com grupos de alunos em diferentes séries e mecanismos adequados de capacitação e supervisão de professores. O Modelo Da “Escuela Nueva” Foi Adaptado Para O Bra sil, Sob O Nome De Escola Ativa. Em todo o mundo, as classes multisseriadas são uma solução. Solução para o problema de populações isoladas e falta de densidade que justifique a instalação de uma escola com classes seriadas. Foram desenvolvidas inicialmente na Inglaterra (método Lancaster) e, posteriormente implementadas no resto do mundo. No Brasil, por uma série de razões históricas, as classes seriadas são, normalmente, consideradas um problema. Ademais, quase sempre as nossas escolas rurais e classes multisseriadas são dirigidas por professores sem formação básica, ou formação especializada. Por isso é que essas classes são consideradas problemas. Mas isto não tem que ser necessariamente assim. Na década de 60, começou a ser desenvolvido na Colômbia um novo modelo de classes multisseriadas. Esse modelo adotou o nome de “Escuela Nueva”. Destinava-se aos alunos das zonas rurais, que na época se encontravam em escolas tão deficientes quanto as nossas. O modelo da Colômbia inclui o que de positivo havia nas experiências de outros países e nos conhecimentos disponíveis na época sobre envolvimento comunitário, métodos de ensino estruturado e ensino por projetos. O modelo inclui uma estrutura pedagógica Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 46 uniforme, materiais de ensino comuns, materiais de ensino adaptados pelo professor às circunstâncias locais, participação ativa dos alunos, uso intensivo de pequenos grupos e envolvimento dos pais e comunidades locais. E envolve naturalmente, a participação de professores capacitados. As avaliações do projeto, ao longo de mais de 30 anos, demonstram seu sucesso: alunos de zona rurais obtêm médias semelhantes às de alunos das periferias urbanas – o que, no contexto da Colômbia, como seria no Brasil, já significa um extraordinário avanço. Classes de Aceleração Programas de aceleração de estudos como comprovado no caso do programa “Acelera Brasil’, vêm demonstrado consistentemente, que alunos defasados e com maior idade podem lograr resultados superiores aos de seus colegas de igual escolaridade, mas com menor idade, desde que colocados em programas adequados de ensino. A adequação do programa ao tipo de aluno não à idade“ideal” que o aluno deveria ter pode constituir um fator determinante do aproveitamento escolar. Essas evidências também sugerem que o ritmo implicado pelo regime de seriação pode ser superado com sucesso, dependendo de se prover ensino adequado ao nível dos alunos. Esses resultados também sugerem, indiretamente, que as escolas e os professores não estão capacitados ou não dispõem de instrumentos e materiais adequados para lidar com certas formas de heterogeneidade. Classes Especiais: As Classes de Aceleração Quem trabalha com educação há muitos anos já passou por diversas inovações e mudanças. Mais do que verdadeiras inovações, muitas delas poderiam ser chamadas de “modas”. Outras que ficam muito tempo – como as classes para alunos que apresentam atraso em seu desempenho – melhores seriam chamadas de “tumores”. Nos últimos anos, vêm se desenvolvendo, em todo o país, iniciativas diversas com o nome de “classes de aceleração”. Essas classes normalmente se destinam a alunos do turno diurno e seu objetivo é permitir a eles acelerar os seus estudos. A teoria é simples: o aluno Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 47 defasado pode recuperar o tempo perdido se lhe for oferecida uma oportunidade adequada de aprender. Na prática, as coisas funcionam de diversas formas. Dar o nome de aceleração para uma classe e juntar alunos com determinada característica não bastam para assegurar que os alunos vão aprender e reajustar-se ao ciclo normal das escolas. Recentemente publicação de MEC/INEP, intitulada “Programas de Correção Escolar” ilustra como isso vem ocorrendo na maioria dos programas que leva este nome. Existem, no entanto, algumas experiências cujos resultados vêm sendo comprovado através de avaliação externa. A única que já publicou dados deste tipo, o Programa “Acelera Brasil”, vem sendo avaliada anualmente pela Fundação Carlos Chagas. As avaliações deste Programa indicam que essas classes funcionam adequadamente quando: • Fazem parte de uma estratégia de mudar a cultura da repetência e adotar uma cultura de escola eficaz, a cultura do sucesso; • Fazem parte de uma estratégia de correção do fluxo escolar e não apenas de acelerar alunos; • Dispõem de materiais adequados que chegam à sala de aula no prazo adequado; • Dispõem de mecanismos adequados para selecionar, capacitar, supervisionar e acompanhar os professores; • Dispõem de mecanismos adequados de acompanhamento, controle e avaliação; • Dispõem de mecanismos de avaliação externa para assegurar a comprovação de resultados; • Dispõem de um prazo determinado de duração, de maneira a desaparecer das escolas e municípios tão logo o problema seja resolvido; • São implementadas para alunos já alfabetizados; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 48 • São implementadas em escolas que adotem, simultaneamente, programas adequados de alfabetização; • Dispõem de mecanismos para compartilhar a experiência por toda a escola e, sobretudo • Contam com o apoio decisivo e a liderança do diretor. O desafio de qualquer escola é assegurar que os alunos desenvolvam ao máximo seu potencial e, dentro do possível, dominem, num nível e dentro de um tempo razoáveis, um conjunto de conhecimentos e competências definido como desejável nas propostas pedagógicas das escolas e redes de ensino. Não existem saídas fáceis. A promoção automática, por exemplo, associada ou não ao mecanismo de ciclos, não resolve o problema da aprendizagem. Apenas adia e cria outros problemas de enturmação. A reprovação maciça de alunos também não se comprovou adequada: a reprovação não aumenta as chances de aprovação do aluno nos anos posteriores. A defasagem decorrente de múltiplas reprovações, ao contrário, reduz o desempenho dos alunos. Pesquisas realizadas em diversos municípios do país e legitimadas com estudos em 45 municípios da Bahia confirmam que a grande maioria das escolas adota a prática de reprovar 15% a 25% dos alunos, mas ao mesmo tempo aprova alunos não alfabetizados: cerca de 30% a 40% dos alunos multidefasados de 1ª a 3ª série são analfabetos. “Isso sugere, que mesmo escolas que reprovam maciçamente seus alunos, acabam criando mecanismos de aprovação automática” para aqueles que ela não consegue, definitivamente, ensinar. O Pesquisador Pedro Demo denominou estas práticas de “capitulação da escola”. Os Problemas Práticos de Lidar com a Heterogeneidad e na Sala de Aula. Leis, decretos e princípios gerais não ajudam muito a escola e o professor a resolverem o problema prático de lidar com turmas heterogêneas, nas quais os alunos possuem níveis de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 49 conhecimento, interesse e maturidade diferentes. Isto é acrescido pelas seguintes limitações adicionais. A esmagadora maioria dos professores não está preparada para lidar com mais de um grupo de alunos ao mesmo tempo. Os professores, em sua grande maioria – no Brasil e também na maior parte do mundo – são formados para utilizar métodos didáticos baseados em: • Um programa fixo de ensino para todos os alunos; • Aulas expositivas ou voltadas para a turma como um todo. Raramente o professor é capacitado para; • Lidar com dois ou mais subgrupos de alunos, fazendo um mesmo currículo; • Lidar com dois ou mais subgrupos de alunos, fazendo currículos ou capítulos diferentes; • Lidar com diferenças e peculiaridades individuais; • Lidar, adequadamente, com classes multisseriadas. Ou seja: bem ou mal, os professores são treinados para lidar com um grupo de alunos como que homogêneo. Na prática, isto conduz aos elevados níveis de reprovação, baixa aprendizagem e desvantagem adicional para alunos defasados. Mas esta é a realidade prática da maioria dos professores. Isto pode explicar por que as tentativas de agrupar alunos por ciclos não vêm produzindo os resultados positivos que seriam de se espera. Na prática, a maioria dos professores – no Brasil e na maioria dos países do mundo – acaba se dedicando aos alunos que não criam problemas de disciplina, ou aos alunos de desempenho médio, deixando os mais adiantados e os mais atrasados sem maior atenção. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 50 Os materiais e recursos didáticos disponíveis raramente contemplam a possibilidade de se lidar com programas e níveis diferentes de alunos numa mesma sala de aula. A maioria dos materiais didáticos existentes ou disponíveis destina-se a estudos seriados e se baseia na hipótese de que as turmas progridem no mesmo ritmo. Mesmo quando professores são colocados diante de novos desafios – como algumas chamadas “classes de aceleração” ou regime de “ciclos” – os materiais de que dispõem não lhes permitem implementar qualquer diferenciação. As Formas Alternativas de Enturmação Não São Óbvias , Nem Viáveis. Além dos dois problemas levantados acima, a outra dificuldade prática refere-se aos critérios que poderiam ser usados para substituir a enturmação por ciclos ou séries. As opções são inúmeras: formar grupos por interesse, maturidade, inteligências múltiplas, projetos especiais, atividades multidisciplinares etc. Mas na prática, dentro das limitações concretas dos diretores e das escolas, é muito difícil conciliar os interesses e os níveis de alunos em agrupamentos muito variados. Isto não significa que não façam sentidos ou possam ser desejados – apenas que não são fáceis de lidar de um ponto de vista prático. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 51 UNIDADE 8 Objetivo: Compreender a necessidade da Recuperação Paralela dentro do sistema educacional, possibilitando conhecimentos que a tornem mais eficazes sem colocá-la como um processo de normalidade da atividade escolar. Recuperação Paralela Nas organizações modernas, o termo “retrabalho” é usado
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