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DIREITO CONSTITUCIONAL A CONSTITUIÇÃO DE 1988 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ANTECEDENTES • Depois da eleição dos novos Governadores em 1982, intensifica-se em todo o País, a partir de 1984, numa luta em busca de eleições diretas para Presidente e de uma nova Constituição que conseguisse refazer o pacto político-social, com o restabelecimento das liberdades públicas, ceifadas pelo regime de então. • Em 1985, Tancredo é eleito, tendo prometido convocar uma Assembleia Constituinte legítima e democrática. • Sarney envia para o congresso a EC nº 26 para convocação da Assembleia • A EC nº 26/85 estabeleceu: a) a reunião unicameral (Deputados e Senadores), em Assembleia nacional, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro de 1987 na sede do Congresso Nacional; b) o Presidente do STF instalará a Assembleia Nacional Constituinte; c) a Constituição será promulgada depois da aprovação de seu texto, em dois turnos de discussão e votação pela maioria absoluta dos Membros da Assembleia. TRAÇOS GERAIS • A Constituição surge como esperança de renovação para o povo brasileiro; • Sob a égide da CF/88, acontecimentos históricos surgiriam: - A população passa a participar mais ativamente do processo político (caras pintadas e impeachment); - Partidos de esquerda assumem poder político nacionalmente; - Os movimentos sociais passam a ganhar envergadura, ganhando força nacionalmente; - Políticas sociais são melhor direcionadas; - O cidadão passa a ser o centro em torno do qual se edificou um novo modelo de Estado Social. PREAMBULO • - O preâmbulo, que sintetiza os valores e propósitos da sociedade brasileira, indica que a Constituição Cidadã foi promulgada legitimamente para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias. • A CF conta, além do preâmbulo, com uma parte permanente (250 artigos), e uma parte transitória (94 artigos): - PARTE PERMANENTE: • TÍTULO I: Dos Princípios Fundamentais – decisões política fundamentais; • TÍTULO II: Dos Direitos e Garantias Fundamentais – direitos individuais, coletivos, sociais, de nacionalidade, políticos e normas sobre os partidos políticos; • TÍTULO III: Da Organização do Estado – competências entre as entidades da Federação; • TÍTULO IV: Da Organização Dos Poderes – atribuições dos três poderes; • TÍTULO V: Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas – Estado de Defesa, Sítio e Segurança Pública; • TÍTULO VI: Da Tributação E Do Orçamento – sistema tributário e princípios orçamentários; • TÍTULO VII: Da Ordem Econômica e Financeira – princípios da atividade econômica e financeira do Estado; • TÍTULO VIII: Da Ordem Social – organiza os direitos sociais (meio ambiente, a família, a criança, o adolescente, o idoso e o índio); • TÍTULO IX: Das Disposições Constitucionais Gerais. • DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS (TÍTULO I) • Estabelecem as escolhas políticas fundamentais do Estado: a) Princípio definidores da forma de Estado: FEDERAÇÃO; b) Princípios definidores da forma de Governo: REPÚBLICA; c) Princípios definidores do regime político: ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO; d) Princípios definidores da titularidade do poder: SOBERANIA POPULAR e) Princípios definidores da articulação entre os poderes: SEPARAÇÃO DE PODERES, COM INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE ELES; f) Princípios definidores dos fundamentos do Estado g) Princípios definidores dos objetivos fundamentais do Estado h) Princípios regentes das relações internacionais. • Os princípios se traduzem em verdadeiras normas jurídicas operantes e vinculantes, que todos os órgãos encarregados de criar e aplicar o Direito devem ter conta e por referência. PRINCÍPIO FEDERATIVO • Consagrou-se um modelo de Estado onde mais de um governo compartilhasse o poder político sobre o mesmo território; • A Carta de 1824 trazia a pretensão de descentralização do comando central do Império em favor da autonomia das províncias. • Em 15 de Novembro de 1889 proclamou-se a República Federativa transformando as províncias em Estados federados. • Na Carta republicana de 1891 foi a Federação consagrada como Princípio Fundamental; • Federação é a forma de Estado, constituindo-se a partir da união indissolúvel de organizações políticas autônomas; • O princípio da indissolubilidade do pacto federativo, consagrado no Brasil desde a primeira Constituição Republicana (1891), tem por finalidade conciliar a descentralização do poder político com a preservação da unidade nacional, vedando o direito de secessão. • Os Estados Federados abrem mão de algumas tantas prerrogativas, em benefício do todo, a principal delas é a SOBERANIA; • Federação deriva etimologicamente da palavra foedus, significando aliança, pacto, união; • O Estado Federal é soberano externamente e os Estados Federados são autônomos internamente; • A ideia de Federação correlaciona-se com a noção de território, que é o limite espacial dentro do qual o Estado exerce soberanamente, de modo efetivo e exclusivo, o poder de império sobre pessoas e bens. • Federação = Descentralização política dentro do mesmo território. Retira-se competências de um centro para transferi- las a outros, passando elas a ser próprias do novo centro. (Os novos centros terão capacidade política). • A descentralização deve ter assento imediato na Constituição. • A Federação pressupõe a existência de mais de uma entidade (central e parciais), dotada de capacidade política concedida pela Carta Magna. • Capacidade Política? • O cerne do federalismo repousa na autonomia das entidades que compõem o Estado Federal (único detentor do poder soberano); • O poder soberano é supremo e independente; • A soberania no plano externo torna o Estado uno e indivisível, pouco importando se no âmbito interno é centralizado (unitário) ou descentralizado (federal). • Os entes federais não possuem soberania, possuindo apenas autonomia deferida pela Carta Magna (competências rigidamente atribuídas à capacidade política). PRINCÍPIO REPUBLICANO • Define a forma de Governo, ou seja, a forma como os governantes ascendem ao Governo e como se dá a relação entre governantes e governados. • Teve origem na Constituição de 1981, sendo consagrado como princípio fundamental desde então. • Funda-se na igualdade formal entre as pessoas, na qual os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo, de regra representativo, temporário e com responsabilidade. a) Forma de Governo – Contrapõe-se a Monarquia. Concebida para governar a res publica. O poder pertence a todo povo = democracia. b) Funda na igualdade formal das pessoas – Não pode haver distinção de qualquer natureza. Não existe classe dominante e dominada. c) Em que os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo – Eleições para escolha dos representantes. O poder origina-se no povo, sendo exercido em nome e no interesse dele. (Executivo e Legislativo) d) É Governo em regra representativo – os detentores do poder político exercem-no em nome de toda população. e) ÉGoverno temporário – a transferência de poder é sempre transitória, por prazo certo. f) É Governo exercido com responsabilidade – os governantes respondem por seus atos perante os governados (ex: crimes de responsabilidade: art. 85 ). PRINCÍPIO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO • Estado de Direito: vincula-se à luta da burguesia contra o absolutismo da metade do século XVIII. Tinha por bandeira a submissão de todos, sobretudo do Estado, ao império da lei. • Estado Democrático: se assenta no pilar da soberania popular, pois a Democracia está ligada à noção de governo pelo povo. • Estado Democrático de Direito, portanto, é Estado Constitucional submetido à Constituição e aos valores humanos nela consagrados. PRINCÍPIO DA SOBERANIA POPULAR • Art. 1º... Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. • Democracia Representativa, misto entre representação e participação popular direta (Democracia Participativa) = Democracia semidireta – participação direta do povo na formação da vontade política nacional. • A Democracia Direta se estabelece no art. 14: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; (1993) II - referendo; (2005) III - iniciativa popular. (http://www2.camara.leg.br/participacao/sugira-um-projeto) PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES • Estabelece o art. 2º da CF: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. • Montesquieu explicitava que todo aquele que é investido no poder tende a dele abusar até que encontre limites; • A Constituição da Filadélfia que consagrou a fórmula da especialização dos órgãos e da recíproca limitação entre os poderes, “com o objetivo concreto de impedir a concentração e o exercício despótico do poder”; • Deve ser atribuído a cada órgão não apenas a faculdade de decidir ou estatuir certo domínio da atividade estatal, mas também a faculdade de impedir os abusos por parte dos demais órgãos. • No Brasil, surge na Constituição Imperial (1824), com a presença do quarto poder, chamado de moderador: Art. 98: O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos. • A Constituição de 1988, além de consagrar expressamente o princípio da separação dos poderes (CF, art. 2.°) e protegê-lo como cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4.°, III), estabeleceu toda uma estrutura institucional de forma a garantir a independência entre eles, matizada com atribuições de controle recíproco. • A independência entre eles tem por finalidade estabelecer um sistema de “freios e contrapesos” para evitar o abuso e o arbítrio por qualquer dos Poderes. A harmonia se exterioriza no respeito às prerrogativas e faculdades atribuídas a cada um deles. PRINCÍPIOS FUNDAMENTOS DO ESTADO BRASILEIRO • Os fundamentos de um Estado devem ser compreendidos como os valores essenciais que compõem sua estrutura. • Serão materializados: a) Forma indireta, atuando como diretriz para a elaboração, interpretação e aplicação de outras do ordenamento jurídico; b) Forma direta, quando utilizados como razões para a decisão de um caso concreto; SOBERANIA - Poder supremo e independente • Supremo (internamente): não está limitado por nenhum outro na ordem interna; • Independente (externamente): por não ter de acatar, na ordem internacional, regras que não sejam voluntariamente aceitas e por estar em igualdade com os poderes supremos dos outros povos; • A evolução do Estado de Direito formal para o Estado Constitucional Democrático fez com que, no plano interno, a soberania migrasse do soberano para o povo, exigindo-se uma legitimidade formal e material das Constituições CIDADANIA • Decorre dos princípios do Estado Democrático de Direito e Soberania Popular • Direitos Políticos (cidadania política) + Direitos e garantias fundamentais DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA • Valor constitucional supremo: utilizada para decisão, elaboração, interpretação e aplicação; • Valorização internacional; • Caráter jurídico em razão da positivação; • Dignidade como qualidade intrínseca e não como Direito; • Dignidade da pessoa humana como algo absoluto x Princípio da Dignidade da pessoa humana • Conteúdo Normativo: imposição aos poderes públicos do dever de respeito, proteção e promoção dos meios necessários a uma vida digna; a) dever de respeito; b) dever de proteção c) dever de promoção – mínimo existencial • Tripla dimensão normativa: metarnorma (diretriz hermenêutica) , princípio (dever de proteção da dignidade e de promoção dos valores) e regra (dever de respeito à dignidade, seja pelo Estado, seja por terceiros). • Além de estar previsto no art. 1º, III da CF, pode ser encontrado: • Art. 5º, III • Art. 170 • Art. 226, §7º • Art. 227 • Art. 230 • Dignidade da pessoa humana e Direitos Fundamentais • A intenção específica da consagração de um conjunto de direitos fundamentais é explicitar uma ideia de ser humano, manifestada juridicamente no princípio da dignidade da pessoa humana. • Por que esta noção não estava presente na clássica declaração de direitos humanos do século XVIII nem nas Constituições até metade do século XX? VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE- INICIATIVA • Valores sociais do trabalho: impede a concessão de privilégios econômicos condenáveis, por ser o trabalho imprescindível à promoção da dignidade da pessoa humana. • Ponto de partida para o mínimo existencial • Valorização do indivíduo perante a sociedade • Estado o dever de proteção das relações de trabalho • Liberdade de iniciativa: envolve a liberdade de empresa (indústria e comércio) e a liberdade de contrato, é um princípio básico do liberalismo econômico. • Princípio informativo e fundante da ordem econômica (CF, art. 170) • Quebra do monopólio econômico estatal (art. 177) • Ressalva: Segundo a jurisprudência do STF, “o princípio da livre-iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor”. PLURALISMO POLÍTICO • Do ponto de vista normativo, o pluralismo impõe a opção por uma sociedade na qual a diversidade e as liberdades devem ser amplamente respeitadas. • O caráter pluralista da sociedade se traduz no pluralismo social, político (CF, art. 1.°, V); Partidário (CF, art. 17), religioso (CF, art. 19), econômico (CF, art. 170), de ideias e de instituições de ensino (CF, art. 206, III), cultural (CF, arts. 215 e 216) e dos meios de informação (CF, art. 220). • Proteção das diversas liberdade: (CF, art. 5.°, IV, VI, IX, X, XIII, XIV, XVI e XVII) • A importância desses valores (pluralismo, diversidade e alteridade) é destacada pelo Min. Celso de Mello ao asseverar que o STF “haverá de continuar pautando a sua atuação – permanentemente imune a confessionalismos, a fundamentalismos e a dogmatismos, que tanto oprimem o pensamento e sufocam o espírito – pelo elevado sentido ético do pluralismo, da diversidadee da alteridade, dando prevalência ao respeito pelo outro, pelo diferente, por aquilo com que não concordamos, estimulando e praticando a crença de que, na visão da totalidade, há de sempre haver espaço para o Outro e para o dissenso [...]” OBJETIVOS FUNDAMENTAIS • Os objetivos fundamentais (CF, art. 3.°) que visam à promoção e concretização dos fundamentos da República Federativa do Brasil. • CF, art. 3.° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. PRINCÍPIOS QUE REGEM O BRASIL EM SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS • José Afonso da Silva identifica quatro inspirações para o rol de princípios consagrados neste dispositivo: (a) nacionalista, nas ideias de independência nacional (CF, art. 4.°, I), de autodeterminação dos povos (CF, art. 4.°, III), de não intervenção (CF, art. 4.°, IV) e de igualdade entre os Estados (CF, art. 4.°, V); (b) internacionalista, nas ideias de prevalência dos direitos humanos (inciso II) e de repúdio ao terrorismo e ao racismo (CF, art. 4.°, VIII); (c) pacifista, nas ideias de defesa da paz (CF, art. 4.°, VI), de solução pacífica dos conflitos (CF, art. 4.°, VII) e na concessão de asilo político (CF, art. 4°, X); (d) comunitarista, nas ideias de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade (CF, art. 4.°, IX) e na formação de uma comunidade latino-americana (CF, art. 4.°, parágrafo único)
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