Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CLIMATÉRIO E MENOPAUSA Dos aproximadamente sete milhões de folículos ovarianos presentes em um feto feminino, mais de 99% sofrem atrofia durante a vida. E a menopausa é consequência deste processo, onde ocorre uma quase cessação completa da produção ovariana de estrógeno e progesterona, acompanhada de amenorreia, a qual geralmente ocorre em torno de 51 anos de idade. Durante este período, muitas mulheres ovulam irregularmente, devido a um declínio do nível estrogênico, com consequente corpo lúteo insuficiente e déficit de progesterona ou resistência folicular ao estímulo ovulatório. O atendimento à mulher climatérica deve ser voltado para a melhoria da sua qualidade de vida, identificando e corrigindo as alterações endócrinas e metabólicas comuns à essa fase da vida, e provendo a prevenção particularmente das doenças cardiovasculares, ósseas e neoplásicas. As alterações urogenitais, psíquicas e vasomotoras, assim como as alterações de pele, são consideradas decorrentes das modificações hormonais deste período e podem ser manejadas através da terapia hormonal. Observa-se aumento da expectativa de vida da mulher através dos séculos. Tal fato, associado ao aumento da população feminina por grupo etário, faz com que esse período constitua prioridade em saúde pública. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a previsão é de aumento crescente nas próximas décadas de mulheres acima dos 50 anos, igualando-se em número às mulheres mais jovens. CONCEITO O climatério é definido pela OMS como o período de vida da mulher compreendido entre o final do período reprodutivo até a senilidade, considerado o período não reprodutivo. Apresenta duração variável, mas em geral, ocorre entre 40 a 65 anos. Dentro deste período de climatério ocorre a menopausa, que é um marco dessa fase e corresponde ao último ciclo menstrual espontâneo da mulher, reconhecida após 12 meses consecutivos de amenorreia. Se dá em média aos 51 anos de idade, sendo considerada como menopausa precoce quando se estabelece antes dos 40 anos de idade, e tardia após os 55 anos. Climatério é um PERÍODO. Menopausa é uma DATA. FISIOPATOLOGIA Alterações do Eixo Hipotálamo-hipófise-ovários Durante a vida reprodutiva da mulher, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é liberado de forma pulsátil pelo hipotálamo e se liga aos seus receptores na hipófise para estimular a liberação cíclica das gonadotrofinas: LH e FSH. Essas gonadotrofinas, por sua vez, estimulam a produção de estrogênio e progesterona, e também do peptídeo hormonal inibina. Durante o ciclo reprodutivo da mulher, o estrogênio e a progesterona exercem feedback positivo e negativo sobre a produção das gonadotrofinas hipofisárias e sobre a amplitude e a frequência da liberação de GnRH. Já a inibina exerce uma importante influência no feedback negativo sobre a secreção de FSH pela adeno-hipófise. Esse sistema endócrino rigorosamente regulado produz ciclos menstruais ovulatórios regulares e previsíveis. Durante a vida produtiva da mulher, o eixo hipotálamo-hipofisário sofre alterações no metabolismo dopaminérgico e diminuição dos receptores estrogênicos. No final da transição menopáusica, a mulher passa a apresentar redução da foliculogênese e maior incidência de ciclos anovulatórios. Além disso, nesse período, os folículos ovarianos sofrem uma taxa acelerada de perda até que, finalmente, ocorre um esgotamento no suprimento de folículos, reduzindo ainda mais a secreção de inibina. Com a insuficiência ovariana na menopausa, a liberação de estrogênio cessa, ativando o feedback negativo. Como consequência, o GnRH é liberado com frequência e amplitude máximas, sendo assim, os níveis circulantes de FSH e LH aumentam e se tornam quatro vezes maiores que no ciclo reprodutivo. Alterações Ovarianas A senescência ovariana é um processo que se inicia efetivamente na vida intrauterina, no interior do ovário embrionário, em razão da atresia de oócitos programada. A partir do nascimento, os folículos primordiais são ativados continuamente, amadurecem parcialmente e, em seguida, regridem. Essa ativação folicular prossegue em um padrão constante, independente de estimulação hipofisária. Uma depleção mais rápida dos folículos ovarianos se inicia no final da quarta e início da quinta décadas de vida e se mantém até o momento em que o ovário menopáusico é praticamente destituído de folículos. Em média, uma mulher pode ter aproximadamente 400 eventos ovulatórios durante sua vida reprodutiva. Isso representa um percentual muito pequeno quando comparado aos 6 a 7 milhões de oócitos presentes na 20ª semana de gestação, ou mesmo dos 400.000 oócitos presentes no nascimento. O processo de atresia dos folículos não dominantes é o principal evento que leva, finalmente, à perda da atividade ovariana e à menopausa. É no período do climatério que se verifica redução progressiva importante das dimensões dos ovários. Mulheres após a menopausa apresentam menor volume ovariano que na pré- menopausa, sugerindo que a alteração volumétrica seja principalmente relacionada com a redução da capacidade funcional. Alterações nos Esteroides Suprarrenais O sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA) é produzido quase exclusivamente pela suprarrenal. Com o avanço da idade, observa-se declínio na produção suprarrenal de SDHEA. Outros hormônios suprarrenais também são reduzidos com a idade. A androstenediona atinge seu ponto máximo entre 20 e 30 anos de idade, e caindo para 62% em relação a esse nível em mulheres com idade entre 50 e 60 anos. A pregnenolona diminui em 45% entre a vida reprodutiva e a menopausa. Os ovários contribuem para a produção desses hormônios durante os anos reprodutivos, porém, após a menopausa, somente a glândula suprarrenal mantém essa síntese hormonal. Alterações no Nível de Globulina de Ligação ao Hormônio Sexual Os principais esteroides sexuais, estradiol e testosterona, circulam no sangue ligados a um transportador de glicoproteínas produzido no fígado, conhecido como globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG). A produção de SHBG declina após a menopausa, o que pode aumentar os níveis de estrogênio e testosterona livres ou não ligados. Alterações Endometriais As alterações microscópicas que ocorrem no endométrio refletem diretamente o nível sistêmico de estrogênio e de progesterona e, consequentemente, podem ser muito diferentes dependendo da fase da transição menopáusica. Durante a fase inicial da transição menopáusica, o endométrio reflete ciclos ovulatórios que prevalecem nesse período. Durante o estágio final da transição menopáusica, a anovulação é muito comum, e o endométrio refletirá o efeito do estrogênio atuando sem oposição à progesterona. Portanto, alterações proliferativas ou alterações proliferativas desordenadas são achados frequentes no exame patológico de amostras de biópsia endometrial. Com a menopausa, o endométrio se torna atrófico em razão da ausência de estimulação estrogênica. FATORES INFLUENCIADORES A idade da ocorrência da menopausa parece geneticamente programada para cada mulher, através do número de folículos ovarianos, mas inúmeras condições podem influenciar no envelhecimento ovariano, como: ✓ Fatores socioeconômicos: Mulheres que têm longas jornadas de trabalho e exercem atividades estressantes têm mais chances de entrar na menopausa mais cedo; ✓ Paridade: Mulheres nulíparas têm menopausa mais precocemente, enquanto o aumento da paridade correlaciona-se à menopausa mais tardia devido a diminuição do número de ciclos menstruais ovulatórios; ✓ Tabagismo: nesse caso, a idade da instalação da menopausa é antecipada de 12 a 18 meses. Essa antecipação em fumantes tem sido explicada pela deficiência estrogênica causada diretamente pelo tabaco, podendo não só antecipar o aparecimento de sintomas da menopausa, mas também das doenças estrógeno-relacionadas,como a osteoporose e doenças cardiovasculares; ✓ Altitude: Mulheres que vivem em países de altitudes maiores podem apresentar a menopausa em idade mais precoce; ✓ Nutrição: Deficiência nutricional e baixo peso levam à ocorrência precoce da idade da menopausa; ✓ Fatores Cirúrgicos e Medicamentosos: quimioterapia, radioterapia pélvica, cirurgias ovarianas e histerectomia também podem resultar em antecipação da menopausa. SINTOMAS DO CLIMATÉRIO Embora o climatério e a menopausa sejam eventos fisiológicos na biologia da mulher, o aparecimento ou não de sintomas dependerá não somente de variações hormonais próprias desse período, mas também de fatores socioeconômicos. No período do climatério ocorrem alterações na fisiologia da mulher, caracterizadas por alterações hormonais, modificações funcionais, como disfunções menstruais e sintomas vasomotores, modificações morfológicas, como atrofia mamária e urogenital, alterações da pele e mucosas, além de alterações em sistemas hormônio-dependentes, como o cardiovascular e esquelético. Tais mudanças repercutem na saúde geral da mulher, podendo alterar sua autoestima e qualidade de vida, e também na longevidade. Manifestações Menstruais No período da perimenopausa o intervalo entre as menstruações pode diminuir devido ao rápido amadurecimento dos folículos, o que ocorre pelos elevados níveis de gonadotrofinas ou os intervalos menstruais podem estar aumentados pela persistência dos níveis de estrógeno e ausência de progesterona. Quando ocorre a menstruação, como o endométrio está hiperplasiado por essas alterações hormonais, o sangramento pode ser abundante e com maior duração. A anovulação é a causa mais comum de sangramentos erráticos durante a transição, no entanto é importante considerar outras causas como hiperplasia e carcinoma endometrial, neoplasias sensíveis ao estrogênio, como pólipos endometriais e leiomiomas uterinos, e episódios relacionados com gravidez. Manifestações Neurogênicas/ Vasomotoras As manifestações neurogênicas compreendem os sintomas mais comuns da síndrome do climatério: ondas de calor, conhecidas como fogachos, sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesia, insônia, perda da memória e fadiga. O fogacho é o segundo sintoma mais frequente na perimenopausa, sendo experimentado por cerca de 80% das mulheres. A sua frequência não segue um padrão, podendo ser diário, semanal ou mensal. Cessa, na maioria das vezes, sem que qualquer tratamento seja feito, entretanto, algumas mulheres irão experimentar estes desconfortos por vários anos após a menopausa. A patogênese dos fogachos não é conhecida, mas é aparentemente originária no hipotálamo e pode estar relacionada com a queda estrogênica, levando à formação diminuída de catecolestrógenos no cérebro. Outra hipótese é que a diminuição nos níveis estrogênicos levaria à queda nas concentrações dos receptores de β-endorfinas, resultando na perda da inibição da atividade noradrenérgica e, consequentemente, estimulação dos neurônios produtores de GnRH. A maioria das mulheres que experimenta os fogachos descreve sensações de ondas de calor que ocorrem no tórax, pescoço e face, esse desconforto dispara a resposta termorreguladora normal para o calor, incluindo sudorese e vasodilatação cutânea, o que leva à ruborização da pele. Os fogachos se caracterizam por aumento na pressão arterial sistólica tanto na vigília quanto durante o sono. Além disso, a frequência cardíaca aumenta entre 7 e 17 batimentos por minuto, aproximadamente no mesmo período em que ocorrem vasodilatação periférica e sudorese. Sua duração é variável e ocorre principalmente à noite, atrapalhando o sono e apresentando um efeito dominó sobre o humor, podendo surgir irritação, insônia e depressão. Manifestações Psicogênicas As limitações impostas e a insegurança proveniente do quadro clínico exacerbado, em decorrência de forte deficiência estrogênica, possam influir desfavoravelmente no estado emocional da mulher e interferir no relacionamento familiar, na adaptação sexual e na integração social. Alguns sintomas psíquicos atribuídos a essa fase são: diminuição da autoestima, irritabilidade, labilidade afetiva, sintomas depressivos, dificuldade de concentração e memória, dificuldades sexuais e insônia. Manifestações no Metabolismo Ósseo Sabe-se que a idade está associada com progressiva rarefação do esqueleto, dessa forma, a perda óssea e as fraturas osteoporóticas são bastante comuns nas mulheres na menopausa. Essa situação acontece devido à queda de estrogênio que diminui a atividade dos osteoblastos e aumenta a atividade dos osteoclastos. Assim, não se forma osso e, o que é mais importante, há reabsorção; a matriz óssea se desfaz e libera cálcio, ocorrendo alta remodelação óssea e instalando-se progressivamente a osteopenia e a osteoporose. Manifestações no Metabolismo Lipídico Os esteroides sexuais podem influenciar o metabolismo lipídico e induzir alterações nas apolipoproteínas que constituem a parte proteica do sistema de transporte dos lipídeos. Tanto a apolipoproteína A (apo-A) como a apolipoproteína B (apo-B) mostram aumento significativo como resultado do decréscimo dos estrógenos sanguíneos. Antes da menopausa, os níveis de LDL são menores e os de HDL são maiores nas mulheres se comparados com homens da mesma idade. Após a menopausa, os níveis de LDL aumentam, com tendência para partículas menores, mais densas e potencialmente mais aterogênicas, enquanto os níveis de HDL diminuem. A deficiência estrogênica da pós-menopausa é considerada como fator relevante na etiopatogenia da doença cardiovascular e das doenças cerebrovasculares isquêmicas. Manifestações Urogenitais Devido à origem embriológica comum, tanto a bexiga quanto a uretra e órgãos genitais têm respostas semelhantes às mudanças hormonais, especialmente ao estrógeno. Sendo assim, a deficiência estrogênica ocasiona atrofia epitelial de tais órgãos e dos tecidos de sustentação, manifestando-se com prolapsos genitais, sintomas vaginais como ressecamento, sangramento e dispareunia, e sintomas uretrais como disúria, frequência e urgência miccional. Manifestações Tegumentares No climatério ocorrem alterações em todas as camadas da pele, que variam com a vulnerabilidade individual, determinada geneticamente, e a influência de agentes externos e internos, que agem sobre ela durante a vida. O hipoestrogenismo atua diminuindo a produção de colágeno pela alteração da polimerização dos mucopolissacarídeos. Consequentemente a derme diminui a síntese de ácido hialurônico resultando na diminuição do conteúdo de água. Com o avançar da idade, a pele perde a elasticidade, os músculos enfraquecem e ficam frouxos, o coxim subcutâneo dissolve-se e a pele mais afinada perde o apoio, permitindo o aparecimento das rugas. Dada à redução no número de melanócitos, podem aparecer manchas hipocrômicas ou formação de sardas e melanose nas áreas expostas ao sol, devido à hiperplasia de melanócitos da junção dermoepidérmica. Outras alterações À medida que as mulheres evoluem para a menopausa, elas experimentam mudanças na função sexual que são multifatoriais e compreendem domínios biológicos, psicológicos e sociais. Os sintomas climatéricos, principalmente os fogachos e a dispareunia são fatores associados à disfunção sexual. A histologia das mamas após a menopausa é de progressiva involução de todos os tecidos componentes da glândula, exceto o adiposo, ficando mais pesadas, flácidas e pêndulas. DIAGNÓSTICO De maneira geral, o diagnóstico de transição menopáusica é essencialmente clínico, e pode ser feito com a comprovação de sintomas próprios da idade e exame físico completo. Entretanto, muitos sintomas característicos da menopausa também podem refletir condições patológicas e, em muitos casos, há indicação de realizar exames para excluir outrascausas. Além disso o rastreamento e a identificação das doenças crônicas, em especial daquelas de mais interesse para esse período da vida, deve fazer parte obrigatória do protocolo de investigação de mulheres no climatério. Segue os exames que podem ser solicitados: Poucas alterações hormonais no eixo hipotálamo-hipófise-ovários apresentam variações suficientemente distintas para serem usadas como marcadores séricos da transição para a menopausa. Na pós-menopausa, entretanto, em razão do aumento acentuado nos níveis de FSH que foi descrito, esta gonadotrofina se torna um marcador mais confiável. TRATAMENTO O tratamento é focado no alivio de sintomas climatéricos, sendo os principais sintomas tratados os fogachos e a secura vaginal. A terapia de reposição hormonal (TRH) continua sendo uma possibilidade terapêutica importante para mulheres no climatério, devendo-se sempre lembrar que quando bem indicada, ela deve fazer parte de uma estratégia global que inclua recomendações concernentes a atividade física, alimentação saudável, combate ao tabagismo e ao excesso de peso, entre outros. A orientação é tratar as sintomáticas com menopausa menor que 10 anos ou abaixo dos 60 anos, sendo contraindicada nos casos de câncer de mama, doença hepática ativa, Ca de mama e endométrio, porfiria, sangramento vaginal de causa desconhecida, doenças coronarianas ou cerebrovascular, LES, meningioma, histórico de trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral. O principal hormônio utilizado na terapêutica é o estrogênio, que é o melhor para minimizar os fogachos. A reposição hormonal pode ser por esquema puro estrogênico ou combinado a progesterona. Em pacientes histerectomizadas a reposição deve-se apenas por estrogênio, em contrapartida, mulheres com útero a terapêutica é combinação do estrogênio e da progesterona, já que a progesterona é usada para proteção endometrial. Ao se indicar e escolher a forma apropriada de reposição hormonal a cada caso deve-se levar em conta os seguintes parâmetros fundamentais: Janela de Oportunidade A Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) cunhou em 2004 o termo “janela de oportunidade”, indicando que haveria um momento propício para o início da terapia de reposição hormonal após a menopausa. Dessa forma, a terapia de reposição hormonal deveria ser iniciada nos primeiros meses ou anos após a menopausa para que se pudesse pensar em ausência de risco cardiovascular. Enquanto isso, a International Menopause Society (IMS) publicou recomendações em 2007 que consideraram a existência de tal “janela de oportunidade”. Segundo a posição oficial da IMS, não há evidência de benefício da terapia de reposição hormonal em doença cardiovascular instalada, mas existe potencial para prevenção se iniciada na transição menopáusica, no entanto, não se recomenda a indicação da terapêutica apenas com a finalidade de proteção cardiovascular. Vias de Administração da terapia de reposição hormonal Os hormônios da terapia de reposição hormonal podem ser administrados por via oral ou parenteral. A via oral é mais difundida pela facilidade de administração e a via parenteral é representada no Brasil principalmente por via transdérmica, via percutânea, implante subdérmico, via vaginal e via intramuscular. Dentre estes, os mais utilizados são os transdérmicos e os percutâneos. Quando o hormônio é administrado por via oral, ele é absorvido no tubo digestivo, atinge o sistema porta chegando ao fígado, no qual os esteroides são parcialmente metabolizados e também exercem influências no metabolismo. Apenas após essa passagem hepática é que os hormônios da terapia de reposição hormonal chegarão à circulação sistêmica que os levará aos diversos órgãos e tecidos onde seus efeitos são desejados. Com isso, a “primeira passagem hepática” favorece mudanças enzimáticas impactando na cascata de coagulação e, portanto, aumentando o risco de doença tromboembólica venosa. Além disso, o elevado nível do estrogênio no fígado na administração por via oral também interfere nos processos hepáticos do metabolismo dos lipídeos e das lipoproteínas. É por este motivo que o estrogênio por via oral eleva os níveis séricos de HDL e diminuiu os de LDL. Todavia, faz também com que os níveis de triglicerídeos sejam aumentados. Com a administração parenteral, o estradiol administrado atinge primeiramente a circulação sistêmica e apenas depois chega ao fígado onde será metabolizado. Isso é mais próximo de como o ovário entrega o estradiol endógeno na circulação, ou seja, via circulação sistêmica. Sendo assim, a dose administrada pode ser menor, adquirindo o mesmo efeito, não apresentando os efeitos da primeira passagem hepática. Observando então os efeitos da via de administração do estrogênio, pode-se fazer uma escolha mais adequada a cada caso. Para mulheres as quais haja maior preocupação com o risco de doença tromboembólica venosa, deve-se evitar a via oral e, caso indicada a terapia de reposição hormonal, deve-se escolher a via transdérmica. Com relação ao perfil lipídico, o estrogênio por via oral é mais eficaz para melhorar o padrão das frações do colesterol, já que diminui LDL e aumenta HDL. Todavia, é necessário observar que a via oral aumenta os níveis de triglicerídeos, assim para mulheres que os apresentem elevados, deve-se escolher a via não oral. Esquemas de TH Os esquemas podem ser estrogênicos puros, estroprogestagênicos/terapia hormonal combinada e outras opções terapêuticas, como: tibolona, anticonvulsivantes ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina. Esquemas de Estrogênios Puros Esse esquema apresenta indicação exclusivamente para mulheres histerectomizadas. Pela via oral, podem ser utilizados o estradiol ou os estrogênios conjugados, enquanto que pela via transdérmica, percutânea ou subdérmica, o estradiol é o esteroide disponível. O estrogênio deve ser administrado de forma contínua, uma vez que podem ocorrer sintomas climatéricos nos intervalos de esquemas cíclicos. Os esquemas com dose baixa são os preferidos para iniciar o tratamento, pois apresentam grande eficácia no controle dos sintomas, e é recomendado que seja utilizada a menor dose para atingir o efeito desejado. Esquemas Estroprogestativos/ Combinados Podem ser realizados em esquemas contínuos ou cíclicos, sendo recomendado um mínimo de 12 ou 14 dias de administração de progestagênio por ciclo, a fim de se reduzir o risco de hiperplasia e de carcinoma endometrial. No entanto, o esquema cíclico vem sendo questionado, por ter a possibilidade de não evitar as alterações endometriais neste esquema. Em geral, os progestagênios são administrados por via oral, com exceção do acetato de norestisterona que também está disponível em associação com estradiol por via transdérmica. O dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel é uma alternativa a fim de se obter redução dos eventos adversos associados ao progestagênio sistêmico. Um terceiro esquema estroprogestativo é o de progestagênio intermitente, no qual há alternância de períodos de três dias só de estrogênio seguidos por três dias com estrogênio e progestagênio e assim, sucessivamente. O produto disponível no mercado traz estradiol associado ao norgestimato. As doses de progestagênios empregadas são extremamente variáveis a depender do tipo de progestagênio, do esquema escolhido, da dose de estrogênio cujo efeito endometrial deve ser contraposto pelo progestagênio e da via de administração. Outras opções A tibolona é um esteróide sintético proveniente do noretinodrel, derivado da 19- nortestosterona, com propriedade estrogênica, progestagênica e androgênica. Ao contrário da terapia hormonal combinada tradicional, a tibolona não estimula o tecido mamário. Além disso, dificulta aconversão para estrogênios ativos no tecido mamário. Em resumo, a tibolona se comporta em nível uterino como uma terapia hormonal combinada contínua, porém, sem efeito estimulante no tecido mamário, com ação menos favorável nas lipoproteínas, efeito protetor ósseo com redução do risco de fraturas, associado a efeito androgênico. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina são eficazes nas queixas vasomotoras, os mais usados na terapêutica são Desvenlafaxina, Venlafaxin, Paroxetina, Escitalopram e Citalopram. A Síndrome geniturinária da menopausa surge muitas vezes após a menopausa e caracteriza- se pela secura vaginal, irritação e flacidez da mucosa, diminuição da líbido, dores durante o ato sexual e associação com incontinência urinária de urgência. A principal causa é a diminuição dos estrogénios. À medida que os estrogénios diminuem, as paredes da vagina ficam mais finas, mais secas e menos elásticas, provocando frequentemente ardor. Também pode ocorrer um desequilíbrio da flora vaginal, aumentando o risco de infeções vaginais e urinárias. A terapêutica utiliza-se de estrogénios locais, com aplicação vaginal na forma de creme, gel, ou comprimidos, existe também hidratantes vulvovaginais.
Compartilhar