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Pares cranianos e inervação das estruturas oculares – Dra Natacha Bíscaro 1 Pares cranianos e inervação das estruturas oculares Os nervos cranianos têm importante papel na inervação das estruturas oculares. Os nervos se originam no tronco encefálico e passam pelo seio cavernoso em direção à orbita. O nervo óptico (NC II), sai do polo posterior do globo ocular, caminha pela órbita, passa pelo canal óptico e se encontra para formar o quiasma óptico. O nervo oculomotor (NC III), sai da junção entre o mesencéfalo e a ponte e se divide Se divide em dois ramos superior e inferior. A porção eferente somática tem papel na inervação dos músculos extraoculares reto superior, inferior e medial, músculo oblíquo inferior e o músculo elevador da pálpebra superior. Uma paralisia do oculomotor promove incapacidade de abrir o olho, abdução do globo ocular, disfunção na rotação medial, anisocoria com midríase do olho afetado e distúrbio nos movimentos de elevação e depressão do globo ocular. Uma paralisia incompleta pode não cursar com todas as características. As fibras eferentes viscerais promovem inervação do músculo ciliar e do esfíncter da pupila – parassimpático. O movimento pupilar de miose e midríase tem relação com o sistema nervoso autônomo parassimpático e simpático, respectivamente. O músculo ciliar quando por ação parassimpática contrai e diminui a tensão sobre o cristalino, de modo que aumenta o diâmetro anteroposterior, aumentando o poder da lente por deixa-la mais convergente – permitindo a acomodação e o foco em objetos mais pertos do olho, com mais nitidez. Com a idade o cristalino fica menos complacente e perde a capacidade de acomodação (síndrome do braço curto). O nervo troclear (NC IV), sai da junção entre o mesencéfalo e a ponte, mais lateralmente, tendo função de inervar o oblíquo superior. O nervo abducente (NC VI) se origina da transição entre a ponte e o bulbo, de modo que inerva o reto lateral. O nervo trigêmeo (NC V), sai no meio do corpo da ponte, gerando ramos mandibular, maxilar (inerva pálpebra inferior) e oftálmico. O ramo oftálmico ainda se subdivide em nervos lacrimal (glândula lacrimal), frontal (fronte, supercílio e pálpebras superiores) e nasociliar (se direciona ao globo ocular para inervação sensitiva simpática do músculo dilatador da pupila, corpo ciliar e pálpebras). De modo geral, o corpo ciliar é inervado por fibras simpáticas (nasociliar) e parassimpático para acomodação (oculomotor). O nervo facial (NC VII), transição da ponte com o bulbo, mais lateralmente. Inerva músculos responsáveis pela mímica facial, como o orbicular para fechamento palpebral. A paralisia periférica idiopática de Bell se caracteriza como a causa mais comum de paralisia do nervo facial, que frequentemente melhora em até seis meses. Como sintomas tem-se o fechamento incompleto da pálpebra disfunção da ação do orbicular com prevalência de seu antagonista que é o elevador da pálpebra superior. O fenômeno de Bell é normal e definido como a capacidade do paciente elevar o olho para proteção da córnea, após seu fechamento forçado. Pares cranianos e inervação das estruturas oculares – Dra Natacha Bíscaro 2 Assim, pela presença de um ‘Bell ruim’ na paralisia, quando a pálpebra fica aberta (lagoftalmo) pode-se ter uma ceratopatia de exposição – que se inicia com uma desepitelização e evolui com úlcera e posterior opacidade da região. O olho seco pode ser por evaporação da lágrima em decorrência da abertura palpebral excessiva, ou pelo acometimento da glândula lacrimal. O tratamento é feito com lubrificação e fechamento do olho com tampão ao dormir. Além disso, pode-se ter queda do supercílio, retração da pálpebra superior por não ter o antagonismo do músculo orbicular, ectrópio em que a pálpebra vira para fora por perda do tônus do orbicular e lacrimejamento por acometimento da glândula lacrimal e associação com ectrópio. O reflexo pupilar fotomotor direto se caracteriza quando observada uma constrição pupilar do olho direito ao dirigir a luz para a pupila direita. Enquanto isso, o reflexo fotomotor indireto ou consensual é quando ocorre a constrição pupilar do olho esquerdo ao dirigir a luz da lanterna para a pupila direita. Sabe-se que luz atravessa córnea, cristalino, humor vítreo e chega na retina (10 camadas). Os bastonetes estão na região periférica da retina, fato pelo qual a pupila precisa se expandir no escuro, enquanto que os cones estão no centro, então a pupila pode se contrair no claro. As células ganglionares irão compor o nervo óptico, estão distribuídas em toda retina e precisam ser despolarizadas. O estímulo entra pelo nervo óptico, em que a fibra medial faz sinapse no mesencéfalo contralateral e a fibra lateral faz sinapse no núcleo ipsilateral nos núcleos de Edingher Westphal, tendo contração pupilar dos dois olhos. O caminho reverso é feito pelo oculomotor, que segue até o esfíncter da pupila para promover o fechamento. O defeito pupilar aferente relativo ou pupila de Marcus Gunn ocorre passando a luz de um olho para o outro rapidamente (swinging flashlight test), em que se observa a pupila do olho afetado dilatar ao receber a luz. Assim, espera-se um defeito de nervo óptico que promove dificuldade de estimulação da miose. Pode ser causado por etiologias que afetem as células ganglionares, como por neurite óptica, isquemia óptica, glaucoma, infecção retiniana, tumor intraocular, trauma, degeneração macular severa, entre outros – de modo geral tem-se morte celular extensa, degeneração do disco óptico e incapacidade de propagação do estímulo luminoso. As fibras da retina temporal passam pelo quiasma óptico na zona lateral e seguem pelo trato óptico até chegarem no corpo geniculado lateral ipsilateral, seguindo para o córtex occipital pelas radiações ópticas. As fibras da retina medial cruzam pelo meio do quiasma e seguem pelo trato óptico contralateral para o corpo geniculado lateral contralateral e em direção ao córtex occipital pelas radiações ópticas contralaterais. As fibras mediais enxergam o campo visual temporal, enquanto que a retina temporal enxerga campo medial. Além disso, as fibras superiores enxergam o campo visual inferior, e vice-versa – campo visual sempre é contrário a retina. Em todo exame de campo visual tem-se a mancha cega no campo temporal, que é o local que ocorre a passagem do nervo óptico na retina medial. 1) Lesão do nervo óptico do lado direito e olho esquerdo normal. Pode ocorrer por uma lesão unilateral que pega fibras temporais e nasais, como um meningioma ou glioma com exoftalmia e dano ao nervo óptico. 2) Hemianopsia heterônima pode ocorrer por lesão caprichosa no meio do quiasma óptico pegando apenas fibras mediais e tendo perda de campo visual bitemporal, sem lesar fibras laterais. Como causas pode-se ter adenoma de hipófise ou craniofaringioma. 3) Tem-se lesão que comprime apenas a fibra lateral do quiasma óptico, tendo perda apenas do campo medial ipsilateral. 4) Hemianopsia homônima que é caracterizada quando se tem uma lesão de trato óptico com alteração de campo visual temporal por lesão de fibra medial em um olho e no outro ocorre uma alteração de campo Pares cranianos e inervação das estruturas oculares – Dra Natacha Bíscaro 3 visual medial por lesão de fibra lateral, ocorrendo sempre a direita ou sempre a esquerda – fica preto no campo visual. 5) Lesão posterior ao corpo geniculado de uma única radiação óptica. 6) Lesão posterior ao corpo geniculado de uma única radiação óptica. 7) Lesão de ambas radiações de um lado, gerando uma hemianopsia homônima. O papiledema é o edema do disco óptico bilateral causado por necessariamente por aumento da pressão intracraniana, tendo borda borrada e nervo elevado. Como etiologia pode-se ter tumores intracranianos, hipertensão intracraniana idiopática, meningite, encefalite,hemorragia subaracnoide, trombose de seio cavernoso, entre outros. Como diagnóstico diferencial tem-se as drusas de nervo óptico, que são tecidos benignos que crescem bilateralmente na borda do disco óptico (pseudopapiledema), podendo ser confirmada por ultrassom, campo visual normal, entre outros. A papilite também pode entrar como diagnóstico diferencial, sendo uma inflamação do nervo óptico quase sempre infecciosa e unilateral. Como exemplo tem-se a papilite por Bartonella henselae na doença da arranhadura do gato, essa que é bilateral, com presença de exsudato em imagem de estrela macular e inflamação do nervo óptico. Uma neuropatia óptica hipertensiva deriva de uma hipertensão sistêmica crônica ou pico hipertensivo, tendo nervo óptico edemaciado associado a outras características retinianas e papilares típicas da doença. Na oclusão de veia central da retina (OVCR), tem-se extravasamento de sangue nos vasos circundantes que estão obstruídos, podendo ter edema do disco óptico pela inflamação local, sendo geralmente unilateral. A neuropatia óptica isquêmica anterior (NOIA) pode ocorrer por oclusão das artérias que nutrem o disco óptico, geralmente em pacientes com mais de 50 anos, ocorrendo perda visual súbita, defeito pupilar aferente ou pupila de Marcus Gunn, campo visual com defeito altitudinal e edema de disco óptico quando o acometimento for mais crônico. Como etiologia pode-se ter relação com aterosclerose, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, entre outros. A papilopatia diabética pode causar uma neuropatia na fase mais avançada Pares cranianos e inervação das estruturas oculares – Dra Natacha Bíscaro 4 da doença, tendo alterações retinianas características que auxiliam na diferenciação do papiledema. Uma neuropatia óptica relacionada a tireoide também pode causar edema de papila por processo inflamatório causado por aumento da massa orbital muscular e de tecido adiposo e consequente compressão do nervo. A neurite óptica é um processo inflamatório do nervo óptico que causa perda visual sutil ou profunda que deteriora em dias, geralmente em pacientes de 18 a 45 anos. Começa como uma dor orbital que piora com movimentação ocular, tem-se perda adquirida de visão para cores – principalmente vermelho, sintomas neurológicos como formigamento de extremidades e fraqueza, defeito pupilar aferente relativo, defeito de campo visual e possível edema de disco óptico – se não tiver edema é considerada um quadro posterior NOIP. Como causas tem-se esclerose múltipla, neuromielite óptica e idiopática. O tratamento é feito com pulsoterapia de corticoides. A neuropatia óptica nutricional corre por desnutrição e deficiência de vitamina B12 que culmina em alteração do disco óptico irreversível, palidez de papila temporal, alteração de campo visual e baixa visual crônica e progressiva. Pode ser por neuropatia álcool-tabaco, anemia perniciosa e pós- gastrectomia. O tratamento é por cessação do tabagismo e do alcoolismo, associado a reposição de hidroxicobalamina. Drusas do nervo óptico Papilite por Bartonella henselae Neuropatia óptica hipertensiva Oclusão de Veia Central da Retina Neuropatia óptica nutricional
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