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A Primeira Grande Guerra- Márcia Mendes Motta

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24/3/2014 www.bidvb.com:2300/+biblioteca dos bidvinianos/+artigos e textos diversos/Primeira grande guerra.txt
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A Primeira Grande Guerra
Márcia Maria Menendes Motta
AS POTÊNCIAS EM CONFLITO E A GUERRA
A Primeira Guerra Mundial envolveu vários países, mas representou, principalmente, 
o confronto entre quatro potências: França, Inglaterra, Rússia, por um lado, e a 
Alemanha, do outro. Para compreender as razões da eclosão deste primeiro conflito 
mundial é preciso ter em mente que ele foi uma guerra imperialista, onde as 
rivalidades políticas expressavam a competição econômica das potências em 
conflito.
As principais nações envolvidas eram diferentes entre si, mas, apesar disso, as 
transformações ocorridas na Europa durante a segunda metade de século 18 e por 
todo o século 19, caracterizadas pelo aparecimento do capitalismo industrial, só 
podem ser entendidas em seu conjunto. As diferenças entre países refletiam os 
problemas criados pela industrialização e a conseqüente competição por mercados e 
capitais. Em suma, o desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo 
inevitavelmente em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão 
imperialista, ao conflito e à guerra (Hobsbawm, 1995, p. 437).
Comecemos pela Inglaterra, a primeira nação industrial do mundo de então. Em fins 
do século 18, a Inglaterra tinha dado início à Revolução Industrial. Através da 
utilização da máquina a vapor e da indústria têxtil, os ingleses iniciaram um 
processo de modificação das formas de produzir que alteraria a sociedade em todos 
os seus aspectos. Além disso, o processo de fechamento dos campos havia liberado 
grande parte da população camponesa, que, expulsa do campo, foi para a cidade em 
busca de emprego, A aceleração do crescimento econômico inglês se beneficiava da 
existência de um amplo e consolidado mercado interno. Além disso, havia um 
importante comércio ultramarino, sendo a Inglaterra considerada como "a senhora 
dos mares". 
No entanto, na primeira década do século 20, aquele país "pagava o preço" por seu 
pioneirismo. O surgimento de outros países industriais colocou um limite à 
expansão da indústria britânica. A experiência inglesa servia como modelo para os 
novos países industriais. Isso não quer dizer que eles imitavam passo a passo o 
que havia ocorrido com a Inglaterra. Isso, sabemos, era impossível. Eles não 
precisavam passar por todos os estágios, podiam "queimar etapas", pois, à luz da 
realidade britânica, acumulavam um maior conhecimento acerca do processo 
industrial. Assim, ameaçada pelo crescimento econômico das outras potências, a 
Inglaterra tinha - naquela época - equipamentos e tecnologias obsoletos em 
comparação, principalmente, com a forte indústria alemã.
Vejamos então a experiência alemã. Em menos de uma geração, a Alemanha 
transformou-se de um conjunto de estados economicamente atrasados num país 
unificado e forte. Impulsionada pela indústria pesada, com uma base tecnológica 
muito avançada, a Alemanha adquiriu o status de potência em poucos anos. Sem 
romper as estruturas políticas mais arcaicas da sociedade, o Estado alemão 
apoiava-se no poder dos grandes proprietários de terra e impulsionava sua 
industrialização, que tinha como característica uma forte associação entre a 
indústria e os bancos. O estímulo à construção de estradas de ferro ajudou a 
consolidar o mercado interno, ao mesmo tempo que fortaleceu sua industrialização. 
O processo de industrialização alemão foi resultado de um planejamento cuidadoso. 
Para responder à forte concorrência britânica, o Estado alemão estimulou a 
formação de cartéis, favorecendo a generalização de grandes conglomerados 
industriais capazes de concorrer nos mercados nacional e internacional. Além 
disso, desde cedo, o Estado percebeu que sua desvantagem econômica poderia ser 
superada através da educação. Assim, ao patrocinar e estimular um sistema de 
educação técnica e científica direcionada à industrialização avançada, o Estado 
formou em poucos anos uma nova geração de homens científica e tecnicamente 
qualificados, "preparados para acabar rapidamente com a inferioridade alemã na 
indústria e para assegurar o primeiro lugar à Alemanha nas indústrias dependentes 
da ciência, que se estavam a tornar cada vez mais importantes".
A França era a outra potência. Sua industrialização havia seguido um curso diverso 
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do da Inglaterra, e possuía características surpreendentes. No início do século 
19, a França tinha uma economia ainda dominada pelo setor agrário. A maior parte 
da população francesa vivia no campo. Neste sentido, o mercado interno era pouco 
desenvolvido, pois os camponeses só esporadicamente compravam algum produto 
industrial. As poucas industrias existentes atendiam a uma pequena parcela da 
população que vivia nas cidades. Além disso, a concorrência dos produtos ingleses 
desestimulava os investimentos que pretendessem rivalizar com eles.
Assim, ao contrário das indústrias têxteis inglesas, os franceses, desde o início, 
concentraram suas indústrias nos produtos de qualidade, aproveitando o fato de que 
a cultura francesa era, àquela época, sinônimo de beleza e bom gosto. Com o 
auxílio do Estado e com o apoio do capital inglês, foram construídas estradas de 
ferro que permitiram a consolidação do mercado nacional, encorajando o 
investimento na indústria em larga escala e a sua concentração em locais mais 
favoráveis. Apesar dos avanços porém, a França era ainda um país atrasado, se 
comparado à Inglaterra; particularmente, à Alemanha. Para alguns autores, a razão 
desse atraso em vez fosse decorrência do fato de que a industrialização francesa 
tenha só um fator de menor ruptura social, na medida em que preservou, por 
exemplo, a sociedade camponesa.
A quarta e última potência era a Rússia. Sua força não estava na industria. De 
cerra forma, ela era um "gigante com pés de barro". Havia de ser um setor 
industrial eficiente e tecnologicamente avançado, mas este setor uma ilha num país 
de camponeses, pois cerca de 79% da população r eram ainda compostos de pessoas 
que viviam no campo. Portanto, um de imensos contrastes, onde o que havia então de 
mais moderno em ter industriais convivia com sociedades agrárias miseráveis. Se 
podemos falar que havia um processo industrial em curso na Rússia, não podemos nos 
esquecer de que tal industrialização era dependente de capital estrangeiro 
vésperas da Primeira Guerra Mundial, o capital internacional controla cerca de 72% 
dos investimentos diretos no setor metaI/mecânico e investe fortemente na 
indústria têxtil, até então reservada ao investimento de capitalistas russos.
A Rússia era, em suma, uma potência em número de habitantes. O populoso dos países 
europeus era dominado por um Estado militarizado e autoritário, que procurava 
atuar como intermediário entre o capital internacional e a indústria. Cabia a esse 
Estado a responsabilidade de assegurar a ordem e a paz social, tentando impedir as 
revoltas dos operários e camponeses contra a miséria que então assolava o país. A 
Primeira Guerra só foi crescer a miséria e a desorganização econômica, trazendo à 
luz a frágil da industrialização desse país.
O SÉCULO 20
A descoberta de novas fontes de energia, de novos remédios e de novas tecnologias 
fortalecia a crença na inesgotável capacidade humana de inventar, de criar novos 
produtos, dando a ilusão de que se estava vivendo um período áureo da humanidade. 
Era a Belle Époque, conhecida pelo seu otimismo, pela certeza de uma estabilidade 
e paz duradouras. Mas, na verdade, o desenvolvimento econômico daqueles quatro 
países (Inglaterra, Alemanha, França e Rússia) acentuava a hipótese de conflitos.Os esforços da industrialização e a competição desenfreada tendiam a recriar 
antigas rivalidades. Nesse sentido, a deflagração de uma guerra entre duas ou mais 
potências era uma realidade possível. Não era à toa que a indústria bélica via 
aumentar os seus recursos, incentivando-se a criação de novas tecnologias para a 
morte. Um período de "Paz Armada" pois, além das novas armas, foi adotado, em 
quase todos os países, o serviço militar obrigatório. A obrigação do jovem em 
prestar serviço militar tinha por si só efeitos sociais bastante significativos, 
pois fazia crescer a influência do exército na sociedade e na política de seus 
países, a disciplina dos quartéis tornava-se, um exemplo a ser seguido em outros 
locais.
Mas nenhum governante acreditava numa guerra longa que pudesse vir a envolver 
tantas nações. O surgimento do sistema de alianças e a formação de blocos atendiam 
aos interesses de cada país de se defender em relação à ofensiva de um terceiro, 
mas era difícil prever que isso provocaria um efeito dominó, ou seja, uma vez 
iniciado o conflito, as partes envolvidas num acordo se colocariam na defesa de 
sua aliança em contraste com a(s) outra(s).
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De certa forma, a idéia de que a guerra seria curta e rápida estava de acordo com 
a crença na superioridade de um país em relação ao outro. Com a industrialização, 
fortaleceu-se o nacionalismo dos países, o que significou a construção e 
generalização de um conjunto de tradições que procuravam convencer a população de 
cada país de sua importância e superioridade na história mundial. O passado de 
cada nação era contado de forma a mostrar sua força e a união de seu povo. 
Desdobrava-se do nacionalismo a idéia de um inimigo externo (outra nação), 
encarado como o responsável pelos problemas vividos pelo país.
O Estado tinha então um importante papel a cumprir. A generalização da educação 
pública consolidou uma única língua nacional, construiu uma única história e, para 
tanto, utilizou-se de antigas mágoas e rivalidades. Era necessário forjar a noção 
da noção da superioridade de um povo em relação ao outro e criar, em caso de 
derrotas passadas, o desejo da revanche. O nacionalismo era assim criado para 
fortalecer a unidade nacional, a obediência de todos cidadãos aos interesses do 
país, fortalecendo o patriotismo, que, uma vez tratado, faria com que milhares de 
jovens se mostrassem dispostos a defender de seu país numa guerra.
Não era difícil supor que a rivalidade entre França e Alemanha pode provocar um 
conflito. Afinal, a unificação da Alemanha em 1871 ocorreu interior da Guerra 
Franco-Prussiana, que significou para a França não mente a derrota, como também a 
perda das regiões da Alsácia (rica em ferro e carvão). Não era difícil supor que o 
rápido desenvolvimento, da indústria alemã ameaçava de frente os interesses 
ingleses e exigia, por parte da Inglaterra, medidas de contenção ao poder 
germânico. A Alemanha por sua vez, via com grande interesse a possibilidade real 
de se tornar a principal potência européia.
A expansão imperialista de cada um desses, países era um fato por si explosivo. 
Assim, por exemplo, a região dos Bálcãs parecia um barril de pólvora, envolvendo 
interesses da Áustria, da Rússia e do Império Turco. Ali seus interesses 
austríacos esbarravam no desejo de autonomia das minorias étnicas e no avanço 
russo na região. A Alemanha, interessada em preservar seus acordos com a Áustria 
formou então a Tríplice Aliança, composta por seu país, o Império Austro-Húngaro e 
a Itália (que mais tarde iria se aproximar de outra aliança).
Havia ainda o confronto envolvendo a Inglaterra e a França em rela, à região do 
Marrocos. O esforço de superar a rivalidade entre eles criou o Entente Cordiale, 
que estabeleceu acordos para a definição das áreas coloniais na África. O acordo 
firmado entre França e Inglaterra acabou por definir uma estratégia contra o 
avanço alemão, uma vez que ambos os países sofriam os resultados - diretos ou 
indiretos - da expansão imperialista da Alemanha. A Entente Cordiale ainda 
contaria mais tarde com a participação da Rússia. Necessitando dos capitais 
franceses e ingleses para empreender sua industrialização, a Rússia firmou um 
acordo com as duas potências. Além disso, o país buscava expandir sua influência 
em direção aos Bálcãs, apoiando a independência dos povos eslavos, que então eram 
dominados pelo Império Austro-Húngaro. 
O INÍCIO E A GENERALIZAÇÃO DA GUERRA: AS FRENTES DE BATALHA
A gota d'água para a eclosão da guerra foi um atentado que levou à morte o 
príncipe herdeiro do trono austríaco, realizado em Sarajevo, capital da atual 
Bósnia, então uma província do Império Áustro-Húngaro. Estavam ali em disputa dois 
projetos. De um lado, a Sérvia, país também localizado nos Bálcãs, que defendia a 
formação de uma grande Sérvia, capaz de abrigar todos os povos eslavos da região. 
Nesse sentido, aproximara-se da Rússia. De outro lado, a Áustria-Hungria, com suas 
ambições imperialistas na região. Em 1914, o herdeiro do Império Austro-Húngaro, 
prestes a assumir o poder, divulgava o seu projeto, que se resumia em constituir 
uma monarquia tripla, composta pela Áustria, Hungria e pela população eslava. Ao 
chegar em Sarajevo para propagar suas intenções, o herdeiro foi morto por uma 
sociedade secreta, a Mão Negra, que defendia a incorporação da Bósnia à Grande 
Sérvia e sua independência ante os interesses austro-húngaros.
A morte do herdeiro do Império Austro-Húngaro tornou-se assim o estopim do 
conflito, uma vez que a Áustria, apoiada pela Alemanha, exigiu a apuração sumária 
do episódio. Ora, como isso não foi feito, a Áustria declarou guerra à Sérvia. 
Para se precaver contra a ofensiva desse império, os série, procuraram a ajuda dos 
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russos. Como um efeito dominó, o sistema de alianças transformaria um conflito 
regional na Primeira Guerra Mundial. Colocaram-se de um lado, e num primeiro 
momento, França, Inglaterra e Rússia; de outro, a Alemanha e a Áustria-Hungria.
Os interesses alemães ficaram bastante claros logo no início do conflito, através 
da tática conhecida como Plano Schlieffen. Formulado por Alfred von Schlieffen, o 
plano partia da crença de que a guerra seria de curta duração. Assim, preparou-se 
um estudo de operações militares que previa a violação do território belga e do 
noroeste da França, passando a oeste de Paris. Segundo as previsões do plano, os 
franceses seriam então derrotados num período máximo de 40 dias. Após a derrota 
francesa, os alemães atacariam os russos.
A ofensiva alemã, portanto, começou pela Bélgica e pelo noroeste da França e 
partia do pressuposto da inexorabilidade da vitória alemã, desconsiderando assim a 
capacidade de resistência, tanto de belgas quanto de franceses. A superioridade 
inicial do exército alemão fez., de fato, com que os franceses fossem obrigados a 
recuar. A chegada do exército inglês à Bélgica não impediu as primeiras derrotas 
dos aliados. Tudo indicava que os alemães estavam corretos em sua previsão. Eles 
estavam tão confiantes no sucesso seu plano que, já em fins de agosto de 1914, as 
tropas germânicas se deslocavam para a Europa Oriental, em direção à Rússia.
Logo no início da Primeira Guerra Mundial, portanto, estabeleceram duas frentes de 
batalha: a ocidental e a oriental. Na primeira, localizavam-se os embates dos 
exércitos alemães contra as tropas inglesas e francesas; já na segunda, 
encontravam-se os conflitos que envolviam, por um lado, alemães e austríacos e, 
pelo outro, os russos.
Apesar da esperança de todos, aguerra mostrava-se cruel: ela não seria de curta 
duração. Logo, desde os primeiros meses, colocou-se a questão dos efetivos 
militares, em razão das enormes perdas sofridas no início do contato. O dispêndio 
de munições superou assim todas as previsões. Os Estados então envolvidos na 
guerra tiveram que se organizar para armar, equipar e abastecer os exércitos que, 
apesar das previsões otimistas, não voltariam logo para suas casas.
Em relação ao confronto com a Rússia, na frente leste, os alemães perceberam que a 
situação ali era extremamente delicada. Apesar da superioridade germânica, do 
ponto de vista do arsenal militar, os russos eram bastante numerosos e, naquele 
momento, confiantes em sua responsabilidade de defender o país do tzar. No 
entanto, em fins de agosto de 1914, o exército abriu mão conseguiu uma expressiva 
vitória na frente oriental, na batalha de Tarmemberg. Em 29 de outubro, os russos 
tiveram ainda que enfrentar mais um novo inimigo, com a entrada do Império Turco 
na guerra. Em resposta a França, Grã-Bretanha, Bélgica e Sérvia declararam guerra 
àquele país.
Na frente ocidental ocorreu, ainda no ano de 1914, uma das principais batalhas da 
Primeira Guerra - a Batalha do Marne. A sua importância resume-se no fato de que 
ela consagrou a derrota do plano alemão e o surgimento da guerra de trincheiras. 
Ali, ambos os adversários iriam sentir os estados da guerra que dominaria a frente 
ocidental em quase todo o período do conflito. O domínio da artilharia e a 
incapacidade de vencer decisivamente o inimigo dariam um caráter estático à 
guerra, sem a possibilidade de aval real de nenhuma das partes envolvidas. De 
temporárias, as trincheiras passaram a ser então definitivas. Desde o Mar do Norte 
até Verdun, os soldados permaneciam entrincheirados e milhares de homens ali 
morreram sem uma das partes alcançasse a vitória.
Os esforços dos aliados em vencer a guerra impunham a busca de novas estratégias 
de ataque. Assim, entre 1915 e 1916, as ofensivas inimigas conseguiam a vitória 
definitiva, apesar da preparação e do emprego da artilharia pesada. Em 23 de maio 
de 1915foi a vez da Itália se posicionar em relação ao conflito, declarando guerra 
contra a Áustria. Das batalhas que então se seguiram, a de Verdun mostrou ao mundo 
os efeitos arrasadores da guerra, quando os alemães tentaram quebrar o poderio 
francês. Os esforços dos aliados em vencer o inimigo deram origem, em 1916, ao 
Plano Joffre. Era, em suma, a decisão de um ataque franco-inglês na região do 
Somme, com o objetivo de destruir o avanço germânico.
Dois acontecimentos importantes ocorreram nos anos de 1915 e 1916. O primeiro foi 
a chamada Campanha de Gallipoli. As forças aliadas desembarcaram na península de 
Gallipoli e ali encontraram as tropas turcas fortificadas e mais bem equipadas 
para a guerra de trincheiras do que eles próprios. A campanha, marcada por atos de 
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heroísmo e cheia de sacrifícios culminou com a derrota aliada e sua retirada em 
junho de 1916. Como resultado da campanha, cabe ressaltar a entrada na guerra da 
Bulgária, ao lado da Alemanha, e a ocupação da Sérvia pelos inimigos. O segundo 
ocorreu em setembro de 1916, a chamada ofensiva do Somme, quando os tanques - 
inventados pelos britânicos - foram empregados pela primeira vez.
O ano de 1917 seria decisivo para as forças aliadas. Em janeiro, a Alemanha 
proclamou o completo bloqueio da Grã-Bretanha e da França, e todas as potências 
neutras foram avisadas para que retirassem seus navios e vapores dos mares 
britânicos O bloqueio alemão, que significava na prática o afundamento 
indiscriminado de qualquer navio estrangeiro, acabou por impor a entrada dos 
Estados Unidos na guerra.
Os Estados Unidos já eram uma potência e mantinham uma posição de neutralidade 
diante do que então acontecia com os países europeus. Assim, entre os anos de 1914 
e 1917, os americanos não se envolveram no conflito, embora mantivessem estreita 
relação comercial com os Estados aliados, vendendo-lhes; alimentos e armas. Por 
conseguinte, o bloqueio alemão feria os interesses econômicos americanos, uma vez 
que impedia a manutenção das exportações deste país para os seus parceiros. Outro 
fator acelerou a decisão americana de declarar guerra à Tríplice Aliança: a saída 
da Rússia da guerra.
A eclosão da Primeira Guerra Mundial foi um ponto de inflexão importante para a 
vitória da Revolução Russa de 1917. O crescimento da miséria e a desorganização da 
economia faziam crescer o descontentamento de todos os setores em relação ao 
Estado. O acirramento dos conflitos internos criou as condições para a Revolução 
de Fevereiro (de 1917), que derrubou o tzarismo e que, após sua queda, formou um 
governo provisório. No entanto, esse governo não atendeu aos anseios populares: 
manteve a Rússia na guerra não foi capaz de diminuir a miséria. A crise na 
indústria, a escassez de , mentos e a inflação davam os argumentos necessários 
para que os bolchevistas conseguissem aumentar sua influência junto ao operariado. 
A síntese c, lutas sociais de então. "pão, paz e terra" , respondia aos apelos dos 
pobres do campo e da cidade. Assim, em outubro de 1917, os bolchevistas, liderados 
por Lenin, tomaram o poder e, um pouco mais tarde, com a paz de Brenon Litovsk 
(março de 1918), conseguiram retirar a Rússia da guerra.
Após a saída da Rússia, os alemães ampliaram seus esforços na frei ocidental para 
dar fim ao conflito e conseguirem afinal a vitória. Os meses finais de 1917 foram 
bastante problemáticos para os aliados, pois parecia impossível romper a linha 
germânica e avançar. Além disso, tanto a Áustria: como a Alemanha lançaram uma 
grande ofensiva no norte da Itália.
As dificuldades das forças aliadas foram aos poucos sendo sanadas com os reforços 
americanos, cujos exércitos começaram a desembarcar na França. No entanto, durante 
os meses de abril e maio de 1918, os alemães ainda castigaram bastante as nações 
da Entente, mas isso teve um preço exército alemão estava também esgotado.
Nos meses de junho e julho de 1918, apoiados pela aviação e pela artilharia 
pesada, os aliados começaram a acumular sucessivas vitórias. A criação de um 
comando único em julho, em mãos do general francês Foch, permitiu uma organização 
mais racional da ofensiva aliada. Um exemplo disso foi a chamada segunda batalha 
do Marne. Em junho, os austríacos foram derrotados pelos italianos. Logo depois, 
americanos e ingleses conseguiram romper as linhas alemãs e, a partir daí, estes 
foram sendo sucessivamente derrotados.
Em 18 de novembro de 1918, após quatro longos anos de conflitos, mortes e 
sofrimentos para ambos os lados, o Estado alemão assinou o armistício. Para o povo 
alemão, porém, o reconhecimento da derrota significou a aceitação de um tratado 
marcado por humilhações ao povo e à nação alemã. A primeira Guerra Mundial 
terminara com a condenação de um único país visto como responsável pelo conflito. 
Mas sabemos que ela expressou de forma cruel a competição das potências e a crença 
na superioridade de um em detrimento de outra. 
Ao todo, 14 países da Europa entraram no conflito. Em 1917, um ano antes do 
término do conflito, apenas a Suíça, a Espanha e alguns reinos de escandinavos se 
mantinham neutros. Todos os demais foram arrastados a uma campanha cuja 
intensidade não parava de crescer. 
AS TÉCNICAS PARA O MASSACRE
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A morte de milhares de cidadãos franceses, alemães e ingleses, além de outros 
povos, ajudou a consolidar o adjetivo da Grande Guerra para este evento. Entre 
1914 e 1918, muitos emuitos homens estiveram em lonas e cansativas batalhas, às 
vezes entrincheirados, lutando em nome de seu país, e morrendo por ele. A França 
teve 1,4 milhão de mortos, num período em que a população francesa era de 39 
milhões de habitantes. A Alemanha perdeu 1,7 milhão de homens, numa população 
total de 66 milhões.
As perdas humanas representaram o fim do sonho de um mundo de paz por parte 
daqueles que, em nome de seus países, haviam assumido a responsabilidade de 
defendê-los. Eram, em sua grande maioria, jovens soldados e, por conta disso, suas 
mortes representavam a perda de parte da população economicamente ativa, ou seja, 
de pessoas capazes de exercerem várias atividades profissionais. Na Inglaterra, 
por exemplo, um quarto dos alunos das importantes universidades de Oxford e 
Cambridge com menos de 25 anos morreu em combate.
Mas as mortes desses mesmos homens traziam também à luz uma realidade muito dura 
para os seus países de origem. Muitas mulheres tornaram-se, com a perda de seus 
respectivos maridos, as "viúvas de guerra". Antes mesmo de se saberem viúvas, elas 
e outras mulheres haviam ingressado no mercado de trabalho, substituindo os homens 
que estavam nas frentes de batalha nas profissões que, até então, eram reservadas 
ao sexo masculino. Aprendendo a sobreviver sem a ajuda de seus maridos, elas 
tiveram ainda que aprender a criar sozinhas seus filhos, órfãos dos homens que 
morreram na guerra. Estas crianças que muitas vezes nem chegaram a conhecer seus 
pais, ficaram conhecidas como "pupilos da nação".
A morte de milhares de homens foi decorrência direta do fato de estarmos tratando 
de uma guerra de trincheiras que se tornou - nas palavras de um importante 
historiador - "uma máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história 
da guerra". No princípio, a construção de trincheiras era vista como uma medida 
temporária e tinha como finalidade ser um bom campo de tiro para as armas 
portáteis. No entanto, elas se tornaram o palco principal da guerra, na medida em 
que nenhum dos dois lados conseguia avançar. Milhões de homens ficavam une diante 
dos outros nos parapeitos das trincheiras em barricadas feitas com sacos de areia, 
Ali, conviviam diariamente com ratos e piolhos - agentes transmissores de 
infinitas doenças. Sem auxílio médico, morriam muitas vezes em razão de 
enfermidades. A guerra de trincheiras impedia ainda a remoção dos cadáveres 
abandonados, o que só agravava o estado geral da degradação e dor. A guerra de 
trincheiras trazia também graves conseqüências psicológicas para aqueles que 
sobreviviam ao caos. Nas palavras de um famoso historiador, o combatente estava a 
todo instante sujeito a uma tensão nervosa e o abastecimento não chegava, os 
bombardeios martelavam as posições de destruir as redes, as trincheiras e os 
abrigos, os obuses de grosso calibre abriam enormes buracos, que transformavam o 
terreno num campo de crateras que a chuva convertia em lamaçal. O sofrimento 
daqueles homens pode ser sentido através de alguns seus depoimentos, escritos nos 
campos de batalha. Um combatente da ilha do Somme escreveu:
"A mesma velha trincheira, a mesma paisagem,
Os mesmos ratos, crescendo como mato,
Os mesmos abrigos, nada de novo,
Os mesmos e velhos cheiros, tudo na mesma,
Os mesmos cadáveres no front,
A mesma metralha, das duas às quatro,
Como sempre cavando, como sempre caçando,
A mesma velha guerra dos diabos"
Uma carta encontrada no bolso de um soldado alemão afirmava:
"Estamos tão exaustos que dormimos, mesmo sob intenso barulho. A mais coisa que 
poderia acontecer seria os ingleses avançarem e nos fazerem pioneiros. Ninguém se 
importa conosco. Não somos substituídos. Os aviões caçam projéteis sobre nós. 
Ninguém mais consegue pensar. As rações estão esgotadas - pão, conservas, 
biscoitos, tudo terminou! Não há uma única gota de água. É o próprio inferno.
Entrincheirado, o soldado deveria estar disposto a resistir aos bombardeios, à 
fome e ao desespero. Com um pouco de sorte poderia vir a sobreviver aos caos, mas, 
para que isso pudesse ocorrer, era preciso também que ele estivesse imbuído da 
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ética da responsabilidade, da crença de que a vitória na guerra dependia de sua 
coragem, de sua capacidade sobre-humana de resistir. A resistência era um valor, 
que um vez compartilhado por todos os soldados entrincheirados, permitia que eles 
acreditassem numa vitória inevitável.
A proximidade da morte unia os soldados e eliminava as diferenças de classe. A 
hierarquia social era substituída pela hierarquia fundada na coragem física e na 
integridade. O inimigo era o outro, o estrangeiro. Para o francês, o alemão era o 
assassino do seu irmão e o espírito de vingança prevalecia sobre o cansaço e o 
medo. Para o alemão, a mesma coisa. Era o francês o responsável pela desgraça, 
pelo surgimento e generalização da guerra.
Entretanto, para piorar ainda mais a vida dos soldados, os exércitos em conflito 
experimentaram novas tecnologias para a morte. Empregado pela primeira vez pelos 
alemães na primavera de 1915, o gás fazia aumentar as baixas em ambos os lados. 
Muitos dos gases então utilizados não eram muito eficazes, mas provocavam um 
efeito psicológico efetivamente arrasador. Soldados entrincheirados ficavam 
apavorados com medo de uma possível morte provocada por envenenamento. O mais 
conhecido dos gases então utilizados ficou conhecido com o nome de gás mostarda, a 
mais temida de todas as armas químicas da Primeira Guerra Mundial. Diferentemente 
dos outros gases, que atacavam apenas o sistema respiratório, este queimava 
qualquer parte exposta do corpo humano, incluindo os olhos.
Os britânicos, por sua vez, inauguraram, em setembro de 1916, o emprego de 
tanques. O tanque era uma arma que estava sendo desenvolvida em segredo, e, por 
conta disso, a origem do termo tank nada mais era do que uma alusão de que seria 
apenas um tanque de armazenar água. Na verdade, eram veículos blindados que tinham 
como objetivo vencer as trincheiras do inimigo. Alguns depoimentos de guerra nos 
informam que os alemães ficaram bastante assustados quando viram pela primeira vez 
aquele monstro que cuspia balas por todos os lados. Não foi nessa guerra, no 
entanto, que tais armas mostraram todo o seu poder de destruição. Problemas 
técnicos impediram a completa eficácia dos tanques. Somente na Segunda Guerra os 
tanques e os gases viriam a comprovar sua capacidade de produzir morte aos 
milhares.
O emprego de aeronaves é, sem dúvida, um capítulo interessante da Primeira Guerra 
Mundial, principalmente no que se refere à utilização dos zepelins, aeronaves 
(chamadas dirigíveis) alongadas, cheias de gás hélio. O primeiro dirigível 
impulsionado a motor foi construído do pelo alemão Paul Haenlein, em 1865. Logo 
depois, ele foi aperfeiçoado pelo também alemão, conde Zeppelin, daí o nome dessas 
aeronaves. Com um grande sucesso obtido antes da guerra no transporte comercial, o 
zeppelin havia impressionado os militares, e muitos acreditaram na sua capacidade 
de servir como arma de guerra. Além disso, as autoridades navais alemãs estavam 
convencidas de que o zepelim era capaz de desempenhar importante papel nas 
operações navais. 
Em 1906, Santos Dumont realizou o primeiro vôo do "mais-pesado no ar"; no entanto, 
a supremacia do dirigível continuava, pelo menos na mente do público. Isso explica 
o medo da população inglesa na primeira noite ante a declaração de guerra. Muitos 
acreditavam que os zepelins iriam a Londres, à noite. Segundo um estudioso do 
papel a Grã-Bretanha fora, durante muitos anos, o alvo da propaganda. Alguns 
comentaristas tinham, inclusive, escrito artigos na imprensa pressagiando os 
ataques que viriam do Mar do Norte.
Não foi dessa vez, no entanto, que a aviação mostraria também o poder de 
destruição.Na Primeira Guerra, ela foi usada basicamente para conhecimento e 
observação dos tiros da artilharia.
Foi no mar que novas armas tiveram o efeito desejado, ou seja, ajudou a pôr fim ao 
conflito. Ali, as forças navais utilizaram novos modelos de cruzadores e 
submarinos alemães e couraçados e submarinos ingleses por exemplo. Ambos os lados 
procuraram destruir os navios carregados de suprimentos para os inimigos. Ao 
afundá-los, eles impediam que as populações civis tivessem alimentos suficientes 
para sobreviver. Desta forma, pretendiam matar de fome os inimigos.
Os submarinos foram uma das grandes esperanças da Alemanha. No início de 1917 os 
alemães aumentaram a atividade da guerra submarina objetivando vencer a Inglaterra 
antes da entrada dos Estados Unidos. A intenção da guerra submarina aumentou as 
perdas britânicas, até junho. No entanto, o início do sistema de comboios e outras 
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táticas anti-submarinas reduziram muito a eficácia do submarino. A partir daquele 
momento outras estratégias procuravam impedir a destruição de navios, 
particularmente mercantes.
No entanto, durante longos meses, em razão dos ataques de submarinos e navios, 
velhos e crianças - ausentes dos campos de batalha sentiam na pela, ou melhor, no 
estômago, o efeito mais cruel de uma guerra: a morte pela fome. Indefesos em suas 
moradias, os cidadãos de inúmeros países viviam a generalização da miséria e da 
inanição. Muitos morriam literalmente de foem, enquanto outros contraíam doenças 
ocasionadas por uma alimentação deficiente e irregular.
Para aqueles que haviam acreditado um dia na superioridade inquestionável de seu 
país e de seu povo e apostado numa vitória rápida, a fome trazia a certeza de que 
a guerra não mais se limitava aos campos de batalha Ela tornava-se presente no 
cotidiano de todas as pessoas e apresentava-se viva através da fome, como a forma 
cruel de uma técnica de massacre.
OS ACORDOS DE PAZ
Antes mesmo do fim do conflito, como já foi referido, a Rússia saiu da guerra, mas 
sua retirada não foi tranqüila. Ao contrário, ela representou um jogo de forças no 
interior da nação russa e expressou as disputas políticas pelas quais passava a 
nova sociedade, surgida com a Revolução de 1917. Após tomarem o poder, os 
bolchevistas tinham que resolver uma questão fundamental, pois, para salvar a 
revolução, eles tinham que fazer a paz - desejo expresso por soldados, camponeses 
e operários. Os bolchevistas desejavam uma paz sem anexações territoriais, mas não 
era essa a intenção de seus inimigos, os austríacos e os alemães. Coube a Leon 
Trotsky, um dos líderes da revolução, encaminhar as negociações com os inimigos.
A estratégia de Trotsky era a de afirmar que não assinaria uma paz anexionista, ao 
mesmo tempo que declarava terminado o estado de guerra. Esta atitude confundia os 
alemães, mas na verdade encobria o fato de que dificilmente o exército russo tinha 
condições de voltar a combater. Havia também a crença de que, caso o Estado alemão 
decidisse prosseguir o conflito contra os russos, os soldados e operários alemães 
não obedeceriam às ordens, irmanados com os princípios da Revolução de 1917.
A realidade, porém, foi outra. Ao contrário dos desejos dos bolchevistas, a 
Alemanha voltou a combater e os soldados alemães defenderam sua pátria e não foram 
sensíveis aos apoios do operariado russo. A força do nacionalismo em muito maior 
do que o desejo de união de todos os operários. Sem saída, o novo Estado da Rússia 
aceitou o Tratado de Brest-Utovsk, que foi, sem sombra de dúvida, uma paz 
humilhante. Pelo tratado, os bolchevistas foram obrigados a aceitar a perda da 
Finlândia, da Polônia russa e da Ucrânia, assim como a dos chamados países 
bálticos: a Lituânia, a Letônia e a Estônia.
No início de 1918, o então presidente dos Estados Unidos apresentou ao Congresso 
americano um plano de paz, que pretendia ser uma solução justa para o fim da 
guerra. Seu plano ficou conhecido como "Os 14 pontos que o presidente Wilson". 
Segundo o presidente americano, os Estados Unidos haviam entrado na guerra para 
precipitar a paz entre os povos e, neste sentido o plano tinha como finalidade 
assegurá-la, constituindo-se como fundamento das futuras negociações com os 
alemães. Sua divulgação pública e internacional acabou por fortalecer a suposição 
dos alemães de que os acordos de paz seriam baseados naqueles princípios, numa 
"paz sem vencedores".
Para tanto, o plano estabelecia:
1. abolição da diplomacia secreta, ou seja, a diplomacia deveria se tomar pública;
2. plena liberdade de navegação, tanto em período de paz quanto de guerra, o que 
significava uma crítica à tática do bloqueio naval;
3. remoção, quando possível, de todas as barreiras econômicas entre as nações e o 
estabelecimento de uma igualdade de condições de comércio e as nações;
4. limitação dos armamentos nacionais, reduzidos ao menor nível;
5. ajuste imparcial das pretensões coloniais, considerando-se também os interesses 
dos colonizados;
6. ajuda à Rússia, para que este país pudesse obter uma oportunidade simpedida e 
desembaraçada para a determinação independente de seu desenvolvimento político;
7. restauração da independência da Bélgica;
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8. devolução da Alsácia-Lorena à França;
9. reajustamento das fronteiras nacionais italianas;
10. autonomia dos povos da Áustria-Hungria;
11. restauração da Romênia, de Montenegro e da Sérvia, assegurando acesso ao mar 
aos sérvios;
12. autonomia dos povos até então submetidos aos turcos;
13. criação de uma Polônia independente;
14. criação de uma Sociedade ou Liga das Nações;
Para o presidente americano, existia um princípio que norteava os seus quatorze 
pontos: era o princípio de justiça para todos os povos e nacionalidades, e o 
direito de cada um a viver em iguais condições de liberdade e segurança, uns com 
os outros, fossem eles fortes ou fracos.
A proposta do presidente Wilson se resumia numa paz sem vencedores, onde 
princípios gerais deveriam assegurar o fim do conflito e o estabelecimento de um 
mundo de paz. É verdade que a restituição da Alsácia e Lorena à França era algo 
então considerado justo, assim como a libertação da Bélgica e a criação de uma 
Polônia independente. Mas, para franceses e ingleses, algumas das proposições de 
Wilson eram mais do que discutíveis. A Inglaterra não estava nem um pouco 
interessada em defender o princípio da liberdade dos mares. A França, principal 
campo de batalha da frente ocidental, acreditava que a Alemanha devia fazer 
reparações pelos danos da guerra em seu território.
Em suma, a proposta do presidente dos Estados Unidos não agradou aos franceses e 
ingleses. Para aqueles que haviam lutado durante longos quatro era preciso mais do 
que intenções para assegurar uma paz definitiva no continente europeu. Para eles, 
era preciso impedir, a todo custo, que a Alemanha pudesse voltar a ameaçar os 
vencedores. Era preciso ainda desarmar aquele país e obrigá-lo a reparar os 
sofrimentos das populações das nações aliadas.
Em 19 de janeiro de 1919 reuniu-se a Conferência de Paris, onde os termos da paz 
foram discutidos com a presença dos representantes da França, Inglaterra e, é 
claro, dos Estados Unidos. Os derrotados não foram ouvidos. Após a Conferência, 
comunicaram-se aos vencidos e ao mundo os termos de uma paz não-negociada e 
imposta.
Conhecido pelo nome de Tratado de Versalhes para os aliados e "Ditado de 
Versalhes" para os alemães, os termos da paz eram profundamente cruéis para com a 
Alemanha. Em primeiro lugar, ela era obrigada a restituir a região da Alsácia eda 
Lorena à França, além de entregar a bacia carbonífera do Sarre para ser explorada 
pela França durante quinze anos. Findo este prazo, deveria haver um plebiscito 
para que a população decidisse pela nacionalidade francesa ou alemã.
Havia outras questões territoriais impostas pelo tratado. Deveriam ser entregues 
os distritos de Eupen e Malmedy à Bélgica; da maior parte do Schleswig à 
Dinamarca, de Memel à Lituânia, de grande parte da Prússia Oriental à Polônia, 
inclusive a bacia carbonífera da Alta Silésia. Além disso, estabelecia-se uma 
faixa de terra, dividindo o restante da Prússia Oriental com a Alemanha, conhecida 
com o nome de "corredor polonês", para dar uma saída marítima à Polônia. 
Transformava-se ainda a cidade alemã de Dantzig em cidade livre, sob o controle da 
Liga das Nações, e dividia-se todo o império o colonial alemão pelas potências 
vencedoras, principalmente França e Inglaterra.
Como podemos ver, a humilhação imposta à Alemanha representava o fim de sua 
soberania sobre o seu território. Porém, ela não se restringia a isso. Havia 
também as chamadas indenizações punitivas. Elas significavam que a Alemanha 
deveria pagar 132 bilhões de marcos-ouro, divididos em quotas, num prazo de trinta 
anos! Eram ainda confiscados todos os investimentos e bens nacionais ou privados 
alemães existentes no estrangeiro. Os alemães eram obrigados também a entregar 
anualmente 40 milhões de toneladas de carvão aos aliados europeus, durante um 
período de 10 anos! Isso tudo significava que o povo alemão faminto pela guerra 
teria que reunir os esforços para pagar o impagável às forças vencedoras.
Não satisfeitos, os aliados fizeram constar no Tratado de Versalhes ainda mais 
humilhações. A Alemanha foi obrigada a admitir sua inteira responsabilidade pela 
deflagração da guerra. E isso também significava que ela teria que aceitar a 
desmilitarização do seu exército. O tratado era bastante minucioso nesse aspecto. 
Segundo seus artigos, as forças militares deveriam ser desmobilizadas e reduzidas 
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a apenas sete divisões de infantaria e três divisões de cavalaria. Além disso, 
durante doze anos, o engajamento no exército não poderia ser obrigatório, mas sim 
voluntário.
O tratado não deixou escapar nenhum detalhe que pudesse significar aos olhos dos 
vencedores, uma ameaça alemã. Quanto à marinha, estabelecia-se o número e os tipos 
de navios, além da tonelagem máxima permitida. Submarinos eram proibidos, pois os 
vencedores sabiam o papel desempenhado por eles durante a guerra. Os canhões 
pesados, os aviões militares e a artilharia antiaérea também estavam interditados.
Os aliados dos alemães - o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano e a Bulgária 
- também foram punidos. Pelo Tratado de Saint Germain, de 10 de setembro de 1919, 
e de Trianon, de 4 de junho, o Império Austro-Húngaro desapareceu, dando lugar a 
diversos países independentes: Áustria, Hungria, Checoslováquia, Iugoslávia e 
Polônia.
O Império Otomano também foi punido, principalmente pela pressa exercida pela 
Inglaterra, interessada em assegurar sua dominação Mediterrâneo Oriental. Nesse 
sentido, pelo Tratado de Sevres, de 11 de agosto de 1919, novos Estados surgiram 
da ruína daquele império: o Iraque, a Síria, o Líbano, a Palestina e a 
Transjordânia. A Turquia - nome que assumiu o núcleo do ex-império Otomano - 
reduziu-se ao planalto anatoliano e suas adjacências imediatas.
A Bulgária, apesar de não ter participado efetivamente da guerra, perdeu, pelo 
Tratado de Neuuilly, de 27 de novembro de 1919, todas as suas costas marítimas no 
Mar Egeu, em favor da Grécia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Primeira Guerra Mundial terminara, mas não cessaram ali os seus efeitos. As 
conseqüências demográficas evidenciavam uma sensação de envelhecimento da Europa e 
a desorganização da família. Do ponto de vista econômico, a destruição das 
riquezas, o problema da reconversão para uma economia de paz e os empréstimos dos 
Estados Unidos alimentaram a inflação e, com ela, a fome, a miséria e a 
desesperança.
Na Alemanha derrotada e humilhada pelo Tratado de Versalhes, as conseqüências da 
guerra e a posterior crise de 1929 se expressaram na existência de 5,4 milhões de 
desempregados. Se não podemos falar que aquele tratado determinou a posterior 
ascensão do nazismo na Alemanha, podemos, no entanto, assegurar que ele marcou 
toda a vida política desse país, bem como gerou as condições que permitiram a 
vitória do nazismo, em 1933.
Com a Grande Guerra, o sonho deu lugar ao pesadelo, o otimismo ao pessimismo e a 
razão cedeu lugar à violência. Após quatro longos anos de conflito, os ex-
combatentes voltaram para as suas casas, mas não encontraram mais a mesma 
sociedade pela qual haviam lutado. O aumento da miséria e das incertezas fazia 
fortalecer a crença de que a violência era a melhor saída. Se a paz dera lugar a 
uma guerra, como reconhecê-la novamente?
Os soldados haviam lutado em nome de seu país e acreditavam na sua superioridade. 
Como seria possível agora defender a igualdade de todos os homens? Em nome do 
nacionalismo, muitos haviam ido para os campos de batalha e os que ficaram 
cuidaram de fazer continuar a vida. A presteza com que as pessoas se identificavam 
com a sua nação tinha sido posta à prova. E, após a guerra, era preciso recomeçar. 
Mas para que isso fosse possível, o nacionalismo tornava-se mais uma vez o 
elemento de união entre os cidadãos de cada país, continuando a operar com a idéia 
de que as razões das mazelas sociais encontravam-se no outro, naquele identificado 
como estrangeiro. 
Os anos posteriores à Primeira Guerra Mundial iriam mostrar que ela não terminara. 
As rivalidades continuaram, o desejo de revanche também. A Segunda Guerra não 
tardaria a acontecer.

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