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As doenças Cardiovasculares (DCV) são um grupo de patologias que afetam o coração e os vasos sanguíneos, sendo uma das principais causas de mortalidade que atingem a população mundial. Estas doenças possuem vários fatores de riscos, sejam eles associados a fatores genéticos, ambientais ou muitas vezes relacionadas ao estilo de vida e hábitos culturais. Alguns deles são: Hipertensão arterial, elevação do colesterol, tabagismo, obesidade, diabetes mellitus, estresse, sedentarismo. Elas têm se apresentado, nas últimas décadas, em proporções expressivas dentre as causas de morbidade e mortalidade, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento. No Brasil, é a principal causa de morte, vitimando em média 300mil brasileiros por ano. A cirurgia cardíaca é realizada quando a probabilidade de uma vida útil é maior com o tratamento cirúrgico do que com o tratamento clínico. Há vários tipos de cirurgia cardíaca que podem ser recomendadas pelo cardiologista de acordo com os sintomas da pessoa, como: Revascularização do Miocárdio, também conhecida como ponte de safena; Correção de Doenças Valvares como plastia ou troca de válvulas; Correção de Doenças da Artéria Aorta; Correção de Cardiopatias Congênitas; Transplante Cardíaco, em que o coração é substituído por outro. Implante de Marcapasso Cardíaco, que é um pequeno aparelho que tem como função regular os batimentos cardíacos. A cirurgia cardíaca minimamente invasiva assistida consiste na realização de um corte na parte lateral do peito, de cerca de 4 cm, que permite a entrada de um miniaparelho que consegue visualizar e reparar qualquer dano no coração. Esta cirurgia cardíaca pode ser realizada em caso de cardiopatias congênitas e insuficiência coronariana (revascularização miocárdica). O tempo de recuperação é reduzido em 30 dias, podendo a pessoa voltar às atividades normais em 10 dias, no entanto esse tipo de cirurgia só é realizado em casos bastante selecionados. Os tipos de cirurgia cardíaca são as corretoras (fechamento de canal arterial, de defeito de septo atrial e ventricular), as reconstrutoras (revascularização do miocárdio, plastia de valva aórtica, mitral ou tricúspide) e as substitutivas (trocas valvares e transplantes). O tipo mais comum de cirurgia cardíaca reconstrutora é a revascularização do miocárdio (conhecida como ponte safena). Nela, um vaso sanguíneo (geralmente a veia safena e/ou a artéria mamária interna) é anastomosado com a artéria coronária, distal ao ponto ocluído, e a aorta ascendente, de forma a isolar o local do vaso obstruído e restabelecer a perfusão da artéria coronária. O objetivo da revascularização do miocárdio é aliviar a angina e preservar a função do miocárdio. A Sistematização da assistência de enfermagem (SAE), é o método de prestação de cuidados, pautado em bases cientificas para o alcance de resultados positivos na implementação da assistência, com a finalidade de diminuir as complicações no decorrer do tratamento. A SAE no período pré-operatório de cirurgias cardiovasculares, é um indicador de situações de saúde do paciente, que deve proporcionar todo o cuidado, tendo em vista a promoção e prevenção, interferindo nos fatores que venham a envolvê-los e proporcionando práticas de cuidados que tendem a prepará-los e tranquilizá-los para o procedimento cirúrgico a ser realizado. Assim, uma prática de cuidado sistematizado a pacientes submetidos a cirurgia cardíaca no período pré- operatório, melhora a qualidade da assistência, bem como auxiliam para a importância e o reconhecimento das ações de enfermagem, seja qual for o nível da assistência à saúde. Devido a todos estes pontos discutidos sobre a SAE, e a necessidade de se ter um acompanhamento mais de perto deste cliente em pós-operatório de cirurgia cardíaca, identificamos que o nosso objetivo era conhecer a importância e os benefícios para os clientes com a implantação da sistematização da assistência de enfermagem no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Sabe-se que o atendimento diferenciado é aquele que consegue atender as necessidades humanas básicas, sem deixar de prestar a atenção necessária na sua atual condição, acompanhando todo o processo de reabilitação e intervindo quando necessário. Esse diferencial torna-se importante para que haja a integralidade do cuidado, pois estabelecemos uma linha comum que auxilia os enfermeiros na avaliação dos dados selecionados, na identificação e na descrição dos problemas potenciais ou reais do cliente. O momento cirúrgico é chamado perioperatório e está dividido em três fases: pré-operatório, transoperatório e pós-operatório. No decorrer do perioperatório da cirurgia cardíaca, a enfermagem desenvolve um papel essencial na busca de estratégias, contribuindo de modo efetivo aos cuidados, de maneira a minimizar os desgastes sofridos durante o processo, promovendo uma assistência mais humanizada e eficiente. É preconizado que no período pré-operatório a enfermagem explore os conhecimentos dos clientes, passando todas as informações adequadas, bem como averiguar as expectativas deles em relação a cirurgia. Para que haja informações de forma positiva além disso, a transmissão de informações ao doente cirúrgico no pré-operatório para reduzir os níveis de ansiedade, no tempo de recuperação, nas complicações cirúrgicas, utilização de analgesia e na satisfação de adesão ao tratamento (GONÇALVES et al, 2017). A fase pré-operatória é definida por um período de grandes fragilidades tanto fisiológicas como psicológicas e é primordial que o paciente tenha suas necessidades atendidas. É nesse panorama que a enfermagem atua, com o trabalho multidisciplinar, com a oportunidade de estar próximo ao paciente envolvidos na prestação da assistência com maiores oportunidades, reconhecendo demandas relevantes, pontuando as etapas do procedimento, os riscos, podendo ser reduzidas ou evitadas no pós-operatório, por meio de processo educativo no período pré- operatório, devendo ser a cada paciente atendido em suas deficiências e individualmente avaliado e orientado acerca dos procedimentos e eventos referente ao processo cirúrgico cardíaco. O pré-operatório é classificado me duas partes: - Pré-operatório mediato O cliente é submetido a exames que auxiliam na confirmação do diagnóstico e que auxiliarão o planejamento cirúrgico, o tratamento clínico para diminuir os sintomas e as precauções necessárias para evitar complicações pós-operatórias, ou seja, abrange o período desde a indicação para a cirurgia até o dia anterior à mesma; - Período imediato Corresponde às 24 horas anteriores à cirurgia e tem por objetivo preparar o cliente para o ato cirúrgico mediante os seguintes procedimentos: jejum, limpeza intestinal, esvaziamento vesical, preparo da pele e aplicação de medicação pré-anestésica. O objetivo do pré-operatório é garantir adequada preparação do doente para cirurgia, promovendo assim a segurança cirúrgica e o bem-estar do paciente. O período transoperatório corresponde ao momento em que o paciente é recebido no Centro Cirúrgico até o momento de sua transferência para a Unidade de Recuperação Anestésica, é normalmente considerado um período crítico para o paciente, especialmente em cirurgias cardíacas, devido à complexidade da cirurgia e procedimentos a ela inerentes, como, por exemplo, a circulação extracorpórea, e ao prolongado tempo intraoperatório, que é o período da cirurgia propriamente dita. É um período caracterizado por mudanças fisiológicas geradas pelas condições impostas pela cirurgia cardíaca, pela CEC e pela anestesia, podendo levar a complicações no pós- operatório. A CEC é um procedimento realizado na maioria das cirurgias cardíacas, em que a máquina realiza um desvio cardiopulmonar total, ou seja, desvia o sangue das veias cavas para um reservatório e reinfunde de volta à aorta após a oxigenação artificial, substituindo,de forma temporária, as funções de bombeamento do coração e ventilatórias dos pulmões. Os cuidados de enfermagem no período transoperatório são de suma importância por se tratar de um momento bastante delicado, onde as condições de saúde podem variar de minuto a minuto. É preciso posicionar o paciente, proporcionar o alinhamento funcional; exposição da área cirúrgica; manutenção da posição durante o procedimento; fixar a placa neutra ao paciente; proporcionar apoio físico; assegurar que a contagem de gazes/compressas, agulhas e instrumental está correta; calcular os efeitos para o paciente da excessiva perda ou ganho de líquidos; distinguir os dados cardiopulmonares normais dos anormais; comunicar as alterações no paciente quanto ao pulso, respiração, temperatura e pressão sanguínea; manter a assepsia e o controle sobre o ambiente; gerenciar os recursos humanos efetivamente. Estudos realizados pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto de janeiro a maio de 2001 comprovam que todos os pacientes submetidos a cirurgias cardíacas apresentam risco para infecção, risco para desequilíbrio no volume de líquidos, podendo ser uma sobrecarga hídrica, a hipovolemia e os distúrbios eletrolíticos, troca de gases prejudicada causada pela CEC, risco para aspiração, proteção alterada, integridade da pele prejudicada, risco para disfunção neurovascular periférica e risco para lesão perioperatória de posicionamento. O período pós-operatório divide-se em pós-operatório imediato que vai da alta do paciente da sala de recuperação até as primeiras 48 horas e pós- operatório tardio que compreende após 48 horas até a alta do paciente. O período pós-operatório imediato para o paciente que sofreu cirurgia cardíaca apresenta muitos desafios para a equipe de saúde. Todos os esforços são feitos para facilitar a transição da sala de cirurgia para a unidade de cuidados pós-anestésicos com riscos mínimos. As informações específicas sobre a cirurgia e os importantes fatores sobre o tratamento pós- operatório são comunicados pela equipe cirúrgica e da anestesia ao enfermeiro de cuidados críticos que, em seguida, assume a responsabilidade pelos cuidados ao paciente. Estas informações constituem dados importantes, desde o momento da chegada do paciente a Uti. Assim, detalhes sobre o transoperatório e eventuais intercorrências, os balanços hídricos e sanguíneo, o tempo de perfusão e de clampeamento aórtico durante o ato cirúrgico são dados fundamentais. O bom resultado da cirurgia cardíaca se baseia não somente nos detalhes técnicos intraoperatórios, mas também em condutas adequadas no período pós- operatório, período este que, na maioria dos pacientes, caracteriza-se por um padrão típico de alterações fisiopatológicas e, portanto, o seu conhecimento prévio nos possibilita uma melhor padronização de medidas a serem tomadas. Os cuidados de enfermagem nesse período consistem em conferir o nome do paciente; conferir o tipo de cirurgia que foi realizada; descrever os fatores transoperatórios (isto é, inserção de drenos e cateteres, intercorrências); descrever as limitações físicas; relatar o nível de consciência pré-operatória; comunicar sobre as necessidades de equipamentos; avaliar a eficácia do cuidado de enfermagem no centro cirúrgico; determinar o nível de satisfação do paciente com os cuidados prestados no período perioperatório; avaliar os produtos utilizados por ele; avaliar seu estado psicológico; colaborar com o plano de alta; posicionamento adequado no leito; conectar o paciente no respirador; realizar a monitorização inicial (monitor cardíaco, oxímetro de pulso, monitorização hemodinâmica, pressão arterial média; identificar acessos vasculares: infusão de drogas, hidratação venosa, cateteres para monitorizações: pressão venosa central (PVC), pressão arterial média (PAM), pressão de átrio esquerdo (PAE), etc.; abertura e manipulação corretas de drenos torácicos e de mediastino; Tudo tem que ser passado, pra que o leito já seja preparado pra admitir esse paciente. Por exemplo, se o acesso central foi puncionado do lado direito, já fica tudo disponibilizado lá do lado direito pra facilitar essa troca de bomba do centro cirúrgico para as bombas da UTI, realizar ECG de admissão; anotação inicial do volume drenado nos drenos de tórax e mediastino, obedecendo ao valor do selo d’água estabelecido como rotina; verificação de sondas nasogástrica e vesical; averiguar posição de cânula endotraqueal através da ausculta, assim como sua fixação adequada (anotar o número da posição); após estabilização do paciente, o enfermeiro deverá realizar sua evolução baseado numa avaliação física inicial: coloração da pele e mucosas, enchimento capilar, grau de hidratação, ruídos adventícios, fonese de bulhas e exame físico geral; sangramento (drenos de tórax e mediastino) é a complicação de maior importância, devendo ser avisada se o fluxo de sangramento for > que 150 ml/h. A hipertensão e a hipotensão arterial devem ser controladas rapidamente, pois seu reflexo nas coronárias ou nas pontes recém confeccionadas é extremamente maléfico; o controle dos sinais vitais deve ser realizado a cada sessenta minutos (nas primeiras 12h), bem como a vigilância intensiva relacionado ao aparecimento de qualquer arritmia cardíaca. O enfermeiro deve estar atento para possíveis complicações precoces, como hemorragia, hematoma, edema, infecção e deiscência de sutura, presença de derrame pleural que é o acúmulo excessivo de líquido no espaço pleural, que é o espaço criado entre o pulmão e a membrana externa que o cobre, e atelectasia que consiste no colapso alveolar de determinada área do parênquima pulmonar. Esta é a complicação mais comum no pós de cirurgias cardíacas. História Clínica J.R.S, sexo masculino, 67 anos, natural e procedente de Vitória da Conquista- BA, encontra-se em 5º dia pós-operatório tardio de revascularização miocárdica no hospital IBR, diabético (sem tratamento regular), hipertenso e dislipidêmico há 10 anos em uso regular de propranolol e sinvastatina. O cateterismo cardíaco realizado mês anterior ao procedimento cirúrgico evidenciou lesões obstrutivas de 80% em terço médio de coronária direita, de 60% em tronco de coronária esquerda e de 90% em óstio de artéria descendente anterior. Paciente dá entrada no hospital IBR com queixa de dispneia súbita, sem fatores de piora ou melhora, associado a dor pleurítica e hipoxemia, nega tosse e hemoptise. Paciente ainda se queixa de dor no local da incisão cirúrgica, em pontada, 6/10, sem fatores de piora ou melhora, sem irradiação, associado a drenagem de secreção purulenta pela esternotomia e febre de 38ºC. Observou ainda deiscência de 2 cm na porção medial da ferida. Realizou angio TC que evidenciou trombo pulmonar em artérias pulmonares, iniciada terapia com heparina e tomografia de tórax sem contraste que revelou coleção no mediastino anterior de 4 x 5 cm. Introduziu-se Vancomicina EV 500mg 6/6h e 15dias depois foi submetido a toracotomia exploradora com limpeza do esterno e drenagem mediastinal. Exame físico Geral: Paciente em regular estado geral, lúcido e orientado no tempo e no espaço, emagrecido, mucosas normocrômicas, escleras anictéricas e febril (38ºC). Dados vitais: PR = 115 bpm, FR = 30 irpm, Taxa = 38°C, TA = 135x70mmHg, Saturação de oxigênio: 93%. Pele e fâneros: incisão cirurgia na região média esternal hiperemiada, com drenagem de secreção purulenta e presença de deiscência em porção medial da sutura. Aparelho respiratório: tórax em plano, simétrico, sem regiões de hipersensibilidade, com expansibilidade e frêmito toracovoral preservadas bilateralmente. À percussão, som claro pulmonar. Murmúrio vesicular bem distribuído, sem ruídos adventícios. Aparelho cardiovascular: precórdio calmo, ausência de impulsões visíveis. Ictus cordis palpável no 5° EIC, na linha hemiclavicular esquerda.Bulhas rítmicas, normofonéticas em dois tempos. Ausência de sopros. Abdome: à inspeção, abdome plano, cicatriz umbilical intrusa, ausência de lesões cutâneas, cicatrizes, equimoses, circulação colateral ou herniações. Na ausculta, ruídos hidroaéreos presentes, sem sopros arteriais. À percussão, abdome timpânico difusamente, presença de macicez em loja hepática e espaço de Traube livre. Palpações superficial e profunda sem alteração. Demais sistemas sem alterações.
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