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Os Desafios da Desigualdade Regional nos Blocos Econômicos: União Europeia e Mercosul

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Os Desafios da Desigualdade Regional nos Blocos Econômicos: União Europeia e Mercosul, duas experiências distintas
Alice Duarte
Relações Internacionais – PA5
Prof. Álvaro Paes Leme
I. INTRODUÇÃO
Os blocos econômicos regionais são, atualmente, um dos mecanismos mais utilizados pelos países, tanto para comércio quanto para integração política. Sob o olhar econômico, os blocos podem pertencer a quatro distintos níveis de associação: área de livre comércio – em que há, entre os membros, comércio livre de taxas na grande maioria dos produtos – união aduaneira – no qual, além de produtos, podem transitar pessoas entre os países do bloco e há, também, uma Tarifa Externa Comum, para os bens de nações extrabloco – mercado comum – há uma grande integração econômica e pode-se transitar, entre os membros, serviços e capital, como se, praticamente, não houvesse fronteiras – e união econômica e monetária – em que existem instituições e uma moeda comum para os membros.
Um grande desafio, porém, para a integração verídica e participação efetiva de todos os países-membros são as disparidades regionais. Nos mais diversos continentes em que há blocos econômicos, há países maiores – mais ricos e com uma economia fortalecida – e países menores – que necessitam de certo auxílio dos demais países. Estes últimos se integram aos blocos econômicos, geralmente, por segurança. Há certa tranquilidade em se saber que, caso seja preciso, haverá outros países que podem socorrer-te. Para, então, tentar acabar, ou ao menos minimizar, essas diferenças entre os países, foram criados alguns fundos, dentro dos blocos, para contribuir com o crescimento dos países menores.
A União Europeia é, no mundo, o maior e melhor exemplo de sucesso como integração econômica que, aos poucos, se transformou em uma integração política. É, também, o único exemplo de união econômica e monetária, com moeda única – o Euro – e instituições que abrangem a todos os países. O processo de união dos países europeus começou nos anos 1960, mas somente nos anos 1990 que se transformou no mais completo e abrangente nível de integração.
O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) pretendia ser, em poucos anos, um mercado comum entre os países pertencentes ao Cone Sul da América do Sul. Com o passar do tempo, entretanto, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela não conseguiram ultrapassar a barreira de união aduaneira, isso ocorreu, principalmente, por causa das políticas internas dos países, que não facilitaram a integração mais efetiva dos países.
II. FUNDO EUROPEU DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A Europa, assim como todos os outros continentes, tem países mais e menos desenvolvidos economicamente. A porção ocidental, a qual pertencem França, Alemanha, Reino Unido e Holanda, é, sem dúvida, a mais avançada, com economia mais fortalecida e com maior desenvolvimento social. A parte oriental, que abrange os países que, no século XX, pertenciam a União Soviética ou eram socialistas, é bem mais pobre e carece de certo auxílio dos países maiores. Ao perceber que as diferenças de desenvolvimento entre as regiões poderia causar certo atraso na integração, as autoridades responsáveis pela União Europeia decidiram pela criação do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) (COMISSÃO EUROPEIA, s/d).
O Fundo, que foi criado em 1999, tem como principais objetivos a criação e manutenção de empregos duradouros, o investimento na infraestrutura necessária para desenvolver os países, principalmente nas áreas de tecnologia. A reconstrução das áreas industriais de áreas, tanto urbanas quanto rurais, que estejam degradadas, a aplicação de capital em saúde e educação dos locais fragilizados e, principalmente, o auxílio na manutenção de relações transfronteiriças com os demais países da União Europeia (COMISSÃO EUROPEIA, s/d).
A União Europeia conta, hoje, com centenas de projetos em execução nas mais diversas áreas. Para o período 2014-2020 foram estabelecidos alguns temas principais para a aplicação de recursos, tais como produção com baixa emissão de carbono, prevenção de riscos às mudanças climáticas e melhoria da administração pública de cada país. Como citado anteriormente, alguns países necessitam de mais recursos do que outros, por isso, há, no Fundo de Desenvolvimento Regional Europeu, uma distribuição orçamentaria de acordo com as necessidades de cada país, segundo o gráfico abaixo.
(Fonte: Comissão Europeia, Orçamento Disponível 2014-2020. Disponível em http://ec.europa.eu/regional_policy/index.cfm/pt/funding/available-budget/)
Em conjunto com o Fundo de Coesão e o Fundo Social Europeu, o FEDER estipulou metas para serem cumpridas até o ano de 2020. Dentre elas, 75% da população em idade produtiva devem estar empregados, redução de 20% das emissões de carbono, redução das taxas de abandono escolar para menos de 10% e menos 20 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema. Além disso, cada país estipulou objetivos próprios para o mesmo período (COMISSÃO EUROPEIA, s/d). 
Durante a crise financeira mundial, que teve início em 2008, o FEDER foi o principal mecanismo de proteção dos países que estiveram em uma situação complicada. Espanha, Portugal, Chipre, Grécia e Irlanda foram os principais atingidos pela crise e suas populações e principais cidades foram salvas do colapso. É estimado que, caso não houvesse esse auxílio, os países teriam perdido mais de 45% de suas capacidades produtivas, que demorariam anos para serem reconstruídas (COMISSÃO EUROPEIA, s/d).
Um dos principais focos do fundo é a coesão territorial da Europa. Para isso, diversos estudos foram feitos com o objetivo de apontar os pontos fortes de cada país e unindo, cada vez mais, a população europeia, que deve poder viver onde deseja, não somente no país de origem. O fomento a cooperação entre os Estados é muito fomentada, no intuito de fazer da União Europeia um bloco sem fronteiras (COMISSÃO EUROPEIA, s/d).
Dentre os grandes projetos já realizados pelo FEDER estão o Centro de Oncologia, construído em Malta, e um hospital ultramoderno em Coimbra, Portugal, para atender a população mais jovem. O primeiro foi construído em uma cidade próxima a capital do país, para tratar cerca de 60% dos casos de câncer de Malta. Um centro moderno para o tratamento da doença, que atinge mais de 1400 pessoas por ano na região. O segundo exemplo é da reforma do principal hospital da cidade de Coimbra, que será exclusivamente para a população de 0-18 anos. Há uma previsão de mais de 65 mil consultas e de mais de quatro mil cirurgias por ano, quando houver a conclusão do projeto. Ambas as iniciativas são de extrema importância para os países, que, por vezes, não tem condições de investir na área de tecnologia da saúde com seus próprios recursos (COMISSÃO EUROPEIA, s/d).
Em toda a Europa, o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional já obteve resultados bastante expressivos. O PIB per capita das regiões mais pobres aumentou mais de 60%, além de quase 600 mil empregos criados. 1200 km de estradas e 1500 km de ferrovias foram construídas para a maior interligação do continente, 9400 projetos foram feitos em prol do aumento da sustentabilidade e mais de cinco milhões de cidadãos tiveram acesso à Internet banda larga. Quase 200 mil pequenas e médias empresas foram auxiliadas a crescer e a se efetivar no mercado de trabalho. A partir desses dados, pode-se concluir que o fundo foi deveras benéfico para o desenvolvimento regional da Europa, contribuindo para que todo o bloco econômico se tornasse mais unido e economicamente estável (COMISSÃO EUROPEIA, s/d).
III. FUNDO DE CONVERGÊNCIA ESTRUTURAL DO MERCOSUL
O MERCOSUL é um bloco econômico pequeno, contando com apenas cinco membros, sendo a Venezuela uma integrante recente e que ainda não faz parte de todos os benefícios da integração. Mesmo tendo poucos Estados-Membros, há uma assimetria regional muito grande entre esses. O Brasil, maior país da América do Sul, possui o maior PIB e, consequentemente, o maior parque industrial do bloco, já o Paraguai e o Uruguai estão em desvantagem, tendo,o primeiro, diversos problemas sociais não resolvidos pelo governo. Sabendo-se disso e tendo como principal exemplo o Fundo Europeu de Desenvolvimento Social, o MERCOSUL criou, em 2004, o Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM) (PAUTASSO, 2012).
O FOCEM foi uma iniciativa brasileira para diminuição das desigualdades regionais, para que, assim, o bloco conseguisse se desenvolver integralmente. Foi preestabelecido um montante de 100 milhões de dólares anuais a serem arrecadados e distribuídos de acordo com o PIB de cada país. Para arrecadação, o Brasil deve dar 70%, a Argentina, 27%, o Uruguai, 2%, e o Paraguai, 1%. Para a distribuição, o Paraguai recebe 48%, o Uruguai, 32%, e a Argentina e o Brasil, 10% cada um. Logicamente, o maior beneficiário do programa é o Paraguai, que dá apenas um milhão de dólares e recebe 48 milhões para projetos de desenvolvimento (TESSARI, 2012).
O fundo tem, como principais objetivos, a coesão social, principalmente das regiões menos desenvolvidas, o aprofundamento do processo de integração, o fortalecimento das instituições locais e o desenvolvimento da competitividade econômica do bloco como um todo, assim como dos países, por si só. Dentro do FOCEM há programas específicos para a regulação dos projetos, separados por tema. Os projetos devem ser aprovados pelo próprio MERCOSUL antes de receberem o investimento, para que haja garantia de que apenas projetos sérios e de extrema importância serão colocados em prática (MERCOSUL, s/d).
Dois dos principais projetos realizados com auxílio do FOCEM foram a Promoção de Acesso à Água Potável e Saneamento Básico em Comunidades em Situação de Pobreza ou Extrema Pobreza, no Paraguai, e Múltiplas Intervenções em Assentamentos Localizados em Territórios Fronteiriços, Extrema Pobreza e Emergências de Saúde e Ambiental, no Uruguai. Ambos pertencem ao Programa de Coesão Social, porém o primeiro recebeu mais de cinco milhões de dólares do fundo, enquanto o segundo, apenas pouco mais de um milhão. O projeto paraguaio teve como objetivo a melhoria da qualidade de vida da população que vive miseravelmente e que morre, infectada por vírus e bactérias espalhadas por causa da falta de saneamento. Mais de 32 mil pessoas são beneficiárias desse projeto, em 45 comunidades diferentes. O projeto uruguaio tem, basicamente, o mesmo objetivo, a melhora da qualidade de vida da população, entretanto as intervenções são diferenciadas, mais voltadas para o mercado de trabalho e habitação (MERCOSUL, s/d). 
O MERCOSUL, que tem como objetivo a construção de um mercado comum, viu no FOCEM uma oportunidade de crescimento do bloco, já que a convergência estrutural gera maior união entre os países, além de colaborar para que os governantes e populações passem a aceitar melhor a ideia de cessão de soberania em prol do desenvolvimento econômico de toda a região. Há, contudo, uma série de problemas que ainda existem no FOCEM e que devem ser resolvidos, caso o bloco realmente deseje se integrar ainda mais (MERCOSUL, s/d).
IV. POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES
Sabendo-se um pouco mais sobre as experiências de convergência estrutural, tanto do MERCOSUL quanto da União Europeia, pode-se dizer que o Mercosul não soube seguir a risca os exemplos dados pelo FEDER. O fundo europeu é, além de melhor estruturado, mais efetivo e obtém resultados mais específicos do que o sul-americano.
Uma das principais contribuições que o FEDER pode dar ao FOCEM é a escolha de temas específicos para um período específico. Como citado anteriormente, para os próximos seis anos, a União Europeia elegeu temas principalmente ligados ao meio ambiente para a seleção de projetos que receberão os investimentos. Se o MERCOSUL fizesse algo similar, por temática, seria mais simples selecionar os projetos e, assim, fazer do FOCEM algo mais efetivo no Cone Sul.
A presença de uma instituição supranacional que aloca os recursos para cada projeto e as contribuições não estipuladas ou fixadas no exemplo europeu foram coisas que contribuíram para o sucesso do fundo. O MERCOSUL, como é bem menos integrado que a União Europeia, ainda não tem muitas instituições supranacionais para coordenar os Estados-Membros, além de garantir uma neutralidade na seleção das iniciativas que serão efetivadas (TESSARI, 2012).
A criação de rodovias e ferrovias que interligam a Europa é outro fator crucial para o êxito do FEDER e, principalmente, da ligação da União Europeia. A ideia de que é possível viajar por todos os países pertencentes ao bloco de maneira simples, além do escoamento de produtos, que é facilitado por esse tipo de infraestrutura, cria, na população de cada Estado-Membro a ideia de que todos são europeus, de que pertencem a Europa e podem, então, visita-la e vender seus bens para todo o continente. Na América do Sul não existe a intenção de que todos se “sintam” sul-americanos e, por isso, talvez o desinteresse na construção de tantas rodovias e ferrovias entre os países.
Uma das principais diferenças entre os dois blocos estudados neste ensaio é o número de Estados-Membros. Seria muito mais simples para o MERCOSUL, que tem apenas cinco membros, diminuir as assimetrias regionais, do que para a União Europeia, que conta, hoje, com 28 membros e que tem diversos outros em processo de adesão. O MERCOSUL, porém, tem uma burocracia muito grande para a adesão de projetos, além de ter muito menos recursos do que a Europa, que conta com três das maiores economias do planeta: França, Alemanha e Reino Unido. Devem-se fazer mais investimentos no setor de convergência estrutural, que é deveras importante para a interligação do bloco econômico e para a afirmação deste como ator no Sistema Internacional.
O estabelecimento de metas também é algo em que o FOCEM deveria se espelhar no FEDER. Quando objetivos específicos são traçados, como índice de redução de pobreza, número de quilometragem de rodovias a ser construído ou porcentagem de empregos a serem criados, se torna mais simples verificar se o fundo está, de fato, funcionando como deveria. Sem a estipulação de metas, não há a pressão de se encontrar bons projetos, para investimentos adequados, nos setores apropriados.
V. CONCLUSÃO
Com os dados apresentados sobre os projetos do FEDER e do FOCEM, pode-se concluir que o fundo sul-americano ainda tem muito a evoluir, até chegar no nível do europeu. Para isso, é necessário que o bloco em si evolua, que haja uma maior integração na América do Sul, além de um aprofundamento das relações políticas e sociais no Cone Sul.
O FEDER é o maior fundo de convergência do mundo e, também, o de maior sucesso. Graças a ele, a União Europeia não “afundou” na crise financeira de 2008 e, além disso, trouxe muito desenvolvimento para as regiões menos favorecidas do continente. Se a América do Sul fosse assolada por uma gravíssima crise econômica, o FOCEM não teria condições de auxiliar aqueles países menores, que são atingidos de maneira mais forte durante as crises, porque não há, no MERCOSUL, a coesão necessária para isso.
É, portanto, claro que o FOCEM deve continuar seguindo os exemplos do FEDER, para que um dia, talvez, consiga se tornar tão efetivo quanto o similar europeu. Aqui, no Cone Sul, devemos tomar consciência de que a integração e a cessão de soberania não é, de todo, algo prejudicial, mas sim algo que pode ajudar, e muito, os países menores, diretamente, e os maiores, indiretamente, com o provável sucesso que o bloco terá com a diminuição das desigualdades regionais. 
Referências
Site da Comissão Europeia. Disponível em http://ec.europa.eu/regional_policy Acesso em 14.03.2015
Site do MERCOSUL. Disponível em http://www.mercosur.int/focem/ Acesso em 14.03.2015
PAUTASSO, Diego. Reorientação na diplomacia brasileira e o FOCEM: outra perspectiva sobre a integração regional. Meridiano 47: vol. 13, n. 129, jan.-fev. 2012 [p. 10 a 16]
TESSARI, Gustavo Rosolen. Integração Regional, Fundos Estruturais e Estabilidade Institucional no Mercosul: A Criação do FOCEM. Perspectivas: São Paulo, v. 42, p. 115-137, jul./dez. 2012

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