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PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Psicopatologia - Fortunato Identificação: masculino, 19 anos, negro, não recebe auxílio-doença, desempregado, católico, ensino fundamental incompleto (9º ano), mora com a tia materna (Zenira). Vem com a tia. HMA: há 5 anos, após o falecimento de sua mão, paciente começou a apresentar rebaixamentos de humor importante, com pensamento e ideação suicida (com duas tentativas, há 1 ano, tentou se jogar de um viaduto e foi impedido). Também tinha alucinações auditivas (conteúdo não compreensível) e visuais (imagens e vultos), e pensamento delirante persecutório. História pregressa: Tem histórico de ansiedade já de longa data, com alimentação compulsiva, juntamente com períodos de taquipsiquismo, gastos supérfluos e humor eufórico. Nega agressividade. Nega uso de cigarro, bebida alcóolica e drogas ilícitas. Havia parado de frequentar a escola por volta dos 16 ans por sofre bullyng com frequência, principalmente por ser homossexual, vestir-se de forma feminilizada (com roupas e maquiagem). Paciente já referiu em outra consulta com outro médico deste CAPS der uma menina. História Familiar pregressa: seus pais são falecidos. Mãe há 7 anos por câncer e seu pais, há 4 anos por hemorragia digestiva. Teve muita dificuldade para lidar com esses acontecimentos, ficando bastante triste. Em 3013, foi levado para morar em abrigo e encaminhado para viver com família acolhedora. Exame mental: hipervigil, ansioso, cooperativo, normobúlico, orientado no tempo e no espaço, e autopsiquicamente, inteligência mediana, juízo crítico preservado, memória preservada, um pouco pueril, pensamento com conteúdo lógico e curso acelerado, sem alterações na sensopercepção, discurso lógico embora circunstancial, taquilálico, ritmo acelerado. Aparência: auto-cuidados e higiene preservados, maquiado, roupas coloridas, aspecto chamativo, idade aparente mais jovial. A S M O C P L I A C Atenção Sensopercepção Memória Orientação Consciência Pensamento Linguagem (discurso) Inteligência Afeto e humor Conduta (atitude) SINAIS: achados objetivos, observados pelo médico. Ex: sudorese, tremor SINTOMAS: queixas subjetivas trazidas pelo paciente SÍNDROME: grupo de sinais e sintomas que ocorrem em conjunto Termo síndrome é menos específico do que transtorno ou doença. A maioria dos transtornos psiquiátricos são síndromes. Síndromes orgânicas: consciência, atenção, sensopercepção, orientação, memória e inteligência; ex: delirium, transtorno mental orgânico, demência, retardo mental. Síndromes psicóticas: afeto, humor, pensamento, juízo crítico, conduta, linguagem; ex: esquizofrenia, depressão, TAB, transtornos psicóticos em geral. Roupas: pacientes depressivos ou esquizofrênicos não se importam Adornos e maquiagem: bipolares ou histriônicos usam adereços chamativos Sinais de deformidade física: podem acentuar os sentimentos de baixa autoestima Idade aparente: paciente bipolar maníaco ou histriônicos aparentam ser mais jovens PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros • Retardada (paciente depressivo) • Acelerada (paciente maníaco e ansioso/0 • Maneirismos: movimentos involuntários estereotipados • Ecopraxismo: imitabilidade patológica dos movimentos de alguém • Flexibilidade cérea: pessoa a ser moldada – catatonia e agitação • Catatonia: rigidez da postura e fixação do olhar • Amigável • Cooperativo • Irônico • Hostil (PCTS agressivos e paranoides) • Sedutor (pacientes sociopatas e histriônicos) • Ambivalente (sentimentos opostos ao mesmo tempo) Evitar excesso de simpatia, manter a neutralidade • Responsivo (cooperativos) • Loquaz: fala sem parar, pressão por falar; fala muito sem sentido e sem concatenação de ideias • Prolixo: dá voltas e não responde objetividade • Volúvel: muda o que conta facilmente • Lenta: pacientes depressivos • Tensa/sussurrando/desconfiado: pacientes ansiosos, ou com pensamento persecutório • Emotivo: chora ao relatar seus pacientes • Monótono: sem entonação da voz • Ecolálico: repete o que o médico pergunta (autistas, pacientes com demência) Transferência: sentimentos so paciente em relação ao médico Contra-transferência: sentimentos so médico em relação ao paciente Resistência: antipatia CONSCIÊNCIA: é o estado de lucidez ou alerta, variando da vigília até o coma • Capacidade de responder aos estímulos • Alterações o Obnulação: sonolência; está alterada a capacidade de pensar claramente; o paciente tende a cais em sono quando não estimulado o Esturpor: ausência ou profunda diminuição de movimentos espontâneos; o paciente somente responde a estímulos vigorosos, e depois retorna ao esturpor; ex: catotonia, depressão profunda o Coma: abolição completa da consciência; o paciente não responde mesmo aos estímulos externos (dolorosos) ou internos (fome, frio, necessidades fisiológicas) o Hiperalerta:com hiperatividade autonômica. Tem resposta aumentada aos estímulos. Pessoas ansiosas, usuários de drogas excitatórias, com pensamento persecutório • AVC • Traumas – TCES • Epilepsia • Estados demenciais avançads • Doenças crônicas com comportamento cerebra (delirium) ATENÇÃO: capacidade de focar a atividade mental em algo; esforço voluntário para selecionar certos aspectos de um fato • Vigilância: capacidade de voltar o foco da atenção para estímulos externos o Hipervigil: vigilância aumentada; prejuízo da atenção para estímulos externos o Hipovigil: vigilância reduzida • Tenacidade: capacidade de manutenção da atenção; hipo/hipertenaz • Concentração: capacidade de manter a atenção voluntária em processos internos do pensamento • Desatenção: incapacidade de voltar o foco para um estímulo determinado • Distração: incapacidade de manter o foco PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros • Hiperprosexia: muda de atenção o tempo todo • Hipoprosexia: se concentra muito pouco • Aprosexia: não possui atenção • Desatenção seletiva: atento ao que lhe dá prazer • Atenção coagida: atenção forçada pelo medo ou pela psicose (pacientes com transtornos psicóticos, ouvindo vozes) SENSOPERCEPÇÃO: capacidade de perceber e interpretar os estímulos com os órgãos dos sentidos. Autistas muitas vezes tem grande capacidade de percepção sensorial (gustativa, auditiva etc.) • Ilusões: alterações qualitativas da percepção, estímulos sensoriais são confundidos ou mal interpretados (ex: cinto é percebido como cobra; miragens no deserto) • Alucinações: ocorre a percepção sensorial nai ausência de estímulo externo, é real para o paciente o Visuais: mais comuns em transtornos orgânicos, no luto normal (visão da pessoa falecida) ▪ Hiponagógicas: antes de dormir ▪ Hipnopômpicas: ao acordar o Auditivas: as mais comuns das síndromes psicóticas ▪ Congruentes com o humor: paciente depressivo (“mate-se”) ▪ Incongruentes com o humor: paciente esquizofrênico (ruídos não compreensíveis) ALUCINAÇÕES TÁTEIS • Picadas de insetos ou insetos caminhando na pele • Parestesias ou formigamentos (comuns em intoxicação por cocaína ou anfetaminas) • Delirium tremens por abstinência alcóolica ALUCINAÇÕES VESTIBULARES • Relacionadas ao equilíbrio e localização no espaço ALUCINAÇÕES OLFATIVAS • Paciente com baixa autoestima, com caráter depreciativo (comum na epilepsia e lesões no lobo temporal) • Cinestesias: confusão/troca/mistura de sensações, escutar cores, cheirar músicas • Pseudoalucinações: são reconhecidas como irreais • Despersonalização: percepção confusa de que o corpo está mudando, perda da identidade corporal • Desrealização: sensação de que o ambiente está mudando Tipos específicos de alucinações: QUANTITATIVAS: • Hipoestesia: diminuição da sensação • Hiperestesia: aumento da sensação • Anestesia: ausência da percepção QUALITATIVAS: • Ilusão: distorção da percepção,dismegalopsias (macropsias, micropsias) • Alucinação: percepção de um estímulo na ausência dele ORIENTAÇÃO: capacidade do indivíduo situar-se no tempo, espaço ou situação e reconhecer a sua própria pessoa • Orientação alopsíquica: tempo e espaço • Orientação autopsíquica: própria pessoa e demais • Desrealização: o ambiente e demais pessoas são vistas como estranhos • Despersonalização: a pessoa não se sente ela mesma • Sequência comum de alterações: TEP TEMPORAL → ESPACIAL → PESSOAL MEMÓRIA: capacidade de registrar, fixar ou reter, evocar e reconhecer objetos e pessoas e experiências passadas ou estímulos sensoriais • Áreas cerebrais relacionadas à memória: o Área de registro: córtex cerebral o Área de consolidação ou retenção: hipocampo o Área de armazenamento: lobo temporal o Área de recuperação: dorso medial do tálamo • Tipos: memória imediata, recente e tardia • As perdas de memória geralmente ocorrem: recente → tardia (lei mnêmica de Ribot) • Amnésia: incapacidade total o parcial de evocar memórias • Amnésia imediata: geralmente após um comprometimento cerebral agudo PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros • Amnésia anterógrada: paciente esquece os fatos ocorridos após um fato importante (ex: TCE, distúrbio associativo – crise conversiva) • Amnésia retrógrada: paciente esquece situações ocorridas anteriormente a um fato importante • Amnésia lacunar: o Esquecimento de fatos estre duas datas o Paciente tende a confabular fatos para preencher a memória o BST comum na demência • Deja vu: sensação de familiaridade com determinada percepção • Jamais vu: sensação de estranheza • Síndrome de Capgras: sensação de que seus parentes são impostores • Síndrome de Frégoli: sensação de quem um estranho é parente seu INTELIGÊNCIA: capacidade de articular as forças mentais em busca de soluções; capacidade de integrar conhecimentos; muitas vezes associada à capacidade de memória • Idade mental: é o nível intelectual médio de determinada idade • Teoria das inteligências múltiplas (Gardner): linguística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésico-corporal, interpessoal, intrapessoal • Deficiência mental: o Atraso ou insuficiência, QI < 7 o Interferência importante no desempenho social e ocupacional leve, moderado, grave e severo • Demência: deterioração global e orgânica do funcional intelectual, não há alteração no nível de consciência • Incapacidade de abstração: incapacidade de visualizar ou compreender situações ou problemas no plano subjetivo (ex: dificuldade de interpretar metáforas ou trocadilhos) AFETIVIDADE E HUMOR AFETO: experiência imediata e subjetiva das emoções sentidas (aspecto flutuante) HUMOR: sentimento predominante em um período maior; saldo geral das emoções do paciente • Mania: elevação patológica do nível de humor e afeto • Hipertimia: excesso de alegria; hipotimia: alegria reduzida • Depressão: sem vigor, embotamento, introspecção • Fobia: medo de forma extremamente exacerbada dirigido a um objeto • Hiperestesia emocional: aumento da sensibilidade • Indiferença: falta de reação afetiva a determinado estímulo • Anedonia: perda de prazer em determinada atividade/objeto • Puerilidade: expressão imatura exacerbada quanto ao nível de alegria • Incongruência: afeto inadequado à situação • Embotamento afetivo: sem expressão significativa de afeto • Disforia: alteração súbita do humor, tendendo à irritabilidade e agressão PENSAMENTO: conjunto de funções interativas para associar conhecimentos • Avaliação em 3 aspectos: forma/produção, curso e conteúdo o Forma: como o paciente associa suas ideias – lógica, ilógica, mágica o Curso: quantidade e velocidade de ideias – abundante, escasso, lento, acelerado o Conteúdo: aspecto das ideias – conectadas ou não com a realidade • Circunstancialidade: paciente conta detalhes desnecessários sobre determinado tema falta com objetividade para responder às perguntas • Tangencialidade: paciente começa a responder o tema questionado, mas logo divaga • Perseveração: permanência inadequada em determinado assunto • Delírio: o Ideia falsa ou crença irreal, certeza de convicção o Erro ao julgar a realidade o Irremovível, irrebatível, inargumentável o Aspecto crônico PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros OBS: delírio ≠ delirium - sintoma psicótico agudo decorrente de alterações clínicas. Corrigindo a causa, tende-se a resolver o problema. • Ideia supervalorizada: o Crença exagerada sem evidências que a sustentem o Menos grave que o delírio, porém mais comum o É passível de mudança com argumentação EXEMPLOS DE DELÍRIOS • Perseguição → tema mais frequente! • Referência: alusão ou auto-referência (acredita que as pessoas estão falando dela) • Influência: pessoa crê que uma força maior a domina • Grandeza: sensação de poder, beleza, inteligência • Místico ou religioso: capacidades estra- sensoriais • Ideias de ruína: depressivos, de culpa • Hipocondríaco: intensa fragilidade • Mitomaníaco: mente e acredita nas próprias mentiras • Ciúmes e infidelidade JUÍZO CRÍTICO: é a capacidade para perceber e avaliar adequadamente a realidade externa e separá-los dos aspectos do mundo subjetivo. Capacidade de se autoavaliar separando os impulsos e sentimentos. Capacidade de ter ima visão realista sobre si e o ambiente • Insight: importante mecanismo de mudança psíquica o Insight intelectual: compreensão lógica sobre um assunto o Insight emocional: compreensão ampla, global, leva á mudança de comportamento CONDUTA E APARÊNCIA: • Comportamentos e sinais observáveis no paciente • Gestos, toques, estereotipias, impulsos, verbalizações • Inquietação, agitação, lentificação, catatonia • Dramatização, risos imotivados, tricotilomania • Aparência excêntrica, tatuagens Identificação: feminino, 48 anos, branca, divorciada, recebe auxílio-doença, ex-vendedora e funcion´´aria pública, católica, ensino médio completo, mora sozinha, próxima da irmâ (Claudete). Vem à consulta com a irmã. QP: queixa-se de rebaixamento importante, isolamento social, apatia, não se alimenta normalmente, tranca-se no quarto com frequência, vê imagens de vultos e pensa em planejar o suicídio. HMA: há 20 anos, paciente começou a se apresentar com rebaixamento de humor importante, isolamento social e hiporexia. Já apresentou inúmeras tentativas de suicídio por ingestão de medicações, evoluiu com alucinações visuais e auditivas, pensamento persecutório e desorientação espacial. Mudou-se para Cascavel há anos para viver junto da irmã, ficou muito desgastada por responder processos criminais, nos quais foi citada em fraude por licitações em uma prefeitura que trabalha (Erechim-RS). Recebeu uma condenação precisando pagar até hoje cestas básicas a instituições de caridade. Refere ter sido inocentada em alguns processos. Divorciou-se há 4 meses, pois vivia relação bastante desgastadas com ex-marido. Segundo a paciente, seu ex-marido era bastante agressivo física e verbalmente. Sentia muito medo de denunciá-lo, considerando ser agredida novamente. Ficou muito triste com o falecimento do seu pai quando ela tinha 8 anos de idade. Tratamento atual: paroxetina 20mg (2-0-0); clorpromazina 25mg (0-0-1); amitriptilina 25mg (0-02); lamot 100mg (0-0-1); Rivotril 2mg (0-0-2); rispiridona 3mg (0-0-1). Exame mental: hipovigil, ansiosa, um pouco esquiva e receosa, hipobúlica, orientada no tempo e espaço, e autopsiquicamente, inteligência mediana, latência quanto à compreensão e respostas das perguntas, discurso lógico e coerente, embora lentificado e com bradilalia; pensamento com conteúdo lógico e curso um pouco lentificado, juízo crítico preservado, memória preservada com hipermnésia em relação a eventos traumáticos, depressiva, alucinações visuais. Aparência:autocuidado e higiene preservados, fácies com aspecto depressivo sem qualquer maquiagem. PSIQUIATRIA | Victória Ribeiro de Medeiros Identificação: masculino, branco, solteiro, não recebe auxílio-doença, desempregado, católico, ensino médio incompleto (está cursando 3º anos EM com professora monitora), mora com os pais, vem à consulta com a mãe Adriana. HMA: mãe refere gestação sem intercorrências, de 40 semanas, parto cesárea (com auxílio de fórcipe). Desde que nasceu, sempre foi muito agitado, chorava com muita frequência, ficava a maior parte do tempo com a mãe, ficando ansioso e choroso com outras pessoas (até mesmo com o pai). Começou a falar e andar com 4 anos de idade. Também tinha comportamentos estereotipados repetitivos como assistir várias vezes os teletubies, rituais de organização (arrumando seus objetos sempre em um mesmo lugar, sofrendo bastante caso estivessem desorganizados). Até hoje conserva comportamentos repetitivos de organização. Além disso, costuma ir várias vezes ao banheiro, demora para tomar banho, abre e fecha as torneiras várias vezes. Aos oito anos, costumava se arranhar nos MMSS e face, geralmente quando era repreendido, ou chamado a atenção por levar muito tempo com seus rituais. Tende a reagir com intensa frustração quando pressionado. Seu pai tem mais dificuldade de lidar com o filho ou saber esperar Mateus concluir seus rituais. Passou por acompanhamento na infância com pediatra, sendo aventado o diagnóstico de TDAH. Apresentava piora da agitação psicomotora quando administrado ritalina. Na adolescência, po diversas vezes, sofreu bullying na escola. Até hoje tem muita dificuldade de fazer amigos e expressar qualquer comportamento afetivo, mesmo com a mães. Há 2 anos começou a se queixar de alucinações auditivas e sente-se muito incomodado com isso. Exame mental: hipervigil, ansioso, um pouco esquivo e receoso, normobulia, orientado no tempo e espaço, e autopsiquicamente, déficit cognitivo leve, ecolalia (pensamento com conteúdo pobre e curso um pouco lentificado). Juízo crítico comprometido, memória preservada, pueril, alucinações auditivas. Aparência: autocuidados e higiene preservados, paciente não faz contato visual, não permite aperto de mão, estereotipias (movimentos repetitivos com as mãos – flapping).
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