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Importância do estado nutricional, alimentação e nutrição Papel do estado nutricional pré-gestacional Evidências indicam que quando conseguimos manter um estado nutricional adequado na gestante, é possível trazer vantagens de saúde para a mulher e para o filho, não apenas na gestação, mas ao longo da sua vida. A Pesquisa Vigitel, realizada em 2018, avaliou os fatores de risco para doenças crônicas em todo o Brasil e indicou que mais da metade das mulheres brasileiras (53,9%) estavam com excesso de peso, sendo que 20,7% das mulheres eram obesas, ou seja, metade da população feminina chegará à gestação com algum nível de excesso de peso. Esses dados nos trazem o alerta sobre a importância de um bom aconselhamento voltado à alimentação adequada e saudável e ao cuidado no acompanhamento e monitoramento do estado nutricional da gestante, não apenas durante a gravidez, mas no processo de planejamento dessa gestação e em mulheres em idade fértil. Avaliação do estado nutricional Avaliar o estado nutricional pré-gestacional através do cálculo do Índice de Massa Corporal, que é calculado dividindo o peso (em kg) pela altura (em metros) ao quadrado. Com o IMC pré-gestacional calculado, você será capaz de realizar o diagnóstico nutricional inicial da gestante e entender quais parâmetros são considerados como baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade, como pode ser observado no infográfico a seguir. Algumas complicações e sua relação com o estado nutricional: Mulheres com baixo peso pré gestacional têm quase o dobro de chance de ter: • bebês pequenos e 1,5 vezes mais chance de ter bebês com baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg); Mulheres que tinham excesso de peso ou eram obesas antes da gravidez são mais propensas a ter: • diabetes mellitus e pré-eclâmpsia, durante a gravidez; • macrossomia (bebês com maia de 4 kg/ grandes para a idade gestacional) • parto induzido, parto cesáreo, morte fetal tardia; Importância do ganho de peso adequado na gestação O aumento de peso na gravidez é um processo único e biologicamente complexo que suporta as funções de crescimento e desenvolvimento do feto. Esse ganho de peso na gestação é influenciado não só por mudanças na fisiologia e no metabolismo da gestante, mas também da placenta e das necessidades do feto O aumento de peso pode ocorrer devido a fatores biológicos como, por exemplo: • idade e história familiar de obesidade; • fatores comportamentais como alimentação, prática de atividade física, tabagismo e consumo de álcool; • fatores sociais relacionados ao nível de escolaridade, renda familiar, acesso a alimentação saudável, dentre outros. Observe no quadro a seguir, a partir do IMC pré-gestacional, as recomendações de ganho de peso no primeiro trimestre gestacional, de ganho de peso total, e as recomendações de ganho de peso por semana, considerando o segundo e terceiro trimestres gestacionais As gestações gemelares apresentam demandas nutricionais e fisiológicas aumentadas quando comparadas a gestações únicas. Recomendações de ganho de peso em gestantes gemelares: O ganho de peso materno abaixo dos níveis recomendados está associado ao baixo peso ao nascer, prematuridade, maior tempo de internação e, consequentemente, maiores custos relacionados à saúde. O ganho de peso excessivo, por outro lado, está associado a uma maior incidência de macrossomia, cirurgia cesariana, obesidade materna e infantil. Os impactos da obesidade materna na gestação, no parto, na saúde da mulher e no bebê, tendem a ser maiores quanto maior for a obesidade. O risco composto pela morte materna e morbidade materna grave aumenta conforme aumenta o grau de obesidade Alimentação da gestante na prevenção do sobrepeso e obesidade No Brasil, a alimentação adequada e saudável “é um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo. Com uma alimentação equilibrada, a mãe pode diminuir os riscos de complicações na gravidez, além de modular a presença de outros desconfortos típicos desse período (enjoos e constipação intestinal). A gravidez é um dos melhores momentos para se pensar em alimentação saudável, pois não só a mãe se beneficiará, como, também, o bebê. • Uma mãe bem nutrida é capaz de fornecer todos os nutrientes necessários e pode proporcionar as condições ideais para o desenvolvimento de seu filho. • A alimentação adequada e saudável durante a gestação conseguirá garantir os nutrientes necessários para um estado nutricional adequado da mulher nas semanas iniciais de puerpério e na garantia das reservas nutricionais da mesma. • Uma alimentação saudável é essencial para assegurar as necessidades nutricionais da mãe e do bebê. No entanto, a mãe não deve ser encorajada a “comer por dois” e, sim, a manter uma alimentação equilibrada e sem excessos. Avaliação do estado nutricional e recomendações para gestantes em nível individual Avaliação do estado nutricional na gestação A avaliação nutricional, quando possível é realizada em duas etapas: • Diagnóstico nutricional: avaliação do estado nutricional pré-gestacional e gestacional por meio do cálculo do IMC. • Estimativa do ganho de peso: de acordo com o estado nutricional pré-gestacional e/ou gestacional. O primeiro passo para avaliar o estado nutricional da gestante é: • realizar o cálculo da idade gestacional. Para estimar a idade gestacional você precisa saber a data da última menstruação (DUM) da mãe. A DUM corresponde ao primeiro dia de sangramento do último ciclo menstrual referido pela mulher. É o método de escolha para se calcular a idade gestacional em mulheres com ciclos menstruais regulares e que não fazem uso de métodos anticoncepcionais hormonais. Quando a gestante desconhece a data da última menstruação, mas se conhece o período do mês em que ela ocorreu, pergunte se o período foi no início, meio ou fim do mês e considere como data da última menstruação os dias 5, 15 e 25, respectivamente. Quando a data e o período do mês não forem conhecidos, a idade gestacional e a data provável do parto serão, inicialmente, determinadas por aproximação, basicamente pela medida da altura do fundo do útero, além da informação sobre a data de início dos movimentos fetais, que habitualmente ocorrem entre 16 e 20 semanas. A idade gestacional pode ser calculada, também, por um ultrassom ou ecografia. Recomendações para uma alimentação saudável na gestação A gestação é uma fase muito importante na vida da mulher e requer alguns cuidados especiais na alimentação. Os níveis de nutrientes nos tecidos e líquidos disponíveis para sua manutenção estão modificados por alterações fisiológicas (expansão do volume sanguíneo, alterações cardiovasculares, distúrbios gastrintestinais e variação da função renal) e por alterações químicas. Por tais motivos é necessário que realizemos uma adequação na alimentação da gestante, visto que seu estado nutricional pode afetar o resultado da gravidez, parto e pós-parto. O que importa na orientação nutricional da gestante não é o consumo de calorias, já que as necessidades aumentam em apenas 300 calorias a partir do segundo trimestre gestacional. Dessa forma, a gestante será capaz de atingir todos os nutrientes necessários de maneira saborosa, acessível e completa no seu dia a dia. Lembre-se de respeitar e considerar o padrão cultural da região no momento de orientar a gestante quanto ao consumo alimentar. A preservação e o respeito da cultura alimentar é um dos princípios do guia alimentar (BRASIL, 2017). Micronutrientes na gestação o período gestacional, devido suas mudanças biológicas, traz algumas demandas de micronutrientes específicas. deste modo, apresentaremos as recomendações de ferro, ácido fólico e vitamina d para mulheres durantea gestação. Ferro: suplementação e fontes alimentares A gestação a termo confere quantidades suficientes de ferro para o feto, mesmo em situações de anemia ou desnutrição da mãe, pois a eritropoiese fetal é assegurada, utilizando-se as reservas maternas, mesmo que limitadas. Para garantir as reservas maternas de ferro, recomenda-se a ingestão de 27 mg/dia de ferro no segundo e terceiro trimestre da gestação, sendo a suplementação medicamentosa uma medida profilática recomendada pela OMS O Programa Nacional de Suplementação de Ferro consiste na suplementação profilática de ferro para todas as gestantes ao iniciarem o pré-natal, independentemente da idade gestacional até o terceiro mês pós-parto, e na suplementação de gestantes com ácido fólico. Recomendar o aumento na ingestão de ferro na dieta juntamente com alimentos ricos em vitamina C. Alguns alimentos ricos em ferro que você pode orientar para sua paciente: Ácido fólico: suplementação e fontes alimentares As gestantes devem consumir 400 microgramas/dia de ácido fólico. No Brasil, em 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) instituiu a adição de 100 mg de ácido fólico para cada 100 gramas de farinha de trigo e milho, além de produtos derivados do milho comercializados no Brasil, alimentos que devem fazer parte do esquema alimentar para fornecer boa quantidade de ácido fólico. Veja um esquema de combinação de alimentos que podem atingir as necessidades em um dia comum: Conheça alguns alimentos ricos em ácido fólico que você pode orientar para sua paciente: A exposição ao sol para garantia dos níveis de vitamina D A recomendação para gestantes não difere daquela recomendada pra mulheres não grávidas, que é de 5 mg/dia de vitamina D. Mulheres grávidas ou não, a exposição ao sol deve ser realizada diariamente, em torno de 15 a 20 minutos por dia, com o rosto, braços e colo expostos e sem o uso de proteção solar, sendo os melhores horários até as 10 horas e após as 16 horas. A vitamina D é um hormônio fundamental para um bom funcionamento do organismo, e em mulheres grávidas é ainda mais importante. Isso porque, além de ajudar a diminuir o risco de aborto espontâneo, a vitamina D também promove o crescimento saudável da placenta e pode reduzir risco de pré-eclâmpsia e de diabetes gestacional. Ela ajuda a regular a absorção de cálcio e fósforo, além de atuar na formação óssea, na liberação de insulina e no funcionamento do sistema imunológico. Alimentos que devem ser evitados ou consumidos moderadamente durante a gestação Chás e café O consumo de altas doses de cafeína na gestação pode estar associado ao aumento do risco de recém-nascido com baixo peso e de aborto. Sugere-se que o consumo inferior a 300 mg de cafeína não se associa a efeitos adversos. A cafeína pode ser encontrada no café e em bebidas à base de café, chá-preto, chocolate, chimarrão, refrigerante a base de cola e em bebidas energéticas. A dose diária segura de cafeína para a gestante sem riscos para o bebê segue essas recomendações: até 3 xícaras (200 ml) de café coado, ou até 2 xícaras pequenas (50 ml) de café expresso, ou até 2 xícaras (200 ml) de café instantâneo. Vale salientar que o chocolate, seja sólido ou em pó, também possui cafeína: dois tabletes pequenos equivalem, em média, a 1 xícara de café coado. Em relação aos chás e os riscos do seu consumo na gestação, ainda não há um consenso quanto ao seu uso por gestantes, mas devem ser evitados por não saber o possível efeito na saúde da gestante e no feto. Alguns estudos de revisão sistemática da literatura indicam efeitos abortivos ou relacionados a um maior risco de nascimento prematuro relacionados ao consumo de chás de camomila e de erva doce na gestação. Por esse motivo, desencoraje o consumo desses chás ao longo da gestação. Adoçantes artificiais O uso de adoçantes artificiais deve ser desencorajado na gestação e só deve ser utilizado com moderação e avaliando o seu custo-benefício, por gestantes com diabetes gestacional ou diabetes tipo 1. Apesar de parecerem seguros para a saúde da gestante e do bebê, ainda não existe evidência suficiente para que o seu consumo seja liberado na gestação. Adicionalmente, o consumo de alimentos adoçados com adoçantes artificiais traz um paladar excessivamente adocicado e que parece estimular o consumo excessivo de calorias e de alimentos ultraprocessados, além de reduzir a palatabilidade de frutas e vegetais, aumentando consequentemente, o risco de ganho de peso excessivo na gestação. • Adoçantes como a sucralose, o acessulfame-k, o aspartame e a estévia parecem ser seguros, mas ainda não existem estudos controlados em humanos suficientes para realizar tal afirmação; • Uso do sorbitol deve ser moderado, pois aumenta a excreção de minerais essenciais, como o cálcio; • As gestantes devem restringir o uso de sacarina e ciclamato; Bebidas alcóolicas O álcool, quando consumido pela gestante, atravessa a barreira placentária, expondo o feto às mesmas concentrações de álcool que o sangue materno é submetido. Porém, o efeito no feto é maior, devido ao metabolismo e à eliminação serem mais lentos, fazendo com que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool. Ações coletivas para o ganho de peso adequado na gestação A criação de espaços de educação em saúde sobre a alimentação adequada e saudável no pré-natal é de suma importância; afinal, nesses espaços, as gestantes podem ouvir e falar sobre suas vivências e consolidar informações importantes sobre o tema junto com outros assuntos que envolvem a saúde da criança, da mulher e da família dentro dos grupos de gestantes já existentes na ubs (brasil, 2012). Entre as diferentes formas de realização do trabalho educativo, destacam-se as discussões em grupo, as dramatizações e outras dinâmicas que facilitam a fala e a troca de experiências entre os componentes do grupo. Para o sucesso das ações, a comunicação deve ultrapassar os limites da transmissão de informações e a forma verbal, compreendendo um conjunto de processos mediadores da Educação Alimentar e Nutricional. Dessa maneira, recomenda-se que a comunicação seja pautada nos seguintes aspectos (BRASIL, 2016):
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