Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA CIRÚRGICA II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Avaliação e conduta cirúrgica dos nódulos e cistos hepáticos Os tumores do fígado acometem 9% da população e em sua maioria são benignos, assintomáticos e incidentalomas. Houve um aumento incidência dos tumores malignos, apesar de sua elevada mortalidade pelo diagnóstico tardio, a taxa de cura é elevada quando o diagnóstico é estabelecido precocemente. Investigação etiológica: inespecíficos → percebe-se um aumento do diagnóstico dessas patologias devido a incidentalomas encontrados em TC e RNM - Idade do paciente - Sexo - Uso de anticoncepcional oral (ACO) - História de doença hepática crônica - Exame físico - Exames laboratoriais: principalmente os marcadores tumorais - Métodos de imagem: tem características diferentes - US abdominal – exame inicial, de fácil acesso e muitas vezes já faz o diagnóstico das lesões císticas - Tomografia computadorizada com contraste e ressonância nuclear magnética: caracterização da vascularização desses nódulos, que tem características próprias - Biópsia hepática: limitado no diagnóstico das lesões focais hepáticas benignas (muito vascularizados, pode haver sangramento volumoso), é indicado em investigação de nódulo em fígado cirrótico > 1 cm com exame de imagem não típico de CHC Lesões Císticas do Fígado: são lesões biliares congênitas que resultam da dilatação progressiva de microhamartomas biliares, sem comunicação com a árvore biliar. Sua prevalência varia de 1,6% a 18% da população e em maioria são benignos e assintomáticos ou oligossintomáticos, achados de maneira incidental. A ultrassonografia tem 90% de sensibilidade e especificidade. Podem ser: 1. Cistos simples: são as lesões hepáticas mais comuns do fígado, acometendo 1 a 7% da população. Geralmente são congênitos e benignos, sem possibilidade de se malignizar. - US abdominal evidência paredes finas, conteúdo anecóico, reforço acústico posterior - TC abdome: anecóico em todas as fases do exame - RNM: lesão homogênea que não contrasta após a administração do gadolínio 2. Cistos hidáticos: Causadas pelo Ecchinococcus granulosus ou Ecchinococcus multilocularis, parasitas cestodas, encontrados principalmente no extremo sul e norte do Brasil. São transmitidos pelos excrementos contaminados de animais. Diagnóstico: dado através de critérios clínicos (dados epidemiológicos, febre, dor em HD, dor torácica e dispneia), testes sorológicos específicos para o echinococcus e exame imagem: parede espessa, septos, debris ecogênicos no interior, cistos multiloculados e calcificação parietal. Tratamento: albendazol, mebendazol ou praziquantel - recorrência com a parada da medicação. Nos cistos pequenos: observação, nos cistos maiores: injeção de álcool 90% ou salina a 15%. 3. Doença policística do fígado: trata-se de uma doença genética caracterizada pela presença de pelo menos 20 lesões hepáticas, associada frequentemente com cistos renais. O diagnóstico é ultrassonográfico e não há a indicação de tratamento, exceto se: - grandes lesões comprometendo órgãos adjacentes ou causar sintomas que interfiram na qualidade de vida do pacientes - destelhamento dos cistos maiores FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA CIRÚRGICA II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A No caso de síndrome compartimental (cistos muito grandes): transplante hepático 4. Cistadenoma/Cistadenocarcinoma: compreende apenas 5% entre as lesões císticas do fígado. Cistoadenomas: lesões pré-malignas e seu exato mecanismo de malignização permanecem desconhecidos. No exame de imagem observa-se margens irregulares, forma oval, com a presença de septações internas espessas e irregulares, com vascularização arterial periférica. Há a impossibilidade de diferenciação entre o cistadenoma e o cistadenocarcinoma Tratamento: ressecção cirúrgica Lesões Sólidas do Fígado 1. Hemangioma: são as lesões benignas sólidas mais frequentes. Tratam-se de tumores vasculares de origem mesenquimal, frequentemente um achado incidental, pequenas e assintomáticas. Mais comum entre mulheres (3:1) entre 30 e 50 anos. - US Abdominal: homogeneamente hiperecogênicos. Nódulos > 5cm podem ter aspecto heterogêneo com áreas hipoecogênicas devido a trombose ou necrose. Doppler revela ausência de fluxo arterial no interior do nódulo que, apesar de ricamente vascularizado, tem como característica a baixa velocidade do fluxo sanguíneo - TC contraste – fase arterial: enchimento periférico globular do contraste, que progride de forma centrípeta (“aspecto de algodão”) até o enchimento total da lesão nas fases portal e tardia. Permanece homogeneamente hiperdenso nas fases portal e tardia. - RNM: sensibilidade e especificidade ~ 90% e a principal característica é o intenso sinal nas sequências em T2 dando o aspecto “brilhante” - Biópsia percutânea: risco de hemorragia, somente deve ser realizada nas raras situações em que, apesar da realização das técnicas de imagem, não se fez o diagnóstico e permanece a suspeita de lesão neoplásica maligna. Tratamento: pode ser conservador ou cirúrgico → - Conservador - < 5cm: não há consenso na literatura a respeito da necessidade de acompanhamento contínuo - > 5 cm: controle semestral ou anual FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA CIRÚRGICA II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Cirúrgico: com dor ou sintomas sugestivos de compressão extrínseca de estruturas adjacentes devem ser considerados para a ressecção cirúrgica, desde que outras causas dos sintomas tenham sido excluídas. Ruptura e sangramento intraperitoneal ou falha em excluir um tumor maligno pelos exames radiológicos também. 2. Hiperplasia Nodular Focal: é um tumor sólido frequente, com prevalência de 2,5 a 8%, mais frequente em mulheres (relação 8:1), com pico de incidência entre 30-50 anos. Trata-se da proliferação hiperplásica dos hepatócitos normais secundário a malformações vasculares preexistentes no fígado. Complicações são extremamente raras e não há relatos de transformação maligna. São lesões únicas com diâmetro médio de 3-5cm que tendem a permanecer estáveis nos controles de imagem: espessa lesão cicatricial central, com septos radiados em 30% dos casos - US abdominal: maioria isoecogênica e de difícil diferenciação do parênquima adjacente, alguns casos podem ser hiper ou discretamente hipoecogênicas - US com doppler: padrão característico, com vasos arteriais dispostos de forma radiada com fluxo em direção centrífuga - alta especificidade, mas baixa sensibilidade - TC abdome: lesão iso ou hipodensa, que na fase arterial contrasta de forma homogênea, retornando à sua densidade pré-contraste nas fases venosa e tardia - RNM: após a injeção do gadolínio, a lesão apresenta enchimento homogêneo e precoce, e a cicatriz central contrasta na fase tardia nas imagens em T1. A sensibilidade desse achado é de 70% e a especificidade, de 98%. Tratamento: há necessidade de diagnóstico radiológico seguro. Confirmado o diagnóstico, a conduta é conservadora → exame de imagem, com intervalos que podem variar de seis meses a dois anos, conforme sua evolução. Excepcionalmente, nódulos muito grandes, que apresentem sintomas ou compressão de órgãos vizinhos devem ser avaliados para exérese cirúrgica. 3. Adenoma: sua associação com hormônios é evidente: aumento incidência consideravelmente a partir da década de 60 após o início do uso de anticoncepcionais orais. Sua incidência anual: 1/milhão em mulheres que nunca usaram terapia hormonal e 30-40/milhão em usuárias de ACO por longo tempo → apresenta relação direta com a dose e o tempo de uso. A relação mulher/ homem é de 4:1. Podem regredir com o término da terapia hormonal e podem aumentar de tamanho durante a gravidez. Também é associado também ao uso de esteróides anabolizantes e a doenças de depósito de glicogênio. Em sua maioria são assintomáticos e com bom prognóstico, porém alguns sangram ou malignizam, logo devem ser acompanhados. - Nódulos únicos (70 a 80%) - Nódulos múltiplos → adenomatose hepáticamúltipla : ≥10 nódulos Complicações: Sangramento e malignização - Sangramento: gera dor abdominal aguda. O risco de sangramento tem sido estimado em aproximadamente 20-30% em tumores > 5 cm, incluindo hemorragia intratumoral, subcapsular ou hemoperitônio - Malignidade: transformação maligna ocorre em 5-10% dos adenomas, em especial os > 4cm - Sexo masculino independente do tamanho deve fazer a ressecção uma vez que a chance de malignizar é 5 a 10 vezes maior do que entre as mulheres. - O aumento da lesão em 0,5-1,0cm + aumento dos níveis séricos de alfa fetoproteína = transformação em carcinoma hepatocelular FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA CIRÚRGICA II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Exames: - US abdominal: nódulos iso, hiper ou hipoecogênicos, dependendo da presença de gordura, hemorragia ou necrose no interior da lesão. Cápsula ou pseudocápsula pode estar presente - US com doppler: vasos arteriais periféricos e centrais dispostos de maneira desorganizada - TC Abdome: enchimento precoce e homogêneo na fase arterial, exceto quando há necrose ou hemorragia central. Fases portal e tardia evidenciam nódulos isoecogênicos em relação ao parênquima normal. - RNM: achado inespecíficos. Intenso realce da lesão após a administração do gadolínio, tornando-se isointensa em relação ao parênquima hepático nas fases venosa e tardia. Sensibilidade é de 75% - Biópsia da lesão → deve-se evitar: - Tem risco de sangramento, uma vez que a lesão tem rico suprimento arterial - Há a alta probabilidade de coleta de material insuficiente para análise histológica ou interpretado como tecido normal, já que as lesões são formadas por hepatócitos normais - Os nódulos podem conter pequenos focos de células malignas, não detectados nas amostras de biópsias feitas, o risco de haver falsa segurança de que a lesão é inteiramente benigna Tratamento: interrupção do uso dos ACO (nas mulheres) e ressecção cirúrgica está indicada em alguns casos: - Lesões sintomáticas - Incerteza diagnóstica - Lesões > 5cm na mulher e no sexo masculino qualquer tamanho - Presença de complicações: hemorragia e transformação maligna Se não houver indicação para intervenção cirúrgica, o controle de evolução do AH deve ser feito semestralmente por exame de imagem FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA CIRÚRGICA II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A 4. Metástase: o fígado é o órgão mais comumente atingido por metástases, principalmente do trato gastrointestinal. No exame de imagem: - 80% são hipovasculares - Detecção de vasos apenas na periferia da lesão - Menor densidade da lesão em relação ao parênquima adjacente nas fases tardias do exame - Em muitos casos, a lesão é apenas identificada na fase portal ou tardia da imagem A ressecção é feita quando possível 5. Carcinoma Hepatocelular: Fatores de risco: - Cirrose hepática: 80% dos casos dos CHC estão associados a cirrose secundária ao VHB ou VHC. Cirrose alcoólica e esteatohepatite não alcoólica. - Aflatoxinas, hemocromatose, glicogenose tipo I, deficiência de alfa-1- antitripsina, doença de Wilson e porfirias Exame de imagem: vê-se a presença de nódulos hipoecogênicos na ecografia realizada como screening em pacientes com hepatopatia crônica (de 6/6 meses). - Uso de contraste com achado de hipervascularização arterial. - Washout durante a fase portal e de equilíbrio → específico para CHC. Diagnóstico: depende do tamanho → - <20mm: dois exames de imagem com hipervascularização arterial com washout nas fases portal e tardia - > 20mm: um exame diagnóstico com hipervascularização arterial com washout nas fases portal e tardia - Histológico: se o método de imagem inconclusivo, faz-se a biópsia Considerações: - Lesões 1 a 2 cm com hipervascularização arterial, mas sem washout nas fases tardias: 25% permanecem estáveis ou regridem ao longo do tempo e não são CHC - Lesões 2-3 cm, geralmente é bem diferenciado, encapsulado e tem baixo potencial de invasão de vasos sanguíneos - Lesão ~5 cm de diâmetro, o nódulo começa a perder diferenciação e passa a apresentar invasão vascular microscópica adquirindo a capacidade de gerar metástases - A minoria dos casos de CHCs é passível de intervenção cirúrgica potencialmente curativa. - Sem intervenção: sobrevida 10 meses → caquexia, hemorragia de varizes esofágicas ou gástricas, insuficiência hepática ou, mais raramente, por ruptura do tumor com hemoperitônio Seguimento: - Lesões < 10mm: US a cada três-seis meses, se estabilidade em dois anos, considera-se como nódulo regenerativo - Lesões > 10mm: TC ou RM - Características típicas → CHC - Imagem indefinida → segundo estudo imagem ou mesmo biópsia - Se diagnóstico CHC → TC tórax para estadiamento Tratamento: - Ressecção e Transplante hepático - tratamento curativo: o que determina qual será o tratamento é o tamanho do tumor, o número de tumores, o grau de hepatopatia e também a experiência do cirurgião com ressecções hepáticas em pacientes com cirrose hepática FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA CIRÚRGICA II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Avaliação grau de comprometimento da função hepática : CHILD A - Ausência de Hipertensão portal, invasão vascular e metástase a distância - Medida volumétrica do fígado → 50% fígado remanescente (realizar embolização ramo principal da veia porta do mesmo lado do tumor) → crescimento e aumento da capacidade funcional - Condições clínicas - Transplante: - Tem que ter Child B ou Child C + Critérios de Milão (lesão única com até 5 cm ou até três lesões todas inferiores a 3 cm) - Ausência de metástases à distância ou linfonodais locais - No Brasil, desde julho de 2006, a priorização para TXH dos pacientes listados obedece aos critérios de gravidade do escore MELD - equação matemática logarítmica que estima o risco de morte nos 90 dias subsequentes - >40 = 100% mortalidade - MELD = 3,78 [Ln* bilirrubina sérica (mg/dl)] + 11,2 [Ln* INR] + 9,57 [Ln* creatinina sérica (mg/dl)] + 6,43 * Ln=logaritmo natural - Seguimento pós-ressecção ou transplante: recorrências locais pequenas podem ser manejadas através de ressecção ou de listagem para TXH. TC abdome + RNM são sensíveis para recorrência e deve-se associar dosagem sérica de alfafetoproteína - Terapias ablativas: ressecção hepática e o TXH são contraindicados por alto risco cirúrgico
Compartilhar