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GINECOLOGIA Sangramento uterino anormal ● Alterações da menstruação decorrentes de aumento/diminuição no volume, na duração e/ou na frequência; ● Padrões normais: 30-60ml, com duração de 3-7 dias, com ciclo de 21-35 dias. . CONCEITOS . ● Menorragia (hipermenorreia): sangramento uterino excessivo, >80 ml por ciclo, ou prolongado, por mais de 7 dias. ● Metrorragia: sangramento uterino em intervalos irregulares; ● Menometrorragia: sangramento anormal, prolongado e irregular, podendo ocorrer no período menstrual ou fora dele; ● Hipomenorréia: sangramento inferior a 03 dias ou volume menor que 30ml, ou ambos; ● Oligomenorreia: sangramento uterino em intervalo superior a 35 dias; ● Polimenorréia: sangramento uterino em intervalo inferior a 24 dias; ● Sangramento de escape, intermenstrual ou spotting: sangramento uterino de pequeno volume precedente ao ciclo menstrual regular; ● Amenorreia: ausência de sangramento vaginal por 3 ciclos regulares ou 6 meses em ciclos irregulares; ● Sangramento uterino disfuncional (SUD): sangramento uterino não relacionado a causas anatômicas ou sistêmicas, sendo a principal causa a anovulação. . CLASSIFICAÇÃO . ● Classifica-se a etiologia do sangramento uterino anormal a partir do sistema de classificação PALM-COEIN. PALM: causas estruturais ● P: Pólipo ● A: Adenomiose ● L: Leiomioma ● M: Malignidade e hiperplasia COEIN: causas não estruturais ● C: Coagulopatia ● O: Disfunção Ovulatória ● E: Disfunção Endometrial ⇒ hiperplasia típica, atrofia ● I: Iatrogênica ⇒ uso de anticoagulantes, contraceptivos hormonais, DIU ● N: Não-classificada, outras⇒ doenças benignas do colo uterino, endometrites, malformações arteriovenosas ou defeitos na cicatriz cesariana. . ETIOLOGIAS DO SANGRAMENTO x IDADE . Infância: ● Nessa fase, entre as principais causas temos: vulvovaginite, alterações dermatológicas, trauma, estrógenos materno, sarcoma botrióide, puberdade precoce e tumores ovarianos. Adolescência: ● Nessa fase é comum: SUD (anovulação), coagulopatias, IST’s, gravidez e uso de medicamentos. Idade reprodutiva: ● É comum gravidez, IST's, neoplasias benignas (leiomiomas e pólipos) e uso de medicamentos. Perimenopausa: ● São frequentes SUD, neoplasias, gravidez e uso de medicamentos. Menopausa: ● Nessa fase é comum atrofia endometrial, pólipos, neoplasia maligna do endométrio e uso de medicamentos. . P: PÓLIPOS . ● Projeções no tecido endometrial, onde se observa uma distribuição irregular das glândulas endometriais, estroma hipercelular denso e vasos sanguíneos com paredes espessadas, recobertas por epitélio pseuestratificado ativo ou, no caso da pós-menopausa, por epitélio plano e inativo. Sintomatologia: ● 12% assintomáticas ● Principal sintoma: sangramento anormal ⇒ menorragia, ciclo irregular, sangramento pós-coito e sangramento intermenstrual. Riscos de malignidade: ● Tamoxifeno (CA de mama) ● Sangramento pós-menopausa ● Idade >60 anos, ● Tamanho do pólipo > 1,5cm (ou 15mm) Diagnóstico: ● USG-TV, histerossonografia, histeroscopia com retirada da lesão (padrão-ouro). Tratamento: ● Expectante (regressão em 25% dos casos) ● Histeroscopia para polipectomia ● Histerectomia, quando há sinal de malignidade. . A: ADENOMIOSE . ● Presença de glândulas e estroma endometrial no miométrio ⇒ espessamento da parede do útero. ● OBS: Pólipo adenomatoso (adenomioma polipoide): é uma estrutura séssil (de base larga) ou pediculada, localizada no endométrio ou no endocérvice. Sintomatologia: ● Assintomática em vários casos. ● SUA, menorragia, dismenorréia, metrorragia, dispareunia e dor pélvica. Diagnóstico: ● USG-TV (ultrassonografia transvaginal) ⇒ observa-se espaços císticos no miométrio e espessamento da parede uterina (capacidade limitada). ● Histerossonografia ⇒ distingue as lesões endometriais e miometriais, aumentando o potencial diagnóstico da USG-TV. ● CA-125 ⇒ um marcador tumoral que pode estar aumentado nas mulheres com adenomiose, mas valores normais não excluem a doença ⇒ níveis ligeiramente elevados (baixa especificidade). ● Ressonância magnética ⇒ ela apresenta especificidade e sensibilidade superiores à ultrassonografia transvaginal, tanto na adenomiose focal como na difusa. Tratamento: ● Agonistas de GnRH: busca bloquear o eixo Hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO); ● Antagonistas de GnRH: abaixa os níveis de esteróides gonadais; ● Outros: Adenomiectomia, embolização da artéria uterina e laparoscopia. . L: LEIOMIOMA . ● Leiomiomas, miomas ou fibromas uterinos são tumores benignos originados de células musculares lisas do miométrio. ● São costumeiramente descritos de acordo com a sua localização; ● Tumor pélvico benigno mais frequente na mulher em idade reprodutiva, associando-se a significativa morbilidade e constituindo a principal causa de histerectomia. Localização: ● Intramurais: desenvolvem-se dentro da parede uterina. ● Submucosos: derivam de células miometriais localizadas imediatamente abaixo do endométrio e frequentemente crescem para a cavidade uterina. ● Subserosos: originam-se na superfície serosa do útero. ● Cervicais: localizados na cérvice uterina. OBS: Sistema de classificação FIGO/MUSA: Sintomatologia: ● Assintomáticos em alguns casos; ● SUA (menorragia e hipermenorreia), tumor pélvico, dor pélvica e infertilidade; Complicações obstétricas: ● Aborto espontâneo; ● Parto pré-termo; ● Baixo peso ao nascer. Diagnóstico: ● Palpação bimanual; ● USG ABD + TV: observa-se uma estrutura arredondada, bem delimitada, iso ou hipoecogênica em relação ao restante do miométrio, heterogênea e com vascularização periférica. ● RNM (ressonância magnética): melhor método diferencial, exibe a localização exata da penetração dos miomas submucosos no endométrio. ● Histeroscopia: melhor sensibilidade no diagnóstico diferencial entre pólipo e mioma submucoso, permitindo no mesmo ato o tratamento. Tratamento: ● Cirúrgico: histerectomia e miomectomia. ● Antifibrinolíticos: inibidor da ativação do plasminogênio (ácido tranexâmico); ● AINEs: diminuição da síntese de prostaglandinas (ácido mefenâmico, diclofenaco). ● Análogos da GnRH: Gosserrelina 3,6mg, por via subcutânea, injetados no abdômen, mensalmente, ou 10,8 mg trimestralmente. ● Moduladores Seletivos dos Receptores da Progesterona: acetato de ulipristal (5mg/dia para 3 meses pré-cirúrgico) ⇒ No Brasil tem uso restrito, pouco disponível. ● Menopausa. . M: MALIGNIDADE E HIPERPLASIA . ● CA endométrico: 3% das neoplasias em mulheres ○ Diagnóstico: biópsia via histeroscopia (padrão ouro). ● CA colo uterino: 4° no Brasil ○ Papanicolau (dos 25-64 anos recomenda-se anualmente, e se 2 exames apresentam-se negativos, recomenda-se a cada 3 anos). ○ Vacinação (bi e tetravalente) . C: COAGULOPATIAS . Etiologia: ● Doença de von Willebrand (fator VIII - adesão plaquetária) ● Trombocitopenia ● Deficiências de fatores da coagulação; Sintomatologia: ● História pessoal de hematomas fáceis ● Complicações hemorrágicas com cirurgia ou parto ● Cistos hemorrágicos ● Epistaxe ● Sangramento gastrintestinal ● História familiar Diagnóstico: ● Coagulograma: ○ tempo de sangramento - TS; ○ tempo de tromboplastina parcial ativada - TTPa; ○ dosagem de fibrinogênio ; ○ tempo de protrombina - TP. ● Hemograma; ● Contagem de plaquetas. Tratamento: ● Mesmos do SUD (exceto AINES) ● Reposição de fatores de coagulação. . O: DISFUNÇÃO OVULATÓRIA . ● Identifica-se como uma normalidade, irregularidade ou, ainda, ausência de ovulação. Etiologia: ● Síndrome do ovário policístico, hiperprolactinemia, disfunção hipotalâmica, entre outros. Sintomatologia: ● Amenorreia, irregularidade menstrual, ausência de sintomas precedentes da menstruação (mastalgia, alterações no humor e distensão abdominal). Diagnóstico: ● Clínico, US TV, dosagem de prolactina e TC de sela túrcica; Tratamento: ● Terapia hormonal como contraceptivos orais ou com anti-inflamatórios não esteroides (AINES). . E: DISFUNÇÃO ENDOMETRIAL . ● Ocorre no contexto previsível e cíclico do sangramentomenstrual (ciclos ovulatórios), provavelmente por uma desordem primária do endométrio; ● Distúrbio de mecanismo hemostáticos; ● Desordens secundárias: inflamação ou infecção endometrial e aberrações endometriais. Diagnóstico: ● Exclusão de outras anormalidade identificáveis em mulheres na idade reprodutiva que parecem ter função ovulatória. . I: IATROGENIA . ● Estado de doença, efeitos adversos ou complicações causadas por ou resultantes do tratamento médico. ● Medicamentos: ○ Anticoagulantes ○ Esteróides ⇒ estrogênios, progestogênios, androgênios, hormônio liberador de gonadotropina, inibidores de aromatase, moduladores seletivos dos receptores de estrogênio ou progesterona, sistemas intrauterinos medicados ou inertes. . N: NÃO CLASSIFICADA . ● Endometrite crônica; ● Malformações arteriovenosas; ● Hipertrofia miometrial; ● entre outras causas. . SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL . ● Perda sanguínea oriunda da cavidade uterina e de origem endometrial, na ausência de doenças orgânicas, atribuída às alterações nos mecanismos neuroendócrinos que controlam a menstruação. ● Diagnóstico de exclusão: sangramento uterino disfuncional Incidência: ● 20% dos sangramentos ocorrem em adolescentes. Classificação e fisiopatologia: SUD ANOVULATÓRIO (cerca de 80% dos casos) ● Não há produção de progesterona; ● Persistência do endométrio proliferativo. ● Mais comum nos extremos da vida reprodutiva. Na puberdade: ● Causada geralmente por imaturidade do eixo HHO ⇒ não consegue levar o folículo ao estágio maduro e não produz o pico de LH. ● Na grande maioria das vezes não são sangramentos volumosos, o ideal é apenas orientação e observação ⇒ com amadurecimento do eixo HHO os ciclos se regularizam. (Importante afastar coagulopatias). ● Nos casos de sangramentos moderados ou prolongados: o estrogênio está sendo produzido, então o correto é usar apenas progesterona 300mg/10 dias (ou medroxiprogesterona 5-10mg, ou noretisterona 1-5mg, ou nomegestrol 5mg). Repete-se o esquema por 03 ou 04 ciclos, iniciando no 15° dia após o início do ciclo. ● Nos casos de sangramentos abundantes com anemia, usar estrogênios equinos conjugados (EEC) 1,25 a 2,5 mg 6/6h, 48h (ou etradiol 1-2 mg 6/6h, 48h) associar progesterona por 10 dias ou substituir por anticoncepcionais orais 30-50 mcg etinilestradiol 8/8h, 10 dias. Após 3-4 dias ocorrerá a descamação e nos próximos ciclos fazer apenas a progesterona 10 dias após o 15° dia menstrual. ● AINEs podem ajudar a reduzir o sangramento. ● Antifibrinolítico ajudam pouco. No menacme: ● O mecanismo provável é um feedback inadequado, levando invariavelmente ao ovário policístico. ● Ausência de ovulação leva ao aparecimento de ovários policísticos. Eles são a expressão morfológica do estado de anovulação crônica. ● Tratamento basicamente o mesmo que na puberdade. ● O objetivo do tratamento visa também hirsutismo, obesidade, hiperinsulinismo e/ou infertilidade. No climatério: ● A anovulação se deve a falência funcional dos ovários, que ainda produzem estrogênios mas não ovulam mais. O sangramento ocorre na camada compacta do endométrio (por deprivação ou níveis estrogênicos incapazes de manter o endométrio). ● O tratamento inicial também é o mesmo, porém o estudo histológico prévio do endométrio é obrigatório ⇒ biópsia ou curetagem (a menos que o ultrassom nos mostre um endométrio com espessura inferior a 5mm). ● A preocupação primária nessa faixa etária é afastar o câncer de endométrio. ● Manter progesterona cíclica até surgir sinais de deficiência estrogênica, quando este deverá ser acrescido na terapêutica. ● TIPO DE SANGRAMENTO: ● Sangramento leve ou intenso, constante ou intermitente, geralmente não associado à TPM⇒ pode haver cólica na saída de coágulos pelo canal cervical. SUD OVULATÓRIO (5% dos casos) ● Perda de tônus vascular; ● Maior perda sanguínea. ● TIPOS DE SANGRAMENTO: ● Sangramento da ovulação: mais comum no fim da vida reprodutiva de pequena intensidade, com duração de 1 a 3 dias, coincidindo com período ovulatório. ● Polimenorréia: ciclos menores 24 dias, geralmente por encurtamento da fase folicular. (mas pode ser também fase lútea ou ambas). ● Descamação irregular: sangramento prolongado e abundante, com intervalos regulares (regressão retardada do corpo lúteo havendo ação de progesterona do ciclo anterior e estrogênica do ciclo atual). ● Sangramento pré-menstrual: geralmente perda escassa e escura de sangue, que antecede de alguns dias o ciclo menstrual ⇒ mais comum no fim da vida reprodutiva (após 35 anos), geralmente por deficiência de progesterona. ● Hipermenorréia/menorragia: mais comum com mioma ou adenomiose (orgânica). Pode ser por congestão uterina, por retroversão uterina ou disfunção orgânica. ● Persistência de corpo lúteo: Chamada síndrome de Halban ⇒ geralmente esporádica. Pode ser confundida com gravidez ectópica por presença de sangramento irregular e dor pélvica com massa anexial (corpo lúteo hemorrágico). Diagnóstico: ● Afastar causa orgânica ⇒ quanto mais jovem maior a chance de ser de causa disfuncional. ● Separá-las em 2 grupos: as que ovulam e as que não ovulam ⇒ anamnese, temperatura basal, citologia hormonal, muco cervical, US; ● A simples observação da paciente pode nos dar algumas informações ⇒ obesidade, magreza, hirsutismo, Cushing, entre outros. ● Anamnese: menarca na idade habitual com ciclos irregulares ● Em casos de sangramentos excessivos, deve-se investigar coagulopatias. Caso contrário, a chance de ser somente imaturidade do eixo HHO é grande. ● Outros fatores que merecem atenção: uso de medicações, DIU, cirurgia ou cesárea prévia ● Biópsia do endométrio: mostra o tipo de endométrio. ● Histeroscopia é um excelente método de investigação. ● Hidro-histerossonografia: é mais barata e mais acessível. Tratamento: ● Normalmente não necessita de tratamentos, apenas nos casos de ciclos muito curtos ou sangramentos muito aumentados ou prolongados que incomodem a paciente. ● Complementação com progesterona na segunda fase do ciclo ou uso de anticoncepcionais orais. Uso de medicamentos não hormonais no tratamento de SUD: AINEs: ● Associação das prostaglandinas com a patogênese do SUD; ● Uso no início ou em todo o período da menstruação ● Alívio da dismenorreia; ● Inibição da função plaquetária (COX-1) ⇒ ibuprofeno. ● Controvérsias no uso de inibidores de COX-2 ⇒ celecoxibe. Ácido tranexâmico: ● Fármaco antifibrinolítico; ● Impede a decomposição da fibrina, evitando sangramentos. ● Dose preconizada: 2 comprimidos de 250 mg VO três vezes ao dia, por no máximo 5 dias durante a menstruação. ● Contraindicados em casos de histórico ou risco intrínseco de doença tromboembólica. Tratamento cirúrgico: ● Histerectomia: tratamento mais eficaz, mas raramente necessário; ● Desvantagens: complicações, tempo de hospitalização e recuperação e os altos custos
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