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Princípios e bases para a prática médica P A arte clínica é levar para cada paciente a ciência médica. Origens da medicina P Hipócrates foi o fundador da medicina e deixou um grande legado sobre a naturalização das explicações sobre a doença; q A epilepsia, por exemplo, era considerada uma doença sagrada. P Embora a Escola de Cós tenha construído uma base sistematizada, racional e natural de esclarecimento da doença, as explicações ligadas à mitologia não foram abandonadas; P A medicina é o desenvolvimento de um método de diagnóstico e prognóstico de situações ligadas ao processo saúde e doença para que seja possível intervir depois; P Os preceitos hipocráticos, além da semiotécnica, formam um conjunto de valores que irão compor o ethos da profissão médica; q Prova disso é que até hoje o ritual do juramento atribuído a Hipócrates é repetido no momento da cerimônia de formatura de médicos; q O juramento foi adaptado para a realidade atual, preservando os princípios éticos atribuídos à escola hipocrática. P A doença deixa de ter uma explicação mágico-religiosa e passa a ter relação com o meio ambiente como precursor do equilíbrio que mantém a saúde ou a organização que leva ao adoecimento. Concepção de saúde e doença P As concepções de saúde e doença, os níveis de aplicação das medidas preventivas, as relações da medicina com o meio ambiente, a organização do sistema de saúde como expressão dessa sociedade, o ethos da medicina e as suas relações com o direito dos pacientes constituem os princípios e as bases para a prática médica; P Segundo a OMS, em 1948, saúde pode ser definida como “estado do completo bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência de enfermidade”; P Quando a saúde é definida como um estado de bem-estar, são introduzidos objetivos que vão além do combate às doenças, estabelecendo novos compromissos para qualquer sistema de saúde; P Ao reconhecer não somente a dimensão física, mas também as dimensões mental e social, há uma ampliação da abordagem que se faz necessária pelos profissionais da saúde; q É necessário, nesse caso, a ampliação dos currículos de escolas médicas, afim de adicionar disciplinas que contemplem o mental e social; q É esperado que o médico seja capaz de trabalhar em equipe, pois as abordagens física, mental e social exigirão uma equipe multidisciplinar. P O conceito expressa que seja um “completo estado de bem-estar”, porém serve apenas para apontar uma direção, se não é possível ter o “completo estado de bem-estar”, é preciso buscar “o mais completo estado de bem-estar”; P Na antiguidade, predominavam as explicações mágico-religiosas sobre a origem das doenças, nos quais as enfermidades eram sinal de desobediência; P As explicações ligadas à ideia de castigo divino perderam o lugar para outras explicações racionais e naturais; q Pela observação da natureza, a saúde deriva de um equilíbrio interno do ser humano, chegando à sua relação com o meio externo. P Em relação a transmissibilidade das doenças, existiam ideias de que as doenças surgiam dos pântanos e dos maus ares, nascendo a ideia de contágio; q Com os estudos de Louis Pasteur e Robert Koch, o conceito de contágio foi confirmado, marcando o início de uma nova época da medicina; q As descobertas de Pasteur foram citadas por Dujardin-Beaumetz como capazes de abrir novos horizontes à arte de curar, mostrando a realidade do princípio virulento e contagioso das doenças. P Por mais de 500 anos, houve o advento dos antimicrobianos e a prevenção por vacinas, entre outras medidas que controlaram a maioria das doenças infecciosas; P A teoria unicausal, centrada na microbiologia, mostrou-se insuficiente para explicar as doenças que se tornavam prevalentes pelo processo de industrialização e urbanização, as doenças crônico-degenerativas, exigindo modelos explicativos multicausais. Determinantes de saúde de Marc Lalonde P Marc Lalonde, ministro da Saúde do Canadá de 1972-1977, apresentou, em 1974, um relatório sobre a situação de saúde no país, ficando conhecido como “Informe Lalonde”; P Foram estudados os determinantes das doenças crônico-degenerativas, já que eram causas de morbimortalidade: q Biologia humana; q Serviços de saúde; q Meio ambiente; q Estilo de vida. P O meio ambiente e estilo de vida apresentavam um maior impacto, quando comparado com os outros determinantes; P Havia um grande investimento nos serviços de saúde e muito pouco nas modificações do meio ambiente ou dos estilos de vida e a partir dai, passaram a priorizar as ações de promoção à saúde; P Os determinantes estudados por Lalonde trazem algumas pistas para a boa prática médica: reconhecer o papel do meio ambiente na saúde das pessoas a atuar na modificação deste de maneira favorável, contribuindo para a modificação dos estilos de vida dos pacientes e das populações. Determinantes sociais do processo saúde-doença P Aconteceu, em Brasília, a 8° Conferência Nacional de Saúde, a primeira com participação popular; P O relatório final dessa conferência apresenta um conceito de saúde ampliado, estabelecendo um conjunto de determinantes sociais e relacionando o nível de saúde da população com a estrutura social; P “Saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”; P De acordo com o artigo 6° da Constituição Federal, saúde é um direito de todos e dever do Estado, então, surge a ideia de que o direito à saúde implica garantir trabalho, alimentação, moradia, qualidade de meio ambiente, transporte, serviços e ações de saúde, direito à liberdade, à livre organização e expressão, acesso universal e igualitário aos serviços setoriais em todos os níveis; P A prática médica deve comtemplar a compreensão dos determinantes apontados pela 8° Conferência Nacional de Saúde”, utilizando outros recursos além de medicamentos, como educação em saúde, práticas de vida saudáveis, atendimento interdisciplinar, entre outros. Modelo de Leavell e Clark de história natural das doenças P Leavell e Clark lançaram um livro chamado “Medicina preventiva para o médico em sua comunidade” que descreve a evolução das doenças, relatando todas as etapas do adoecimento; P Relataram o período pré-patogênico, que era representado pelo equilíbrio instável entre o ser suscetível ao adoecimento, o meio ambiente e os agentes agressores; q As medidas preventivas aplicadas no período pré-patogênico são a promoção da saúde e a prevenção de doenças, sendo chamadas de prevenção primária. P Apresentando um desequilíbrio, sendo superado pela capacidade de agressão dos agentes nocivos, os indivíduos entraram no período patogênico; q As medidas preventivas aplicadas no período patogênico são o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, além da limitação de invalidez, correspondendo à prevenção secundária. P A prevenção terciária se dá no final do processo como reabilitação; P O objetivo de Leavell e Clark era acabar com a divisão entre medicina preventiva e curativa; P Esse modelo encontra limitações, fazendo com que a solução se dê no plano das mudanças de estilo de vida e/ou ações que não avaliam criticamente a forma como a sociedade se organiza. Ética e bioética P Ética significa modo de ser, caráter, conduta e é o estudo do comportamento moral do homem, é a ciência moral, da conduta; P Na medicina estão os valores mais altos da humanidade, é na medicina que existe o poder de dar e tirar a vida, lutar por ela e deixar morrer, ajudar e destruir pessoas; P A moral é objeto de estudo da ética e pressupõe três características: q Seus valores não são questionados; q Os valores são impostos; q A desobediência às regras pressupõe um castigo. P A grande diferença entre ética e moral é que, parafuncionar, a moral precisa ser imposta, enquanto a ética deve ser inerente ao indivíduo, apreendida e incorporada por ele; P A deontologia é o conjunto de regras, fruto da tradição, que indicam como deverá comportar- se o indivíduo na qualidade de membro de um grupo social determinado; P A bioética, novo campo da ética, é direcionado para a defesa do homem, sua sobrevivência e para a melhora de sua qualidade de vida; P Existem dois tipos de bioética: q Situações limites: surge devido ao progresso técnico e científico das ciências da saúde, principalmente no que se refere ao início e ao término da vida humana; q Cotidiana: relacionada com condições adversas da vida como exclusão social, fome, falta de acesso à saúde e direitos da cidadania. P Os princípios da bioética são apresentados como parâmetros práticos que orientam situações concretas: q Benefiência: significa fazer o bem, ou seja, o médico tem a obrigação de produzir benfeitorias, tentando equilibrar a relação risco-benefício, procurando atender aos interesses do paciente. Este princípio busca primeiramente a promoção da saúde e a prevenção das doenças; q Não malefiência: tem como princípio não agredir o paciente, ou seja, o médico tem obrigação de evitar danos ao paciente; q Autonomia: assegura ao paciente o direito de tomar decisões em tudo que se refere ao processo de saúde-doença; q Justiça: distribuição justa, equitativa e universal de bens e benefícios em tudo que se refere à saúde. Esse parâmetro tem como base o princípio da equidade. P A conduta do médio deve ser resultado de qualidades humanas e preparo técnico, ao lado de uma ordenação de princípios, representados pelo Código de Ética, bem como os direitos e deveres estabelecidos na legislação do país; P A bioética pretende discutir os problemas de saúde com base na responsabilidade moral, relacionada com a própria humanidade. Método clínico P Coube a Hipócrates sistematizar uma maneira racional de analisar as queixas relatadas pelos doentes, dando à anamnese e ao exame físico uma estruturação parecida com a que se faz hoje; P Apesar dos avanços tecnológicos, a base principal da prática médica continua sendo o exame clínico; P Os exames complementares, alguns deles dispensando até a intervenção do médico, aumenta a possibilidade de identificar com precisão e rapidez as “lesões” e as “disfunções”, porém, é necessário que o médio tenha a capacidade de saber selecionar os exames que devem ser solicitados, para não submeter o paciente a exames desnecessários; P Correlacionar com precisão os dados clínicos com os laudos dos exames complementares podem ser considerados a versão moderna do olho clínico; P A experiência mostra que algumas técnicas e manobras do exame físico podem ser substituídas por algum aparelho, mas a anamnese continua insubstituível em algumas condições: q Formular hipóteses diagnósticas; q Estabelecer uma boa relação médico- paciente; q Tomada de decisões. Qualidades humanas P O ato médico deve ter três componentes para ser perfeito: q Componente técnico: tudo aquilo que advém dos avanços da ciência médica, sejam eles máquinas, equipamentos, medicamentos, entre outros; q Ética: são os princípios éticos que direcionam os médicos para a maneira de utilizar os conhecimentos científicos para fazer o bem; q Qualidades humanas: podem ser sintetizadas no respeito incondicional ao paciente, na integridade no exercício da profissão e na compaixão para compreender o sofrimento do paciente e fazer de tudo que estiver ao alcance da ciência médica para aliviá-lo. Medicina Baseada em Evidências P É conceituada como o uso consciente, explícito e judicioso da melhor evidência disponível que seja capaz de justificar a tomada de decisões ao se cuidar de pacientes individuais; P A MBE torna possível responder questões que podem ser provenientes de dados clínicos, exames complementares, uso de medicamentos e outras possibilidades para prevenção e tratamento de doenças; P Não é MBE: q Não deve substituir o raciocínio clínico pela utilização de informações estatísticas como único instrumento para a tomada de decisão diagnóstica e terapêutica; q Não é desconsiderar a experiência adquirida na relação direta com pacientes; q Não é perder a autonomia e ficar mentalmente imobilizado por diretrizes, consensos e guidelines, sem capacidade de escolher o que é melhor para o paciente que está diante de si; q Não é utilizar equipamentos para sanar deficiências surgidas em exame clínico inadequado; q Não é priorizar o uso de equipamentos e medicamentos novos. Sistema Único de Saúde P O SUS deve atender a todos, sendo o princípio da universalidade, independentemente da maneira como o cidadão se insere no mundo do trabalho e sem quaisquer privilégios; P O SUS deve buscar a promoção da igualdade e, para isso, é utilizado o princípio da equidade, o qual garante promover que a igualdade não é tratar os desiguais de forma igual, é preciso promover a igualdade de tratamento cada um conforme as suas necessidades; P A integralidade pressupõe compreender o ser humano nas suas necessidades afetivas, emocionais, mentais, físicas e sociais, contemplando, também, a promoção da saúde, a prevenção das doenças, a recuperação da saúde, e a reabilitação; P O SUS é organizado de forma hierarquizada, o qual a atenção básica à saúde, porta de entrada preferencial para o sistema, deve ser resolutiva em 80% das situações, permitindo a criação de vínculo com as pessoas atendias que vai garantir a continuidade da atenção. q Serviços secundários e terciários com maior densidade tecnológica devem estar disponíveis para complementação da atenção quando necessários. P O sistema é descentralizado, permitindo uma melhor gestão, pois o planejamento local contempla as necessidades das comunidades atendidas; P A participação popular se dá por meio dos conselhos e conferências de saúde, permitindo que haja controle da sociedade sobre o sistema, devendo existir nas três esferas do governo; P O setor privado participa do SUS como forma complementar, sendo que as instituições filantrópicas têm precedência em relação às com fins lucrativos. O médico diante dos desafios e dilemas do SUS P Devido ao conceito ampliado de saúde, não se pode mais trabalhar com o foco da profissão médica apenas na doença como ente biológico, fazendo-se, portanto, necessário ampliar a visão do processo saúde-doença; P A ênfase na rede básica de saúde, ampliando as oportunidades para médicos de perfil generalista e consolidado novas especialidades como Medicina de Família e Comunidade, além de modificar o perfil de pacientes; P A promoção da saúde na rede básica passa a atuar nos estilos de vida e cria condições para que o médico estabeleça vínculos mais fortes com os pacientes; P O sistema é fortemente territorializado e regionalizado; P A equipe multiprofissional passa a ser essencial; P O vínculo e a continuidade exigem a criação de vínculos mais duradouros entre o médico, seu paciente e a família; P O paciente passa a ser corresponsável pelo seu tratamento, fazendo desaparecer a figura do médico como “senhor absoluto do saber”, sendo apenas um gestor do plano terapêutico. Código de defesa do consumidor P O “trabalho médico” é um serviço, prestado por um fornecedor e recebido por um “consumidor”, qualquer problema surgido em decorrência dessa relação fica submetido às regras do referido código; P A própria lei induz tratar de modo diferenciado a atividade dos profissionais liberais, afirmando que a responsabilidade pessoa dos profissionais será apurada mediante a verificação de culpa, enquanto para todas as demais relações abrangidas pelo Código do Consumidor a responsabilidade não decorre da culpa, sendo objetiva, ou seja, se houver dano e nexo de causalidade entre o serviço prestado por um fornecedore o resultado obtido pelo consumidor, há obrigação de indenizar; P O mesmo raciocínio não se aplica às empresas prestadoras de serviços médicos, pois não se definem como profissionais liberais, mas sim como pessoas jurídicas. Responsabilidade legal P Responsabilidade é dita como obrigação que todo ser livre tem de responder pelos seus atos e sofrer as consequências acarretadas pelos mesmos; P O profissional de saúde, devido às atividades que desenvolve em ambiente social, responde nas esferas civil, penal e ética pelas faltas que comete no exercício de sua profissão; P A fiscalização da atividade médica compete aos Conselhos de Medicina; P Entre as causas de processos contra médicos, é possível citar como principais: q Quebra da relação médico-paciente; q Massificação das relações; q Formação deficiente do médico; q Interferência da mídia; q Tendência internacional de altas indenizações; q Dano moral; q Assistência judiciária gratuita. Seguro médico P Manter-se tecnicamente capacitado; P Respeitar os limites da competência profissional; P Investir em uma boa reação médico- paciente/familiares; P Documentar todos os atos médicos no prontuário do paciente; P Abordar o paciente utilizando uma linguagem compreensível; P Falar sempre a verdade; P Não dizer o que não sabe; P Evitar atendimentos e prescrições a distância; P Utilizar o termo de consentimento informado, no qual deve constar o estado clínico do paciente, o tratamento necessário, os possíveis riscos e complicações; P Fazer encaminhamentos responsáveis; P Não fazer exames constrangedores sem a presença de um assistente; P Atender a imprensa, utilizando uma linguagem que o leitor ou espectador compreenda, não usar expressões do tipo “nada a declarar” e evitar qualquer declaração “em off”.
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