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NEVES, Eduardo Goés . História da Amazônia Antes da Conquista, 2005

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História
da
~ - ----;
História
da
ANTESDA
NQUISTA
EDUARDO CÓES NEVES
.,
CADERNOS DE ARQUEOLOGIA - 2
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN . 1a SR
04
05
~~~~~ ~ __ ~ __ ~~ __ ~~ ~~~~~~06
07
S E O INíC10 DA PR-º.!l~"ºAº,_Çg.R.1f\1JºtL.".""""" ...",""~",.".,,"",,º"~
E SOCIEDADES COMPLEXAS 10--------'--'--=+.".~~
S S~~OS ARQUEOLÓGICOS E CULTURAS DAAMAZÔNIA 11
, , ,
14
."'-I.'~UI~LOGIA - CADERNOS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
APRESENTAÇÃO
Este 2° Caderno de Educação Patrimonial
trata de um tema muito especial, no campo da
arqueologia, A História da Amazônia Antes
da Conquista, cuja leitura vai pouco a pouco
povoando questões que passam à margem da
educação formal. Na verdade, um belo presente do
Prof. Dr. Eduardo Góes Neves dedicado a 1aSR,
pleno de sensibilidade e inteligência.Um tema de
grande importância para a arqueologia brasileira,
embora pouco conhecido pelo homem amazõnida.
O texto reflete a experiência e a dedicação do
arqueólogo nos seus dez anos de estudo e pesquisa
nesta nossa continental e misteriosa Amazônia
indígena. Patrimônio das águas, mitos, lendas e
florestas. Aqui vive um povo solene, herdeiro da
tradição ora e que resiste mesmo vivendo sob o
ís, ainda hoje, ouve-se nas
ta carapanãs, nos umbrais das
casas as as víaqensde barco, como bem
cita eves, a voz do índio ou do caboclo celebrando
narrativas imemoriais, o que confere valor
inestimável à palavra proferida, enquanto
construção de uma identidade cultural.
Considerando a ausência do documento
escrito no período pré-colonial, a arqueologia torna-
se fonte única e inesgotável de conhecimento sobre
esse passado, marcado pela tradição oral, e nos
abre portas para o entendimento da história dos
nossos mais arcaicos ancestrais: os povos
indígenas. É sobre essa cultura, distante no tempo e
no espaço, inscrita na cerâmica e nos seus
fragmentas arqueológicos que trata este Caderno,
lançando uma nova perspectiva de aprendizagem na
esfera da Educação Patrimonial ao privilegiar
saberes e memórias subterrâneas.
Se por um lado nos dá prazer e alegria à
edição deste Caderno, fruto do Projeto Amazônia
Central, cuja equipe de arqueólogos, sob a
coordenação do Pro{ Eduardo G. Neves, tem
caminhado lado a lado conosco na luta pela
preservação do patrimônio arqueológico, por outro,
causa-nos tristeza a perda brutal de um de seus·
pesquisadores, no exato momento em que se
comemorava os dez anos de um árduo e grandioso
trabalho na Amazônia Central.
Portanto, é com enorme pesar que o IPHAN,
através de sua 1aSuperintendência Regional, dedica
este Caderno, in memorian, ao arqueólogo, Prof. Dr.
James Brant Petersen e às futuras gerações da
Amazônia, na esperança de ler, em sua verde
paisagem, uma outra história, que assimile o
respeito sagrado pela vida e pela nossa cultura. Seja
no céu ou na terra, saiba, Jim, que seu amor e
dedicação pela Amazônia iluminarão sempre os
nossos caminhos na defesa desse rico patrimônio
arqueológico.
Boa Leitura!
Maria Bernadete Mafra deAndrade.
Superintendente Regional do IPHAN/1 aSR
04
- ""éiZônia Antes da
.smo temático
ática, clara, conjunta e
eó 090 Prof. Dr, Eduardo
p'-"~;O. o
a Amazônia,
eza e a diversidade
garculU·ra
c;.. •• ~,,;u,."'!.~,·cos, já que as
~:"irir:lelnto sobre a ocupação
o averão de ser preenchidas
s; miras só possíveis mediante a
eoIógicos - o grande
os nós, e
"' •..••"'-""tC>uede órgão
a:::::UE:lO~ógiroe responsável
políticas públicas nessa
...c:._.~"1rU r<>c~;.· ~-se a apoiar o IPHAN
e e ção do
~~:>nTO sobre os bens arqueo ógicos da
;;azônia, e tem como pressuposto uma certeza: tal
reta só poderá ser realizada satisfatoriamente com
artícipação das comunidades na
azonas, essas ações foram
a sistemática, em 2004, no âmbito
e antamento de Sítios e Coleções
édio Amazonas, quando uma
;
TESDA CONQUISTA
equipe de educadores e a q eólogos visitou a sede
dos municípios Itacoatiara, Parintins, Barreirinha,
Boa Vista do Ramos, Maués, Urucurituba, São
Sebastião do Uatumã, Itapiranga; Silves, Urucará e
undá, no baixo Amazonas. Nessa expedição,
foram cadastrados 61 sítios, visitados outros 46 já
conh e ci do s , inventariadas 47 coleções
arqueológicas aos cuidados de outras instituições e
terceiros e 66 objetos avulsos. A informação sobre
arqueologia atingiu cerca de 540 pessoas e foram
realizadas oficinas em 11escolas.
Em 2005, a proposta é dar continuidade ao
trabalho, avaliando o estado de conservação dos
sítios arqueológicos já conhecidos no município de
Manaus e atualizar seus registros. Os objetivos
perseguidos são, além de estabelecer parcerias
locais, dispor de dados atualizados sobre os sítios,
de maneira a permitir implementar, juntamente com
as municipal idades, as medidas de proteção
necessárias à sua preservação .
O IPHAN agradece ao caro professor
Eduardo Neves por aceitar o convite para a
realização desta produção e tê-Ia concretizado com
tanta competência.
Catarina Eleonora Ferreira da Silva,
Arqueóloga IPHAN
Patrícia Maria Costa Alves,
Chefe da Divisão Técnica 1a SR/IPHAN
05
A5.j~I:Ol'OGIA-CADER os DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
I. INTRODUÇÃO
Existem diferentes maneiras de se aprender
sobre o passado. Normalmente, essa
aprendizagem se faz na escola, através da
leitura dos livros. Em outros casos, pode-se aprender
sobre o passado através das estórias contadas dos
pais para os filhos, ao longo do tempo. Na verdade, é
justamente fora da sala de aula, em conversas em
longas viagens de barco, ou à noite na rede, que o
conhecimento sobre passado é transmitido dos mais
velhos para os mais novos de uma maneira mais viva
e significativa. a Amazônia tem sido assim, desde
que os primeiros índios aqui chegaram há mais de dez
mil anos. a ela época, e em alguns casos até o
presente, era apenas através da tradição oral,
repetida de geração a geração, que a história dos
povos indígenas era contada.
eo oqía oferece uma outra maneira de
re passado porque é a ciência
,'tõC'....ILJ""r es do, no presente, dos restos
. dígenas que viveram há
a res de anos atrá a maioria dos
casos, esses povos não deixaran escrito sobre
sua cultura, sua religião, suas foi.. ..> ••• de vida. O que
resta apenas são objetos por eles produzidos e
abandonados. É a partir do estudo desses objetos que
sua história pode ser contada. O raciocínio
empregado pelos arqueólogos é relativamente
simples: ele funciona do mesmo modo que o de um
caçador que, andando pelo mato, encontra um tapiri
abandonado ou uma capoeira velha. Esse tapiri e
essa capoeira indicam que aqueles locais, em algum
momento do passado, já foram uma casa ou uma
roça, que alguém ali já viveu ou plantou, mesmo que
não haja ali nada escrito sobre essas atividades.
Na Amazônia, a arqueoloqia apresenta uma
perspectiva privilegiada para o entendimento da
história dos povos indígenas que aqui viviam antes do
início da colonização européia em 1500. O que é mais
06·
interessante é que essa história parece ser diferente
do que as crianças brasileiras, índias ou não, têm
aprendido na escola, conforme será visto nesse texto.
A região amazônica apresenta condições únicas para
a realização de atividades de educação ligadas ao
conhecimento, estudo e valorização do patrimônio
arqueológico. Tais condições estão ligadas ao fato de
que, na Amazônia, há uma forte continuidade cultural
e biológica entre, por um lado, as antigas populações
indígenas que ocuparam os sítios arqueológicos e,
por outro, as populações caboclas e indígenas
contemporâneas, dispersas pela vastidão da floresta
e áreas ribeirinhas, pelas cidades do interior ou pelas
grandes cidades como Manaus, Belém, Porto Velho
Macapá, Boa Vista ou Rio Branco. Em outras partes
do Brasil, atividades de educação patrimonial,
voltadas para a arqueologia têm um caráter mais
artificial, uma vez que houve em muitos casos uma
total substituição das populações indígenas pré-
coloniais por populações contemporâneas mestiças
ou de origem européia, africana ou asiática.
Em linhas gerais, há no interior da Amazônia
pelo menos dois grupos sociais geralmente distintos.
Emprimeiro lugar, os diferentes povos indígenas,
pertencentes a diferentes categorias étnicas, que são
seus habitantes desde tempos antigos. Em segundo
lugar, há as populações caboclas resultantes da
miscigenação dos povos indígenas locais, e de outras
áreas, com as populações nordestinas que para lá
migraram, para trabalhar naextração da borracha,
nos séculos XIX e xx. Em casos como esses, o
objetivo da educação patrimonial pode mostrar como
a arqueologia pode ser uma fonte importante para o
conhecimento do passado e, quem sabe, contribuir
para criar uma alternativa econômica, voltada para o
turismo que explore o patrimônio arqueológico. Tais
podem ser os casos em municípios como Parintins,
Silves, Maués e Urucurituba.
.o I ÍCIO DA OCUPAÇÃO HUMANA
ã..'1J:ue-:Jk>c::t;a,a antigüidade dos achados
expressa em anos antes do
ou em anos antes e depois de cristo.
.e ra alternativa é normalmente mais
- mas neste texto optei por usar a segunda
antes e depois de Cristo) porque o uso do
ário em anos ac/dc é mais simples, permitindo
aos e' ores correlacionar eventos e processos no
passado amazônico com eventos em processos
oco=dos em outros locais do planeta.
,., .. a"·~:J- mana da Amazônia se iniciou
anos. Datas ao redor de 9.200 anos
o as na escavação da Caverna da Pedra
íntada, uma gruta localizada no atual município de
onteAlegre, no Pará. Os achados em Pedra Pintada
mostram que esses habitantes antigos tinham uma
:::.r""1~("l.,...,;·i~ basea a a caça, pesca e também na
esta ue para algumas
. as a Amazônia. O fato
te egre terem sido feitos em
a gruta não q er dizer que os primeiros habitantes
a Amazônia tenham sido "homens das cavernas". O
que ocorre é que grutas e cavernas, pela própria
ro eção a ra Que oferecem, têm melhores
- ação de ma eriais. ao contrário
• aberto, geralmen e expos os à ação da
a erosão e de outras intempéries. Nesses
mos tipos de sítio, as condições de preservação
são normalmente piores, embora haja várias
exceções, conforme se verá a seguir.
mazõ ia, a bacia do
. G ~ a a Estado do Mato Grosso, uma
gruta, conhecida como Lapa do Sol, forneceu
aJg as datas ainca mais antigas, ao redor de cerca
de 2. anos C. Esse sítio foi escavado na década
de setenta ueólogo brasileiro, Eurico Miller,
com o auxílio dos índios Nambiquara que vivem na
área. As condições de preservação do sítio, no
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
entanto, que sofreu uma intensa ação de cupins,
misturando talvez as camadas arqueológicas, faz
com que essa data seja tomada com cautela e que
novas escavações sejam realizadas no local para
confirmá-Ias.
De qualquer modo, diferentes partes da
Amazônia já eram ocupadas ao redor de 6.000 AC. As
evidências vêm de locais tão diversos como a serra
dos Carajás, no Pará; a bacia do rio Jamari, em
Rondônia; a região do rio Caquetá (Japurá), na
Colômbia; o baixo rio Negro, próximo a Manaus e o
alto Orinoco, na Venezuela. Embora os dados sejam
ainda escassos, é provável que essas antigas
populações tivessem seu modo de vida organizado ao
redor da caça, pesca e coleta, mas que também
tivessem domesticado algumas plantas, conforme
dados obtidos, por exemplo, na Amazônia
equatoriana. As formas antigas de agricultura da
Amazônia eram provavelmente bastante parecidas
com algumas práticas atuais, tal como o cultivo nos
quintais em ias suspensas, geralmente sobre
canoas abar. -',.as • de plantas medicinais ou
temperos, cof-, ,..iferentes tipos de pimentas. O
mesmo pode ser dito das numerosas plantas
cultivadas atualmente por índios e brancos na
Amazônia: mandioca, mamão, pupunha, açaí,
abacaxi, pimentas, amendoim para citar apenas
alguns exemplos de uma lista extensa, foram plantas
domesticadas no passado pelos antigos índios. Numa
época em que se discute alimentos transgênicos,
clonagens e engenharia genética, o exemplo da
mandioca é ilustrativo e impressionante, já que os
índios (de fato, provavelmente as índias) do passado
desenvolveram uma tecnoloqia sofisticada, baseada
no uso do ralador,do tipiti, do cumatá, que transforma
uma planta extremamente venenosa em vários
produtos importantes como o beijú, a farinha, a
tapioca e até o caxiri, dentre outras coisas.
07
A2~QUI:ot.OGIA -CADER OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
11I.A DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS EO INíCIO DA PRODUÇÃO CERÂMICA
Parece claro, no entanto, que embora o
processo de cultivo de plantas seja bastante
antigo na Amazônia - remontando talvez a
6.000 AC ou mais - o surgimento de modos de vida
dependentes da agricultura foi um processo muito
mais recente, tendo se iniciado há mais ou menos
3.000 anos. Essa hipótese é baseada no fato de que,
a partir dessa época, ficam mais visíveis as
evidências de grandes aldeias sedentárias ocupadas,
em alguns casos, por centenas de pessoas por muitas
décadas, o que é compatível com economias
plenamente agricolas. Durante, portanto, cerca de
5.000 anos, entre 6.000 AC e 1.000 AC, a ocupação
humana da Amazônia foi realizada por populações
que mantinham uma economia mista, baseada na
caça, pesca, coleta e em uma agricultura de baixa
intensidade. Algumas populações indígenas da
Amazônia mantêm esse modo de vida até hoje. Talvez
o exe as cor' ecido seja o dos Maku do alto rio
1YV,+r.:'jTi°in de serem exemplos de atraso,
aku apresentam adaptações
está eO e na s cedidas, e por isso antigas, às
condições ecológicas da floresta tropical úmida na
terra firme.
É na Amazônia que se encontram algumas
das cerâmicas mais antigas produzidas em todo o
continente americano. Tradicionalmente,
arqueólogos associaram o início da produção
. cerâmica ao desenvolvimento da agricultura,
trabalhando com a premissa de que essa tecnologia -
ligada à produção e vasos para o armazenamento e
cocção - permite o processamento mais efetivo de
alimentos. Os dados sobre o início da produção
cerâmica na Amazônia mostaram que o quadro é mais
complexo, uma vez que as datas mais antigas, ao
redor de 5.000 AC e 3.500 AC, vêm de contextos
anteriores à plena adoção da agricultura, conforme
discutido anteriormente.
Atualmente, as cerâmicas mais antigas
conhecidas na Amazônia foram identificadas nas
regiões do litoral do Salgado, no Pará, e no baixo
Amazonas, próximo a Santarém, também no Pará.
Em ambos casos, os sítios onde essas cerâmicas
foram identificadas são sambaquis. Sambaquis são
sítios arqueológicos bastante particulares,
identificados em praias, áreas ribeirinhas ou
lagunares por todo o mundo. Sambaquis são
formados pelo acúmulo intencional de conchas e
terra, formando verdadeiras colinas artificiais, em
alguns casos com vários metros de altura.
Atualmente, acredita-se que os sambaquis eram
locais de moradia, mas também funcionavam como
cemitérios, uma vez que é comum a identificação de
sepultamentos humanos nesses sítios. No Brasil, os
sambaquis mais conhecidos e estudados são os do
litoral sul e sudeste, distribuídos desde o litoral do Rio
Grande do Sul até o Rio de Janeiro. No sul e sudeste,
os sambaquis mais antigos são fluviais, com datas
recuando a mais de 7.000 anos AC, no sítio
Capelinha, localizado no vale do Ribeira, em São
Paulo. Sambaquis litorâneos são um pouco mais
recentes, com datas recuando a cerca de 4.000 anos
AC, obtidas no litoral do Paraná. A partir dessas datas
antigas, sambaquis foram sendo construídos e
habitados no sul e sudeste até cerca de 1.000 anos
DC.
os sambaquis foram bem
ados, mas há informações
-- - - - a distribuição em áreas como nos
gado, Amapá e Maranhão, no baixo
róximo a Porto de Móz, nas regiões de
tarém, em ltapiranga, no Amazonas e até o vaie do
aooré, em Rondônia. Essa distribuição não é, no
o, contínua. A região do Salgado, no litoral do
Dará, é um ambiente bastante rico, formado por
ang ezais e uma grande rede de rios e
•••••..••ib,-.n<> essas' 005, sabe-se da ocorrência
e po devido à destruição
cara a mineração de cal. Cientistas
Domingos Ferreira Penna, fundador
o useu Emilio Goeldi, em Belém, realizaram
pesquisas com sambaquis do Salgado no final do
século XIX. mas foi apenas nas décadas de sessenta
e - +", • XX q e, graças às pesquisasde
;:;':;~"H;e-soe natas para os sambaquis do
'=•....i::t.l••os í icam que esses sítios
c~arr.~ ()S sambaquis do sul e sudeste,
a' porta e diferença que contêm cerâmicas
com idades de até 3.500 anos AC. Essas cerâmicas,
conhecidas como Mina, estão entre algumas das mais
. as o . ente. os sambaquis do sul e
, as cerâmicas são quase
ocorrem, são m . o mais
As datas de 3.500 anos AC para as cerâmicas
Salgado fazem parte do quadro mais amplo do
',.,',rinna rod çãocerfu . co ·nenteamericano.
e s an'gas são
"""""'~""G,rlas. a e 4.000 AC, em um amplo arco
. do r oral do Equador, a oeste, à foz do
as, ao leste. Esse arco contorna o norte do
con te, passando pelo litoral norte da Colômbia e
pelo fitora . ame. Nesses pontos, cerâmicas
com datas entre 4.000 e 3.500 AC foram encontradas,
em alguns casos em sítios do tipo sambaqui. As
cerâmicas mais antigas das Américas, no entanto,
foram localizadas no interior do continente, mais
.,
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
precisamente na Amazônia brasileira, na região do
baixo Amazonas, próximo à Santarém. Nessa região,
em frente à ilha do Ituqui, no sambaqui fluvial da
Taperinha, identificou-se nos anos 80, cerâmicas com
datas remontando a quase 5.000 AC. Os resultados
são, no entanto, ainda debatidos e há necessidade de
mais pesquisas na região para confirmá-Ios.
As regiões do baixo Amazonas, do estuário, a
Amazônia central e a bacia do alto Madeira são
algumas das áreas com maior potencial arqueológico
na Amazônia. No estuário, incluindo a ilha de Marajó e
o Amapá, há uma das seqüências arqueológicas mais
longas de todo o continente. Essa seqüência começa,
pelo menos, com as ocupações associadas às
cerâmicas Mina, com as já mencionadas datas de
3.500 AP, e continua na ilha de Marajó, com uma série
de cerâmicas diferentes, num processo que culmina
com uma grande explosão cultural datada do final do
primeiro milênio DC, ou seja, cerca de 500 anos antes
do início da colonização européia. Essa explosão é
indicada pela proliferação de uma série de cerâmicas
distintas - embora com alguns traços em comum,
como, por exemplo a pintura policroma. No Amapá as
cerâmicas características desse processo são
conhecidas como Aristé, Mazagão, Aruã, Cupixi e
Maracá. As cerâmicas Maracá são conhecidas desde
o século XIX, sendo compostas por urnas funerárias
antropomorfas, com a forma de indivíduos sentados
sobre bancos, em muitos casos semelhantes aos'
bancos usados por grupos indígenas atuais da região
da Guiana. Tais urnas encontram-se sempre
colocadas em grutas, na região do igarapé do Lago, a
oeste de Macapá, mas há também sítios a céu aberto
com cerâmicas Maracá, embora sem urnas .
Atualmente, o crescimento econômico da região e a
falta de proteção dos sítios têm colocado uma grande
ameaça a esse patrimônio, uma vez que há
informações que sítios Maracá têm sido destruídos
por colecionadores de peças.
09
Ai1~Uf:OLOGIA - CADER OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
IV. A EMERGÊNCIA DE SOCIEDADES COMPLEXAS
As diversas cerâmicas do Amapá não são
ainda muito bem datadas. A exceção são as
cerâmicas Aris té, conhecidas também na
Guiana Francesa, que têm datas que remontam ao
século IV ou V DC. O interessante nesse caso é que
parece haver uma clara relação entre os índios
Palikur, atuais habitantes da região litorânea próxima
à cidade de Oiapoque, e os grupos indígenas que
produziram as cerâmicas Aristé e que viveram na
mesma região. Se correta, essa hipótese indica que
os Palikur e seus ancentrais vivem nessa área há
cerca de- 1.500 anos. Do mesmo' modo que as
cerâmicas aracá, umas funerárias Aristé são
também enco tradas em grutas, enquanto que há
sítios a cé aberto que correspondem a antigas
aldeias. Alguns desses sítios estão inclusive
localizados sob aldeias cont=mporáneas, como é o
caso de Kumene, na Terra Indígena do Uaçá. O fato
de haver uma re'ação direta entre os Palikur e os
grupos ue param a região antes do início da
rmite que se utilize a tradição
- e estudo de sítios arqueológicos
. o a arqueologia pode
e o para o conhecimento da
s ona os i líqenas, A cerâmica Aristé tem
uma grande beleza, marcada pela decoração pintada
e modelada e por uma grande diversidade de formas.
Talvez o sítio Aristé mais conhecido seja Kunani, um
poço artificial onde se depositaram vários vasos e
umas funerárias, ocaIizado próximo à cidade de
Calçoene e escavado por Emilio Goeldi no final do
século XIX. Do mesmo modo que as cerâmicas de
Maracá, os sítios Aristé são também ameaçados pelo
interesse de COlecionadores particulares e pela
proximidade com a Guiana Francesa, o que facilita o
contrabando de peças.
Dentre os diversos tipos de artefatos
cerâmicos há umas funerárias, vasos, estatuetas
antropomorfas, tangas e bancos. A decoração pintada
inclui motivos antropomorfos, zoomorfos e abstratos,
sempre com alguma combinação entre vermelho,
laranja, branco e preto. A decoração plástica inclui o
modelado de diferentes técnicas de incisão e excisão.
A beleza das cerâmicas Marajoara torna-as bastante
cobiçadas, sendo, sem sombra de dúvida, a maior
categoria de objetos arqueológicos contrabandeados
no Brasil atualmente. Sítios com cerâmicas
Marajoara são bastante característicos:
normalmente são aterros artificiais, conhecidos como
tesos, que têm alguns metros de altura e dezenas de
metros de comprimento. Os tesos, bastante
numerosos, são distribuídos na parte leste da ilha,
numa área de extensos campos naturais, alagados
durante uma boa parte do ano, localizada ao redor do
lago Arari.
Apesar de uma história mais que centenária
de pesquisas, não existe ainda uma cronologia
precisa para a fase Marajoara, embora haja um
consenso que enquadra sua duração do século IV ao
século XIV DC, portanto por durante cerca de mil
anos. As cerâmicas Marajoara são as representantes
mais antigas da chamada Tradição Polícroma da
Amazônia. Sítios com cerâmicas polícromas têm
uma ampla distrbuição, incluindo, além da ilha de
Marajó, toda a calha dos rios Amazonas e Solimões,
desde a cidade de Silves, no Amazonas, até acima da
cidade de Iquitos, no Peru. Além dos rios Amazonas e
Solimões, cerâmicas polícromas são também
encontradas nos baixos e médios cursos dos rios
Madeira, Negro, Japurá-Caquetá, Icá-Putumayo e
Napo, dentre outros. Curiosamente há, no baixo
Amazonas, uma área onde não se encontram
cerâmicas polícromas. Essa área inclui um trecho que
vai do rio Tocantins e Amapá, a leste, até a região das
cidades de Nhamundá, Parintins e Maués, no
Amazonas, a oeste. Nesses locais encontram-se
sítios com cerâmicas bastante distintas, mas também
de grande beleza, pertencentes à chamada Tradição
Incisa ePonteada.
10
Na ilha de Marajó, as cerâmicas mais
conhecidas são associadas à chamada fase
Marajoara. Cerê.nlcas Marajoara compõem
acervos de museus e coleções particulares no Brasil e
exterior, sendo caracterizadas por uma grande beleza
e uma imensa diversidade de formas e de padrões de
decoração.
..,
MAPA DOS SíTIOS ARQUEOLÓGICOS E CULTURAS DA AMAZÔNIA
RIO UATUMÃ (REPRESA DE BALBINA) ~3 ÁREA DE MONTE ALEGRE(CAVERNA DA PEDRA PINTADA)
2 TRADiÇÃO POUCROMA DA AMAZONIA 8 ÁREA DOS RIOS ~4 F":SE MARACÁFASE NAPO NHAMUNDÁ E TROMBETAS
@ CAPfTA1SDE 3 MANIFESTAÇÃO DA TRADiÇÃO 9 RIO JAMARI (REPRESA DE SAMUEL) 15 FASEARISTÉESTADOS POLlCROMA DAAMAZONIA
BRASILEIROS
li="
4 SiTIO SANGAY 10 ABRIGO DO SOL 16 FASEARUÃ
5 LAGO YARMACOCHA 11 SERRA DOS CARAJÁS 17 TRADiÇÃO POUCROMA DA AMAZONIA,FASE MARAJOARA
6 PROJETO DA AMAZONIA CENTAL, ÁREA DE SANTARÉM 18 SITIOS DA TRADIÇÃO MINAsITIo AÇUTUBA IANTIGA CULTURA TAPAJÓS)
11
GRtIPIONI, Luis Donisete & Barreto, Cristiana (org.) Map of archaeological sites and cultures of Amazonia. In Amazonia; native traditions. São Paulo; Brasil Connects Cultura & Ecologia, 2004. p. 38.
hiaptado do mapa conforme sítios arqueológicos priorizedos na pesquisa do arqueólogo Eduardo Goes Neves.
AZeOOl:OLOGIA - CADER OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
No baixo Amazonas e baixo Solimões, desde
pelo menos Coari até Parintins, é muito
comum a ocorrência de cerâmicas
conhecidas como Paredão, assimdenominadas por
causa de um sítio localizado na estrada do Paredão,
em Manaus, pelo arqueólogo alemão Peter Hilbert.
Sítios Paredão são muito comuns na área de
Manaus, sendo que muitos desses sítios têm sido
destruídos pelo rápido crescimento da cidade.
Pesquisas feitas em Iranduba, no Amazonas,
mostram que essas cerâmicas foram produzidas
entre os s • VIII e XI DC. A cerâmica Paredão não
apresenta a esma elaboração vista nas cerâmicas
policrornas e ncisas e ponteadas, mas apresenta
uma bela pintura vermelha em .linhas finas com
motivos em espiral e ern grega, que às vezes podem
ser também' cisos. Talvez a categoria mais comum
de va Pa· ão sela as grandes umas funerárias
o..... s~ pre decoradas com dois
dos ou ovais, formando
Z os, geralmente
- DOCa,nariz e sobrancelhas
De rca s dos exemplos mais belos de
umas Paredão são encontrados na comunidade de
Canarana, no município de Maués.
No baixo rnazonas e baixo Solimões,
cerâmicas Paredão foram substituídas, nos sítios
arqueológicos, por ocupações com cerãmicas
polícromas por volta do ano 10000 DC. A
característica mais marcante das cerâmicas
polícromas é, como indica seu próprio nome, a
decoração pintada em vermelho e preto sobre uma
base branca. Do mesmo modo que no Marajó, no
entanto, cerâmicas polícromas são também
decoradas pelo modelado, incisão, excisão etc. A
cronologia mostra que sítios com cerâmicas
polícromas tomam-se paulatinamente mais recentes
à medida que se percorre rio acima o Amazonas-
Solimões e seus afluentes, desde a foz até os
contrafortes dos Andes. Tal padrão indica que a
Tradição Polícroma é um fenômeno com uma origem
claramente amazônica, e não andina, conforme se
propunha nas décadas de cinqüenta e sessenta.
Assim, as datas indicam que, enquanto o
início das cerâmicas polícromas data do século IV DC
na ilha de Marajó, as cerâmicas polícromas mais
antigas da Amazônia central datam do século IX DC,
no médio Solimões do século XII DC, no alto
Amazonas do século XIII DC. O significado dessa
expansão não é claro. Não se pode dizer, no
momento, se o padrão nas datas indica um processo
de expansão demográfica e colonização de novas
áreas ou se ele indica relações de troca e comércio
responsáveis pela expansão das cerâmicas
polícromas. De qualquer modo, é certo que as
populações que produziram essas cerâmicas foram
as mesmas que testemunharam e foram descritas
pelos primeiros viajantes europeus que passaram
pela Amazônia nos séculos XVI e XVII. Essas
descrições sugerem que, em alguns casos, as
populações que produziram cerâmicas polícromas no
alto Amazonas e no rio Solimões viviam em grandes
aldeias, às vezes com poucos milhares de pessoas, e
eram governadas por chefes supremos que
comandavam também outras aldeias de grande porte.
Ainda de acordo com os cronistas dos séculos XVI e
XVII, esses grupos mantinham relações de comércio
com outras aldeias distantes. A arqueologia
amazônica tem, nos últimos anos, confirmado tais
descrições, indicando que, de fato, alguns sítios com
cerâmicas polícromas correspondem a aldeias de
grande porte, às vezes com dezenas de hectares de
área.
As mais antigas ocupações
na Amazônia.
a) cerâmica da fase Areão, Salgado,
PA. (Segundo Correa & Simões
1971).
b) pontas de flecha. Sítio Dona
Stella - Iranduba - AM.
c-i) cerâmica hachurada zonada.
c-d) fase Ananatuba. (Segundo
Meggers & Evans 1967).
f) adorno de pote globular.
g-h) cachimbo tubular e sua
decoração.
(PRÓUS 1992: 431)
13
Lll THA DO TEMPO
Primórdios do tJadição
PolÍCromana Ilha de ~
SITIO TAPERlNHA 3.000 A 2.800 BP FASE MARlUOARA
SmoCAVERNA As primeiros oeeôrecos
I
Primeiros cocícodos que
TRADIÇÃO ~GA
da AmérIca sõo procedentes TAPIUOS
DA PEDRA PINTADA des1e sítio. Cate e <pWno do ugem no t>a1:ro lvrvzDnos.
fIoresIcr 8 ir'1cJo do ~cbs mc:iore<;
Valas ponios de projéteis cIomesficoçõo cbs p/cn= 1.600 A 600 BP fdeto!!ças no boDD Amazr.wlOs.
arasiDn o lYBSBnÇCJde 7.100 A 6.700 BP
I
AO 400A 1.400 FASEARUÃca;a:bBs a.:gasno
baK>.hTaaJas 1.200 A 300 BP
I
AD 800 A 1.700 1.600 A 300 B
AD 1.400 A 1.700
11.200 A 10.{)00 BP 1 Ll 1
5.000
I
4.000
I
3.000 2.000
I I
1.000
I
500
I
síTIO
TRADiÇÃO MINA NA
COSTA DO ATLÂNTICO
Grtx:x:lsvivendo nos ricas áreas
IDeitrJlcrs dó costo.
~ de scrmboquis
5.700 A 3.300 BP
~c.
gmde5 .">áls
5.700 A 3.300 BP nbe'!.:::;::::::ooJ
AD500A 1.700
•Comércio regional
05caXaíc5 do
~
Sub·!radiçó.o Guam
Flote$clmento ocs COQCno m:oo iVnazcvla
1.100 A 400 81
10 90C A 1.600
eu J f'»3Ut •e:;e
1.000 BP •Maior expamão da,
lId9!aç<1Senfi_
A populoçõo <D Anr:IroI>
es1ó esfmcxJo ~ âe
mih>e5 de pessoas.
600
ID .400
Franceses, holandeses, Ingleses e portugueses
negociam com GS fOO105.
Estabeleclmorrto de forles e coôceos eurooétas:
AO 1583 A 1631
'ÚHimos índios Aruôs
no baixo Amazonas.
AO 1816
•
.0
!
1.500
I
1.600
I
1.700
I
1.800
I
2.000
I
1961
Primeira. reservo indígena brasi!elra:
Parque Nacional do Xlngu, no
sul:do Amazona,S'.
1969
Crlaçõo da
Fundoç60 Naclonol do fndto
(fUNAI)
1973
fstabeleclmanto do
Estalulo do Indlo,
que recomenda a
Integração dos
povos Indr.genas à
população nacional.
1.900
I
1980
As pcputoções lt:'1digenas
começam a crescer.
1988
Á nova conitltutção
brasileira recohece o direito
Indfgena sobre a terra.
cctnne e linguas.
2004
A população indígena
está estimada em .500.000
Indlos. Eles pertencem a
210 etlnjos diferentes,
falam cerca de 130
línguas e vivem em
610 á~easdemercados..
tAproximadamQnte 12%
do terl'Hórlo naclonalt.
•Primeiro mlssêo Cristã
na Ilha de- Marojó
Jesuito, ...robe!ecefCJm
mJsSÔ6S por IOdo extensão do rio. T•ttrimelro dNOldo do tio AmOlona.pelO' N/XInhól.
"1I11'f~ dO (]fOr'des
vIIOStx» Cr-:vojal. AO 1644
1000 populaçoo Incllgana.
entre o O/opoque e O AmozOf1O'
é rncvIdo poro 891ém
pe/ol parIV\lVOKlS.
AO 1784 A 1798
AO 1541
1874
Últimos topoJós vtsícs
no 6180 de Scnlorém.
1890
Apogeu do cicio do
bonccho na AmoZônio.
1910
F<KldaçOo do SelVlço do
I'IO!eçOO 00 10010 no 81os11,
16
EOLOGIA - CADERNOS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Embora dividam características comuns,
pode-se perceber uma certa variabilidade
quando se comparam cerâmicas polícrornas
na bacia Amazônica. Assim, por conta disso, essas
cerâmicas recebem diferentes denominações
regionais, a partir de suas características decorativas
particulares. Algumas dessas denominações são
relativamente bem conhecidas. Além da Marajoara
há: Miracanguera, na região de Silves, Itacoatiara e
Urucurituba; Borba no baixo Madeira; Guarita nas
regiões de Manaus, baixo rio Negro, Manacapuru,
Codajás e Coari; Tefé, na região da cidade de Tefé;
São Joaqui e Pirapitinga, no alto Solimões; Zebu
na região e entorno de Letícia, na Colômbia;
Nofurei na Colômbia, mas na região de
Arara ara, o rio Caquetá (Japurá); Caimito, no alto
Amazonas e rio Ucayali, no Peru e, finalmente Napo,
no rio Napo, Equador. Em linhas gerais, algumas
tendências são otáveis: primeiramente, parace
e .a maior de vasos com
etangulares à medida que
a ,·egião do rio Napo,
ezrremo oes e da distribuição
r-~";rr,lN:,,::pO:íl::romas, é comum a ocorrência de
pratos a ra padrão análogo de mudança é
visto nas umas funerárias: no alto Amazonas é muito
mais comum a presença de umas antropomorfas
polícromas onde raços e pernas são modelados,
destacando-se dos vasos, e uanto nas
umas antropomorfas o marajó, braços e pernas são
normalmente pinta ou modelados junto ao corpo
dos vasos.
Uma das questões mais interessantes
relativas à expansão da tradição polícrorna na
Amazônia é o entendimento do hiato nessa expansão,
encontrado entre a ilha de Marajó e a região de Silves.
Nessa ampla área, os sítios encontrados até o
momento foram ocupados por populações que
produziram cerâmicas bastante diferentes,
associadas à chamada tradição Incisa e Ponteada.
Do mesmo modo que os sítios polícromos dos rios
Amazonas e Solimões, os sítios com cerâmicas
incisas e ponteadas podem ser bastante grandes,
com vanos hectares de área e terras pretas
antrópicas, indicando que eram grandes aldeias
sedentárias ocupadas por populações numerosas.Talvez as cerâmicas mais conhecidas relacionadas a
essa tradição sejam as Tapajônicas ou de
Santarém. Trata-se, assim como no caso do Marajó,
de cerâmicas bastante sofisticadas, incluindo formas
bastante complexas e técnicas de produção incluindo
a pintura e o modelado. Os tipos de vasos tapajônicos
mais conhecidos são os vasos de cariátides e de
gargalo, que têm esses nomes devido à sua forma e
decoração. Nessas categorias de vasos prevalece a
decoração modelada, composta por motivos
zoomorfos - como pássaros, morcegos, répteis e
mamíferos e também antropomorfos, incluindo as
próprias cariátides. Na cerâmica tapajônica é comum
também a presença de estatuetas antropomorfas, em
alguns casos bastante naturalistas, onde se podem
perceber detalhes da pintura corporal, o uso de jóias e
diferentes tipos de penteado. Talvez a categoria mais
conhecida de estatuetas tapajônicas sejam as de
base semilunar, estatuetas representando mulheres
adornadas, nuas, sempre com uma base em forma de
meia lua.
Cerâmicas tapajônicas são encontradas em
uma grande área que tem como centro a atual cidade
de Santarém. Santarém está localizada sobre um
grande sítio arqueológico, atualmente bastante
destruído, devido ao crescimento da cidade.
Cerâmicas tapajônicas são encontradas em acervos
de museus brasileiros e estrangeiros, bem como em
coleções particulares. A região de Santarém e
entorno, apesar de seu grande interesse, é ainda
muito mal conhecida do ponto de vista arqueológico,
não havendo, por exemplo, nem uma cronologia
básica para os sítios. As poucas datas disponíveis
indicam que a ocupação tapajônica data pelo menos
do final do primeiro milênio DC. Essa ocupação durou
até o século XVII DC, portanto após a chegada dos
europeus à Amazônia. Informações sobre seu modo
de vida podem ser lidas nos relatos de missionários
que com eles conviveram.
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
Cerâmica :;0 Amapá e
:::::3 M3S + enores.
a) carimbos.
b) estatueta feminina de barro.
úffia Maracá.
orna Marajó
e) uma Aristé
f) uma Marajoara
(a-b: adaptado de PROUS 1992: 497)
(c-f: acervo fotográfico do arqueólogo
Eduardo Goes Neves)
17
:..:r:~'Ol()GIA-C ER OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Próximo à Santarém, na reqiao dos rios
Nhamundá e Trombetas, bem como na região
de Parintins, encontram-se cerâmicas
também pertencentes à tradição incisa e ponteada,
conhecidas como Konduri. Cerâmicas Konduri são
também bastante sofisticadas, com uma prevalência
da decoração modelada em motivos antropomorfos e
zoomorfos, com a diferença de que os vasos parecem
ser geralmente maiores que os tapajônicos. Os
fragmentos desses vasos são normalmente
conhecidos como "caretas" e comumente
enco tra e áreas de terra preta e roças por toda
a regiã _ a eologia Konduri é ainda menos
co ecida q e a tapajônica, mas acredita-se que as
populações que produziram essas cerâmicas tenham
sido contemporâneas. Um aspecto interessante da
arqueologia Konduri é a presença de um pequeno,
mas .a: ório de estatuetas de pedra
&- - '"e resentam seres humanos
_",,:>..::-. ••e para onças e sucurís, ou
{),'"'"~!rrnOmtle,as estatuetas têm
rações, mas não se sabe como
eram - as. iconografia de algumas das
estatuetas lembra bastante a das grandes esculturas
de pedra encontradas na região de SanAugustín, nos
Andes colombianos. Outras estatuetas, no entanto,
têm traços em comum com os desenhos encontrados
nas 'pranchetas de madeira, usadas para aspiração
de paricá, produzidas pelos índios Maués até o século
XIX.
Outra categoria de artefatos de pedra
associados à cerâmica Kônduri são os muiraquitãs.
Muiraquitãs não são exclusivos da região do
Nhamundá e Trombetas, já que há informações de
sua ocorrência em locais como a ilha de Marajó,
Santarém, alto Tapajós e até mesmo a região onde foi
construída a usina hidroelétrica de Balbina, no rio
18
Uatumã, ao norte de Manaus. Muiraquitãs são.
normalmente bastante pequenos, sendo quase
sempre zoomorfos, em forma de sapo. A rocha
utilizada é geralmente esverdeada, mas há também
muiraquitãs feitos com rochas brancas e com outros
motivos zoomorfos, além de sapos, tais como peixes
e morcegos. Há também casos de muiraquitãs
antropomorfos, embora sejam bem mais raros.
Muiraquitãs são também encontrados fora da
Amazônia, nas Guianas e ilhas do Caribe. Não é ainda
claro se a região do Nhamundá- Trombetas era o
único centro de produção a partir do qual circulavam
esses artefatos ou se eles eram produzidos em vários
locais diferentes. O fato, no entanto, é que a
distribuição de muiraquitãs por uma ampla área
indica que as populações amazônicas do final do
primeiro milênio DC não estavam isoladas, mas sim
integradas em redes de comércio ou em outros tipos
de rede que permitiam o contato entre si. Devido a seu
tamanho reduzido e alta portabilidade, muiraquitãs
são peças que correm riscos de roubo e contrabando.
Além da calha do Amazonas nas áreas do alto
Madeira e Purus, o quadro da arqueologia parece ser
um pouco diferente. No Acre, próximo a Rio Branco,
achados recentes têm mostrado a ocorrência de
estruturas artificiais, feitas de terra, com formas
geométricas quadrangulares ou circulares, com
dezenas de metros quadrados de área, conhecidas
como geóglifos. Não se sabe ainda qual a idade dos
geóglifos do Acre, mas correlações com estruturas
semelhantes construídas na Bolívia sugerem que eles
devem datar do primeiro milênio DC. No momento, é
difícil estabelecer uma correlação entre os geóglifos!
e os povos indígenas que ocupam atualmente a
região do alto Purus.
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
: ~ -; - :;a Santarem.
- :::e gargalo.
pedestal.
-....G;.''''''"'' ae PRO S 1992:445)
OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
20
Fase Mazagão e estilo
Maracá.
a) uma de estilo Maracá com
cabeça troncônica.
b) tampa de urna hemisférica.
c) tampa globular.
d) urna Maracá zoomorfa.
a) apud Museu Paraense Emilio
Goeldi 1980).
b-c) segundo Meggers & Evans
1957).
(Adaptado de PROUS 1992: 500)
ondônia, na bacia do alto
.a arqueologia também
-e bora com um potencial
)-,=::-:::'-"C ........,,'e- ,...D. É em Rondônia que se encontra
• r diversidade lingüística entre os povos
- ames de línguas Tupi, o que sugere que essa seja a
;:: 'e origem dos povos Tupi. É também a região
O",~nn-,nia q e estudos' genéticos sugerem ter sido
e d esticação original de importantes
~ a 'oca e a pupunha.
Ro dônia, o que
.;;- terra preta de índio da
~ '-G e .000 anos de idade. Na
de solo - que são
e têm uma grande importância
. recentes, datando de mais ou
_e' ade. As terras pretas talvez
e ue os ambientes
pe as popu lações
~'C1"" antes da conquista.
eta são procuradas
c:a sa de seu potencial de cultivo,
e sabe que esses solos foram
dios no passado. Os processos que
ção são ainda desconhecidos,
ais provável é que eles resultam do
o de restos orgânicos osso de peixe
- . ais, cascas de frutas e raízes, fezes,
carvão etc em aldeias sedentárias ocupadas
ui os anos ou décadas. Na calha do
!"1CIZCInaSe S imões, sítios com cerâmica Paredão,
Po>licroJna e cisa e ponteada são normalmente
:= e
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
Na periferia sul da Amazônia, na bacia do alto Xingu,
no atual Estado do Mato Grosso, pesquisas
arqueológicas recentes têm trazido evidências
surpreendentes que mostram, nos séculos Xlil e XIV
DC,. a presença de grandes aldeias circulares, com
dezenas de hectares de área, cercadas por aterros
artificiais e conectadas por largos caminhos. Como no
caso dos índios Palikur e da cerâmica Aristé do
Amapá, parece, no .caso do alto Xingu, haver
continuidade histórica direta entre, por um lado, as
populações pré-coloniais que construíram e viveram
nessas grandes aldeias e, por outro, os povos
indígenas que atualmente ocupam a região, no
Parque Indígena do Alto Xingu. '
Além dos locais discutidos, há outras áreas
na Amazônia brasileira que são ainda muito mal
conhecidas arqueologicamente. Entre essas áreas
há, entre outras, as bacias dos rios Javari e Juruá, a
bacia do rio Branco e toda a área de interflúvio no
planalto das Guianas,desde Roraima até o Amapá e
também o grande interflúvio entre os rios Madeira,
Tapajós, Xingu e Tocantins ao sul. O crescente
avanço das frentes de colonização, principalmente no
sul da Amazônia, leva um grande risco ao patrimônio
arqueológico dessas áreas. Com a destruição desse
patrimônio, desaparecem também as oportunidades
de conhecimento de algo sobre a história dos povos
indígenas que habitaram esses locais.
21
JUiQ~I:oLOGIA - CA u5R OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
•
Cerâmica de tradição
Policroma.
a-c) umas funerárias poücromas da
fase Marajoara.
b, c) segundo Palmatary, 1960.
a) segundo Torres, 1940.
d) tanga Marajoara. (Apud A. Costa,
1938).
(PROUS 1992: 437)
22
.. - - - ---- ...\~ .• _--_ • ."."'I
\ ,
G
------+- .. .
Ô A TES DA CONQUISTA
to
Estatuetas Santarém.
a) coleção do Museu de Arqueologia
e Etnologia da USP
b) estatueta de base semilunar.
c) estatueta unípede.
b-c) Segundo Correa 1971.
(PROUS 1992: 448)
23
,UC~~:OUOGlIA - C :lERNOS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
~_:_--c-----:..,.
.. (.rrr
O 3~••
Tradição 'Borda Incisa' e
urnas Miracanguera.
c, e oordas, e localização da
decoração. (coleções particulares).
f, g) machados amazônicos.
h) coleção do Museu de Arqueologia
e Etnologia da USP.
i-k) tradição Policroma, umas
funerárias de Miracanguera e de
Silves (fase Guarita).
i-j) segundo Museu Paraense Emílio
Goeldí, Rio 1981.
k) segundo Torres, 1940.
(PROUS 1992: 435)
24
. o
~ ,.. ~.. " e .- .;
.Ó> .. "di _. •
. " .4. •.•. t.l_
.a .•. ; . to...
a"""'e e, há um outro tipo de
arqueológico bastante comum
em algumas partes da Amazônia, mas
a- a pouco estudado: as gravuras e pinturas
es. Essessítios podem estar localizados
- ;; _-=- __ asso rocha ou, mais
as ou matacões nas
cecraís no meio dos rios. As
•••..•..~~.•e te preservadas em locais
abrigos, eram normalmente
se do o preto menos
sã mais abundantes:
eitas através do
icoteamento da rocha e são
. e's, nas épocas de estio em rios
s, como o Uaupés e Içana, o médio e
, o hamundá e Trombetas, o Xingu,
a-a. Devido à dificuldade de datação,
ã se sabe ainda a antigüidade dos sítios de
a-e azô ia, em mesmo sua
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
relação com os outros tipos de vestígios
identificados na região. Na caverna da Pedra
Pintada, em Monte Alegre, foi proposto que as
pinturas datariam de cerca de 8.000 Be, mas
essas datas são ainda disputadas.
A breve discussão aqui apresentada
permite que se perceba a riqueza e diversidade
do patrimônio arqueolégico da Amazônia. O
estudo e preservação desse patrimônio,
herança de todos, é o único caminho para
entender a rica história pré-colonial da região.
A ocupação da Âmazônia é um dos problemas
sociais e ecológicos mais importantes do Brasil
contemporâneo. O entendimento das formas
de vida antigas na região - revelado pela
arqueologia - pode nos ajudar a traçar
parâmetros para avaliar como essa ocupação
se constitui no presente.
25
•• CerImic:a
:::R OS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
a) poço funerário de Kunani.
Fase Aristé.
b) abrigo funerário n.? 2 da
montanha de Aristé.
c) formas Aristé.
(PROUS 1992: 503)
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
Temática Santarém
e Konduri
a, b) 'ídolos' de esteatita. Rio
Trombetas. (a: MAE-USP. b:
Curvelo (Museu de História Natural
da UFMG).
c) muiraquitã de pedra verde. (Apud
Koeller-Asseburq, 1951).
c-g) adornos zoornorfos: cobra,
urubu, macaco e sapo.
(Museu de Arqueologia e Etnologia
da USP).
(Adaptado de PROUS 1992: 450)
27
ARQUEOLOGIA - CADERNOS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Artefatos do baixo
Amazonas.
a-b) adorno de borda e alças
Konduri. (Museu de H"IS ória Natural
da UFMG).
c) estilo globular. (Segundo Hilbert,
.1955).
(Adaptado de PROUS 1992: 452)
28
----------------------~-----------------~~--~~----------------------------~-----------===~~Im
A HISTÓRIA DA AMAZÔNIA ANTES DA CONQUISTA
BIBLIOGRAFIA
1- GRUPJONI. Luis Donisete & Barreto, Çristiana (org.) Amazonia: native traditions. São
Paulo: Brasil Con ects Cultura & Ecologia, 2004. 264p. -
2 - PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Brasília: UnB, 1992.
Sítío arqueológiro Nova Cídade. Manaus - Amazonas. Foto: Carfos Augusto da Silva.
29
=
istória da Amazônia Antes da Conquista
experiência e a dedicação do arqueólogo
I es eves nos. seus dez ;anos de estudo e
esta assa continental e misteriosa Amazônia

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