Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL JEFERSON CÁSSIO DIAS DIREITO DO TRABALHO Terceirização PARANAÍBA - 2018 1 A palavra terceirização tem suas peculiaridades e aplicações em diversas áreas de conhecimento, tais como, na Administração de Empresas e Economia. Nesse sentido, essa palavra tem uma aplicação muito importante também no ramo do Direito, sobretudo na área trabalhista. Desse modo, segundo Maurício Godinho Delgado (2017, v. 16, p. 502), “a terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria correspondente.” Com o processo de terceirização pode-se observar que esta exclui as obrigações provenientes da relação de emprego entre o tomador de serviço e a pessoa contratada para desempenhar a função a ela estabelecida. com isso, diante dessa situação, cria-se uma relação trilateral, completamente distinta do modelo bilateral da relação de emprego, composta pelos seguintes elementos: prestador de serviços, ou seja, aquele enviado pela empresa terceirizada para realizar o serviço contratado; a empresa terceirizante, isto é, aquela contratada que designou o prestador de serviços; e, por fim, a empresa tomadora de serviços, a saber, é aquela que recebe o serviço pelo prestador, no entanto, fica desobrigada em relação às questões trabalhistas. Outro ponto de vista que é importante mencionar, sobre o conceito de terceirização, é o que expõe o Jurista e Doutrinador Luciano Martinez: [...] a terceirização é uma técnica de organização do processo produtivo por meio da qual uma empresa, visando concentrar esforços em sua atividade-fim, contrata outra empresa, entendida como periférica, para lhe dar suporte em serviços meramente instrumentais, tais como limpeza, segurança, transporte e alimentação. (MARTINEZ, v. 7, 2016) Segundo o conceito de Luciano Martinez, acima exposto, observa-se que apenas poderá ser objeto de terceirização aqueles serviços cuja caracterização seja da atividade meio da empresa contratante, ou seja, aquelas que auxiliam na dinâmica do empreendimento, mas que não estão diretamente relacionadas ao objetivo central da empresa. Sendo assim, antes da Reforma Trabalhista, de 2017, não era admitida a terceirização da atividade fim da tomadora de serviços, isto é, aquela atividade exposta no estatuto constitutivo da empresa, a fim de atender as necessidades sociais designadas àquela instituição. 2 Com relação ao surgimento da terceirização no ordenamento jurídico brasileiro, segundo Carla Teresa (2015, v. 3) não havia, antes da reforma trabalhista, uma legislação específica que regulamentasse esse assunto de forma genérica. Nesse sentido, diante da obscuridade da lei, utilizava-se, como parâmetro, o artº 455 da CLT (antes da reforma) do qual trata-se da subcontratação referente à empreitada e subempreitada, bem como o serviço de pequena empreitada, artº 652, alínea “a”, parágrafo III. Outras legislações que foram consideradas como a evolução da terceirização no ordenamento jurídico são aquelas que regulamentam a terceirização dos serviços de vigilância bancária e a lei que regula o trabalho temporário, respectivamente Lei número 7.102/83 e lei nº 6.019/74. Sendo assim, essas são as principais fontes de regulamentação da terceirização dos serviços trabalhistas, que embasaram os juristas a versarem sobre esse assunto. Segundo Maurício Godinho (2007, p. 508), além das hipóteses elencadas acima (trabalho temporário e vigilância bancária) existe a figura das cooperativas, disposto no parágrafo único do artº 442 da CLT, acrescentado pela Lei nº 8.949/94. Assim ele dispõe, “qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e o tomador de serviços daquela”. Percebe-se, portanto, que a terceirização ocorre quando não há evidências de vínculo empregatício, no entanto, a súmula 331 do TST, prevê a responsabilidade subsidiária da empresa contratada com a tomadora de serviços para garantir as verbas trabalhistas do prestador de serviço. Em consonância com esse assunto, e ainda sem a positivação dos serviços trabalhistas, de forma genérica, houve um crescimento assustador dessa prática no mercado de trabalho. Desse modo, o TST, de acordo com a Súmula 331, que revisou o Enunciado 256, mostrou o posicionamento jurisprudencial deste órgão sobre o serviço de terceirização, assim sendo, essa súmula prevê os seguintes assuntos: responsabilidade solidária sobre as verbas trabalhistas, como já mencionado anteriormente; não forma vínculo empregatício a contratação de serviços de atividade meio, tais como serviços de limpeza e conservação, etc. 3 Maurício Godinho Delgado menciona alguns pontos que foram alterados pela Súmula 331, do TST, e que são importantes e necessárias mudanças. A Súmula n. 331, como se percebe, deu resposta a algumas das críticas que se faziam ao texto da Súmula 256. Assim, incorporou as hipóteses de terceirização aventadas pelo Decreto-lei n. 200/67 e Lei n. 5.645/70 (conservação e limpeza e atividades-meio). Ao lado disso, acolheu a vedação constitucional de contratação de servidores (em sentido amplo) sem a formalidade do concurso público.(2017, p. 516) Além dessas mudanças acima citadas, Godinho menciona também que a Súmula em questão faz menção a diferença entre atividade meio e atividade fim, tema já discutido acima, bem como as oposições entre terceirização lícita e ilícita. Com relação à terceirização lícita, pode-se dizer que é aquela que segue todos os preceitos elencados na súmula 331 do TST, já na segunda hipótese, a terceirização ilícita ocorre no sentido inverso da lícita, ou seja, pela simples inobservância de um dos termos dos incisos da Súmula 331. Dito isto, observa-se que são várias as posições doutrinárias adotadas, tanto a favor como contra a terceirização, nesse sentido, tem-se o seguinte posicionamento para Bezerra Leite (2017, p. 343): “Para nós, a direção adotada pela Súmula 331 do TST, data venia do que vem sendo proclamado pela doutrina, aponta no sentido de que a terceirização, em princípio, continua sendo ilegal no nosso país (Súmula 331, item I, do TST, e arts. 2º, 32 , 92 e 442 da CLT)”. Bezerra Leite expõe ainda que, entre outros motivos, os tomadores de serviço devem ter muito cuidado, ao contratar serviços terceirizados, pois, esse tipo de serviço se não for observado todos os parâmetros constitucionais, pode ser que estes sejam violados, justificando uma posição contrária a esse assunto. Diante da insistência do mercado laboral às atividades de terceirização, os legisladores não poderiam ficar inertes e não proporiam leis regulamentadoras desse assunto. Desse modo, em 2017, surgiram duas importantes Leis: a primeira surgiu em 31/03/2017, é a Lei 13.429. Esta Lei menciona, de maneira genérica, 4 alguns pontos sobre a terceirização; e a segunda lei é a Lei 13.467 de 13/07/2017. Essa outra é a lei da reforma trabalhista e, em sentido literal, ela trouxe mudanças substanciais sobre a terceirização. De acordo com a Lei que regula a questão do contrato de trabalho temporário, ou seja, a Lei 13.429/2017, ela vem para reforçar alguns pontos da antiga lei. Com isso, ela trouxe uma singela menção à terceirização. Na verdade, ela apenas trouxe algumas definições interpretativas a respeito de alguns assuntos como, por exemplo, a “empresa tomadora de serviços”, e “contratante”. Assim explica Maurício Godinho e Gabriela Godinho (2017, p. 206), “Do ponto de vista técnico-jurídico, a Lei 13.429/2017 não incluiu modificações substantivas no regime jurídico da terceirização trabalhista em geral. Ao invés, confirmou a compreensão interpretativa dominante a respeito das possibilidades e limites jurídicos da terceirização trabalhista [...] ”. Por outro lado, a Lei 13.467/2017, a lei da reforma trabalhista, trouxe basicamente duas mudanças significativas para a terceirização; a terceirização de quaisquer desuas atividades e a opção de discriminação salarial dos funcionários terceirizados. Com relação à primeira mudança, o novo artº 4º-A, da lei 6.019/74, a reforma trabalhista trouxe como opção de terceirização quaisquer das atividades da empresa. Diferentemente da legislação antes da reforma, onde só era possível a terceirização de atividades-meio (limpeza por exemplo), após a reforma já não existe mais empecilho, quanto às atividades a serem terceirizadas. Em se tratando da segunda grande mudança promovida pela reforma trabalhista à terceirização, o novo Artº 4-c, § 1º, Lei nº 6.019/74 trouxe a possibilidade de as empresas escolherem se vão dar o mesmo salário àqueles funcionários que desempenham mesma função, com mesmo tempo de serviço, só que, um é contratado pela empresa e o outro é terceirizado. Assim dispõe o referido artº: “poderão estabelecer, se assim entenderem, que os empregados da contratada 5 farão jus ao salário equivalente ao salário pago pela contratante, além de outros direitos não previstos neste artigo”. (GODINHO, 2017, p. 208) Vale ressaltar que, tanto a primeira grande mudança, acima apresentada, quanto a segunda, são interpretadas segundo a literalidade da lei, ou seja de acordo com letra da lei, propriamente dito. Sendo assim, se for utilizado outro método de interpretação da Hermenêutica Jurídica como, por exemplo, uma interpretação sistemática ou teleológica, certamente esses dois pontos não prevalecerão. Nesse contexto, se respeitada a interpretação científica de tais regras jurídicas, a partir dos métodos objetivos apresentados pela Hermenêutica Jurídica, o caráter e extensão normativos extremados dos preceitos ora em exame devem ser expostos em equilíbrio jurídico, de maneira a se ajustarem ao conjunto da ordem jurídica a que estão submetidos. (DELGADO, p. 209) Em suma, os mecanismos de regulamentação da terceirização passaram por várias mudanças em pouco tempo, cerca de três décadas, isso se deu pelo aumento dos serviços terceirizados e a necessidade de criação de novas legislações sobre o assunto. No entanto, como se pôde observar com o exposto acima, com a reforma trabalhista é perceptível um descaso com os trabalhadores que se encontram nessa situação, pois, muitos direitos encontram-se num limbo jurídico. Nesse sentido, a depender da interpretação do jurista, pode ser que o prestador de serviço seja lesado. 6 Referências Bibliográficas DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16. ed. revisto e ampliado.São Paulo: Editora LTR, 2017. DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil: com comentários à Lei 13.463/2017. São Paulo: Editora LTR, 2017. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 7. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. ROMAR, Carla Teresa Martins; coordenador Pedro Lenza. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: editora saraiva, 2016. 7
Compartilhar