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P5-KATARINA DIAS 1 Coinfecção Tuberculose-HIV INTRODUÇÃO A TB, doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb), é altamente prevalente entre a população infectada pelo HIV, principalmente em países com alta carga de tuberculose, como o Brasil. Em nosso país, a TB é a principal causa de óbito, por doença definida, em PVH. Isto se deve ao fato de que a defesa contra o desenvolvimento da doença TB está diretamente relacionada à imunidade celular preservada, justamente o mecanismo que é progressivamente destruído pelo HIV. Pessoas infectadas pelo Mtb podem desenvolver sinais e sintomas da doença (tuberculose doença ou TB ativa) logo após a infecção, adoecer muito tempo depois da primoinfecção, ou mesmo nunca ter tuberculose ativa. A persistência do bacilo no organismo, sob forma latente, é a chamada infecção tuberculosa latente, ou infecção latente por TB (ILTB). Neste período de latência, a pessoa infectada é assintomática e não transmite TB. Quando comparadas a pessoas com uma boa performance imunológica, o risco da infecção latente se manifestar como doença ativa é 20 a 30 vezes maior em PVH.1 E quanto mais severo o comprometimento imunológico do individuo, menor a capacidade de resposta, de modo que pacientes com linfócitos TCD4 inferior a 200 células/µL apresentam risco seis vezes maior de adoecer por TB do que aqueles com CD4 acima de 500. DIAGNÓSTICO DE HIV NAS PESSOAS COM TUBERCULOSE Todo paciente com diagnóstico de tuberculose deve ser testado para HIV. O diagnóstico precoce de infecção pelo HIV em pessoas com TB tem importante impacto no curso clínico da doença. Portanto, o teste diagnóstico para HIV, preferencialmente o rápido, deve ser oferecido, o mais cedo possível, a toda pessoa com diagnóstico estabelecido de TB. De acordo com os fluxogramas de diagnóstico da infecção pelo HIV que envolvem TESTE RAPIDO (TR), o diagnóstico só pode ser estabelecido após a realização de dois TR, e o laudo deverá ser emitido por um profissional de saúde habilitado. Nas situações em que somente um teste rápido for ofertado ao paciente, ele se caracterizará por um teste de triagem e, portanto, não haverá a emissão de um laudo. Nesse caso, o paciente que obtiver resultado reagente para o teste de triagem deverá ser encaminhado para o serviço de saúde referência de diagnóstico para o HIV estabelecido pela rede para a confirmação do diagnóstico. É importante ressaltar que a equipe de saúde responsável pelo atendimento dos pacientes com TB deve estar preparada para orientar e atender a demanda de questionamentos referentes ao HIV e, principalmente, à coinfecção TB-HIV, além dos benefícios do diagnóstico e tratamento precoces do HIV com o uso de antirretrovirais. O teste diagnóstico de HIV deve ser realizado com o consentimento do P5-KATARINA DIAS 2 paciente, observando-se o sigilo e a confidencialidade e utilizando-se dos algoritmos diagnósticos estabelecidos TRATAMENTO COINFECÇÃO TUBERCULOSE -HIV O tratamento da TB em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) segue as mesmas recomendações para os não infectados, tanto na utilização dos fármacos quanto na duração total do tratamento. Em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) que nunca utilizaram terapia antirretroviral (TARV), o tratamento para tuberculose (TB) e a TARV devem ser iniciados o mais precocemente possível, após o diagnóstico, mas não de forma concomitante, com o objetivo de evitar eventos adversos cumulativos das medicações e sintomas da síndrome de reconstituição imune. • Quando o diagnóstico das duas condições for simultâneo, o tratamento para tuberculose deve ser iniciado primeiro. O tratamento de tuberculose pulmonar em pessoas vivendo com HIV é o mesmo da população sem a infecção do vírus: RHZE por 2 meses + RH por 4 meses, totalizando 6 meses de tratamento . Após o início do tratamento para TB, a TARV deve ser abordada. O início precoce de TARV na população com coinfecção TB-HIV tem impacto significativo em redução de morbimortalidade além de redução da transmissão do HIV. É importante ressaltar que, para os casos de TB meníngea, o início precoce da TARV não altera o prognóstico da doença e ainda se relaciona à maior ocorrência de eventos adversos limitantes ou com risco à vida. Assim, nessa forma de TB, recomenda-se que o início da TARV seja postergado para após a fase intensiva do tratamento da TB (dois meses), independentemente da contagem de LT-CD4 . Recomenda-se a realização da genotipagem do HIV pré-tratamento nos pacientes com coinfecção TB-HIV virgens de tratamento com TARV . • Em pessoas com CD4 abaixo de 50 céls/mm³ ou sinais de imunodeficiência grave o início precoce de TARV deve ser priorizado e recomenda-se que a TARV seja começada em até duas semanas após o início do tratamento para a tuberculose. • Nos demais casos, a TARV deve ser iniciada até a 8ª semana após o início do tratamento da tuberculose. • Em pacientes que já faziam uso de TARV e tiveram diagnóstico de tuberculose, deve-se iniciar o tratamento para tuberculose imediatamente, sem indicação de suspensão da TARV. P5-KATARINA DIAS 3 • Contudo, deve-se avaliar as interações medicamentosas e a necessidade de troca da TARV tão logo quanto possível. O uso da rifampicina é contraindicado em concomitância a esquemas antirretrovirais contendo inibidor da protease (IP/r) e esquemas contendo dolutegravir devem ter sua dose aumentada para 50 mg de 12/12h, pois a rifampicina reduz os níveis séricos dessas drogas o que pode levar a falha virológica. Nesses casos, a TARV deve ser modificada, sempre que possível, pois a rifampicina é o principal fármaco para o tratamento da TB e sua utilização deve ser priorizada. Em caso de necessidade de uso de IP/r, avaliar manter TARV na dose habitual e substituir a rifampicina por rifabutina . Pessoas com diagnóstico de TB que estavam em abandono do tratamento do HIV devem primeiramente iniciar o tratamento de TB e respeitar as mesmas recomendações do momento de reinício de ARV dos pacientes virgens de tratamento. O esquema de TARV a ser iniciado deve ser avaliado individualmente respeitando o histórico de TARVs prévios, registro de falha prévia em genotipagem anterior e as interações medicamentosas Esquema antirretroviral recomendado em cada situação • Após 15 dias da conclusão do tratamento para tuberculose, deve ser feito o ajuste da dose para TDF/3TC + DTG 50 mg, 1x/dia, nos pacientes virgens de tratamento e naqueles que já estavam em uso de DTG previamente. Pacientes que estavam em uso de TDF/3TC/EFZ ou TDF/3TC+RAL podem ter seu esquema modificado para TDF/3TC+DTG desde que tenham CV indetectável dos últimos 6 meses e não tenham falha virológica prévia, respeitando-se também as contraindicações ao uso de DTG (gestantes no primeiro trimestre, intolerância à medicação ou uso de anticonvulsivantes carbamazepina, dofetilida ou pilsicainida) . • Para os pacientes com histórico de tratamentos prévios que estejam em uso de outros esquemas ARV deve-se avaliar o caso individualmente, sempre respeitando o histórico prévio de uso de TARV e risco de resistência . • Todos os casos de coinfecção TB-HIV têm indicação de encaminhamento ao Serviço de Atenção Especializada (SAE). Recomenda-se a realização de tratamento diretamente observado (TDO) para tuberculose, que deve ser realizado de forma compartilhada entre o SAE e a Atenção Primária à Saúde. MANEJO DO TRATAMENTO DA COINFECÇÃO HIV/ TB NA GESTANTE A gestante com TB deve ser tratada com Esquema Básico para Tratamento da TB em adultos e adolescentes, constituído por uma primeira fase intensiva com duração de dois meses e esquema P5-KATARINA DIAS 4 composto por rifampicina, isonizaida, pirazinamida, etambutol, e uma segunda fase de manutenção de quatro mesese esquema que inclui rifampicina e isoniazida. • O esquema deve ser administrado nas doses habituais ajustadas ao peso, quando for o caso, e está recomendando o uso de piridoxina na dose de 50mg/dia durante a gestação, pela potencial toxicidade neurológica da isoniazida na mulher e no RN. • Os esquemas mais seguros para gestantes em uso de rifampicina são a associação de ITRN + INI TDF + 3TC + RAL TDF + 3TC + EFV Deve-se levar em consideração que os esquemas com dose fixa combinada uma vez ao dia têm impacto na adesão e isso deve ser discutido junto à gestante, especialmente nas situações de necessidade de tomadas diárias de outras medicações. No entanto, o uso de RAL tem a vantagem de ótimo perfil em termos de efeitos adversos e menos interações medicamentosas. Além disso, trata-se de uma medicação potente para diminuição rápida da CV-HIV, especialmente no terceiro trimestre da gestação, mais rápida quando comparada ao EFV. Os dois esquemas, tanto o tratamento para tuberculose quanto a TARV (incluindo RAL), devem ser administrados nas suas doses habituais, inclusive o RAL.
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