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Disciplina: Introdução à Lógica Aula 1: Lógica – definição e princípios Apresentação Nesta primeira aula, estudaremos em linhas gerais o que é a lógica enquanto disciplina filosófica, bem como sua especificidade no que diz respeito à análise da estrutura da linguagem. Veremos isso a partir dos diferentes sentidos que a palavra lógica possui no uso que fazemos dela em nosso dia a dia. Desse modo, poderemos perceber o contraste existente entre seu uso pelo senso comum e seu uso enquanto disciplina filosófica. Compreenderemos ainda a relação intrínseca entre a lógica e a prática filosófica. Verificaremos que a construção de argumentos, a fim de tornar claro um conceito, tese ou teoria, vai além da prática filosófica. Está presente em toda situação e contexto em que se faz necessário argumentar. Desse modo, compreenderemos como a lógica está presente em nossa vida profissional, pessoal e social. Assim, teremos uma visão mais abrange acerca da função e utilização da lógica no cotidiano. Objetivos Definir a lógica enquanto disciplina filosófica; Reconhecer os diferentes usos e significados que a palavra lógica possui; Identificar a importância da lógica para a prática filosófica e também para toda situação que exija argumentação. É lógico? No dia a dia usamos constantemente a expressão “é lógico”. Geralmente a usamos quando alguém faz uma pergunta cuja resposta é muito óbvia. Por exemplo, quando alguém se depara com um amigo usando a camisa do Flamengo e isso causa surpresa. Decorrente desse acontecimento, vem a pergunta: “Nossa! Você é flamenguista?!” A chance dessa resposta vir através da expressão “É lógico!” é muito grande, concorda? Existe nessa interlocução uma razão para tal resposta, ela se baseia no fato de um dos interlocutores estar usando a camisa do Flamengo. Se ele está vestindo a camisa do Flamengo, logo é flamenguista. Esse é um caso entre tantos outros que surgem em nosso dia a dia. Claro existem situações que exigem a elaboração de um raciocínio. Como quando queremos provar uma tese que defendemos em uma conversa de bar sobre futebol, ou ao tentar convencer nossos filhos a adotar comportamento x e evitar o comportamento y, ou, ainda, em um debate acadêmico, ao defender um réu em um julgamento, se somos advogados etc. O fato de sermos dotados de linguagem, aliado ao fato de sermos seres políticos e gregários ., faz com que tenhamos que explicar claramente o que queremos dizer, que tenhamos a capacidade de mostrar as razões que nos levam a defender uma pauta ou tese. A isso chamamos argumentar e o argumento ou raciocínio é o objeto de estudo da Lógica. 1 file:///C:/DISCIPLINAS%20V%C3%8D/2018.2/introducao_a_logica__GON954/aula1.html Ícone de balão de diálogo com sombra. O que é lógica? Mesmo que não percebamos fazemos uso da lógica o tempo todo. O fato de sermos dotados da capacidade de nos comunicar através da linguagem leva- nos a articular os signos que a compõem, ou seja, as palavras. Essa articulação gera uma determinada estrutura, que por sua vez gera significado. Assim, uma ideia, sentimento, tese ou opinião é transmitido para outras pessoas. Nuvem de palavras. Fazemos isso constantemente nos grupos sociais onde estamos inseridos. Seja na família, no trabalho, em momentos de lazer ou em um encontro com os amigos, usamos a linguagem, articularmos as palavras, a fim de nos comunicar e para que isso aconteça é preciso seguir determinadas regras. Aplicamos essas regras o tempo todo, nós as aprendemos no trato social, desde que começamos a fazer as primeiras interações sociais com outras pessoas. Desde crianças tentamos articular os signos, a fim de comunicar nossos desejos e necessidades. Exemplo Se observarmos uma criança que está começando a falar, notaremos que se esforça para transmitir seu desejo por um objeto ou comunicar seu sentimento de fome. Contudo, ela ainda não aprendeu a usar as regras do jogo da linguagem que a permitiria transmitir de forma clara o que ela quer. Na medida em que for crescendo e tendo que estabelecer comunicação, ela irá aprender as regras, por meio de tentativas, algumas frustradas e outras com sucesso. Bebê engatinhando. As regras, aprendidas nas interações sociais, interessam à lógica: 1 Saber o que leva a essa estruturação que permite dar significado aos signos linguísticos. 2 Saber como ocorre a articulação de sentido que gera um raciocínio ou argumento. O objetivo da lógica não é apenas a linguagem, apenas o sentido, mas a articulação da linguagem, de modo a criar uma estrutura que expressa um raciocínio ou argumento. Nesse sentido, uma mera frase pode transmitir informação. Porém, não se propõe a provar algo ou a nos conduzir por ideias que levem a uma determinada conclusão. Isso deve nos interessar, pois usamos argumentos constantemente. As interações sociais exigem que defendamos nossos pontos de vista. Quem não teve a necessidade de, em uma discussão, defender uma ideia ou tese, confrontá-las, buscando mostrar ao seu interlocutor as razões pelas quais sua tese ou ideia é a mais apropriada? Sendo assim, devemos considerar que o melhor é saber o que dá sustentação aos nossos argumentos, o que faz com que sejam válidos, se são corretos ou não. Atenção Estudar a lógica, portanto, consiste em identificar a forma correta de organizar nossas ideias, refinar nossa argumentação, para que assim não tiremos conclusões erradas. Silhueta da escultura O Pensador de Auguste Rodin. O surgimento da lógica A lógica enquanto área do conhecimento, enquanto disciplina filosófica, surgiu na Grécia Antiga. Quando os gregos dominaram o logos, ou seja, quando passaram a fazer uso de uma determinada racionalidade, deram origem a um novo tipo de discurso, um novo modo de organização da linguagem. Esse foi o primeiro passo em direção ao nascimento da filosofia e, com ela, ao da lógica. O conhecimento filosófico e o discurso por meio do qual ela se manifesta começou a ser gestado pelos filósofos conhecidos na história da filosofia como pré-socráticos. Esses filósofos, que se convencionou agrupar a partir dessa dominação, passaram a sentir a necessidade de usar a linguagem de modo diferente. Passaria a ter uma função que ia além de apenas descrever fatos, acontecimentos, fenômenos. Agora passaria a ser usada para explicar, fundamentar e justificar um discurso ou teoria. Heráclito e Parmênides Dentre os pré-socráticos, dois filósofos contribuíram decisivamente para estabelecer as bases do que seria a lógica enquanto área do conhecimento: Pintura de Heráclito por Johannes Moreelse. Pintura de Parmênides por Jean-Auguste Dominique Ingres. Foram responsáveis por criar o arcabouço conceitual que viria a ser usado posteriormente para pensar as questões lógicas formalmente. Esses filósofos criaram duas correntes de pensamento antagônicas, que conceberam dois conceitos opostos sobre o que é a realidade. Desse embate nasceram os conceitos que ainda hoje fazem parte do vocabulário lógico. Heráclito Segundo Heráclito, a realidade é o devir. Isso significa que, para ele, a realidade do mundo se expressa através da mudança constante das coisas. Existe um embate de forças contrárias e constantes que moldam a realidade, criando a multiplicidade que a compõe. Exemplo Os exemplos podem ser observados por nós o tempo todo por meio de inúmeros fenômenos naturais: O dia que se torna noite; O calor que dá lugar ao frio; A vida que sucumbe à morte; A morte que faz surgir a vida. Para Heráclito, não há nada no mundo que seja idêntico a si mesmo; tudo é diferente, pois nada permanece o mesmo. Veja o famoso aforismo de Heráclito para ilustrar o que estamos tentando entender aqui: Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos. Heráclito 2 file:///C:/DISCIPLINAS%20V%C3%8D/2018.2/introducao_a_logica__GON954/aula1.html Do ponto de vista da lógica, essa frase não faz sentido, pois ela afirma e nega ao mesmo tempo, o que implicaria em uma contradição. Parmênides Parmênides traz o outro ladoda moeda. Para o filósofo, a oposição de contrários seria apenas aparência, algo desprovido da verdade, pois haveria aí um emaranhado de coisas que acabam por interferir na concepção da realidade. A oposição entre contrários que identificamos no mundo se dá por meio dos sentidos, os quais captam apenas a transitoriedade do mundo. Precisamos nos voltar ao pensamento, pois é aí que reside as condições de identificarmos a verdade, a realidade das coisas. Nessa perspectiva, a linguagem de contrários seria mera contradição, o que implicaria, para Parmênides, em algo irreal, ilusório, falso, seria um não ser. Apenas o Ser possui realidade e isso porque ele é, ou seja, é idêntico a si mesmo. O Ser expressa o verdadeiro, o real, pois sendo idêntico a si mesmo não possui contradições internas. Aristóteles Tudo isso viria a ser melhor elaborado pelos sofistas e Platão. Contudo, questões ligadas à lógica passaram a ter dimensão e rigor maiores com Aristóteles. Embora não tenha denominado seus estudos de lógica, ele dedicou-se à lógica em sua obra chamada Analíticos, cujo propósito consistia em analisar o pensamento e as partes que o compõem. Analíticos e outras dedicadas por Aristóteles ao estudo da lógica foram compiladas. A reunião dessas obras recebeu o nome de Organon, que significa “instrumento”. Quer dizer, essa compilação, o Organon, seria o instrumento cujo propósito é alcançar o modo mais apropriado para conduzir o pensamento. Aristóteles a dividiu em: Lógica formal ou menor Aquela que busca estabelecer a forma correta de execução das operações intelectuais, ou seja, assegura que o pensamento esteja em acordo consigo mesmo. Isso ocorre de tal forma que os princípios que descobre, bem como as regras que formula, aplicam-se a todo e qualquer objeto do pensamento. Lógica material ou maior Aquela que determina as leis particulares e regras especiais decorrentes da natureza dos objetos cognoscíveis. Ela determina os métodos das ciências de modo geral. Podemos elencar os seguintes aspectos para definir a lógica enquanto instrumento para o pensar: 1 Reflexão Acerca dos métodos e princípios necessários à argumentação. 2 Análise Dos argumentos e seus componentes de modo a verificar a ligação existente entre premissas e suas conclusões, para assim determinar sua validade ou invalidade, sua verdade ou falsidade. 3 Estudo Para estabelecer as regras formais das operações do pensamento que permitem identificar argumentações não válidas. Filosofia e lógica O estudo da filosofia difere muito do empreendido em outras áreas do conhecimento. Disciplinas como Matemática e Física , por exemplo, trabalham com questões resolvidas, que são estudadas apenas para que se compreenda como se chegou ao estágio atual de cada uma dessas ciências. Física A Física newtoniana alcançou seus resultados que são definitivos dentro de seus parâmetros. Estiveram em voga e direcionaram a prática de gerações de físicos através dos séculos XVIII e XVIX, até serem colocadas em xeque pelos físicos do século XX, cujas pesquisas os levaram a outros resultados, que vieram a estabelecer um novo paradigma para a Física: a Física quântica. 3 file:///C:/DISCIPLINAS%20V%C3%8D/2018.2/introducao_a_logica__GON954/aula1.html O estudante de Física lidará com resultados estabelecidos pelos grandes nomes da Física e entrará em contato com apenas dois paradigmas físicos em um período que vai da segunda metade do século XVII até os nossos dias: o newtoniano e o quântico. Filosofia Na Filosofia, ocorre o contrário. Os pensamentos de Platão, Aristóteles, Agostino, Tomás de Aquino, Descartes, Kant continuam atuais. As teses filosóficas são atemporais. Essa particularidade se deve ao fato de que, em Filosofia, não existem resultados definitivos como na ciência, para que possamos nos satisfazer apenas em compreendê-los. As questões e os problemas filosóficos não se encerram , mas sim estão sempre em aberto, sempre disponíveis para novas tentativas de respondê-los. 4 5 file:///C:/DISCIPLINAS%20V%C3%8D/2018.2/introducao_a_logica__GON954/aula1.html file:///C:/DISCIPLINAS%20V%C3%8D/2018.2/introducao_a_logica__GON954/aula1.html Atividade 1. Segundo Heráclito de Éfeso, a realidade é o devir. Significa que para ele a realidade do mundo se expressa através da mudança constante das coisas. Existe um embate de forças contrárias e constantes que moldam a realidade, criando a multiplicidade que a compõe. Seu famoso fragmento expressa bem essa ideia: “Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. Contudo, do ponto de vista da lógica, seu aforismo apresenta o seguinte problema: a) Uma tautologia. b) Um equívoco linguístico. c) Uma contradição. d) Uma falácia de apelo à autoridade. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. Questões filosóficas Na Filosofia, a existência de consenso entre as teorias é quase nula. Grande parte do que há na Filosofia são questões em aberto. Contudo, em Filosofia, quase não há resultados consensuais. A maior parte do que temos são respostas ainda em aberto. Diferentes filósofos, em momentos distintos da história da humanidade, desenvolveram respostas diferentes para o mesmo problema. Por exemplo, o problema do que é uma ideia foi colocado por Platão e discutido ao longo dos séculos e ainda é atualmente. Outro dos grandes problemas que a Filosofia vem colocando desde sua origem e que ainda hoje busca responder é: O que é Filosofia? Praticamente, todos os filósofos tentaram responder a essa questão. Contudo, ela permanece carecendo de reposta. Quantos ramos da ciência têm como principal problema saber qual a sua própria natureza? Talvez apenas a Filosofia. Assim, uma das principais habilidades, que deve ser dominada pelo estudante de Filosofia, consiste em saber identificar as razões pelas quais determinado filósofo defendeu essa ou aquela tese acerca de determinada questão. Não é possível se limitar a apenas compreender tais teses. Significa, portanto, que o estudante de Filosofia precisa aprender, antes de qualquer outra coisa, a raciocinar e argumentar. Para isso, necessita estudar precisamente a disciplina filosófica que tem o argumento e o raciocínio como seus principais objetos de investigação: a lógica. Cabeça de duas pessoas com formas coloridas que encaixadas representam um cérebro abstrato para o conceito de lógica. Em Filosofia, precisamos o tempo todo debater questões filosóficas, seja com nossos colegas estudantes, pesquisadores e professores, seja com os próprios filósofos quando lemos e investigamos suas obras. Não há como nos furtar de aprender a raciocinar e a argumentar, faz parte da prática filosófica. Dessa maneira, construiremos nossas próprias teses, defenderemos nossas ideias sobre uma questão, criticaremos outros argumentos e ideias. Isso é precisamente o que a lógica faz, permite-nos adquirir instrumental suficiente para melhor raciocinar e argumentar. Quanto mais nos aprofundarmos no estudo da lógica melhor será nossa aplicação da mesma. Teremos, assim, um pensamento mais refinado, arguto, capaz de desenvolver argumentações sólidas. Consegue perceber a importância que a lógica possui para a Filosofia? Consegue reconhecer a importância que a lógica tem para toda e qualquer atividade que exige debater, discutir, defender uma tese ou ideia? Atividade 2. Podemos dizer que uma das principais habilidades que deve ser dominada pelo estudante de Filosofia consiste em saber identificar as razões pelas quais determinado filósofo defendeu essa ou aquela tese acerca de determinada questão. Não é possível se limitar a apenas compreender tais teses. Isso se deve ao seguinte fato: a) A Filosofia é uma ciência como todas as outras. b) Na Filosofia, as questões estão definidas. c) A lógica determina as leis particulares e as regras especiais que decorrem da natureza dos objetos a conhecer. d) Em Filosofia, precisamos ir além de apenas compreender as ideias dos filósofos. e) As questões e os problemas filosóficos não se encerram.Interesses da lógica Em Filosofia, precisamos ir além da compreensão das ideias dos filósofos. Para isso, não bastaria apenas ler os textos, interpretá-los. Precisamos adquirir autonomia para avaliar por nós mesmos a legitimidade de um raciocínio ou argumento. Essa capacidade só é possível adquirir através da lógica. Interessa à lógica, então, investigar determinados aspectos do raciocínio e da argumentação. A lógica estuda: Os aspectos responsáveis por fazer um raciocínio ou argumento válido ou inválido, verdadeiro ou falso. A lógica não estuda: Os aspectos estéticos, psicológicos, históricos etc. do raciocínio e argumentação. Ela se ocupa exclusivamente dos aspectos formais, que envolvem articulação de sentido. Certamente, mesmo aquelas pessoas que não se interessam em nada pela Filosofia e suas questões terão em alguma medida interesse pela lógica. Afinal, todos nós seres humanos raciocinamos e argumentamos diariamente, mesmo que não saibamos muito bem que o fazemos. Mesmo que o façamos de modo equivocado, simplório, deficiente. Argumentação Reflita e responda: Será que uma pessoa que não sabe lógica não sabe argumentar? Assim como se aprende a falar antes de estudar a gramática da língua materna, mas precisa-se estudá-la para aprender a falar melhor o idioma. Um conhecimento apenas intuitivo da gramática certamente é suficiente para nos comunicar cotidianamente. Contudo, será difícil para um jornalista, escritor, pesquisador, advogado, palestrante, professor ou cientista escrever bem sem ter algum domínio da gramática do idioma no qual escreve e fala. Do mesmo modo, um conhecimento apenas intuitivo acerca do raciocínio e da argumentação será suficiente para dar conta das nossas necessidades da vida cotidiana. Porém, não será para se fazer e estudar Filosofia. Isso porque, nesta situação, estamos tratando de matérias que envolvem grande rigor argumentativo e de raciocínio. Logo, lida-se com argumentos complexos, cheios de articulações que exigem análise cuidadosa e eficiente. A lógica e o futuro da Filosofia Abordamos no início da aula as particularidades da Filosofia e suas distinções em relação às demais áreas do conhecimento. Vimos que o fato das questões filosóficas estarem sempre em aberto faz com que a Filosofia tenha na capacidade argumentativa um elemento central para que possamos realizar eficazmente a prática filosófica. Agora, para finalizá-la, vamos tratar de uma particularidade da Filosofia a partir do século XX: a Filosofia da linguagem que, juntamente com a lógica, é um ramo da Filosofia. Juntas, elas dominaram a reflexão filosófica durante o século passado. A partir do que ficou conhecido como guinada linguística, a Filosofia tomou novos rumos. Passou-se, então, a se defender outra concepção da Filosofia, agora ancorada na articulação da linguagem, na lógica propriamente dita. No texto “O Futuro da Filosofia”, o filósofo Moritz Schilick — figura central da corrente filosófica conhecida como positivismo lógico, membro do Círculo de Viena — analisa os grandes sistemas filosóficos, a fim de mostrar o modo como eles se estruturam e evidenciam um tipo de prática filosófica que não leva a lugar algum, na medida em que não consegue levar a um resultado definitivo acerca de uma questão. Nesse sentido, Schilick coloca em cheque o futuro dos grandes sistemas filosóficos. Para ele, esses sistemas não foram bem sucedidos, porque, ao contrário da ciência que sempre parte de pressupostos definitivos e está em constante evolução, as questões filosóficas são sempre as mesmas, desde a época de Platão. Moritz Schlick Não há, portanto, um desenvolvimento na Filosofia, já que, uma mesma questão sempre é recomeçada no trabalho de outro filósofo. Schlick aponta dois problemas para o desenvolvimento da Filosofia: Desacordo entre os filósofos A História da Filosofia foi determinada por contestações entre os filósofos de diferentes culturas e épocas, demonstrando uma falta de consenso entre eles. A presença de desacordo entre os filósofos e, consequentemente, entre seus sistemas filosóficos, que não aceitavam proposições para buscar a verdade, fez com que não fosse reconhecida como ciência, pois não possuía um desenvolvimento gradativo e conceitos concretos. Isso se tornou um grande problema para a Filosofia, que permaneceu estática em função do tempo. Como consequência, temos o fato de não encontrar um sistema filosófico amplamente verdadeiro. Tentativa de estabelecer na Filosofia formas próprias da ciência Schlick considerou a ideia como uma atitude equivocada. A ciência usava hipóteses para chegar à verdade, enquanto que a Filosofia, por buscar o significado das coisas, apenas buscava conhecer o significado, o sentido real de uma proposição. Para Schilick, a Filosofia seria, então, uma atividade que fornece um suporte para todas as ciências específicas, mas que não pode ser considerada ciência por não existir nela proposições verdadeiras sobre os significados. As proposições são esclarecidas através de outras proposições, através de referências, exemplos e procedimentos. Falta de rigor Schilick acreditava ainda que a causa principal dos problemas das grandes questões filosóficas se restringiria à falta de um rigor com o esclarecimento das proposições que formavam as teses dos sistemas filosóficos. Para e Schilick, o problema com a Filosofia que antecede a nova lógica representada na Filosofia da linguagem poderia ser expresso por dois motivos: 1 O primeiro seria a falta de sentido lógico na estrutura de um problema, o que dificultaria encontrar uma resposta. 2 O segundo é que algumas questões reais, por meio da análise lógica, são solucionadas por métodos científicos. A Filosofia, portanto, procura esclarecer o pensamento do indivíduo como forma de contraste com relação a uma série de questões que estamos sujeitos a nos preocuparmos. Embora esta possa ser aproveitada em trabalhos científicos e desenvolvida individualmente, diferenciando o genuíno filosófico e o acadêmico. Atividades 3. Estudar Filosofia é bastante diferente de estudar Matemática ou Física. Por quê? 4. Os problemas mais importantes da Filosofia estão em aberto. O que isso significa? Notas Gregários Diz-se de animal que faz parte de uma grei, de um rebanho. Que vive em bandos ou em grupo. Aforismo Texto curto e sucinto, fundamento de um estilo fragmentário e assistemático na escrita filosófica, geralmente relacionado a uma reflexão de natureza prática ou moral. Máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral; apotegma, ditado. Matemática e Física Tanto o ensino da Física quanto da Matemática se reduz exclusivamente em entender os resultados alcançados por cada uma dessas áreas do conhecimento. Não se aprende a prática dessas ciências apenas estudando-as. 1 2 3 Antes de se tornar um matemático ou físico, é preciso se dedicar a anos de estudo de seus conteúdos para que se possa conhecer todos os resultados alcançados nessas áreas do conhecimento. Tendo dominado esses conteúdos, o estudante pode então iniciar seus estudos na prática científica dessas ciências. Newtoniano A Física newtoniana, de certa forma, está ultrapassada e não é usada de maneira direta na orientação das pesquisas atuais em Física. Problemas filosóficos não se encerram Não existe consenso quanto à solução de qualquer que seja o problema filosófico. Portanto, não é exagero considerar imprudente aquele que estuda Filosofia do mesmo modo como se estuda Matemática ou Física. Referências ALVES, Alaôr Café. Lógica: pensamento formal e argumentação. São Paulo: Quartier Latin, 2005. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. KELLER, Vicente. Aprendendo Lógica. Petrópolis: Vozes, 2008. SMULLYAN, R. M. Lógica de Primeira Ordem. São Paulo: UNESP, 2009. Próximos Passos Proposição; Argumento e raciocínio; Elementos constituintes do argumento; Premissas e conclusões; Solidez e cogência argumentativa. Explore mais 4 5 Pesquise nainternet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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