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UE I 1 ENVENENAMENTO E INTOXICA- ÇÕES EXÓGENAS AGUDAS TÓXICO OU VENENO Qualquer substância nociva que, quando introduzida no organismo, provoca alterações em um ou mais sis- tema fisiológicos. EPIDEMIOLOGIA Não existem dados nacionais confiáveis. Nos EUA, es- tima-se 2-3 milhões de intoxicações agudas por ano. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Os casos mais significativos são por tentativas de suicí- dio. Ocorre também por abuso de substâncias. Outra causa de intoxicação ocorre em pacientes com uso de múltiplas medicações ou com metabolização diminu- ída. Ingestão oral é a mais frequente. INTOXICAÇÕES AGUDAS Manifestações: neuropsiquiátricas, gastrointestinais, respiratórias, cardiovasculares e renais. ACHADOS CLÍNICOS A história e o exame físico são extremamente impor- tantes na avaliação inicial e no manejo – depende da substância ingerida, dose, duração da exposição, tempo entre a exposição e o atendimento médico hos- pitalar. Devem ser avaliados: sinais vitais devem ser anotados e reavaliados periodicamente; SaO2, glice- mia capilar e nível de consciência (Glasgow); sistemas cardiovascular, respiratório e neurológico; alterações oculares na chegada; odores característicos (álcool, or- ganofosforados – alho); avaliação cutânea – sudorese, calor, cianose, equimoses, pontos de punção venosa prévia, sinais de trauma. Manifestações neuropsiquiátricas: alucinações (percepção real de um objeto não existente); delírio (interpretação da alucinação – cocaína, anfetamina, pesticidas); agitação; con- vulsões (estricnina); miose (opiáceos, barbitúricos); midríase (éter). Manifestações gastrointestinais: avaliação da cavidade oral (ácidos); sialorreia (organofosforados); náuseas; vômitos; hálito característico (álcool); diarreia; dor abdominal; au- mento da RHA. Manifestações cardiovasculares: taquicardia; bradicardia; hipertensão; hipotensão; dor precordial, IAM, emergência hipertensiva, arritmias. Manifestações renais: insuficiência renal aguda (mercúrio, fósforo, inseticidas). Manifestações respiratórias: avaliação das narinas (coca- ína); saturação de O2; alterações respiratórias (ritmo, fre- quência, profundidade); AUSCULTA PULMONAR (roncos, crepitações). INTOXICAÇÕES AGUDAS: SÍNDROMES RELACI- ONADAS INTOXICAÇÃO COM HIPERATIVIDADE ADRENÉRGICA OU SIMPATICOMIMÉTICA: sintomas → ansiedade, agitação, alucinação, hiper reflexiva, hipertermia, su- dorese, taquicardia, taquipneia, pupilas midriáticas, tremores de extremidades; dor precordial, IAM, emer- gência hipertensiva, arritmias. Casos mais graves → hipertermia, rabdomiólise, convulsões. Muito prejudi- ciais, em especial, ao sistema cardiovascular. Deve-se procurar sítios de punção. Tóxicos mais prováveis → anfetaminas, cafeína, efedrina, cocaína, derivados de ergotamina teofilina, hormônio tireoidiano (medica- ções para emagrecimento). SÍNDROME ANTICOLINÉRGICA: pode se manifestar se- melhantemente à intoxicação com hiperatividade adrenérgica. Sintomas → pele seca, quente e averme- lhada, pupila bem dilatada com mínima resposta à luz, diminuição de ruídas intestinais e retenção urinária. Casos mais graves → convulsão, hipertermia, insufici- ência respiratória. Tóxicos mais prováveis → antide- pressivos tricíclicos, anti-histamínicos, antiparkinsonia- nos, atropina, ciclobenzaprina, antiespasmódicos (es- copolamina) e fenotiazinas. UE I 2 SÍNDROME COLINÉRGICA: aumento de ACh. Típico de trabalhadores rurais. Sintomas → confusão mental, re- baixamento do nível de consciência (RNC), convulsões, miose, bradicardia, hipertensão, taquipneia, sialorreia, incontinência urinária e fecal, diarreia, vômitos, lacri- mejamento, broncoespasmos e fasciculações. Quadro típico → bradicardia, miose, hiper salivação, diarreia, vômitos, broncorreia, lacrimejamento, sudorese in- tensa, fasciculações. Casos mais graves → PCR, IR, con- vulsões e coma. Tóxicos mais prováveis → carbama- tos, fisostigmina, organofosforados, pilocarpina, nico- tina, gás sarin. SÍNDROME COM HIPOATIVIDADE OU SEDATIVO- HIPNÓTICA: sintomas → rebaixamento do nível de consciência, pupilas variáveis, bradicardia e depressão respiratória; bradipneia, hipoatividade, coma, IR, hi- percampia, aspiração. Tóxicos mais prováveis → opi- oides (fentanil, morfina, oxicodona, metadona – pupila muito miótica), álcool e derivados, anticonvulsivantes (barbitúricos), zolpidem e BZD (pupila não miótica). SÍNDROME SEROTONINÉRGICA: aumento de seroto- nina. Sintomas → confusão, agitação, coma, midríase, hipertermia, taquicardia, hipertensão, taquipneia, tre- mor, hiper-reflexia, hipertonia (pior em MMII), sudo- rese, rigidez, trismo e diarreia. Tóxicos mais prováveis → inibidores da MAO, inibidores eletivos da recapta- ção de serotonina, tramadol se em associação com ISRS ou duais, antidepressivos tricíclicos. SÍNDROME ALUCINOGÊNICA: sintomas → alucina- ções, distorção da percepção e do sensório, agitação, midríase, nistagmo, hipertermia, taquicardia, hiperten- são, taquipneia. Tóxicos mais prováveis → anfetami- nas, dietilamida do ácido lisérgico (LSD), N-metil D-as- partato (NMDA). INTOXICAÇÃO COM SANGRAMENTO: sintomas → al- teração da coagulação (TP/INR) 24-72h após a inges- tão; sangramento de pele, mucosas, TGI, SNC, cavida- des e articulações. Tóxicos mais prováveis → antago- nistas da vitamina K (alguns venenos para ratos) e warfarina sódica (marevan). SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: difícil diferenciar se é ex- cesso de droga ou se é abstinência. Sintomas → agita- ção, sudorese, tremor, taquicardia, taquipneia, midrí- ase, ansiedade, confusão. Casos mais graves → aluci- nações, convulsões, arritmias. Tóxicos mais prováveis → álcool etílico, antidepressivos, cocaína, sedativos e opioides. EXAMES COMPLEMENTARES Na grande maioria dos casos, nenhum exame adicional é necessário. O screening qualitativo tem maior utili- dade quando a substância ingerida é desconhecida, em casos de ingestões múltiplas e quando os achados não são compatíveis com a história. A dosagem sérica quantitativa apenas será útil em situações onde exista relação entre nível sérico, toxicidade e tratamento. Podem ser dosados: antiarrítmicos, barbitúricos, di- goxina, etilenoglicol, metanol, ferro, paraquat, anti- convulsivantes (carbamazepina, ácido valpróico, feni- toína), lítio, paracetamol, salicilatos, metotrexato, meta-hemaglobina, monóxido de carbono/cianeto. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Em qualquer paciente comatoso no PS, que não tenha diagnóstico óbvio, deve-se pensar em intoxicação exó- gena. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Traumas: especialmente coluna cervical e TCE. Infecções: meningite, encefalite, abscesso cerebral, sepse. Lesões do SNC: AVC, hematoma subdural, tumores. Distúrbios metabólicos: hipercalcemia, hiponatremia, ure- mia, encefalopatia hepática, hipoglicemia, hiperglicemia, ce- toacidose diabética. Doenças CV: IAM, arritmias, embolia pulmonar; Transtornos psiquiátricos. ATENDIMENTO INICIAL DO PACIENTE Etapas do atendimento inicial do paciente vítima de in- toxicação exógena. 1. Monitorização: PA não invasiva, oximetria, cardi- oscopia me sala de emergência; 2. Punção de acessos venosos periféricos calibrosos; 3. Avaliação de vias aéreas; se ausência de pervie- dade ou sinais de obstrução iminente (rouquidão, lesão por inalação), proceder a via aérea definitiva (IOT); 4. Avaliação da respiração: se presença de hipoxe- mia, ofertar oxigênio suplementar; 5. Avaliação cardiovascular: em caso de hipotensão, realizar expansão volêmica 10-20ml/kg de solução cristaloide, se hipotensão refratária, adicionar droga vasopressora de modo precoce/com efeito inotrópico associado; 6. Avaliação do nível de consciência: avaliar capaci- dade de proteção de vias aéreas; 7. Exposição total do paciente; UE I 3 8. Realizar medidas de descontaminação, se há tempo hábil; 9. Coleta de exames,incluindo nível sérico de subs- tâncias dosáveis; 10. Solicitação de ECG. TRATAMENTOS LAVAGEM GÁSTRICA: eficácia depende do tempo da ingestão do tóxico – recuperação de 90% do material ingerido até o quinto minuto e de 8-32% até a primeira hora. Indicações: tempo de ingestão menor que 2h, substância po- tencialmente tóxica ou desconhecida. Contraindicações: rebaixamento do nível de consciência, in- gestão de substâncias corrosivas ou hidrocarbonetos (ál- cool), risco de hemorragia ou perfuração do TGI. Complicações: broncoaspiração, hipotermia, laringoes- pasmo, lesão mecânica do TGI. Modo: sonda nasogástrica (SNG) ou sonda orogástrica (SOG) 18-22 para adultos e 10-14 para crianças. • Posição DLE cabeceira a 20 graus; • Infusão de SF 250ml por vez até 6L ou líquido lím- pido (adultos) ou 10ml/kg até um total de 4L (cri- anças). CARVÃO ATIVADO: eficácia depende do tempo de in- gestão, sendo muito pequena após 2h. Apresenta me- nos complicações que a lavagem gástrica. Indicações: usar em múltiplas doses em intoxicações causa- das por: fenobarbital, ácido valpróico, carbamazepina, teofi- lina, substâncias de liberação entérica ou prolongada. Contraindicações: intoxicação por substâncias não adsorvi- das pelo carvão ou substâncias corrosivas (ácidos, álcoois, ci- aneto, lítio, metais pesados), risco de perfuração ou obstru- ção intestinal, RN, gestantes, RNC sem proteção de via área, agitação psicomotora. Complicações: bronco aspiração, constipação ou obstrução intestinal, redução da eficácia de antídotos orais. Não são adsorvidos pelo carvão ativado: álcool, meta- nol, etilenoglicol, cianeto, ferro, lítio, flúor. DIÁLISE: métodos dialíticos (hemodiálise e hemoperfu- são). HEMODIÁLISE Indicações: substâncias com baixo peso molecular, pequeno volume de distribuição, baixa afinidade/ligação com proteí- nas plasmáticas, baixo clearance endógena. Substâncias dialisáveis: lítio, fenobarbital, salicilatos, ácido valpróico, metanol/etilenoglicol, teofilina. Complicações: instabilidade hemodinâmica, complicação de punção de acesso vascular. HEMOPERFUSÃO Indicações: substâncias adsorvíveis pelo carvão ativado, pe- queno volume de distribuição, baixa afinidade/ligação com proteínas plasmáticas. Substâncias dialisáveis: teofilina, carbamazepina. Complicações: complicação de punção de acesso vascular, substâncias não adsorvível. ALCALINIZAÇÃO DA URINA: Indicações: intoxicação moderada a grave por salicilatos, sem indicação de diálise, intoxicação por fenobarbital, anti- depressivos tricíclicos, Clorpropamida. Contraindicações: hipervolemia já existente (edema pulmo- nar ou cerebral), insuficiência renal, hipocalemia não corri- gida. Complicações: hipervolemia, hipocalemia, alcalose metabó- lica, hipocalcemia. Modo: bicarbonato de sódio 8,4% 1-2mEq/kg em bo- lus, infusão contínua 150 mE1 de bicarbonato 8,4% em 1000ml de soro glicosado a 5% de 200-250ml/h, moni- torar nível sérico de potássio e pH (2/2h até 4/4h) e corrigir distúrbios conforme necessário, meta de pH urinário >7,5 e pH sérico 7,55 a 7,6. ANTÍDOTOS: INTOXICAÇÃO POR ÁLCOOIS E DROGAS DE ABUSO Ação sobre o sistema nervoso central: três grupos. Depressores do SNC: rebaixamento do nível de consci- ência → álcool, hipnóticos (barbitúricos e alguns ben- zodiazepínicos), ansiolíticos (benzodiazepínicos), opiá- ceos e opioides (morfina, heroína, codeína, meperi- dina), inalantes ou solventes (colas, tintas, removedo- res, entre outros). Estimulantes do SNC: instalado → anfetaminas e aná- logos (anorexígenos, metanfetamina). Perturbadores do SNC: alucinação → de origem vege- tal: mescalina (cacto mexicano); THC (maconha); UE I 4 psilocibina (cogumelos); lírio (trombeteira, zabumba, saia branca) ou de origem sintética: LSD-25; ecstasy; ketamina; anticolinérgicos (artane, bentyl, fienilcicli- dina). INDICADORES DE EMERGÊNCIA RELACIONADA A ÁL- COOL OU DROGAS: inconsciência, elevação da tempe- ratura, dificuldade respiratória, frequência cardíaca alta ou baixa, vômito em estado parcial ou total de in- consciência, crises convulsivas. COCAÍNA E CRACK Alcaloide extraído das folhas de Erythroxylum coca, uti- lizada antigamente como anestésico. VIAS DE CONSUMO: Nasal: cloridrato de cocaína - pó branco - 15-20% do alca- loide; Via oral: folhas de coca - 0,5-1,5% do alcaloide; Injetável: cloridrato de cocaína; Via fumo: crack – mistura de cloridrato de cocaína com bi- carbonato ou hidróxido de sódio; merla – pasta de cocaína (ambos 40-71% do alcaloide); Body-packers: pessoas que transportam a droga em pacotes dentro do intestino. • É bem absorvida por todas as vias, é metabolizada pelo fígado e excretada na urina em quatro subpro- dutos identificáveis. • Se consumida juntamente com álcool, forma um composto cujo efeito dura 13h, com ação vaso- constritora, cardiotóxica, arritmogênica e neuro- tóxica. • Em todo paciente com síndrome adrenérgica, deve-se suspeitar de intoxicação por cocaína ou crack. EFEITOS QUADRO CLÍNICO Bloqueio na recaptação de ca- tecolaminas. Agitação psicomotora, taqui- cardia, vasoconstrição perifé- rica e cardíaca, hipertensão. Bloqueio dos canais de sódio. Ação anestésica local e pro- longamento do intervalo QRS (ação dos miócitos). Aumento do glutamato e as- partato. Hiperatividade do SNC, con- vulsões e hipertermia. Bloqueio na recaptação de se- rotonina. Euforia, alucinações, psicose, anorexia e hipertermia. Aumento na produção de en- dotelina e diminuição do oxido nítrico. Vasoconstrição e aumento da adesividade plaquetária e da permeabilidade endotelial. SINTOMA MANIFESTAÇÕES COMPLICAÇÕES Sistema nervoso cen- tral (SNC). Cefaleia, crise con- vulsiva, confusão Hemorragia de SNC, AVC isquêmico por mental, delirium e agitação psicomo- tora. vasoespasmo, trom- bose ou embolia. Olhos e nariz. Midríase bilateral não foto reagente e epistaxe. Úlcera de córnea e perfuração do septo nasal. Pulmonar. Broncoespasmos e infarto pulmonar. Pneumotórax/pneu- momediastino/pneu- mopericárdio (baro- trauma -–inalatório); pulmão de crack (SDRA + hemoptise + febre + infiltrada al- veolar ou intersticial) e embolia pulmonar. Metabólicos. Rabdomiólise e hi- pertermia. Injúria renal aguda e desidratação. Cardiovascular. Dor torácica, arrit- mias e hipertensão. Síndrome coronari- ana aguda, dissecção de aorta, edema agudo de pulmão hi- pertensivo e oclusão arterial aguda. Obstétrico. Insuficiência placen- tária. Pré-eclâmpsia e sofri- mento fetal, malfor- mações e retardo do desenvolvimento fe- tal. Trato gastrointesti- nal. Abdome agudo. Úlcera péptica perfu- rada e colite isquê- mica. COCAÍNA - INTOXICAÇÃO AGUDA (GAY): três fases – estimulação inicial (pico estimulatório); estimulação avançada; depressão (relacionada com dependência). Estimulação inicial: midríase, cefaleia, náuseas, vômitos; vertigem, tremores não intencionais (face, dedos), tiques; palidez, diaforese; bradicardia transitória, hipertensão arte- rial, taquicardia, dor torácica; hipertermia; euforia, agitação, apreensão, instabilidade emocional inquietude, pseudo-alu- cinações. Estimulação avançada: hipertensão arterial, taquicardia, ar- ritmias ventriculares e, às vezes, hipotensão arterial; encefa- lopatia maligna, convulsões, estatus epileticus; dor abdomi- nal; taquipneia, dispneia; pode ocorrer hipertermia. Depressão: coma arreflexivo, arresponsivo; midríase fixa; paralisia flácida; instabilidade hemodinâmica; insuficiência renal (vasculite, necrose tubular aguda por rabdomiólise); fi- brilação ventricular ou assistolia; insuficiência respiratória, edema agudo pulmonar; cianose, respiração agônica, PCR. MANEJO DA INTOXICAÇÃO POR COCAÍNA: benzodia- zepínico + o que precisar; evitar betabloqueadores (pi- ora a parte alfa-adrenérgica).UE I 5 ANFETAMINAS Substâncias que apresentam em sua estrutura fenileti- lamina; utilizada para emagrecer. Anfetamina, MDS (“droga do amor” – love drug), DOB, DOI, MDEA (eve) e metanfetamina (crystal-ice), metilfenidato, dexanfe- tamina. Pode ser usada via oral, inalatória ou respira- tória, com boa absorção nas três. Síndrome adrenér- gica? • Sintomas: MANEJO DA INTOXICAÇÃO POR ANFETAMINA: benzo- diazepínico + o que precisar; evitar betabloqueadores (piora a parte alfa-adrenérgica). ECSTASY/MDMA 3,4-metileno-dioximetanfetamina, derivado da anfeta- mina; "bala". Geralmente, usado via oral. Quadro clí- nico e manejo semelhantes aos da cocaína e anfeta- mina. Síndrome adrenérgica? LSD Dietilamida do ácido lisérgico – droga sintética com efeito alucinógeno. Perturbadores do SNC. Droga co- nhecida como "ácido", "doce" ou "ponto". Consumida via sublingual. Manifestações clínicas: alterações da percepção visual, auditiva, labilidade de humor e pos- sibilidade de "bad trips" (experiências desagradáveis que levam a ansiedade, agressividade e alterações de comportamento). Tratamento: medidas de suporte. MACONHA E CANABINOIDES Maconha – mistura de folhas e flores da planta Canna- bis sp. Conhecida como marijuana, pot, bomba, base- ado, erva. Outros canabinoides: haxixe, skank, canabi- noides sintéticos (K2, spice). Perturbadores do SNC. Consumida como fumo ou via oral. Manifestações clí- nicas: hiperemia conjuntival, boca seca, aumento do apetite, taquipneia e fala pastosa. Pode ocorrer ataxia, nistagmo, hipotensão postural, taquicardia, hipertensão, euforia e diminuição da ansiedade e da atenção, exacerbação dos quadros psicóticos. Trata- mento: controle dos sintomas. ETANOL Droga mais utilizado do mundo; propriedades depres- soras do SNC. Absorvidas em 60 minutos, metabolizada pelo fígado. Toxicidade variável, tolerância individual (relacionada com água corporal). QUADRO CLÍNICO: depende do nível sérico e da tole- rância do paciente. Alcoolemia: 50-150 mg/dl – verborragia, reflexos dimi- nuídos, visão borrada, excitação ou depressão mental; possível recuperar; 150-300mg/dl – ataxia, confusão mental, hipoglicemia (principalmente, em crianças), lo- gorreia; 300-500mg/dl – incoordenação acentuada, torpor, hipotermia, hipoglicemia (convulsões), distúr- bios hidroeletrolíticos (hiponatremia, hipercalcemia, hipomagnesemia, hipofosfatemia), distúrbios acidobá- sicos (acidose metabólica); 500mg/dl – coma, falência respiratória, falência circulatória, óbito. Não conclua imediatamente que um paciente com hálito de álcool está bêbado, os sinais podem indicar doenças ou le- sões como epilepsia, diabetes ou traumatismo craniano. SINAIS DE INTOXICAÇÃO: odor de álcool no hálito; os- cilação e instabilidade; fala arrastada; náuseas e vômi- tos; face ruborizada; sonolência; comportamento ins- tável, destrutível ou violento; a vítima fere a si mesmo, geralmente, sem perceber. EFEITOS: depressor (afeta o discernimento, visão, re- flexo e coordenação); quando ingerido com outros de- pressores, o resultado pode ser maior do que o efeito combinado das drogas; em quantidades muito gran- des, pode paralisar o centro respiratório do cérebro e causar morte. TRATAMENTO: mesmo ou similar que um paciente com lesão ou doença: 1. Monitore os sinais vitais do paciente constante- mente; UE I 6 2. Forneça suporte à vida, quando necessário; 3. Posicione o paciente para evitar aspiração do vô- mito; 4. Não deixe o paciente ferir a si mesmo. ETANOL: assistência respiratória e O2, se necessário; lavagem gástrica em caos de ingestão recente (30-45 min) e de grande quantidade; carvão ativado NÃO é efi- ciente; pode ser útil no caso de associação com outros agentes tóxicos; não induzir vômitos (risco de bronco- aspiração); em crianças – prevenir hipoglicemia com SG 25% - 2ml; Tiamina – 100mg/l de SF/SG ou 100 mg VO 3x/dia – previne a encefalopatia de Wernicke; Niacina – 50mh VO 4x/dia ou 25mg IV 2-3x/dia. Hipoglicemia: glicose a 50% em IV (nunca antes da tia- mina – pode precipitar S. Wernicke); adulto = 40ml IV, seguidos de SG a 5%IV; crianças = glicose a 10% 2ml/kg IV em 5-10 min e 6-8 ml/kg/min para manutenção da glicemia. Convulsão: diazepam ou lorazepam. Lorazepam: adul- tos = 4-8 mg; crianças = 0,05-0,1 mg/kg. Diazepan: adultos = 5-10 mg IV em bolus; repetir até 30mg se ne- cessário; crianças 0,25-0,4 mg/kg/dose até 10mg/dose. Choque, desidratação e acidose: soluções isotônicas de cloreto ou bicarbonato de sódio. ENCEFALOPATIA DE WERNICKE (AGUDA): deficiência de tiamina; considerada uma emergência médica com mortalidade de 17%; início abrupto com a tríade: 1. Distúrbios oculares: nistagmo, paralisia abducente bilateral, paralisias oculares até oftalmoplegia to- tal; 2. Ataxia cerebelar: tronco e MMII, com marcha de base ampla e oscilante; 3. Confusão mental: desorientação, sonolência, desa- tenção e baixa capacidade de resposta; 4. Pode haver sintomas de abstinência associados. PSICOSE DE KORSAKOFF (CRÔNICA): pode aparecer gradualmente isolada ou associada ao Wernicke. Fa- lhas de memória de evocação, desorientação, falta de concentração, apatia e, por vezes, fabulação. METANOL Álcool utilizado como adulterante em combustíveis de automóveis e bebidas alcóolicas, fluidos, limpadores de para-brisas, matéria-prima para fabricação de biodi- esel e como solvente. Rapidamente absorvido via oral. Principal intoxicação por álcoois. Alta letalidade e ocor- rência de complicações. Dose letal = 30-240ml. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: inicialmente semelhante à intoxicação por etanol, cursando com ataxia, desinibi- ção e sedação, podendo ser acompanhado de dor ab- dominal, náuseas, vômitos, cefaleia, taquicardia e hi- potensão. • Após 12-24h: acidose metabólica, hipotensão, ta- quicardia, arritmias, convulsões, RNC, injúria renal aguda, parkinsonismo; alterações visuais comuns (diplopia, visão borrada, diminuição da acuidade e cegueira). • Fundo de olho: midríase, hiperemia do disco óptico e papiledema. TRATAMENTO: estabilização clínica, expansão volê- mica, drogas vasoativas, IOT, correção de acidose me- tabólica. • Antídoto: indicado para pacientes sintomáticos e ânion gap>12 ou concentração sérica >20mg/dl; • Etanol (0,8 g/kg de atanol ebsoluto EV em 1h se- guido de 130 mg/kg/k de manutenção, diluído a 10% em SG 5% – satura a enzima álcool-desidroge- nase, diminuindo a formação de metabólitos tóxi- cos do metanol; • Fomepizol: não tem no Brasil. • Ácido fólico: 1mg/kg até 50 mg, diluído em 100ml de SG 5% a cada 4h – aumenta a transformação do ácido fórmico em CO2 e H2O. • Hemodiálise: pacientes com acidose metabólica grave, alterações visuais, IRA, instabilidade hemo- dinâmica, DHE refratários, metanol >50mg/dl. • Carvão ativado e lavagem gástrica são contraindi- cados. SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA ALCÓOLICA: conjunto de sinais e sintomas específicos causados pela suspensão abrupta de consumo de álcool em pacientes usuários crônicos. Diagnóstico: história de interrupção de ingestão de ál- cool mais, pelo menos, 2 sintomas, incluindo hiperati- vidade autonômica (taquicardia, sudorese, hiperten- são), tremores de mão, insônia, náuseas e vômitos, alu- cinações visuais, táteis ou auditivas, ansiedade, agita- ção, crises convulsivas (tônico-clônicas generalizadas). Início dos sintomas 6-24h após a última ingesta de ál- cool. Delirium tremens: manifestação mais grave; ocorre 48-72h após a última ingestão; dura até 3 dias na mai- oria dos casos; Manifestações: desorientação e confusão mental im- portantes, extrema agitação, com necessidade de UE I 7 restrição mecânica, tremores grosseiros, instabilidade autonômica (taquicardia, elevação da PA, alterações hidroeletrolíticas), ideação paranoide, alucinações vi- suais ou auditivas. • Avaliar outras condições associadas(Wernicke- Korsakoff). Esteio do tratamento: benzodiazepínicos.
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