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1 Ciclo menstrual é o conjunto de eventos interdependentes do eixo hipotálamo-hipófise-ovário e as consequentes modificações fisiológicas no organismo, visando à preparação para ovulação e gravidez. Durante cada ciclo ocorre maturação folicular, liberação de um óvulo e preparação do útero para receber o embrião. Ovário: libera gametas (ovócitos) e produz hormônios esteroides (estradiol e progesterona) 1º dia da menstruação 1º dia do ciclo Meio do ciclo: pico de LH ovulação 10 a 15 anos que antecedem a menopausa: perda folicular Duração do ciclo menstrual Ciclo menstrual normal: 21 – 35 dias. Média: 28 dias. Fluxo: 2 – 6 dias As variações na duração do ciclo menstrual, da menstruação e da intensidade do fluxo são comuns nos extremos da vida reprodutiva. A duração do ciclo menstrual também varia de acordo com o IMC da mulher → IMC baixo e elevado estão associados a aumento no intervalo do ciclo Cerca de 20% das mulheres apresentam ciclos menstruais irregulares Desenvolvimento ovariano A formação folicular ocorre com 18 a 20 semanas de gestação Os folículos permanecem na prófase até a puberdade O folículo destinado a ovular é recrutado logo nos primeiros dias do ciclo menstrual A ação do FSH sobre o folículo ovariano é responsável pela seleção do folículo dominante. Os níveis elevados de FSH evitam apoptose e consequente atresia do folículo Na puberdade, cada ovário possui de 300 a 500 mil ovócitos Hipotálamo, hipófise e gônada O desenvolvimento folicular requer uma ação integrada e coordenada de eventos hipofisários, hipotalâmicos e ovarianos. A circulação sanguínea ocorre no sentido SNC-hipófise. 2 O ovário (folículo dominante), mediante produção de estradiol, progesterona, inibina, fatores de crescimento e outros peptídeos, modula, com retrocontroles positivos e negativos, a função hipotalâmico- hipofisária durante o ciclo menstrual. A hipófise tem regulação autócrina e parácrina, com produção de citocinas e fatores de crescimento. Neuro-hipófise: pode ser considerada uma extensão do hipotálamo, pois existem conexões neuronais diretas entre as duas estruturas. Adeno-hipófise: não há comunicação neuronal direta entre ela e o hipotálamo. Os neuro-hormônios produzidos no hipotálamo alcançam a adeno-hipófise pela circulação porta-hipofisária. Os neuro-hormônios são fatores liberadores de hormônios hipofisários, exceto a dopamina (possui efeito inibidor sobre a secreção hipofisária de prolactina). A dopamina é produzida nos núcleos paraventricular e arqueado do hipotálamo A prolactina é produzida no lactotrofo, também localizada na hipófise anterior. Também tem sua secreção de forma pulsátil. Fluxo retrógrado: quando os hormônios da hipófise chegam ao hipotálamo, gerando um retro-controle. Secção da haste hipofisária: interrupção da circulação porta-hipofisária atrofia das gônadas, diminuição da função tireoidiana e suprarrenal, aumento da PRL (que é inibida pela dopamina) Hipotálamo Ação Hipófise GnRH + FSH/LH CRF + ACTH GHRH + GH TRH + TSH PIF (ou dopamina) - PRL GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina): As células produtoras do GnRH são oriundas do bulbo olfatório e ficam localizadas no núcleo arqueado do hipotálamo. Responsável pela secreção hipofisária de LH e FSH. Secretado de forma cíclica e pulsátil durante o ciclo menstrual. o Quando secretado em níveis baixíssimos ou altíssimos, não ocorre resposta hipofisária, por isso a secreção precisa ser pulsátil! o Os pulsos de GnRH são modulados pelo sistema supra-hipotalâmico noradrenalina-dopamina, com influência facilitadora da noradrenalina e inibidora da dopamina. o Esse sistema pode ser influenciado por opioides endógenos, catecolestrogênios e outros neurotransmissores. o Sua secreção pulsátil é mais frequente e apresenta maior amplitude durante a fase folicular quando comparada à fase lútea o A serotonina (produzida no mesencéfalo) influencia a frequência e amplitude da liberação do GnRH o As concentrações elevadas de progesterona da segunda fase do ciclo reduzem a frequência e a amplitude dos pulsos de GnRH, provavelmente pelo aumento dos opioides endógenos. A exposição contínua da hipófise ao GnRH leva à dessensibilização hipofisária e à diminuição de receptores de GnRH na hipófise Meia-vida curta (2-4 min) rápida degradação e enorme diluição não é dosado na circulação sistêmica 3 Gonadotrofo: Localizado na adeno-hipófise Sintetizam, armazenam e liberam LH e FSH (gonadotrofinas) sob ação do GnRH A síntese e o armazenamento de gonadotrofinas sofrem alterações no decorrer do ciclo menstrual, conforme as concentrações de estradiol, progesterona, inibinas e outras substâncias produzidas pelo folículo dominante Após níveis elevados de estradiol, observa-se aumento da resposta do gonadotrofo ao GnRH Centro hiper hipotalâmico hipotálamo GnRH hipófise LH e FSH ovário estrogênio e progesterona Crescimento folicular • Nascimento: 1 milhão de folículos • Menarca: 500.000 folículos • Menacme (período entre menarca e menopausa): 400 folículos • Folículos primordiais: estão em repouso • Folículo primário: 0,1mm • Folículo pré-antral: 0,2mm • Folículo antral: 2mm Na transformação do folículo primário em pré-antral, há aumento das células da granulosa e da teca. O desenvolvimento folicular inicial independe de gonadotrofinas. Já os folículos antrais iniciais crescem sob estímulo de FSH. Os últimos 15 dias do crescimento folicular dependem do aumento cíclico de FSH. O número de células da granulosa e o tamanho dos folículos recrutados aumentam. O crescimento até a fase antral inicial é permanente durante a vida até a menopausa. Hormônio antimülleriano (AMH): 4 o É um regulador negativo do desenvolvimento folicular inicial. Sua presença inibe o crescimento folicular inicial e a ação do FSH. Então, é um marcador de reserva ovariana (quantidade de folículos) e está envolvido na diminuição do crescimento folicular e, consequentemente, em menor apoptose. o Secretado principalmente pelas células da granulosa de folículos primários e secundários o Quando os folículos atingem certa diferenciação e sensibilidade às gonadotrofinas (estágio antral), eles não secretam mais AMH. Ciclo Menstrual Fase proliferativa ou folicular Duração: 10 a 14 dias, mas pode variar. A variabilidade nessa duração é responsável pela variação na duração total do ciclo. No início de cada ciclo menstrual, os níveis de estrogênio e progesterona estão diminuídos desde a fase lútea anterior. Há aumento de FSH durante os primeiros dias do ciclo para que os folículos respondam a esse estímulo e iniciem seu ciclo. São recrutados 15 ou mais folículos antrais em cada ciclo. Cada um desses folículos secreta níveis crescentes de estrogênio, à medida que crescem na fase folicular. A partir do 5° ou 6° dia do ciclo, apenas um folículo cresce, passando a ser o folículo dominante (Folículo de Graaf), e os demais entram em atresia. Níveis crescentes de estrogênio causam feedback negativo sobre o FSH, que começa a diminuir. Os folículos também produzem inibina B, que também suprime a secreção de FSH. O LH, no início, também diminui aos níveis crescentes de estradiol. Entretanto, no final dessa fase, o nível de LH aumenta. O estradiol exerce retrocontrole negativo sobre a hipófise em quase todo o ciclo. Quando o estradiol permanece em níveis elevados por 36h a 48h, ocorre o pico de LH (retrocontrole positivo). A progesterona, secretada em níveis baixos ao fim da fase folicular, é facilitadora do pico de LH. O pico de LH faz o ovócito reassumir a meiose, estimula a síntese de prostaglandinas, luteiniza as células da granulosa, promovendo a síntese de progesterona e estradiol. A ovulação ocorre 24 a 36h depois do pico de LH. Assim, inicia a fase lútea ou secretora. Ainibina A se mantém baixa nessa fase, pois sua concentração diminui paralelamente ao estradiol e à progesterona. 5 Fase lútea ou secretora Essa fase vai da ovulação até o início da menstruação. Duração: 12 a 14 dias. Após a liberação do ovócito, o folículo se reorganiza para formar o corpo lúteo ou amarelo. A função lútea é controlada pela secreção hipofisária de LH. O nível de estrogênio diminui até a metade da fase, quando começa a aumentar em decorrência do corpo lúteo. A inibina A é produzida pelo corpo lúteo, sob controle de LH. Os níveis de progesterona aumentam subitamente após a ovulação. A progesterona, o estrogênio e a inibina A atuam em nível central suprimindo a secreção de gonadotrofinas e o crescimento de novos folículos. A pulsatilidade do LH na segunda fase do ciclo ocorre a cada 3 a 4 horas, comparada a um pulso a cada 90 minutos na fase folicular. Se a fertilização do ovócito e/ou a implantação não ocorre, o corpo lúteo entra em remissão 12 a 14 dias após a ovulação. Quando ocorre gestação, a gonadotrofina coriônica humana (HCG) produzida pelo embrião evita a regressão lútea e mantém a esteroidogênese ovariana até a placenta assumir a produção hormonal da gestação. Ao fim da fase lútea, com o decréscimo do estradiol, da progesterona e da inibina A, ocorre aumento do FSH nos primeiros dias da fase folicular. Esse é o sinal para que os folículos antrais iniciem o crescimento e para que comece um novo ciclo. Inibina A e estradiol controlam a secreção de FSH na fase de transição luteofolicular. Obs: estradiol, inibina A e inibina B são os principais hormônios ovarianos reguladores das secreções de gonadotrofinas. 6 Fatores de crescimento ovariano que aumentam a atividade do FSH: Fatores de crescimento semelhantes à insulina Fator de transformação do crescimento β Fator de crescimento de fibroblastos Ativina Fatores de crescimento ovariano que inibem a atividade do FSH (relacionados à atresia): Inibina Fator de crescimento epidérmico Fator de transformação do crescimento α Proteínas de ligação do IGF Teoria das duas células – duas gonadotrofinas Nos folículos antrais, os receptores de LH estão presentes apenas nas células da teca, e os receptores de FSH estão nas células da granulosa. As células da teca, sob estímulo do LH, sintetizam androstenediona e testosterona. As células da granulosa, sob estímulo do FSH, convertem os androgênios em estradiol e estrona. O LH estimula a esteroidogênese nas células da teca, fornecendo o substrato (androgênios) para a conversão a estrogênios nas células da granulosa, por meio da enzima aromatase. À medida que o folículo se desenvolve, as células da teca expressam genes para a síntese de mais receptores de LH e para a expressão das enzimas do citocromo P450, visando à síntese de androgênios. As células da granulosa, com o crescimento e a proliferação, aumentam os receptores de FSH e a expressão da enzima aromatase, elevando o nível estrogênico. O folículo dominante é o que tem maior atividade de aromatase, permitindo maior produção de estradiol e maior número de receptores de FSH e de LH. As células da teca do folículo pré-ovulatório (dominante) são bem vascularizadas. O FSH estimula a secreção de inibina B pelas células da granulosa. 7 Ciclo endometrial O ciclo ovulatório é acompanhado por alterações endometriais visando à implantação de um embrião. Quando não ocorre a gestação, o corpo lúteo regride e ocorre a descamação endometrial (menstruação). • Decídua funcional - 2/3 superficiais do endométrio – proliferação mensal • Decídua basal – sem proliferação mensal significativa. É a base do endométrio que não descama. • Fase proliferativa: intensa atividade mitótica nas glândulas e no estroma endometrial. É uma preparação para recepção do embrião – o endométrio vai de 1mm até 11mm. • Ovulação • Fase secretora: secreção glandular e edema no estroma. Na ausência de implantação, ocorre o fim da secreção glandular e decomposição irregular de decídua funcional. Há destruição do corpo lúteo e queda da produção de estrogênio e progesterona. Com a falta dos hormônios, há vasoespasmo (cólica forte) das artérias espiraladas e isquemia endometrial. Ocorre a menstruação. A concentração dos receptores de estrogênio (RE) é alta na fase proliferativa, diminuindo após a ovulação. Isso reflete a ação supressiva da progesterona sobre os RE. A concentração máxima dos receptores de progesterona no endométrio ocorre na fase ovulatória, espelhando a indução desses receptores pelo estradiol. Na fase lútea, os receptores de progesterona diminuem muito nas glândulas e continuam presentes no estroma. Referências PASSOS, E. P. et al. Rotinas em ginecologia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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