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Art 1548-1564 comentado

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CASAMENTO
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: I – (Revogado pela Lei n. 13.146, de 06.07.2015.) II – por infringência de impedimento.
O presente artigo dá início ao capítulo do Có-digo que trata da invalidade do casamento. O le-gislador manteve a distinção entre os vícios que geram a nulidade ou a anulabilidade do casamen-to, estabelecendo como diferença essencial entre eles a sua maior ou menor gravidade. O Código cuidou especificamente de apenas duas das espé-cies de casamento inválido, do nulo e do anulá-vel, deixando de disciplinar expressamente o ca-samento inexistente, admitido pela doutrina. O casamento será nulo quando celebrado sob
as infrações estabelecidas pela ordem legal e por motivos fundados em interesse público. Será anu-lável o casamento quando realizado com obser-vância de quaisquer das circunstâncias previstas no art. 1.550 deste Código. As diferenças principais entre o casamento
nulo e o anulável são: a) no primeiro caso, a nu-lidade é decretada no interesse de toda a coleti-vidade; no segundo, a nulidade relativa tem em vista o interesse privado ou individual da vítima ou de um grupo de pessoas; b) o primeiro não gera efeito algum, o segundo pode gerar efeitos; c) o segundo é passível de ratificação e o primei-ro não; d) no primeiro caso, qualquer interessa-do ou o Ministério Público pode alegar a nulida-de do casamento; no segundo, a anulabilidade só pode ser arguida por quem tiver interesse nessa solução ou pelo Ministério Público; e, por fim, e) são imprescritíveis as ações que buscam a nu-lidade do casamento, porque o casamento nulo não se convalida, ao passo que o prazo decaden-cial estabelecido pela lei para que sejam arguidas nulidades relativas é curto. O casamento inexistente é aquele realizado
sem os requisitos exigidos pela lei, que são a diver-sidade de sexo, o consentimento e a celebração na forma da lei. Portanto, como se vê, a existên-cia refere-se à presença dos elementos estrutu-rais do negócio jurídico, não podendo, pois, ser confundida com a validade, já que esta diz res-peito às qualidades desses elementos estruturais. Esse casamento não produz nenhum efeito, nem mesmo os efeitos do casamento putativo. O re-conhecimento da inexistência do casamento pode ocorrer a qualquer tempo, não estando sujeito a prescrição ou decadência. O disposto no então inciso I deste artigo (ca-samento contraído por “enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida ci-vil”) foi revogado expressamente pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) que deixou de reconhecer a nulidade do matri-mônio celebrado em tais circunstâncias, uma vez que suprimida a incapacidade absoluta do regra-mento jurídico da pessoa com deficiência psíqui-ca ou intelectual, revogando-se o disposto no art. 3o, II, deste Código. Portanto, o deficiente na si-tuação antes disciplinada, porque legalmente au-torizado a casar, e que se tornou relativamente incapaz, não terá reconhecida a nulidade de seu matrimônio. De outra parte, aquele que se casou quando se encontrava com reduzida capacidade de discernimento ou com discernimento parcial, ou que manifestou de forma inequívoca o seu de-sejo de contrair o casamento, pode ter o negócio jurídico confirmado ou convalescida a invalida-de pelo decurso do prazo de 180 dias (art. 1.560, I). Nesse caso, ter-se-á o casamento anulável, pre-visto no art. 1.550, IV (v. comentário), e não o casamento nulo ora referido. Será também considerado nulo o casamento
realizado por infringência de impedimento (inciso II). Os impedimentos dirimentes referidos no inciso II são aqueles previstos no art. 1.521, I a VII, para cujos comentários remete-se o leitor.
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casa-mento, pelos motivos previstos no artigo antece-dente, pode ser promovida mediante ação dire-ta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
Como já afirmado em comentários ao artigo
antecedente, a nulidade do casamento sempre será decretada no interesse de toda a coletivida-de. Isso porque o vínculo está envolvido em um princípio dirimente público absoluto. Em razão da inércia da jurisdição (art. 2o do CPC/2015; art. 2o do CPC/73) e da ausência de poder das nuli-dades para atuarem de pleno direito, a declara-ção de nulidade do casamento realizado com o vício insanável referido no art. 1.548 deverá ser pleiteada no Poder Judiciário, conferindo o pre-sente dispositivo legal legitimidade ativa tanto a qualquer interessado como ao Ministério Públi-co. O primeiro terá legitimidade para a ação quan-do, por motivos de ordem privada, manifestar seu interesse – econômico ou moral – na declaração de nulidade do ato jurídico. Poderá a ação ser pro-posta, nessa hipótese, pelo próprio participante do ato, por seus ascendentes, descendentes, ir-mãos, cunhados, por herdeiros necessários, pelos tutores e curadores, pelos credores dos cônjuges e pelos adquirentes de seus bens, bem como pela companheira, segundo seus interesses morais ou econômicos. Também o cônjuge sobrevivo terá legitimidade para a ação de nulidade, para excluir os efeitos do casamento, inclusive quanto aos bens. Até mesmo o cônjuge que agiu de má-fé (p. ex., o bígamo) pode, fundado em interesse exclusiva-mente moral, pleitear a nulidade de seu casamen-to. Quando a ação se assentar em motivos de or-dem pública, como ofensa a princípios que envolvam a natureza jurídica constitutiva da fa-mília, protegida pela CF, poderá ser ajuizada pelo Ministério Público, guardião dos interesses dos incapazes e fiscal da lei. A nulidade do casamen-to só pode ser declarada em ação específica e não incidentalmente, como as nulidades em geral. Essa ação de nulidade é imprescritível, porque o ato nulo não se convalida. É ação de estado e versa sobre direitos indisponíveis, motivos pelos quais tem incidência o disposto nos arts. 82 a 84, no pa-rágrafo único do art. 302 e no inciso II do art. 320, todos do CPC/73 (arts. 178, 179, 341, parágrafo único, e 345, II, do CPC/2015; art. 84 sem corres-pondente no CPC/2015).
Art. 1.550. É anulável o casamento: I – de quem não completou a idade mínima
para casar; II – do menor em idade núbil, quando não
autorizado por seu representante legal; III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV – do incapaz de consentir ou manifestar,
de modo inequívoco, o consentimento; V – realizado pelo mandatário, sem que ele
ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI – por incompetência da autoridade cele-brante. § 1o Equipara-se à revogação a invalidade do
mandato judicialmente decretada. Parágrafo renumerado pela Lei n. 13.146, de 06.07.2015. § 2o A pessoa com deficiência mental ou in-telectual em idade núbia poderá contrair matri-mônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador. Parágrafo acrescentado pela Lei n. 13.146, de 06.07.2015.
O artigo enumera os casos em que o casamen-to pode ser anulado por decisão judicial. No inciso I, tem-se como causa da anulabili-dade a inobservância da idade legal mínima para o casamento. Como já salientado em comentá-rios ao art. 1.517, a lei exige a idade mínima de 16 anos para que se possa contrair o casamento. Aos 16 anos a pessoa atinge a idade núbil. Antes dessa idade, não será autorizado o casamento em hipótese alguma, consoante disposto no art. 1.520 (v. comentário). A lei exige que a pessoa tenha atingido a maioridade (18 anos) para que possa casar-se sem a autorização dos pais ou represen-tantes legais. Os nubentes dependerão de auto-rização de seus responsáveis, portanto, durante o período de dois anos que medeia os 16 e os 18 anos (inciso II). O casamento contraído por me-nor de 16 anos ou por aquele que atingiu a ida-de núbil sem autorização é anulável (incisos I e II). Sobre a anulabilidade do casamento por de-feito de idade, remete-se o leitor aos comentários dos arts. 1.517, 1.519, 1.520, 1.551 a 1.553, 1.555 e 1.560, § 1o. O inciso III do artigo refere-se à anulabilidade do casamento por vício
de vontade, seja decorrente de erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, seja em virtude de coação. A anulação do casamento por vício de vontade é minuciosa-mente tratada em comentários aos arts. 1.556 a 1.558, para os quais se remete o leitor. Também será anulado o casamento do inca-paz de consentir ou manifestar, de modo inequí-voco, o consentimento (inciso IV). A lei define como anulável o casamento daquele que, gozan-do de momentos de lucidez, o realizou quando se encontrava com reduzida capacidade de dis-cernimento ou com discernimento parcial, ou pôde manifestar, de forma inequívoca, seu dese-jo de contrair o casamento. A hipótese tratada neste dispositivo refere-se aos relativamente in-capazes, mencionados no art. 4o do Código, quais sejam, os ébrios hábituais, os viciados em tóxi-cos e as pessoas que, por causa transitória ou de-finitiva, não puderem exprimir sua vontade. Nos casos de incapacidade relativa, o casamento será válido desde que autorizado pelos assistentes le-gais do relativamente incapaz. O negócio jurídi-co realizado pelo relativamente incapaz poderá ser confirmado ou ter convalescida sua invalida-de pelo decurso do prazo de 180 dias (art. 1.560, I). O legislador quis, a bem da verdade, tentar preservar o casamento realizado em tais circuns-tâncias. Por força do disposto no § 2o do artigo em comento, acrescentado pelo Estatuto da Pes-soa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015), ficou claro que não será anulável o casamento contraí-do por pessoa com deficiência mental ou intelec-tual, em idade núbia, desde que tenha consegui-do expressar sua vontade, não se enquadrando esta situação à hipótese tratada no inciso IV do artigo. Pela mesma razão, o casamento muito me-nos será declarado nulo, consoante exposto em comentários ao art. 1.548. O inciso V trata da anulabilidade do casamen-to realizado pelo mandatário quando o mandato já tenha sido revogado. Conforme já observado em comentários ao art. 1.542, a procuração con-ferida ao mandatário, com poderes especiais para contrair casamento, poderá ser revogada até o momento da celebração do ato nupcial e essa re-vogação só poderá ocorrer se for por instrumen-to público (§ 4o do art. 1.542). A revogação do mandato não precisa chegar ao conhecimento do mandatário para produzir efeitos. Contudo, o mandante deverá cientificar o mandatário e o ou-tro contraente da revogação, porquanto, celebrado. 
o casamento sem que eles tenham ciência dessa revogação, responderá o mandante, comprovada sua culpa, por perdas e danos que vier a causar a ambos, inclusive de natureza extrapatrimonial (§ 1o do mesmo artigo). O artigo ora comentado im-põe que, além das consequências antes apontadas decorrentes do casamento realizado sem a ciên-cia da revogação do mandato, seja ele também de-clarado anulado. Ou seja, o casamento realizado com a utilização de instrumento de mandato re-vogado sem o conhecimento dos interessados – o que pressupõe a boa-fé do mandatário – é anu-lável, desde que não sobrevenha coabitação entre os cônjuges, pois, nessa hipótese, o casamento es-taria convalidado, já que a coabitação posterior ra-tifica o casamento realizado nessas condições. Confirmadas as núpcias ou decorrido o prazo de 180 dias contados da ciência do mandante da ocor-rência da celebração (art. 1.560, § 2o), também ter-se-á por convalescida a invalidade. O § 1o do artigo equipara a invalidade do man-dato, quando esta for judicialmente decretada, à revogação. Segundo Silvio Rodrigues (Comentá-rios ao Código Civil. São Paulo, Saraiva, 2003, v. XVII), “o preceito, de raríssima aplicação, é, de certo modo, supérfluo. Isso porque só tem legi-timação para propor a ação judicial, visante a re-vogar a procuração, o próprio mandante, ou seu representante legal, se menor ou interdito. Ora, no primeiro caso, mais fácil ao mandante revo-gar o mandato, e, no caso de seu representante legal, mais conveniente ser-lhe-á denegar seu con-sentimento para o referido matrimônio”. Por fim, estabelece a lei a anulabilidade do ca-samento quando celebrado por autoridade in-competente (inciso VI). Trata-se de incompe-tência ratione loci, ou seja, em razão do lugar da celebração, ou da incompetência ratione perso-narum, em razão das pessoas dos nubentes, quan-to a seus domicílios. O ato nupcial considera-se válido apenas quando celebrado por juiz do dis-trito em que se processou a habilitação de casa-mento. Já a incompetência tratada no art. 1.554 é a ratione materiae, como adiante se verá. A in-competência do celebrante deve ser alegada den-tro do prazo decadencial de dois anos (art. 1.560, II). Decorridos, o casamento convalesce do vício e não pode mais ser infirmado. Ao conferir a essa hipótese a qualidade de nulidade relativa, buscou o legislador prestigiar os interesses dos filhos e a boa-fé dos cônjuges.
Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de ida-de, o casamento de que resultou gravidez. A gravidez tratada neste dispositivo é poste-rior ao casamento. Constatada a ausência de ca-pacidade para o casamento, em razão da idade dos nubentes, sobrevindo a gravidez da menor após a sua realização, não se poderá mais anulá--lo. A finalidade do legislador neste artigo é a mesma da que se verifica no art. 1.520 antes re-ferido, qual seja a proteção da prole futura, com a sua integração em família constituída. Esse mo-tivo de relevante aspecto social se sobrepõe ao defeito de idade.
Art. 1.552. A anulação do casamento dos me-nores de dezesseis anos será requerida: I – pelo próprio cônjuge menor; II – por seus representantes legais; III – por seus ascendentes.
O artigo dispõe sobre a legitimidade e o inte-resse para pleitear a anulação do casamento da-queles que ainda não atingiram a idade núbil. Somente as pessoas arroladas no artigo terão le-gitimidade para requerer a anulação do casamen-to dos menores de dezesseis anos, cujo interesse decorre da presunção legal. O próprio cônjuge menor (inciso I), que não atingiu a idade núbil, e que contraiu o casamento registrado por equí-voco, está autorizado a requerer a nulidade do seu casamento, independentemente da anuência de seus representantes legais, já que atingiu a maioridade civil com o casamento. Não terá le-gitimidade o cônjuge maior de dezesseis anos que contraiu casamento com aquele que ainda não atingira a idade núbil. Os incisos II e III do arti-go autorizam os representantes legais do menor e seus ascendentes a pleitear a anulação do casa-mento, quando não consentiram com ele, embo-ra lhes estivesse assegurado esse direito, ou quan-do o menor estiver impossibilitado de requerê-la.
Art. 1.553. O menor que não atingiu a idade
núbil poderá, depois de completá-la, confirmar seu casamento, com a autorização de seus repre-sentantes legais, se necessária, ou com suprimen-to judicial.
O presente artigo dispõe sobre a ratificação do
casamento por aquele que não estava capacitado para contraí-lo em razão da idade. Considerar--se-á confirmado o enlace quando o menor atin-gir a idade núbil. Contudo, essa confirmação, se-gundo a lei, só terá validade se for autorizada ou consentida por seus representantes legais, ou, se esta for negada por eles, com suprimento judi-cial (v. comentário ao art. 1.519). A ratificação tem por finalidade sanar a invalidade do casa-mento. O artigo trata da ratificação expressa por parte do menor, sendo que, caso ela não ocorra, não será, por si só, causa de anulabilidade do ca-samento, porquanto haverá a confirmação táci-ta depois de escoado o prazo de seis meses de que trata o § 1o do art. 1.560 (v. comentário). Assim, embora possa o cônjuge confirmar o casamento até mesmo depois de alcançar a maioridade, o certo é que não haverá a necessidade de fazê-lo em razão do decurso do prazo decadencial esta-belecido para o ajuizamento da ação anulatória correspondente.
Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado
por aquele que, sem possuir a competência exi-gida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver re-gistrado o ato no Registro Civil.
O casamento realizado
por quem não recebeu
poderes de autoridade celebrante é inexistente. Trata-se de incompetência ratione materiae. Con-tudo, o reconhecimento da existência e da vali-dade do casamento celebrado por quem não tem competência para fazê-lo está expressamente au-torizado pela lei, que exige a satisfação de alguns requisitos, dado seu caráter excepcional. Neces-sário se faz que as pessoas que o contraíram te-nham atendido às formalidades legais, tenham agido de boa-fé, tenham praticado erro escusá-vel, que o ato tenha sido registrado no livro com-petente e que a pessoa que o celebrou, o juiz de casamento, reconhecido como tal no meio social, já exercesse publicamente essa função. Presentes tais requisitos, o interessado poderá invocar ao caso a aplicação da teoria da aparência, para ob-ter a convalidação do casamento, pois, como obser-va Luiz Edson Fachin (Código Civil comentado. São Paulo, Atlas, 2003, v. XV), o reconhecimen-to de inexistência de casamento celebrado por al-guém que é socialmente reconhecido como autoridade celebrante – a ponto de conseguir levar a efeito o próprio registro do ato – implica reper-cussão particularmente grave para os cônjuges ludibriados pelo falso celebrante. Daí o motivo da sua proteção legal.
Art. 1.555. O casamento do menor em idade
núbil, quando não autorizado por seu represen-tante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus represen-tantes legais ou de seus herdeiros necessários. § 1o O prazo estabelecido neste artigo será
contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no se-gundo; e, no terceiro, da morte do incapaz. § 2o Não se anulará o casamento quando à
sua celebração houverem assistido os represen-tantes legais do incapaz, ou tiverem, por qual-quer modo, manifestado sua aprovação.
O dispositivo trata da legitimação e do prazo
de caducidade – portanto decadencial – para pro-por ação de anulação do casamento realizado por menor em idade núbil, sem autorização de seu representante legal. Estarão legitimados para a ação o próprio incapaz, seus representantes legais e seus herdeiros necessários. Quanto ao primei-ro, estabelece a lei o prazo de cento e oitenta dias para ingressar com a ação anulatória, contados da data em que atingiu dezoito anos de idade. Os representantes legais do menor terão o mesmo prazo para ajuizar a ação, contudo, esse prazo terá início na data da celebração do casamento. Toda-via, esse termo inicial pode ser superado com cer-ta facilidade em razão do desconhecimento pe-los representantes legais do ato realizado. Surtiria maior efeito o disposto no artigo caso tivesse o legislador estabelecido como marco inicial do pra-zo a data do conhecimento pelos responsáveis da celebração do casamento. Por fim, poderão ain-da ajuizar a ação anulatória de casamento os her-deiros necessários do incapaz, sendo que o prazo (180 dias) para a sua propositura passa a fluir a partir da morte deste, momento em que lhe su-cedem. O interesse dos herdeiros é manifestamen-te patrimonial e acaba por se sobrepor à relação de afeto consolidada entre os cônjuges. O § 2o do artigo prevê situação impeditiva de anulação do casamento. Estando presentes na cerimônia do casamento os representantes legais do menor enão se opondo à sua realização, mediante mani-festação inequívoca de sua discordância, ao con-trário, permanecendo silentes, não se poderá opor-tunamente pretender a nulidade do casamento porque para a celebração anuíram as pessoas a quem a lei conferiu tal encargo. Trata-se de anuên-cia tácita. O casamento realizado sob essas cir-cunstâncias é de difícil ocorrência.
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.
O artigo trata da anulação do casamento ce-lebrado por erro quanto à pessoa do outro nu-bente. O erro é defeito no ato jurídico. É vício re-lativo ao consentimento. O casamento celebrado com vício de vontade de um dos nubentes deve ser anulado. A teoria do erro no matrimônio, pela sua índole, pela característica sui generis do con-trato e pelos interesses sociais que a ele se ligam, é totalmente diversa da teoria do erro nos atos jurídicos ordinários, ensina Paulo Lins e Silva (Direito de família e o novo Código Civil. Belo Ho-rizonte, Del Rey, 2002). O erro que anula o casa-mento é o essencial ou o substancial. Consiste, segundo Silvio Rodrigues, no engano de tal modo relevante que, se fosse conhecida a realidade, o consentimento não se externaria pela forma por que se deu. O artigo seguinte (art. 1.557) estabe-lece quais são os erros essenciais que autorizam a anulação do casamento, cujos requisitos a ser atendidos são: a) a preexistência do fato ao casa-mento, ou simplesmente anterioridade; b) o des-conhecimento desse fato pelo cônjuge engana-do; e c) a intolerabilidade ou insuportabilidade da vida em comum para o cônjuge enganado após a descoberta da verdade, não passada por irrele-vante após sólida convivência conjugal, pois não se pode pretender promover a anulação do casa-mento por causa de posteriores desentendimen-tos entre os cônjuges, a pretexto de sancionar pre-tensa invalidade decorrente de erro essencial, como observa Luiz Edson Fachin (Código Civil comentado. São Paulo, Atlas, 2003, v. XV).
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre
a pessoa do outro cônjuge: I – o que diz respeito à sua identidade, sua
honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II – a ignorância de crime, anterior ao casa-mento, que, por sua natureza, torne insuportá-vel a vida conjugal; III – a ignorância, anterior ao casamento, de
defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descen-dência;
Inciso com redação dada pela Lei n. 13.146, de 06.07.2015. IV – (Revogado pela Lei n. 13.146, de 06.07.2015.)
Como afirmado no artigo antecedente, o pre-sente dispositivo estabelece quais são os erros es-senciais quanto à pessoa do consorte que pos-sibilitam ou autorizam a propositura da ação anulatória do casamento. Para que seja reconhe-cido o erro essencial alegado pelo nubente, é ne-cessário o preenchimento dos requisitos descri-tos no artigo antecedente, aplicáveis a todas as hipóteses enumeradas neste artigo. • inciso I: sobre o erro a respeito da identida-de do outro cônjuge (error in persona), pode ele ser verificado quanto à identidade física e a civil ou social. Ocorrerá o erro sobre a identidade fí-sica do cônjuge quando, pretendendo casar-se com certa pessoa, se contraem núpcias com ou-tra. Diz respeito ao engano na representação fí-sica da pessoa. Exemplo: gêmeos. A hipótese é de difícil ocorrência. O erro sobre a identidade civil ou social da pessoa do outro cônjuge ocorrerá
“quando alguém descobre em seu consorte, após a boda, algum atributo inesperado (a identidade civil, segundo Clóvis Bevilaqua, é o conjunto de atributos ou qualidades essenciais com que a pes-soa aparece na sociedade) e inadmitido, alguma qualidade repulsiva, capaz de, ante seus olhos, transformar-lhe a personalidade, fazê-lo pessoa diferente daquela querida”. Silvio Rodrigues ain-da complementa dizendo que é nesse conceito de identidade civil que se alarga o arbítrio do juiz, porque nele caberá qualquer espécie de engano sério sobre a qualidade do outro cônjuge e esta rá porventura caracterizado o erro referente à pessoa (Comentários ao Código Civil. São Paulo, Saraiva, 2003, v. XVII). Ainda nesse inciso encontra-se o erro sobre a
honra e a boa fama. Não se pode perder de vista as noções de honra e boa fama ensinadas por Cló-vis Bevilaqua (“honra é a dignidade da pessoa, que vive honestamente, que pauta o seu proce-der pelos ditames da moral; boa fama é a estima social de que a pessoa goza, por se conduzir se-gundo os bons
costumes”), contudo, o conteúdo de tais conceitos será verificado e considerado pelo juiz diante de cada caso concreto, segundo os valores vigentes no momento de sua aplica-ção, sempre em consonância com os princípios constitucionais, especialmente os da dignidade da pessoa humana e da igualdade. São exemplos desse inciso: marido que descobre que a esposa é prostituta; mulher que descobre que o marido é homossexual; mulher que descobre que o ma-rido já era casado. • inciso II: a ignorância de crime anterior ao
casamento também pode gerar a anulabilidade deste. A lei não exige que o crime seja inafiançá-vel ou mesmo que tenha havido condenação cri-minal, transitada em julgado, para o ingresso da ação. Contudo, o crime deve ser de tal modo gra-ve, que torne intolerável a vida conjugal, diante do repúdio gerado para o cônjuge enganado. Con-soante já afirmado em comentário ao art. 1.556, a sólida convivência do casal evidencia a falta do requisito da insuportabilidade da vida comum, para autorizar o pedido de anulação do casamen-to, razão pela qual se infere que nos casos dos in-cisos I e II ora comentados a coabitação, com ciência do vício, convalida o casamento, confor-me dispõe o art. 1.559, segunda parte. • inciso III: a existência de defeito físico ou
moléstia grave e transmissível ignorada pelo nu-bente também é motivo para que o casamento seja anulado, pois pode pôr em risco a saúde do cônjuge enganado ou a da descendência das par-tes envolvidas. O defeito físico referido pela lei é a impotência coeundi ou instrumental, física ou psicológica, quer do homem, quer da mulher, que impede o débito conjugal. A esterilidade de um dos cônjuges (impotência generandi) não é mo-tivo para que se possa invalidar o casamento. Nem a impotência concipiendi (da mulher, para con-ceber). Contudo, a esterilidade voluntária, dolo-samente omitida, autoriza o pedido de anulação 
de casamento. Entre as moléstias graves ignora-das, podem-se indicar aquelas sexualmente trans-missíveis, como a Aids. O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) acrescentou que o defeito físico irremediável exigido pelo legisla-dor é aquele que “não caracterize deficiência”, uma vez que, na esteira do já exposto nos artigos antecedentes (arts. 1.548 e 1.550), não será anu-lável o casamento contraído por pessoa com de-ficiência mental ou intelectual, pois esta estará plenamente capacitada para realizá-lo, nos ter-mos do art. 6o, I, da mencionada lei. Por fim, a doença mental grave ignorada por um dos nu-bentes, então prevista no inciso IV ora revogado, deixou de ser considerada erro essencial e causa de anulabilidade do casamento, uma vez que ofen-siva aos princípios da solidariedade e da igualda-de que fundamentam o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado me-diante fundado temor de mal considerável e imi-nente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
A manifestação de vontade viciada pela coa-ção também é causa de anulabilidade do casamen-to. O casamento, como já se disse, deve decorrer da vontade livre e espontânea dos nubentes de contrair núpcias (art. 1.535). Essa liberdade para consentir deixa de existir quando há coação. Ela vicia o ato praticado, por não representar a real intenção ou vontade do agente. Para sua confi-guração, ao contrário do que se observa para os contratos, a lei exige apenas o temor de mal ge-nérico, e não de dano, motivo pelo qual o juiz pode verificar a presença da coação com maior facilidade. A coação pode ser física ou moral. Na primeira há a vis absoluta, que é a violência ou força física, que torna nulo o ato cometido. Na segunda há a vis compulsiva, que torna o ato anu-lável. Ao contrário da primeira, nesta a vítima tem a escolha de praticar o ato ou sofrer as con-sequências previstas. O temor será qualificado como fundado quando decorrente de ameaça gra-ve (promessa de morte, de escândalo, do ridícu-lo, da denunciação às autoridades), embasada em elementos sólidos capazes de impressionar o nu-bente. Já o critério de aferição dessa persuasão leva em conta a condição pessoal do coacto, apu-rável segundo as circunstâncias enumeradas no art. 152 deste Código. Determina ainda a lei que o mal seja atual ou iminente (próximo, irreme-diável e não remoto), capaz de ocasionar o fun-dado receio de que se produza dano à vida, à saú-de ou à honra do coacto ou de seus familiares. A coação pode ser efetivada tanto pelo outro côn-juge como por terceiro. “Não se considera coa-ção a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial” (art. 153).
Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em
erro, ou sofreu coação, pode demandar a anula-ção do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hi-póteses dos incisos III e IV do art. 1.557.
A lei limita ao cônjuge que incidiu em erro ou
sofreu coação a legitimidade para ajuizar a ação de anulação de casamento fundamentada nos ví-cios de consentimento descritos nos arts. 1.556 e 1.558, antes comentados. O que significa que apenas o cônjuge tem legitimidade para a ação, não o tendo aquele que se beneficiou do ato ou o seu representante legal. Assim, preferindo o cônjuge que sofreu a coação ou que incidiu em erro manter o casamento, ninguém poderá im-pedir ou solicitar a decretação de sua invalidade. A segunda parte do artigo dispõe sobre a conva-lidação do casamento quando, ocorrendo quais-quer das hipóteses previstas nos arts. 1.557, I (erro quanto à identidade, à honra e à boa fama do ou-tro cônjuge) e II (erro decorrente de ignorância acerca de crime anterior ao casamento), e 1.558 (coação), houver coabitação dos cônjuges após a ciência de algum dos vícios enumerados nos ci-tados dispositivos legais. Como já afirmado em comentário ao art. 1.557, a sólida convivência do casal evidencia a falta do requisito da insuporta-bilidade da vida comum para autorizar o pedi-do de anulação do casamento, de onde se infere que, nos casos dos incisos I e II do art. 1.557, a coabitação, com ciência do vício, convalida o ca-samento, diante do que se poderia considerar perdão da vítima. Já nas hipóteses previstas nos incisos III e IV do art. 1.557 – erro quanto a de-feito físico irremediável, moléstia grave e trans-missível ao cônjuge e aos herdeiros e doença men-tal grave –, o fato da coabitação dos cônjuges não tem por consequência a regularização da invali-dade descoberta. Com relação à coabitação de-corrente de casamento realizado mediante coa-ção, deverá ser ela voluntária, pois a derivada de violência não gera o efeito de convalidar o casa-mento que, a qualquer momento, poderá ser de-clarado nulo.
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação
de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de: I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV
do art. 1.550; II – dois anos, se incompetente a autoridade
celebrante; III – três anos, nos casos dos incisos I a IV do
art. 1.557; IV – quatro anos, se houver coação. § 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o di-reito de anular o casamento dos menores de dezes-seis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. § 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o
prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandan-te tiver conhecimento da celebração.
Este artigo estabelece os prazos para a propo-situra da ação de anulação de casamento, segun-do as causas, já comentadas, que podem gerar sua invalidade. Os prazos fixados pelo legislador são de decadência, e todos aqueles previstos nos in-cisos terão como marco inicial a data da celebra-ção do casamento. O inciso I estabelece o prazo de 180 dias para anular o casamento do incapaz de consentir (v. comentário ao art. 1.550, IV). O inciso II fixa em dois anos o prazo para o direi-to de anular o casamento no caso de incompe-tência
da autoridade celebrante (v. comentário aos arts. 1.550, VI, e 1.554). O inciso III impõe o prazo de três anos para o direito de anular o ca-samento decorrente de erro do nubente (v. co-mentários aos arts. 1.556, 1.557, I a IV, e 1.559). Já o inciso IV fixa o prazo de quatro anos para ntários aos arts. 1.558 e 1.559). Os §§ 1o e 2o do artigo estabelecem prazos decadenciais que têm outro marco inicial. Será de 180 dias o pra-zo para o direito de anular o casamento dos me-nores de dezesseis anos, sendo que este prazo pas-sará a fluir, para o menor, do dia em que perfez essa idade, e, para seus representantes legais ou ascendentes, da data do casamento (v. comentá-rios aos arts. 1.517 e 1.552). O prazo será tam-bém de 180 dias para a anulação do casamento celebrado mediante procuração cujo mandato já havia sido revogado, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração (v. comentário ao art. 1.550, V e parágrafo único).
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo,
se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anu-latória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao
celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. § 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé
ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.
Este artigo dispõe sobre o casamento putati-vo e seus efeitos. Casamento putativo é aquele contraído de boa-fé pelos cônjuges, que ignoram circunstância que o torna nulo ou anulável. Em razão da boa-fé dos contraentes, o casamento aparenta ser verdadeiro, válido, mas não o é. Em homenagem a essa boa-fé dos contratantes ou de apenas um deles, a lei assegura que o casamento nulo ou anulável produzirá os efeitos do casa-mento válido até a data da sentença que decretar a sua invalidação. Desse modo, protegem-se a fa-mília e os filhos. A boa-fé necessária para que se tenha como
putativo o casamento significa ignorância do im-pedimento ou da causa de anulabilidade previs-ta na lei. O erro capaz de autorizar o reconhecimento
do casamento putativo deve ser escusável. Pode ser de fato (pessoa que se casou sem saber que o cônjuge já era casado; casamento de cônjuges sem que soubessem que eram irmãos) ou de di-reito (tios e sobrinhos que casaram sem saber da necessidade de exame pré-nupcial). O erro de direito está disciplinado neste Código, precisa-mente no art. 139, III, em que a lei dispõe sobre esse defeito do negócio jurídico. O erro de direi-to não é arguido para que os cônjuges se escu-sem de cumprir a lei que alegaram desconhecer (art. 3o da Lindb), pois o casamento será decla-rado nulo ou anulado de qualquer modo, como no exemplo: genro e sogra viúvos que decidem casar, descuidando do fato de que o parentesco na linha ascendente não se desfaz com o óbito do cônjuge. O casamento putativo produzirá efeitos de ca-samento válido até a data da sentença que reco-nhecer sua invalidade, o que representa exceção à regra do art. 1.563, segundo a qual os efeitos da sentença que decretar nulidade do casamento re-troagem à data da celebração. Os efeitos do reco-nhecimento do casamento putativo variam se-gundo a boa-fé dos cônjuges. Estando ambos os cônjuges de boa-fé (art. 1.561, caput), porque desconheciam o motivo que os impedia de casar, poderão obter o reconhecimento dos efeitos do casamento válido até a data da sentença. Nessa hipótese, as convenções antenupciais deverão ser observadas por ocasião da partilha dos bens. Se a dissolução for decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro figura na ordem da vocação hereditária, e se a morte ocorrer após a anulação não haverá direito sucessório, pois não haverá que falar em cônjuge sobrevivente. As doações feitas em razão do matrimônio não deverão ser devolvidas, pois o negócio jurídico (casamento) terá ocorrido. Caso apenas um dos cônjuges esteja de boa--fé (§ 1o), nenhum efeito do casamento válido beneficia o que estiver de má-fé, que, no entan-to, suportará todos os ônus dele decorrentes. O cônjuge de boa-fé poderá optar entre invocar ou não a existência do matrimônio, valendo-se da-quilo que o beneficiar. O cônjuge de boa-fé rece-berá a meação a que teria direito pelo regime de bens; o culpado terá direito aos bens adquiridos com esforço comum durante o casamento, para que não haja enriquecimento ilícito; mas perde-rá todas as vantagens havidas do inocente, além de ser obrigado a cumprir o que prometeu no pacto antenupcial (art. 1.564, I e II). O inocente que se emancipou com o casamento permanece emancipado. Pode manter o nome de casado, se o alterou com o casamento.
Quando ambos os cônjuges estiverem de má--fé (§ 2o), os efeitos civis só beneficiarão os filhos, para os quais a boa-fé dos pais será irrelevante, pois sua posição não se alterará. Ao cônjuge coac-to, por força da equidade, deve ser dado o mes-mo tratamento que ao cônjuge de boa-fé que ca-sou por erro, pois foi vítima da vis compulsiva, não representando o seu ato a sua real intenção ou vontade. Nesse sentido também são as dispo-sições legais encontradas nos Códigos alemão, italiano e português. Há proposta de inclusão nesse sentido no PL n. 699/2011.
Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulida-de do casamento, a de anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de dissolução de união estável, poderá requerer a parte, com-provando sua necessidade, a separação de cor-pos, que será concedida pelo juiz com a possível brevidade.
Ver comentários sobre a EC n. 66/2010 nos arts. 1.571 e 1.572 a seguir. A parte que, antes de mover ação de nulidade
do casamento, de anulação, de separação judicial, de divórcio direto ou de dissolução de união está-vel, portanto, previamente, pretender a separa-ção de corpos, poderá fazê-lo desde que compro-ve a sua necessidade. Trata-se de medida cautelar antecedente, que tem por fundamento legal tam-bém o disposto nos arts. 300 a 302 e 305 a 310 do novo CPC, que admite ainda medida incidental no mesmo sentido.
A medida cautelar autorizada pela lei tem por
finalidade a segurança (integridade física e psi-cológica) e a dignidade das pessoas dos cônjuges que não mais conseguem conviver pacificamen-te sob o mesmo teto. Tem como pressuposto uma situação fática de emergência. A medida cautelar implicará a suspensão do
dever de coabitação e fidelidade recíproca e po-derá ser requerida por um ou por ambos os côn-juges. Destina-se a obter autorização judicial para que o cônjuge ou companheiro deixe o lar con-jugal ou o lar comum, ou para que o outro côn-juge ou companheiro o faça obrigatoriamente. Nesse último caso, os motivos graves retratados no pedido de separação de corpos podem, inclu-sive, importar o afastamento temporário de um dos cônjuges ou companheiros da moradia do casal, sen-do considerado um plus em relação ao pedido de separação de corpos, previsto neste artigo. A jurisprudência também consolidou entendi-mento no sentido de que a separação de corpos pode ser formulada conjunta e consensualmen-te pelos cônjuges, antes mesmo de completado o prazo de um ano para ser requerida a separação consensual, a fim de que seja solucionado ime-diatamente o problema da impossibilidade da vida em comum, bem como fiquem suspensos os deveres de coabitação e fidelidade recíproca e o regime de bens. A medida produzirá efeitos até que os cônjuges atinjam o lapso temporal neces-sário para que requeiram a separação consensual. Com o advento da Lei n. 11.441/2007, que insti-tuiu a separação consensual extrajudicial, é pos-sível vislumbrar a possibilidade de que a medida de separação de corpos tratada no artigo tam-bém seja estabelecida por escritura pública para marcar o início da contagem do prazo para o di-vórcio (art. 1.580), desde que as partes sejam maiores e capazes e o pedido seja consensual, ten-do em vista a simplicidade da medida e o objeti-vo por ela buscado, incidindo aqui a regra de quem pode o mais (separação consensual) pode o menos (separação de corpos). O “afastamento
do lar, domicílio ou local de
convivência com a mulher ofendida” também é medida que a nova Lei n. 11.340, de 07.08.2006 (art. 22, II), a qual dispõe sobre os mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar con-tra a mulher, entre eles a criação dos “Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher”, prevê como protetiva de urgência imposta ao agressor, estabelecendo ainda outras “protetivas de urgência à ofendida”, tais como a recondução dela e a de seus dependentes ao respectivo domi-cílio, após afastamento do agressor (art. 23, II) e afastamento dela do lar, sem prejuízo dos direi-tos relativos a bens, guarda dos filhos e alimen-tos (art. 23, III), além da própria separação de corpos (art. 23, IV) aqui tratada, mas fundamen-tada em qualquer das formas de violência domés-tica e familiar contra a mulher, previstas no art. 7o do novo diploma legal citado. Lembre-se de que tais medidas, embora de competência cível, deverão ser conhecidas e julgadas pelos juízes das varas criminais, enquanto ainda não estrutura-dos os juizados especiais estabelecidos pela lei, conforme determina o disposto no seu art. 33. A providência cautelar prevista neste artigo
terá relevância para a contagem do prazo exigi-do pelo art. 1.580, pois será o marco inicial para a conversão da separação em divórcio. A separa-ção de fato não impedirá o ingresso do processo cautelar, que, em verdade, dará força cogente a uma situação de fato preexistente. Na separação de corpos cautelar poderá o juiz
dispor sobre a guarda dos filhos, como autoriza o art. 1.585, observando o disposto no art. 1.584 e seu parágrafo único (v. comentário).
Art. 1.563. A sentença que decretar a nulida-de do casamento retroagirá à data da sua cele-bração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a re-sultante de sentença transitada em julgado.
A sentença que declarar a nulidade do casa-mento retroagirá até a data de sua celebração, porque o ato nulo não gera efeito algum, devendo as partes retornar ao estado em que se encontra-vam antes do casamento. Essa é a regra contida no artigo ora comentado, que tem como exceção o disposto no art. 1.561, que dispõe sobre os efei-tos da sentença anulatória no caso de reconheci-mento do casamento putativo (v. comentário ao art. 1.561). Muito embora a lei só se refira à nu-lidade do casamento, não há razão plausível que justifique a não abrangência do dispositivo aos casos de anulabilidade. Há, no PL n. 699/2011, proposta nesse sentido. Os efeitos retroativos au-torizados pela lei à data da celebração do casa-mento não prejudicarão: a) os direitos adquiri-dos onerosamente; b) terceiros de boa-fé que tenham celebrado negócios jurídicos com os côn-juges; c) antes da decretação da invalidade do ca-samento. Os requisitos apontados são cumula-tivos. Ensina Luiz Edson Fachin (Código Civil comentado. São Paulo, Atlas, 2003, v. XV) que a lei confere a proteção aos terceiros de boa-fé, in-dependentemente da boa-fé dos cônjuges que com eles contrataram. Assim, o legislador não submete terceiros à insegurança que poderia de-correr da necessidade de um exame da situação atinente à boa ou má-fé do cônjuge que com ele contrata. Relativamente aos negócios benéficos, entretanto, ensina o ilustre jurista que os efeitos perante terceiros dependerão, ainda, da aferição da boa-fé do cônjuge com quem o negócio jurí-dico foi contraído. Apesar de ser possível concluir, diante de outras regras deste Código (p. ex., art. 1.561), que a situação dos filhos não ficará prejudicada com a invalidade do casamento dos pais, “nada custa – e convém – deixar consigna-do nesta, que trata diretamente da questão”, se-gundo justificativa apresentada ao PL n. 276/2007, hoje substituído pelo PL n. 699/2011.
Art. 1.564. Quando o casamento for anulado
por culpa de um dos cônjuges, este incorrerá: I – na perda de todas as vantagens havidas do
cônjuge inocente; II – na obrigação de cumprir as promessas
que lhe fez no contrato antenupcial. O presente artigo dispõe sobre as sanções que
deverão recair sobre o cônjuge culpado pela anu-lação do casamento. A regra se aplica a todo ca-samento anulado, seja ele putativo, seja aquele decorrente de erro, seja o realizado mediante coa-ção. Segundo o inciso I, o cônjuge reconhecido culpado perderá todas as vantagens havidas do cônjuge inocente, devendo ser entendidos como vantagens os eventuais direitos adquiridos em decorrência de doação ou outras majorações ma-teriais, tais como participação em herança ou qualquer outra que possa ser restituível. Essa san-ção será aplicada ao casamento realizado tanto sob o regime de bens decorrente da estipulação em pacto antenupcial como sob o regime prove-niente da comunhão parcial. O cônjuge culpado não terá direito a ser herdeiro por morte do côn-juge de boa-fé, se este falecer antes da sentença. anulatória. Já no inciso II determina o legislador que o cônjuge culpado deverá cumprir a promes-sa que fez no contrato antenupcial. Esse direito fica reservado ao cônjuge de boa-fé, não culpa-do, que poderá exercê-lo ou não, segundo o seu livre-arbítrio. Porém, se o cônjuge de boa-fé op-tar pela execução do contrato antenupcial, não poderá cindi-lo para reclamar somente a execu-ção das cláusulas que lhe são favoráveis, rejeitan-do outras. A avença inserida no pacto antenup-cial deve estar revestida de todos os pressupostos de validade do ato jurídico.

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