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MICROBIOLOGIA Os vírus de transmissão sexual GENERALIDADES ● 3 grupos de DNA que fazem transmissão sexual: ○ HEPADNA: possui dupla fita de DNA icosaédrico envelopado; ○ PAPILOMA: possui dupla fita de DNA circular não envelopado; ○ HERPES: possui dupla fita de DNA linear icosaédrico envelopado. ● 2 grupos de RNA que fazem transmissão sexual: ○ FLAVI e RETRO: ambos possuem fita simples de RNA envelopado icosaédrico. ● Outros vírus podem usufruir da transmissão sexual para se hospedar em outros organismos: o Zika vírus (pode estar presente no sêmen) e o Ebola. HERPES ● Pertencente à família Herpesviridae ● São vírus de dupla fita de DNA que possuem um capsídeo icosaédrico e um envelope. ● Entre o capsídeo icosaédrico e o envelope, encontra-se as proteínas de tegumento. ● Ancorados no envelope, estão grupos diversificados de proteínas ⇒ as glicoproteínas de superfície ⇒ responsáveis pela adesão nas células alvo e interiorização das partículas virais para dentro da célula. ● Fazem parte do grupo I de Baltimore e possuem mecanismos de replicação de DNA de dupla fita muito semelhantes em relação ao nosso próprio DNA. ● Existem 3 subfamílias (exemplos citados): ○ Alfa: herpes simples tipo 1, herpes simples tipo 2; ○ Beta: citomegalovírus; ○ Gamma: Epstein-Barr vírus. ● O principal foco da transmissão viral sexual é o grupo alfa: herpes simples ⇒ HSV-1 e HSV-2 HERPES SIMPLES VÍRUS: ● São causadores de lesões bolhosas que secretam um plasma rico em vírus ⇒ lesões potenciais de transmissão. O tipo I, HSV-1: ● Causa principalmente lesões orais ⇒ na gengiva, lábios, interior da boca e até mesmo nariz e olhos. ● São transmitidos desde a infância através de contatos e partículas de saliva. O tipo II, HSV-2: ● Causa principalmente lesões nas regiões genitais ⇒ vulva, pênis e regiões perigenitais e perianais. ● Podem causar também infecções neonatais a partir da transmissão no parto ⇒ herpes neonatal, que pode levar ao desenvolvimento de encefalites e meningites assépticas. ● São transmitidos geralmente na fase adulta, por meio de contato sexual desprotegido. ○ OBS: lesões perigenitais e perianais podem ser potenciais transmissores uma vez que o uso de preservativo não é capaz de oferecer a proteção necessária. ● Importante ressaltar que essas lesões genitais e orais podem ser causadas por ambos os tipos. ● Apesar do HSV-1 prevalecer em manifestações orais e HSV-2 em genitais, o inverso também pode ocorrer. PATOGÊNESE: 1. O vírus reconhece as proteínas de superfície da célula-alvo 2. A membrana plasmática da células se funde com o envelope viral 3. O capsídeo viral penetra no interior da célula 4. Proteínas do capsídeo se desprendem para exercer suas funções replicativas: a VP16 regula a função da RNA polimerase para produção de RNA mensageiro, enquanto que outras proteínas proteolíticas fazem clivagens de proteínas para a montagem estrutural viral. 5. O capsídeo se destrói e libera seu material genético viral no núcleo da célula hospedeira 6. Esse material genético (DNA viral) é transcrito e replicado. OBS: nesse processo replicativo, uma cascata se desenvolve a partir da expressão de proteínas alfa, beta e por fim gama ⇒ as alfas estimulam a formação das beta e estas são necessárias para auxiliar na replicação do DNA, enquanto isso, as proteínas gama são necessárias para a estruturação dos capsídeos e envelopes virais. 7. Por fim, ao sair do núcleo, o capsídeo estruturado ganha um envelope e pode sair da célula-hospedeira a partir de dois possíveis processos: ● Ele pode perder seu envelope ao sair do núcleo e estruturar um novo envelope no complexo de Golgi, sendo levado em seguida para fora da célula através de uma vesícula. ● Ele pode manter o capsídeo dentro do mesmo envelope ao entrar no complexo de Golgi e depois ser expulso em uma vesícula. Sítios de infecção: I. SÍTIO PRIMÁRIO: ● Baseia-se em epitélios da região acometida pela infecção, seja oral (HSV-1) ou genital (HSV-2). ● Ali, irão se replicar a partir das células hospedeiras e causar as lesões características. II. SÍTIO SECUNDÁRIO: ● O vírus migra para os nervos e ali permanece em latência. ● Principais nervos: trigêmeo para HSV-1 e o sacral para HSV-2. ● É nessa fase em que o vírus permanece aguardando alguma baixa na imunidade para fazer a reativação. III. SÍTIO RECORRENTE: ● Ao se reativar, o vírus migra de volta para o endotélio (grupo alvo primário) e novamente causa lesões características. ● Isso explica o processo de aparecimento e sumiço recorrente das lesões da herpes. ● O grande problema da infecção pelo herpes simples é que, em dada ocasião, o vírus pode, ao invés de migrar novamente para o epitélio, acabar migrando para o sistema nervoso central ⇒ causa meningite. CURSO NATURAL DA DOENÇA: ● A partir do contato sexual, leva-se em torno de 6 a 14 dias até o aparecimento das lesões ⇒ pústulas com aparência esbranquiçada ou amarelada e possuindo secreções. ● Durante a presença das lesões, a doença é altamente transmissível através do contato. ● Após o aparecimento das pústulas, há a formação de úlceras, que muitas vezes se rompem e liberam líquido potencialmente agressor à pele⇒ lesões cutâneas e aumento das chances de penetração de bactérias capazes de causar uma infecção secundária. ● Após aproximadamente 14 dias, as lesões tendem a regredir ⇒ o vírus migra para o sistema nervoso. ● Eventualmente, caso haja baixa no sistema imune, pode haver o reaparecimento das lesões. ● OBS: apesar da transmissão ocorrer prioritariamente durante a presença das lesões, não significa que a pessoa para totalmente de transmitir. Podem haver lesões muito pequenas e imperceptíveis, em locais não visíveis, que ainda transmitem o vírus. ● Portanto, o uso de preservativo em toda circunstância é a forma mais fundamental de prevenção contra o herpes simples. PRODUÇÃO DE ANTICORPOS: ● Apesar da replicação do vírus ser intensa, a produção de anticorpos contra o HSV-2 é bem menor ao comparar com a produção de anticorpos contra o HSV-1. ● Nesse sentido, é considerado mais difícil o controle de infecções pelo HSV-2. HERPES NEONATAL: ● A herpes durante a gestação pode ocorrer a partir de 2 principais formas: 1. Uma gestante que se torna infectada pelo contato sexual durante a gestação ⇒ risco de transmissão ao feto maior (25 - 50%). 2. Uma gestante que já era portadora do HSV e ocorre uma reativação devida a redução da resposta imune local durante a gravidez ⇒ risco de transmissão ao feto menor (cerca de 1%) graças a resposta imunológica materna já pré-existente. ● O herpes neonatal se apresenta com lesões na cabeça, tronco, face, pernas e braços do neonato ⇒ regridem com tratamento (Aciclovir). ● Em alguns casos, a infecção pode causar quadros de encefalite difusa ⇒ mais preocupante. VÍRUS PAPILOMA HUMANO ● Pertencem à família Papillomaviridae. ● ● Não são envelopados e seu material genético é protegido apenas por proteínas, como as proteínas L1 e L2. ● Existem mais de 100 tipos diferentes de HPVs; ● Estudos apontam que 75 a 90% da população já foi exposta a esse vírus. ● Proteínas E: fazem parte do processo de replicação do material genético + funções não estruturais relativas ao metabolismo desse vírus. ● Existem diversos tipos de vírus papiloma humano, que são denominados por números ⇒ cada um é associado a diferentes expressões clínicas e níveis de malignidade. EXEMPLOS: ● Os tipos 1, 2, 3, 4, 10, 27, 28, 49, 57, 60, 76 e 78: são considerados benignos ou com muito baixo potencial oncogênico ⇒ causam aparecimento de verrugas e lesões cutâneas benignas. ● Os tipos 6, 11, 40, 42, 44, 54, 61, 70, 72 e 81: são causadores de condilomas anogenitais, com baixo potencial oncogênico. ● Os tipos 16, 18, 30, 31, 33, 35, 39, 45, 51-53, 56, 58, 59, 66, 68, 73 e 82: são considerados os mais potencialmente oncogênicos com associação aos carcinomas tanto genitais quanto orais e, principalmente, câncer de colo de útero. REPLICAÇÃO: ● O vírus infecta células basais do epitélio⇒ únicas no epitélio escamoso.● Ao invadir o epitélio, esse vírus pode tanto aumentar sua própria replicação como também aumentar o número de células no local, aumentando assim o tamanho da verruga cheia de vírus. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA: ● O contato com o HPV geralmente acontece no início da vida sexual ativa ⇒ adolescência ● No caso desse contato, pode ser que haja o clearance e eliminação total do vírus do organismo. ● Muitas vezes, o clearance não acontece e o vírus se replica intensamente; ● Com o passar dos anos, o número de vírus no organismo se reduz, tornando-se constante ⇒ é nesse momento em que existe a maior chance de aparecimento de tumores. ● Lembrando que o potencial oncogênico vai depender do tipo de HPV na infecção CARCINOGÊNESE INDUZIDA POR HPV: ● O potencial carcinogênicos do vírus está associada as oncoproteínas E6 e E7: ● Elas promovem o desequilíbrio entre duas rotas importantes de supressão de tumores, que são a Rb e a p53 ⇒ papel crítico no controle de danos ao genoma e seu reparo. ● Ao ter esse desequilíbrio, que leva a uma instabilidade genética naquela célula infectada, sobretudo em infecções persistentes, pode desencadear a imortalização dessa célula e, portanto, a modificação do seu ciclo de replicação. ● Dessa forma, a célula pode se tornar altamente replicativa e potencialmente cancerosa. ● O material genético desse vírus pode facilmente se integrar ao material genético da célula hospedeira, levando à quebra do DNA e ao descontrole na expressão das proteínas E6 e E7. ● Esse descontrole ocorre pelo fato de que o sítio de quebra do genoma viral frequentemente exclui a proteína viral reguladora E2 que é necessária para o controle da expressão de E6 e E7. ● Ao não ter o controle da E2, E6 e E7 são expressas em abundância e, com a ação intensa delas, a supressão tumoral por Rb e p53 fica prejudicada. O HPV e o câncer: ● Os principais tipos: o HPV 16 é responsável por cerca de 50% dos casos de NIC, o HPV 45 por cerca de 31% e, ainda, o HPV 18, por cerca de 14%. ● O tipo 16 tem um potencial oncogênico bastante intenso, sendo muito associado ao câncer vulvar, cervical e peniano. ● O carcinoma de colo de útero e anus leva em média de 10 a 15 anos para se desenvolver. ● OBS: associação com câncer de cabeça e pescoço em homens acima de 50 anos (que tendem a usar álcool e tabagismo) e, ainda, com câncer de orofaringe, relacionada ao contato orogenital, em indivíduos com idade menor que 40 anos. ● No câncer de orofaringe: ● É comum atingir as amígdalas (assoalho da língua e laringe tem incidência menor); ● Em cerca de 70 a 90% está associado ao HPV16; ● Risco maior em casos de histórico sexual com 6 ou mais parceiros / 4 ou mais parceiros de sexo oral. ● No câncer de colo de útero: ● Verrugas genitais ou condilomas acuminados (‘crista de galo’) ou planares. ● Lesões subclínicas ou planares não apresentam qualquer sintomatologia, podendo progredir para neoplasia intracervical (NIC) caso não sejam tratadas precocemente. ● Existem co-fatores que colaboram para o potencial carcinogênico: multiparidade, uso prolongado de contraceptivos orais, tabagismo, HIV e outras DSTs. DIAGNÓSTICO: ● O vírus não é cultivável em cultivos celulares ● Entre os testes inespecíficos existentes, temos: ○ colposcopia ○ citopatologia (papanicolau) ○ histopatologia ○ peniscopia. ● Entre os testes específicos, estão: ○ microscopia eletrônica ○ imunocitoquímica ○ PCR e hibridização in situ ● Classificação dos níveis reconhecidos de neoplasia: NIC I, NIC II, NIC III. ● Após o NIC III já é considerado um carcinoma metastático. TRATAMENTO: ● Não há cura; ● É comum o desaparecimento espontâneo das verrugas depois de alguns meses ou anos (20 a 30% se resolve sem tratamento). ● No caso dessas verrugas benignas, só é necessário intervenção terapêutica quando se tratam de lesões dolorosas ou volumosas. ● Remoção das verrugas por métodos: 1. físicos: crioterapia, eletrocauterização, excisão com alça diatérmica e laser. 2. químicos: podofilina e ácido tricloroacético. ● No caso de carcinomas cervicais, é necessário a remoção cirúrgica e, ainda, quimioterapia e/ou radioterapia. PREVENÇÃO: ● Vacinação de meninas de 12 a 14 anos com: ● Cervarix (HPV 16 e 18) ou Gardasil (16, 18, 6 e 11). ● Ambas vacinas contém VLPs (vírus like particles) que são formadas pela principal proteína do capsídeo destes tipos de vírus ⇒ as mesmas partículas do vírus, menos o seu material genético.
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