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– HISTOFISIOLOGIA DO TECIDO ADIPOSO Como os depósitos de glicogênio são menores, os grandes depósitos de triglíceridios do tecido adiposo são as principais reservas de energia do organismo. Além disso, eles são mais eficientes como reserva energética (9,3 kcal/g contra 4,1 kcal/g do glicogênio). Os triglicerídios do tecido adiposo não são depósitos estáveis e se renovam continuamente, sendo muito influenciado por estímulos nervosos e hormonais. Além do papel energético, ele atua como proteção contra choques, isolamento térmico do organismo e estruturação dos órgãos em suas posições normais. O tecido adiposo como um todo é inervado pelo simpático. No tecido unilocular, as terminações nervosas são encontradas na parede dos vasos sanguíneos, e apenas alguns adipócitos são inervados. Já no tecido multilocular as elas atingem diretamente tanto os vasos sanguíneos como as células adiposas. ❖ Tecido adiposo unilocular Sua cor varia entre branco e amarelo-escuro, dependendo da dieta, por conta do acúmulo de carotenos dissolvidos nas gotículas de gordura. Praticamente todo o tecido adiposo encontrado em adultos é do tipo unilocular. Os adipócitos se originam a do mesênquima (lipoblastos). Essas células são parecidas com os fibroblastos, porém logo acumulam gordura no seu citoplasma. Esse tecido forma o panículo adiposo. Com a idade, o panículo adiposo tende a desaparecer de certas áreas, desenvolvendo-se em outras. Essa deposição seletiva de gorduras é regulada, principalmente, pelos hormônios sexuais e pelos hormônios corticais das suprarrenais. A gotícula lipídica é removida pelos solventes orgânicos, utilizados na técnica histológica. Por isso, cada célula mostra apenas uma delgada camada de citoplasma, como se fosse um anel, em torno do espaço deixado pela gotícula lipídica removida. As gotículas lipídicas são inicialmente separadas umas das outras, porém muitas se fundem, formando a gotícula única característica do adipócito unilocular. A vascularização do tecido adiposo é muito abundante quando se considera a pequena quantidade de citoplasma funcionante. A relação volume de capilar sanguíneo/volume de citoplasma é maior no tecido adiposo do que no músculo estriado. A remoção dos lipídios, nos casos de necessidade energética, não se faz por igualem todos os locais. Primeiro, são mobilizados os depósitos subcutâneos, como os do mesentério e os retroperitoneais, enquanto o tecido adiposo localizado nos coxins das mãos e dos pés resiste a longos períodos de desnutrição. Depósito e mobilização dos lipídios → Os triglicerídeos armazenados originam de três fontes: • Alimentação: levados até os adipócitos pelos quilomícrons; • Fígado: levados até os adipócitos sobe a forma de VLDL; • Adipócitos: síntese a partir da glicose. A presença da lipase lipoproteica nos capilares sanguíneos do tecido adiposo possibilita a hidrólise dos quilomícrons e das lipoproteínas plasmáticas, como a VLDL, com liberação de ácidos graxos e glicerol, que se difundem para o citoplasma dos adipócitos. Lá, eles se sofrem reesterificação para formar novas moléculas de triglicerídios, que são depositados no tecido. Os adipócitos podem sintetizar ácidos graxos e glicerol a partir de glicose, processo acelerado pela insulina, que estimula a penetração da glicose no adipócito. As catecolaminas, principalmente adrenalina e noradrenalina, ativam a lipase sensível a hormônio, promovendo liberação de ácidos graxos e glicerol, que se difundem para os capilares do tecido adiposo. Os ácidos graxos, que são qua.se insolúveis na água, ligam-se à parte hidrofóbica das moléculas de albumina do plasma sanguíneo e são transportados para outros tecidos, nos quais serão utilizados como fonte de energia. O glicerol, multo solúvel no plasma, é captado pelo fígado e reaproveitado. Síntese de moléculas → Os adipócitos uniloculares, além do armazenamento de triglicerídeos, são importantes na regulação do metabolismo energético, devido à sua capacidade de sintetizar proteínas bioativas, as chamadas adipocinas, como a leptina (transportada pelo sangue) e a lipase lipoproteica (situada no endotélio dos vasos sanguíneos). Obesidade → Em adultos, geralmente se deve a um aumento na quantidade de triglicerídeos depositados em cada adipócito unilocular, sem aumento no número de adipócitos. As calorias dos alimentos não gastas nas atividades físicas da pessoa são depositadas nas células adiposas uniloculares. Os obesos, principalmente os com tecido adiposo localizado na região abdominal, são mais propensos a doenças articulares, HAS, DM, aterosclerose, IAM e isquemia cerebral. ❖ Tecido adiposo multilocular Também chamado de tecido adiposo pardo, por sua cor característica avermelhada, que se deve à vascularização abundante e às numerosas mitocôndrias encontradas nas células, que são ricas em citocromos. Ao contrário do tecido unilocular, que é encontrado por quase todo o corpo, o tecido pardo é de distribuição limitada, localizando-se em áreas determinadas. Como esse tecido não cresce, sua quantidade no adulto é extremamente reduzida. A quantidade desse tecido só é significativa no recém-nascido, tendo função auxiliar na termorregulação, produz calor, protegendo o recém-nascido contra o frio. Os adipócitos do tecido adiposo multilocular são menores do que os do unilocular e têm forma poligonal. O citoplasma é carregado de gotículas lipídicas de vários tamanhos. As células tomam um arranjo epitelioide, formando massas compactas em associação com capilares sanguíneos, lembrando as glândulas endócrinas. Estímulo simpático → acelera a lipólise e a oxidação dos ácidos graxos, com produção de calor e não de ATP, como a dos tecidos em geral, porque as mitocôndrias do tecido multilocular apresentam, nas suas membranas internas, uma proteína transmembrana chamada termogenina ou UCP l (uncoupling protein l). Esta proteína possibilita que os prótons transportados para o espaço intermembranoso voltem para a matriz mitocondrial, sem que passem pelo sistema de ATP sintetase existente nos corpúsculos elementares das mitocôndrias, levando à dissipação dessa energia como calor. Esse calor é distribuído pela rede capilar e alcança todo o corpo, aquecendo diversos órgãos. DESCREVER E CLASSIFICAR A OBESIDADE É definida como o acúmulo excessivo de gordura corporal, gerado, principalmente, pela ingestão > gasto calórico, com múltiplas consequências patológicas em órgãos específicos. Um gasto de energia menor do que a ingerida contribui para o aumento do tecido adiposos, que gera excesso de peso/obesidade. Do ponto de vista clínico, a obesidade e o sobrepeso foram definidos em termos de IMC, usando o ponto de corte de 25- 29,9 como medida do excesso de peso e acima de 30 para obesidade. ❖ Fator neuronal Sabe-se que o esse aumento de peso é correlacionado com a ingesta excessiva de alimentos e o hipotálamo foi descoberto como peça-chave na detecção da fome e organização do comportamento da alimentação. Grupos de neurônios hipotalâmicos são sensíveis aos metabólitos e hormônios circulantes, tais como leptina, grelina, insulina e glicose. Dessa forma, qualquer interferência nas funções normais desse circuito hipotalâmico acarreta alteração da regulação energética. A capacidade integrativa do hipotálamo também é enriquecida pela intercomunicação com outras zonas do cérebro, como o córtex e o sistema límbico, que se preocupam com o processamento da informação sensorial externa, controle cognitivo e emocional, e tomada de decisão com base em recompensas. Além disso, percebeu-se uma rede sustentada, associada à motivação, desejo e anseio por comida (comida de elevado teor energético) que émais ativada em indivíduos obesos versus magros. Os sinais aferentes dessa regulação neuronal podem ser transmitidos ao cérebro através do nervo vago ou pela via sistémica hormonal, envolvendo os hormônios liberados pelo tecido adiposo e pelo trato gastrointestinal. Os sinais eferentes partem, principalmente do hipotálamo, onde o núcleo arqueado é o principal centro de coordenação e integração dos sinais centrais e periféricos. A sua localização privilegiada permite-lhe receber os sinais periféricos, devido à semipermeabilidade da barreira hematoencefálica nessa região do cérebro. Este núcleo é constituído por neurónios orexígenos e anorexígenos, envolvendo os sinais eferentes. Via orexigênica → os neurônios orexígenos estão presentes no núcleo arqueado e são responsáveis pela estimulação do apetite, co- expressando o neuropeptídeo Y (NPY) e a proteína relacionada à agouti (AgRP), e sua estimulação ocorre por ativação da PKA. AgRP atua como antagonista do receptor de melanortina 4 (MC4R), o qual, quando ativado por MSH-α, reduz a ingestão alimentar. NPY promove aumento da ingestão alimentar, atuando em receptores Y1/Y5R; diminuição do gasto energético e aumento da lipogênese. A redução dos níveis de leptina e insulina ativa os neurônios produtores de NPY. Outra via orexigênica está presente no hipotálamo lateral (recebe eferências de vias orexigênicas e anorexigênicas), onde estão presentes as orexinas A e B, com efeitos secundários sobre a ingestão alimentar, e o hormônio concentrador de melanina (MCH), que estimula o apetite pelo aroma dos alimentos, se projetando aos centros de olfato e a outras áreas do córtex cerebral e sendo estimulados pelos neurônios secretores de NPY/AgRP. Componentes da via anorexigênica, como o TRH, CRH e ocitocina, são inibidos pelos neurônios secretores de NPY/AgRP. Via anorexigênica → neurônios anorexígenos são ativados pela mTOR e atuam na sensação de saciedade. Eles expressam o gene da pro- opiomelanocortina (POMC) e o transcrito regulado por cocaína e anfetamina (CART). A POMC é expressa na hipófise, na pele, no sistema imune, no núcleo arqueado do hipotálamo e no núcleo do trato solitário do tronco cerebral. Ela é ativada pela leptina e dá origem a peptídeos bioativos, como o ACTH, as melanocortinas e a β-endorfina. Os peptídeos derivados da POMC agem pela ligação com os receptores da melanocortina (MC1R e MC5R). Particularmente, a melanocortina tem importância na homeostase energética. Os receptores MC3R e MC4R estão envolvidos na regulação do peso corporal: MC3R modula o gasto energético e o MC4R regula a ingestão de alimentos. Enquanto o MC3R é expresso no SNC, intestino, placenta, timo e adipócitos, o MC4R se faz presente no hipotálamo. Quando o MC4R é ativado, pelo α-MSH, a ingestão alimentar tende a reduzir. ❖ Adipocinas Leptina → é produzida predominantemente, mas não exclusivamente, pelo tecido adiposo branco e posteriormente lançada para a circulação sanguínea. Ela possui concentrações mais elevadas no tecido adiposo subcutâneo quando em comparação com o tecido adiposo visceral. A leptina plasmática atravessa a BHE através de um sistema de transporte saturável, ligando-se aos receptores hipotalâmicos, inibindo a via orexigênica (NPY/AgRP), e estimulando a via anorexigênica (CART/POMC), diminuindo o apetite. A leptina também pode estimular a perda de energia sob a forma de calor. Esta regulação parece ocorrer por indução pelo SNS ou tiroide da expressão de UCP-1 (adipócitos vermelhos), UCP-2 (adipócitos brancos) e/ou UCP-3 (músculos). A leptina foi considerada um hormônio determinante para o desenvolvimento da obesidade. Esta evidência emergiu quando se identificaram mutações no gene da leptina em camundongos obesos e se observou que crianças obesas portadoras de deficiência congênita de leptina revertiam o seu peso corporal quando tratadas com este hormônio. As mutações no gene da leptina ou nos seus receptores podem resultar em obesidade mais ou menos grave, dependendo da perda da sua função. Nesse pensamento, pensava-se que os níveis de leptina circulante nos obesos estariam diminuídos, devido às mutações no gene, mas vários estudos mostraram que os obesos apresentam valores aumentados de leptina circulante, podendo indicar que na obesidade ocorre uma “leptino-resistência”. Adiponectina → é sintetizada exclusivamente pelos adipócitos. Ela tem sido associada ao: Aumento: biogênese mitocondrial, da oxidação de ácidos graxos no fígado e músculo, da produção de lactato no músculo esquelético e da captação de glicose; Redução: gliconeogênese, processos inflamatórios e stress oxidativo. A ação direta da adiponectina na obesidade é atribuída à inibição da via PKA, resultando na inibição da enzima acetil-CoA carboxilase, que ativaria a síntese de ácidos graxos. A inibição da síntese e o aumento da oxidação dos ácidos graxos conduz à diminuição de depósito lipídico e de ingestão alimentar. Há também ações anti-inflamatória, antioxidante e antiaterosclerótica, que diminuem as comorbilidades associadas à obesidade, tais como resistência à insulina e doença cardiovasculares. Resistina → é caracterizada por resistir à ação da insulina. É um hormônio peptídico rico em cisteína, expresso essencialmente nos leucócitos, macrófagos e adipócitos. O seu papel na obesidade ainda não é claro, mas há uma correlação positiva entre os níveis de resistina e o IMC. Tem sido sugerido que ela pode estar envolvida na modulação de vias metabólicas associadas a processos inflamatórios, autoimunes, cardiovasculares, de insulino-resistência e DMT2. A resistina age reduzindo a captação de glicose, dependente de insulina, nos adipócitos isolados. Níveis elevados dela representam um risco aumentado para o desenvolvimento de DMT2. ❖ Hormônios do TGI Grelina → é hormônio orexígeno, que apresenta valores circulantes elevados na fase de jejum e mais baixos imediatamente após a ingestão alimentar. Sua ação ocorre através da ligação a receptores específicos no núcleo arqueado hipotalâmico, provocando o aumento da atividade dos neurônios NPY/AgRP e inibindo os neurônios POMC. A grelina ativa a PKA e inibe a mTOR, o que leva a uma resposta orexígena. CCK → é um hormônio rapidamente liberado na circulação após uma refeição, principalmente se for rica em lipídios ou proteínas. Possui receptores no TGI e no SNC. A principal função é aumento da saciedade com consequente diminuição da quantidade de alimentos ingeridos, por meio de inibição no esvaziamento gástrico e na motilidade TGI e aumento de distensão gástrica. Desta forma, a CCK parece promover a estimulação dos mecanorreceptores e informar os centros do apetite no cérebro. Peptídeo YY → pertence à família dos NPY e PP (polipeptídeo pancreático). Ele tem um papel crucial no processo de saciedade, inibindo a ingestão alimentar, a secreção gástrica e a motilidade intestinal. Em indivíduos obesos observou-se uma diminuição da concentração basal de PYY, o que vem corroborar a sua ação na saciedade. No entanto, a obesidade não parece desencadear resistência aos efeitos deste péptico, ao contrário do que foi observado para a leptina. GLP 1 → pertence à classe das incretinas (substâncias produzidas pelo pâncreas e pelo intestino que regulam o metabolismo da glicose), estimulando a libertação de insulina em função dos níveis de glicemia. Ele inibe a secreção gástrica e o esvaziamento gástrico, inibe a libertação do glucagon e diminui o apetite. Os níveis circulantes estão reduzidos em obesos, mas se normalizam com a perda de peso. Os efeitos anorexígenos do GLP-1 em obesos levaram ao estudo da sua potencialação terapêutica na obesidade. No entanto, a sua curta meia-vida representa uma barreira para a utilização com este fim. ❖ Causas de obesidade Embora os fatores que levam ao predisponentes da obesidade ainda não estejam elucidados, acredita-se que envolvam a interação do genótipo e de fatores ambientais, incluindo dieta, atividade física e fatores do início da infância. Há um forte componente hereditário, já que a obesidade ocorre em famílias. A questão que envolve esse debate é definir se o distúrbio surge devido à constituição genética ou a influências ambientais. Podendo haver, também, relação com as questões socioeconômicas. Há também evidências de que certos fatores durante a gravidez podem afetar o futuro peso da criança, como diabetes gestacional, tabagismo materno e subnutrição intrauterina. Os lactentes amamentados ao seio materno podem ter menos tendência à obesidade posteriormente durante a vida. ❖ Tipos de obesidade As pesquisas sugerem que a distribuição da gordura pode ser um fator mais importante do que o IMC para a morbimortalidade. A circunferência da cintura constitui um preditor melhor do conteúdo de gordura abdominal do que o IMC e o tipo de obesidade é determinado pela relação cintura/quadril. A classificação é de acordo a com distribuição de gordura: Obesidade central → Parte superior do corpo →abdominal, visceral ou masculina ("androide"). Adquirem forma semelhante à maçã. Os homens são os mais cometidos e apresentam mais gordura intra-abdominal. À medida que os O aumento da prevalência da obesidade pode ter sido decorrente: ↑aporte calórico + estilo de vida sedentário + baixa taxa de gasto energético + quociente respiratório elevado (QR) O QR é a relação de oxidação entre carboidratos e gorduras, sugerindo que o indivíduo oxida mais carboidrato do que lipídios. homens envelhecem, aumenta a proporção de gordura intra-abdominal em relação à gordura subcutânea. Uma circunferência da cintura de 88 cm ou mais em mulheres e de 102 cm ou mais em homens está associada a um risco aumentado de saúde. Uma razão cintura-quadril superior a 1,0 em homens e 0,8 em mulheres também indica obesidade na parte superior do corpo ou central. A obesidade central pode ser ainda diferenciada em tecido adiposo intra-abdominal (gordura visceral) e tecido adiposo abdominal subcutâneo com o uso da TC ou da RM. A circunferência da cintura, que é uma medida da distribuição central de gordura, mede tanto o tecido adiposo abdominal subcutâneo quanto o tecido adiposo intra-abdominal. Uma das características da gordura visceral é a liberação de TNF-α e a adiponectina (adipocinas), e de ácidos graxos diretamente no fígado, antes de alcançar a circulação sistêmica, apresentando impacto potencialmente maior sobre a função hepática (esteatose hepática, com consequente resistência à insulina no fígado). O risco cardiometabólico representa o risco global de desenvolvimento de DM e/ou doença cardiovascular, como coronariopatia, acidente AVE, doença vascular periférica, que se devem a um conjunto de fatores de risco tradicionais, tais como obesidade, hipertensão e dislipidemia, bem como a fatores de risco emergentes, como disfunção da inflamação, coagulação, fibrinólise, plaquetas, lipoproteínas, endotélio e outros processos biológicos. Obesidade periférica → Parte inferior do corpo →glúteo femoral ou feminino ("ginoide"). Adquirem forma semelhante à pera. As mulheres são mais acometidas e acumulam mais gordura subcutânea. Depois da menopausa, as mulheres tendem a adquirir uma distribuição da gordura mais central. Embora a obesidade periférica esteja associada a veias varicosas nas pernas e a problemas mecânicos, não está fortemente relacionada a risco cardiometabólico. SÍNDROME METABÓLICA ❖ Fisiopatologia Ela está diretamente relacionada o excesso de peso e a alteração na distribuição da adiposidade corporal, decorrente diretamente de um excesso de tecido adiposo visceral (TAV) e de uma diminuição do tecido adiposo subcutâneo (TASC), o que levaria a maior liberação de ácidos graxos livres e citocinas inflamatórias na circulação. Os adipócitos subcutâneos são menores, com mais facilidade de se multiplicar e são mais responsivos ao efeito antilipolítico da insulina. A presença de excesso de gordura no abdome desproporcionalmente à gordura corporal total é um preditor independente de fatores de risco e mortalidade. Fatores de risco cardiovasculares tradicionais + fatores de risco emergentes = Síndrome metabólica. Eles têm a capacidade de armazenar grandes capacidades de AGL, sob a forma de TG, e produzem poucas citocinas inflamatórias (já que, praticamente, não há infiltração de macrófagos e monócitos). Os adipócitos viscerais são maiores, se multiplicam pouco, são metabolicamente mais ativos e apresentam atividade lipolítica mais acentuada. Eles acumulam menos AGL e possuem grande capacidade de secretar citocinas inflamatórias, tais como TNF-α, IL-6, a proteína C reativa (PCR) e o inibidor do ativador do plasminogênio-1 (PAI-1). Primariamente, a SM parece ser decorrente de uma desproporção na distribuição de adipócitos subcutâneos e viscerais. O excesso de citocinas pró-inflamatórias (principalmente, TNF-α e IL-6) resulta em uma inflamação localizada no tecido adiposo que se propaga para uma inflamação sistêmica global, associada ao desenvolvimento de comorbidades relacionadas a obesidade, resistência à insulina (RI), estresse oxidativo e aterosclerose. A participação dessas citocinas na gênese da RI aparentemente se daria por inibirem diretamente a ativação do receptor da insulina, dificultando, assim, o transporte intracelular da glicose. O excesso de PAI-1, juntamente com aumento dos níveis dos fatores VIII e V, respondem por um estado de hipercoagulabilidade, o qual favorece a ocorrência de eventos vasculares trombóticos (IAM e TVP). Existem várias teorias para explicar como os diferentes adipócitos modulam a RI. De maneira geral, o aumento da lipólise nos adipócitos viscerais ocasiona um ↑aporte de AGL para o fígado e o músculo esquelético, inibindo a ação da insulina nesses órgãos, por um mecanismo denominado de lipotoxicidade. A resistência insulínica no fígado levaria a um aumento da gliconeogênese hepática, da produção de citocinas inflamatórias e da secreção excessiva de VLDL, com consequente hipertrigliceridemia e redução nos níveis de HDL-colesterol. O acúmulo intra-hepático de TG favoreceria o surgimento da doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) e da esteato-hepatite não alcoólica (NASH). A lipotoxicidade tem também ação deletéria sobre as células beta, ↓secreção de insulina e favorecendo o surgimento de hiperglicemia. Da mesma forma, o acúmulo de gordura no músculo esquelético é proposto como um mecanismo importante para a RI nesse tecido. Maior ativação do SRAA e do SNS está envolvida da gênese da hipertensão da SM. ❖ Consequências bioquímicas Metabolismo de lipídios e lipoproteínas: • Aumento das partículas de LDL pequenas e densas; • Hipertrigliceridemia; • Redução do HDL-colesterol. Trombogênese: • Aumento do fibrinogênio; • Aumento do PAI-1; • Aumento da viscosidade sanguínea. Marcadores inflamatórios: • Aumento do número de leucócitos; • Aumento de IL-6 e TNF-α; • Aumento de leptina e PCR; • Diminuição de adiponectina. Marcadores do status oxidante: • Aumento de LDL oxidada; • Hiperuricemia; • Diminuição da paraoxonase-1. Outras: • Redução da IL-10 e da grelina. ❖ Complicações Doença cardiovascular (DCV) → a dislipidemia é altamente aterogênica. Um dos aspectos mais preocupantes com relação à SM é o elevado risco cardiovascular que essespacientes apresentam. A combinação de múltiplos fatores de risco (HDL-c baixo, hipertrigliceridemia, hipertensão, aumento do PA1-1, hiperinsulinemia e hipoadiponectinemia) faz dessa população um grupo de pacientes altamente suscetíveis a DCV. DMT2 → juntamente com as complicações cardiovasculares o risco de desenvolvimento de DM2 faz parte das grandes complicações da SM. A incidência de DM2 é até 5 vezes maior em pacientes com SM em comparação a um grupo de pacientes sem a síndrome. De fato, SM é encontrada em 42 a 64% dos indivíduos com pré-diabetes e em 78 a 84% daqueles com DM2. Nesses indivíduos, o risco de complicações microvasculares e macrovasculares, bem como a mortalidade CV, são significativamente maiores na presença de SM. Doença hepática gordurosa não alcoólica → A NAFLD é resultado do excesso no aporte de ácidos graxos para o fígado e está diretamente associada à RI e ao acúmulo de gordura visceral. A NAFLD envolve a esteatose e a esteato- hepatite (NASH). Os pacientes podem apresentar-se com discretos aumentos nos níveis das enzimas hepáticas (normais, na maioria dos casos), e exames de imagem, seja USG, TC ou RM do abdome, sugerem o diagnóstico de NAFLD. Também existem evidências de que, quando há SM, é maior o risco de progressão de esteatose para a NASH. Estima se que 3-5% dos casos da NASH evoluam para cirrose hepática e, alguns desses casos, para carcinoma hepatocelular. Hiperatividade do SNS → essa ativação seria um mecanismo compensatório na tentativa de estabilizar o peso corporal pelo aumento da termogênese. Um dos principais ativadores do SNS é a hiperinsulinemia, principalmente pós- prandial (termogênese induzida pela alimentação), juntamente com hiperleptinemia, ↓ NO e ↑ endotelina-1, levaria a ↑ RVP importante e retenção de líquidos, reduzindo o fluxo sanguíneo para a musculatura esquelética e ocasionando a RI. Dessa maneira, a hiperatividade do SNS perpetuaria um círculo vicioso, com hiperinsulinemia, HAS e ↑ FC demonstrados na SM. Ativação do SRAA → existem evidências de que tanto a hiperglicemia como a hiperinsulinemia ativam o SRAA por aumentar a expressão do angiotensinogênio, da angiotensina II (AT II) e do receptor AT1. Além disso, recentemente demonstrou-se a produção de aldosterona pelos adipócitos em resposta à AT II. Neste contexto, o adipócito pode ser considerado uma miniatura do SRAA. Alterações nos eixos endócrinos Hipertrigliceridemia + níveis baixos do HLD-c + ↑número de partículas de LDL pequenas e densas, que são mais aterogênicas. A ativação do SRAA e do SNS está envolvida na gênese da hipertensão na SM.
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