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Distúrbios do Movimento Fisiologia dos Gânglios da Base Os gânglios da base são estruturas compostas pela substância cinzenta e que se localizam na região subcortical do cérebro. Existem quatro estruturas principais que compõem os gânglios da base: ● Estriado: caudado + putamen; ● Globo pálido: estrutura próxima à cápsula interna e é dividido em interno e externo, ou medial e lateral; ● Núcleos subtalâmico: localizado abaixo do tálamo, na entrada do pedúnculo cerebelar; ● Substância negra: localizada no mesencéfalo e dividida em pars compacta e pars reticular. Estes gânglios da base foram chamados de sistema extrapiramidal,devido ao fato de que, quando ocorrem lesões nos gânglios da base, os pacientes lesionados possuíam lesões nos gânglios, mas não manifestavam paralisia e sim uma alteração do movimento, enquanto os pacientes com lesão de trato piramidal apresentam paralisia. Circuito córtico-gânglios da base - tálamo - cortical: Este circuito funciona na região cortical, sendo assim, não realiza sinapse na medula, nos neurônios motores inferiores, bem como este atua na modulação do movimento. Logo, quando ocorre algum desajuste nesse circuito, o movimento passa a ser solto demais (involuntário) ou preso demais (como no parkinson, no qual o paciente apresenta rigidez ao realizar os movimentos). Sendo assim, é importante saber que as aferências saem do córtex, entram pelo núcleo estriado (caudado e putamen) e estes estímulos enviados pelo córtex são excitatórios glutamatérgicos. Bem como o núcleo de saida dessa mensagem é pela substância nigra e globo pálido interno, que por sua vez encaminha um estímulo inibitório para o Tálamo. O que ocorre neste circuito é o que define o caráter da síndrome; se será hipercinética ou hipocinética. VIA DIRETA: Quando o estímulo excitatório do córtex chega aos núcleos do estriado (caudado e putamen), esté estimula o estriado a liberar um estímulo inibitório. O estímulo inibitório age sobre os núcleos de saída, que são o Globo pálido interno e a Substância Negra (GPi e SNpr), inibindo a ação inibitória destes núcleos sobre o tálamo, dessa forma, facilitando o movimento. A via direta facilita o movimento. O contrário ocorre na via indireta. VIA INDIRETA: Nesta via indireta, a mensagem excitatória enviada pelos núcleos estriados chega até o Subtalâmico, que por sua vez irá enviar uma mensagem excitatória para os núcleos de saída, que enviam uma mensagem inibitória para o tálamo; que envia para o córtex um estímulo a inibição logo, ocorre o estímulo da inibição, dificultando o movimento. Logo, quando o desajuste ocorre na via indireta, se manifesta como uma síndrome hipocinética. ● Síndrome Hipercinética: atividade muscular excessiva, movimentos involuntários e anormais; p.ex: coreia, balismo, tremor. ● Síndrome Hipocinética:redução dos movimentos espontâneos, como ocorre no Parkinson. O balanço entre a via indireta e a via indireta, faz com que os movimentos sejam normais, caso ocorra algum processo que leve a um estímulo desregulado desse ciclo, vão ocorrer disfunções do movimento, hipercinéticos ou hipocinéticos a depender da via alterada. Síndrome Hipercinética Tremor: É o distúrbio do movimento mais comum e mais facilmente reconhecido pela população. São movimentos rítmicos repetitivos que pode acometer tanto as mãos quanto qualquer parte do corpo, podendo acometer parte da fala, da deglutição, etc. É essencial caracterizar o tremor em tremor de repouso, postural ou de intenção; podendo o paciente apresentar ambos os tipos de tremores. Ao receber um paciente no qual se observa a manifestação de tremor, é importante atentar na anamnese para: idade de início do tremor, velocidade de instalação, evolução do tremor/simetria (como esse tremor iniciou, em uma das mãos? nas duas? - no parkinson o tremor é assimétrico, já no tremor fisiológico, ocorre de forma simétrica), sensibilidade ao álcool (50% dos pcts com tremor essencial vão referir melhora do tremor diante da ingestão de álcool), uso da medicação; impacto funcional e social; antecedentes familial. No exame físico, é necessário sempre se avaliar o paciente em repouso, braços estendidos e em movimento; devem ser incluídas manobras de distração com o intuito de observar melhor o tremor; avaliar a escrita (no tremor essencial o paciente treme a letra, já no parkinson o pct faz micrografia); espiral de arquimedes; avaliar outros sinais de parkinsonismo; avaliar a presença de sinais cerebelares. Tremor Parkinsoniano ● Tremor distal de repouso, ● Tremor reemergente e assimétrico; ● Tremor de contar moedas/rolar pílula (movimentação de um lado pro outro com as mãos); ● Início sempre unilateral e assimétrico (quando não é unilateral e assimétrico, deve-se levantar outras suspeitas diagnósticas); ● É um componente hipercinetico da síndrome parkinsoniana (hipocinética); A Síndrome de Parkinson é caracterizada por bradicinesia e 1 ou mais dos achados de: tremor de repouso, rigidez plástica e instabilidade postural. Tremor Essencial ● História familiar positiva; ● Tremor postural e cinético; ● Ocorre mais nas mãos, mas pode acometer cabeça e vocal; ● Bilateral e simétrico; ● Melhora com o consumo de álcool; ● Sem outros sinais neurológicos. Tremor cerebelar ● Tremor de intenção (paciente quando vai atingir o alvo, ele treme; bem como não acerta o alvo com facilidade - discinesia); ● Maioria de origem secundária a lesão cerebelar; ● Causas diversas: ataxia espinocerebelar, TCE, AVC, tumores; ● Outros achados cerebelares: marcha atáxica. Coreia Síndrome hipercinética na qual o paciente apresenta movimentos exagerados, caracterizada por movimentos irregulares, que vão fluir constantemente numa sequência de ativação muscular desordenada e imprevisível (paciente parece realizar uma dança, com estímulos musculares sequenciados e irregulares). É mais observada na face e nos membros, sendo na maioria das vezes generalizada, acometendo o corpo todo, mas pode acontecer de ser uma hemicoreia. É muito associada a lesão dos gânglios da base (tálamo, núcleo subtalâmico, putamen). Para que seja uma hemicoreia, deve ocorrer uma lesão pontual, como pode ocorrer diante de um AVC, porém no geral é uma coreia generalizada. A coreia pode ser provocada por distúrbios metabólicos (hiperglicemia, hipoglicemia, distúrbio de sódio, hipertireoidismo), sendo assim muito importante dosar glicose, hormônios tireoidianos, etc. Pode ser consequência também de doenças inflamatórias ou autoimunes (lúpus, coreia de sydenham - coreia reumática *); bem como induzida por drogas (estrogênio, levodopa, neurolépticos), esta não é tão comum, no caso do estrogênio, regride após a retirada do estímulo, ou com o uso prolongado dos medicamentos citados; ou até mesmo hereditárias (Doença de Huntington ** - disfunção da huntingtina por mutação genética). *Coreia reumática, ocorre principalmente em crianças entre 5 e 15 anos à partir do contato com o estreptococo beta hemolítico do grupo A, na qual há uma reação autoimune que atinge principalmente o estriado. Sendo este um dos critérios maiores de jones para diagnóstico de Febre Reumática. A coreia reumática se inicia até alcançar um pico, se estabilizar num espaço de tempo próximo a um mês e em alguns pacientes ela regride, em uns mais lentamente que em outros. **Doença de Huntington afeta também a parte cognitiva do paciente, tendo um histórico familiar positivo e se manifestando cada vez mais cedo no decorrer das gerações herdeiras dessa alteração no trinucleotídeo. Balismo Consiste também numa síndrome hipercinética, sendo semelhante à coreia, no entanto, difere da coreia pelos movimentos de grande amplitude que são produzidos, diferente da coreia que apresenta movimentos contorcidos. Este distúrbio acomete apenas uma metade do corpo, ocorrendo principalmente em articulações proximais dos membros, com movimentos bruscos e rápidos sendo mais raro que a coreia. Normalmente possuiinstalação aguda, tendo como principal causa o AVC focal no núcleo subtalâmico; bem como quadros metabólicos (hiperglicemia não cetótica, hipoglicemia, distúrbios hidroeletrolíticos). Atetose Síndrome hipercinética, normalmente ocorre junto à coreia, geralmente acometendo as extremidades, sendo mais observada com o movimento das mãos e dedos contorcidos, movimentos reduzidos, de forma contorcida e lenta. Síndromes Hipocinéticas Parkinsonismo (diferente de Doença de Parkinson) Síndrome hipocinética com componente hipercinética (tremor). Caracterizada pela manifestação de bradicinesia (lentidão do movimento, redução progressiva da amplitude, podendo ser notavelmente lento ou não; e hesitação do movimento) associada a um ou mais dos achados de tremor de repouso, rigidez plástica e instabilidade postural. ● Tremor de repouso: tremor assimétrico, tremor em contar moedas e de repouso. Pode acontecer que na evolução da doença o paciente passe a apresentar tremor postural e tremor cinético, mas o que caracteriza o parkinsonismo é o tremor de repouso. ● Rigidez plástica (sinal da roda denteada - disfunção dos núcleos da base): rigidez durante movimento lento e passivo entre articulações. Deve-se sempre avaliar membros e região cervical. ● Instabilidade postural Causas de Parkinsonismo: ● Doença de Parkinson; ● Uso de medicamentos (medicamentos para labirintite, alguns neurolépticos como Aldol, Respiridona); ● Outras doenças neurodegenerativas; ● Causas vasculares (mais comuns em idosos). Doença de Parkinson: Uma das causas mais comuns de parkinsonismo. É uma doença neurodegenerativa, na qual ocorre a degeneração dos neurônios dopaminérgicos que estão na substância nigra no mesencéfalo. A dopamina é responsável por estimular o movimento, estimulando a via direta e reduzindo a via indireta; ao reduzir a dopamina, se reduz o estímulo ao movimento. A depleção da dopamina é o que promove a manifestação dos sintomas motores nesta doença; a instalação dos sintomas ocorre de forma gradual e progressiva e lenta; conforme os neurônios dopaminérgicos vão sendo destruídos. Os sintomas motores se iniciam unilateralmente e progridem para os dois lados do corpo, sendo assim manifestados de forma assimétrica. Existem dois principais subtipos da doença de Parkinson, o tremulante e o rígido acinético. Além dos sintomas motores, existem também os sintomas não motores da doença: constipação, hiposmia, depressão, transtorno comportamental do sono REM, estes que podem se manifestar até 10 anos antes da manifestação dos sintomas motores. Sua etiologia ainda é desconhecida, no entanto é de conhecimento que esta doença sofre influência de fatores genéticos e ambientais e tem início geralmente a partir dos 40 anos, podendo ocorrer antes (parkinson precoce e parkinson juvenil). A hipótese etiológica de maior credibilidade atualmente consiste na origem mediante a depósitos de alfa sinucleína na substância nigra, promovendo assim a sua degeneração. A deposição da alfa sinucleína se inicia anos antes da manifestação dos sintomas, que só ocorrem quando a perda neuronal está superior a 60%, antes disso são manifestados sintomas não motores, promovidos pela deposição da sinucleína em outras regiões do sistema nervoso. O diagnóstico é essencialmente clínico, podendo ser confirmado apenas com anatomopatológico do tecido cerebral pós morte. Esses pacientes possuem exame de imagem normal, sendo assim realizados para exclusão de outros diagnósticos. Passo a passo: 1: Diagnosticar parkinsonismo (bradicinesia associada aos demais achados característicos); 2: Excluir qualquer outra causa possível: AVC, uso de medicamento, liberação piramidal, tumor cerebral, hidrocefalia de pressão normal; 3: Presença de 3 ou mais aspectos muito sugestivos: ● Início unilateral; ● Assimetria persistente dos sintomas; ● Evolução progressiva; ● Presença de tremor de repouso; ● Excelente resposta ao tratamento com Levodopa; ● Resposta a levodopa por ao menos 5 anos; ● Presença de discinesias induzidas pela levodopa; ● Curso clínico de pelo menos 10 anos Outros achados da Doença de Parkinson: ● Marcha parkinsoniana (marcha de passos curtos associada a tremor das mãos, característico também a manifestação da virada em blocos); ● Hipomimia facial - piscamentos; ● Apatia; ● Hipofonia (redução da imposição da voz); ● Micrografia Diagnósticos diferenciais: → Parkinsonismo atípico; - Geralmente se inicia de forma simétrica e tem pouca resposta a levodopa; - Pode ter apresentação inicial semelhante à DP; - Deve-se ficar atento aos sinais de alerta para outras causas possíveis que mimetizam uma DP (parkinsonismos atípicos): ● Paralisia supranuclear progressiva; ● Atrofia de múltiplos sistemas; ● Degeneração córtico basal (paciente tem muita rigidez); ● Demência por corpúsculos de Lewis (na DP pode ocorrer demência, porém apenas numa situação mais avançada da doença) Sinais de alerta (red flags): ● Motricidade ocular alterada; ● Instabilidade postural precoce (acontece numa forma mais tardia, não inicialmente); ● Achados cerebelares; ● Disautonomia (hipotensão postural, impotência sexual é comum também) Tratamento: ● Não existe um tratamento para cura da doença, o objetivo do tratamento é melhorar a qualidade de vida do paciente. ● Tratamento multidisciplinar; ● Manuseio clínico individualizado; ● Atenção aos sintomas não motores Opções medicamentosas: Levodopa; agonistas dopaminérgicos (pramipexol e rotigotina); Inibidores da MAO (selegilina e rasagilina); Inibidores da COMT (entacapona e tolcapona); outras drogas (amantadina, biperideno, triexifenidil).
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