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Intoxicação por Piretróides Os praguicidas do grupo dos piretróides entraram no mercado em 1980 e em apenas dois anos já representavam 30% do total de inseticidas utilizados no mundo. São derivados de um inseticida botânico muito antigo, o piretrum, constituído de uma mistura de seis ésteres (2 piretrinas, 2 cinerinas e 2 jasmolinas) extraídos de inflorescências secas do Chrysanthemum (mais comumente C. cinerariefolium). Com a finalidade de obterem-se moléculas com efeitos idênticos contra pragas, porém com maior estabilidade e menores efeitos sobre o meio organismo a elas expostos, desenvolveram-se, posteriormente, os piretróides a partir das piretrinas. Os piretróides têm como grande vantagem sobre outros praguicidas clássicos uma alta seletividade praga/mamífero, uma grande eficácia, uma baixa fotoestabilidade e uma alta biodegradibilidade Eles são utilizados na agricultura, na pecuária, no domicilio, nas campanhas de saúde pública e, na medicina veterinária, no tratamento de ectoparasitas (combatendo ácaros, carrapatos, moscas, pulgas e piolhos). Tipos de Piretróides Os piretróides podem ser divididos didaticamente em duas classes, tomando-se como base a existência de diferenças estruturais e de ação neurofisiológica e toxicológica.: Piretróides do tipo I → Não apresentam um componente α-cyano na sua estrutura. Exemplo: Permetrina. Piretróides do tipo II → Contêm o componente α-cyano na sua estrutura., é o mais tóxico. Exemplo: Cialotrina, deltametrina, fenvalerato. Sabe-se que a presença ou ausência do componente α- cyano determina o tipo de síndrome neurotóxica observada em mamíferos e insetos intoxicados por esses inseticidas. Na realidade, os piretróides do tipo I causam a chamada síndrome T (tremores), e os do tipo II causam aquela denominada síndrome CS (coreatetose e salivação). Absorção, Biotransformação e Distribuição Os piretróides são substâncias lipofílicas rapidamente absorvidos por via oral, dérmica ou respiratória. A biotransformação ocorre rapidamente no trato intestinal, portanto a toxicidade oral é muito baixa. Por conta disso, a distribuição das piretrinas e dos piretróides no organismo é considerada relativamente sem importância terapêutica ou toxicológica. Mecanismo de Ação Os piretróides prolongam o estágio de abertura dos canais de sódio das membranas nervosas, levando a célula a um pós-potencial positivo e a uma supressão do período refratário. Essa alteração promove disparos neurais repetitivos na presença de um único estímulo. Os piretróides do tipo I levam a disparos repetitivos em decorrência de um aumento do pós-potencial positivo. Eles, portanto, aumentam a frequência de abertura dos canais de sódio, resultando em um aumento na corrente desse íon para dentro do neurônio, o que produz uma despolarização pós-potencial. Essa situação é observada em várias regiões do sistema nervoso: em fibras nervosas motoras e sensoriais e em interneurônios e terminais nervosos, o que explica os sinais de intoxicação verificados nos animais. Os piretróides do tipo II causam uma diminuição na amplitude do potencial de ação e, dependendo da dose do praguicida, bloqueio total da atividade neural em razão da despolarização da membrana. Eles, portanto, prolongam o tempo de abertura dos canais de sódio. Evidências cientificas demonstraram que piretróides têm pouca ou baixíssima toxicidade crônica, o que sugere pouco ou nenhum armazenamento, assim como ausência de acúmulo nos organismos a ele expostos. Os piretróides também são detoxificados pelo organismo. Esse tipo de piretróides também é responsável por diminuir a condutância de cloreto. Quanto à ação dos piretróides no receptor GABA, observou-se que o diazepam (benzodiazepínico), que atua ligando-se à subunidade alfa do complexo receptor GABA, foi capaz de aumentar a latência (estado de inibição) para os efeitos neuronais dos piretróides do tipo II, não sendo, no entanto, capaz de provocar o mesmo efeito em animais expostos aos piretróides do tipo I. Sinais de Intoxicação Os piretróides podem causar toxicidade aguda, subaguda ou crônica, dependendo do tempo de exposição. As manifestações clínicas apresentadas pelos indivíduos intoxicados variam de acordo com a estrutura química do piretróide (tipo I e tipo II), com o mecanismo de ação do composto, com a dose e a via de exposição. Piretróides do tipo I – Síndrome T (Tremor) → Tremores; Aumento da temperatura corpórea (possivelmente decorrente da excessiva atividade muscular associada aos tremores); Convulsões; Agressividade. Piretróides do tipo II – Síndrome CS (Coreotetose e salivação) → Aparecimento do comportamento de escavar ou de fazer tocas; Salivação excessiva; Tremores generalizados e grosseiros; Locomoção anormal; Convulsões crônicas; Hiperexcitação. Os sinais clínicos evoluem para a morte por parada cardiorrespiratória ou para a recuperação dentro de 24 a 72 horas. Diagnóstico O diagnóstico clínico da intoxicação é difícil e normalmente depende da anamnese, na qual relatam-se a exposição ao piretróide e os sinais de intoxicação. Tratamento Pelo fato de ainda não existir antídoto específico para tratar a intoxicação por piretróides, o tratamento que se emprega é sintomático e de suporte. Nesse sentido, a conduta emergencial de descontaminação do paciente intoxicado agudamente é muito importante e varia de acordo com a via de exposição ao praguicida. Via Dérmica → O banho com água corrente e sabão abundante auxilia na eliminação dos resíduos dos piretróides. Olhos → Água limpa corrente também deve ser usada imediatamente para lavar os olhos, caso o praguicida tenha entrado em contato com estes. Ingestão → Se o animal não estiver apresentando convulsões, pode-se proceder à lavagem gástrica para eliminar o praguicida que ainda não foi absorvido. Além disso, o carvão ativado e o uso de um catártico salino são bastante eficazes, principalmente na fase precoce de intoxicação. Em casos de convulsões, podem-se administrar lentamente, por via intravenosa, benzodiazepínicos (por exemplo, diazepam), podendo ser necessário repetir a administração.
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