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Resenha: Flora Trístan, União Operária (capítulos II e III) Flora Trístan (1803 - 1844), também grande escritora de relevância na causa feminista, percorreu suas vida como ativista na causa operária. Sua obra intitulada União Operária possui grande foco na causa da classe operária com relação aos seus direitos e suas condições na época. Dessa forma, a autora evidencia a importância de sua classe, homens e mulheres operárias, a se unirem e se organizarem em busca de melhoria de direitos e de representatividade no governo. Primeiramente a autora denuncia o descaso e as condições que os operários têm vivido; diante de miséria e muitas mortes, a autora denuncia que mesmo as sociedades que trabalham em busca de auxiliar nas causas individuais dos operários em condições de insalubridade e de falta de emprego, estas mesmas sociedades e aqueles que a gerenciam, contribuem para a maior divisão da classe operária. Além do mais, naquele período apesar das sociedades de auxílio ao operário ainda eram esmagadoras as quantidades de mortes de trabalhadores operários. Diante disso, Trístan coloca em cheque o plano de união e organização operária; cujo objetivo é unificar os trabalhadores de modo que possam contribuir em modo de cotização voluntária para reunir um grande capital anual na eleição e na divulgação de um representante. A força capital se faz bastante necessária no que diz respeito a esse plano, e então, após isso, investir também em uma educação de qualidade para crianças )homens e mulheres) da classe operária. A autora também contesta a maneira como a constituição não favorece a classe operária, não lhes dá o pleno direito à vida e o direito de trabalho; e tendo em vista que a única propriedade que o operário tem é o seu corpo enquanto ferramenta de trabalho, o direito à vida é o direito de trabalho. Para que todas essas demandas pertinentes à classe sejam devidamente atendidas, a autora volta a ressaltar a importância da organização de modo a apurar poder capital. Dessa forma, os operários unidos, em tese, investiriam melhor contribuindo nas obras daqueles que pudessem favorecer a causa, como por exemplo, escrevendo um livro, e, então, em vez de estar obsoleto, seria instigado a produzir mais e melhor para o coletivo. No que diz respeito à defesa da igualdade entre homens e mulheres, a autora coloca em cheque o papel da mulher na vida do trabalhador operário. A mulher, segundo a autora, constitui grande pilar; pois, a educação que uma mãe pode dar aos filhos reflete em muito do que a vida destes se sucederá; além disso, uma mulher como esposa também pode decidir sobre a maneira como o marido se comporta diante da vida cotidiana e em relação ao restante da família. As mulheres, diante da sociedade que a autora julga, cheia de preconceitos e tomando a mulher como um ser incapaz de se desenvolver de outro modo que não seja para a feminilidade da elegância, dos cuidados familiares e com o estigma de que são inferiores aos homens, são educadas de maneira a embrutecer o caráter da família. No que diz respeito à família operária, tal embrutecimento ocorre com ainda mais ímpeto tendo em vista que a classe operária não possui muitas propriedade e a única que pode assegurar é seu corpo como ferramenta de trabalho. Diante dessa realidade, as mulheres da classe operária crescem com a ira de serem constantemente inferiorizadas, estigmatizadas, privadas de diversas atividades de “teor masculino” e, consequentemente, segundo a autora, passarão adiante essa raiva educando os filhos estando insatisfeita e tornando-os posteriormente revoltados, sem apoio familiar e sem perspectiva de uma vida melhor, fazendo com que haja constante reprodução deste modelo de educação pelas gerações, principalmente das mulheres. Como mesmo indica a autora, os resultados de uma educação racional e de boa instrução para as mulheres dessa classe, fortaleceria, e muito, o movimento: “1o Desde o instante em que não precisássemos mais temer as consequências perigosas que o estado atual de sua servidão leva necessariamente ao desenvolvimento moral e físico das faculdades da mulher, iríamos instruí-la com muito cuidado a fim de tirar o melhor partido possível de sua inteligência e de seu trabalho; 2o vocês homens do povo, teriam como mães, operárias hábeis, com um bom salário, instruídas, bem educadas e muito capazes de vos educar bem, operários, como convêm a homens livres; 3o vocês teriam como irmãs, amantes, esposas, amigas, mulheres instruídas, bem educadas e com as quais a troca do cotidiano seria para vocês muito mais agradável: pois nada é mais doce, mais suave para o coração de um homem do que o diálogo com as mulheres quando são instruídas, boas, e conversam com bom senso e indulgência.” Ambas as autoras, além de serem extremamente importantes no movimento feminista, indicam grande caráter atual no que diz respeito à realidade das mulheres no Brasil. Quando Flora Trístan indica o recorte de classe, evidencia também uma situação igual a que ocorre em nosso país. As pessoas de classes inferiores e com menos instrução tendem à reprodução de um discurso machista, porém, um enorme conservadorismo também tem se demonstrado nas classes mais altas da sociedade brasileira. E, em casos extremos, muitas mulheres em condições precárias são colocadas para o trabalho braçal ainda muito jovens e ganham a vida bem mais distantes desses estigmas de feminilidade que a Bíblia Sagrada impõe. Apesar disso, ambas a autoras apresentam um ponto extremamente importante para um recorte de classe independente: a educação. A maneira como a educação atual é capaz de legitimar discursos machistas e diferenças de classes é de se impressionar, além do mais, a educação em sua organização possui dois grandes extremos: um para a competição e adestramento de estudantes, cuja instrução normalmente é maior, mas o aproveitamento e a perspectiva de vida desses estudantes é comprometida em detrimento de um futuro incerto; e outro no qual as condições básicas de ensino, a realidade regional e a falta de recursos cria nos estudantes um pensamento de impossibilidade de mobilidade social e cristaliza nesses mesmos a noção de que não estão aptos para a escolarização.
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